segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Decálogo do Sol.

DEZ PRINCÍPIOS PARA UM CONSTRUIR SUSTENTÁVEL

No começo dos anos 90, no evento Eco-92 que teve lugar no Rio de Janeiro, foram mostradas ao público mundial, de modo inequívoco, as conseqüências que os habitantes do planeta sofreriam devido ao desfrute indiscriminado dos recursos naturais devido às emissões exponenciais de CO2 e às emissões dos mais diversos poluentes lançados nos diversos ecossistemas.

Hoje sabemos que a muitas dessas previsões estavam corretas e atingiram uma dimensão alarmante. Somando o constante aumento da população mundial, a crescente má distribuição de renda e a insaciável fome pelos recursos naturais, obtemos como resultado mudanças climáticas que acontecem em ciclos cada vez mais rápidos.

Um desenvolvimento que viabiliza o futuro deve contemplar responsabilidade social, atenção ao meio ambiente e eficiência econômica. Não há mais tempo a perder. Chegou a horta de agirmos de modo decidido em âmbito mundial.

Nossas edificações dissipam cerca de metade da energia global produzida em todo o mundo. A tecnologia para construir de forma parcimoniosa, do ponto de vista energético já esta disponível há muito tempo: é portanto hora de aplicá-la. Por conta de um retrofit energético dos edifícios existentes é possível reduzirmos em até 80% as emissões de CO2 produzidas pelos diversos sistemas de climatização e aquecimento de água.

Somos nós, seres humanos, os responsáveis pelo atual desenvolvimento sem futuro. Há porem uma boa noticia: ainda podemos “dar a volta por cima” se considerarmos que há soluções que podem ser aplicadas imediatamente. Para alcançarmos este objetivo, faz-se necessário que ajamos de forma coletiva, com o auxilio de todas as instituições sociais, políticas e econômicas.

O filósofo alemão Hans Jonas, formulou uma interessante frase, imperativa para nossos dias: “ Ajam de modo que as vossas ações sejam compatíveis com a possibilidade de manter uma vida humana integral sobre o planeta”. Este pensamento diz respeito a todos os setores da sociedade, mas são os projetistas e técnicos os protagonistas de um crescimento sustentável. O motivo ? As construções duram por muito tempo e influenciam de modo decisivo a qualidade ecológica, econômica, sociocultural e estrutural da sociedade à qual pertencem. Perceba que é costume avaliar toda uma nação pelas características de suas principais cidades.

Os dez princípios são um assunto individual e voluntário, mas ao mesmo tempo representam uma linha mestra para todos aqueles que pretendem participar ativamente de um desenvolvimento sustentável. O objetivo é encorajar cada individuo a empenhar-se com entusiasmo e bom senso nessa direção e assim acelerar a transformação do nosso sistema energético, no sentido de torná-lo eficiente e limpo.

O Decálogo do Sol

1- Somos filhos do Sol: O Sol é nossa única e inesgotável fonte de energia e base para todas as formas de vida do planeta. Levar em consideração a energia solar, em todos seus aspectos, no nosso modo de construir e viver, melhora a qualidade da vida.

2- Faremos uma revolução energética global fundamentada na eficiência, na preservação dos recursos naturais e na adoção de formas renováveis de energia.

3- Criaremos ambientes saudáveis e confortáveis, que favorecerão o crescimento da consciência dos seus usuários, ao mesmo tempo que salvaguardam os recursos naturais e o meio ambiente. Estes ambientes estarão em harmonia com os ciclos naturais e dialogarão com as tradições construtivas locais

4- Serão as pessoas o principal centro de referência, sejam aquelas que já habitam estes ambientes, sejam aquelas que os habitarão amanhã. Somos conscientes que a arquitetura é a expressão de nossos desejos, saudades, sonhos e beleza e tudo isso nunca deverá se contrapor à vida. Como eixo central não adotaremos a individualização de cada setor da sociedade mas, sim, um agir amplo e solidário. Todo habitante do nosso planeta tem o direito de conduzir sua vida de uma forma digna.

5- Iremos buscar através da beleza e harmonia um bem estar que não coloque em risco os ciclos naturais, risco este, que poderia causar o comprometimento irreversível da capacidade de auto-regeneração do planeta.

6- Somos plenamente conscientes que as edificações deverão ser usadas por cinquenta, cem anos, ou até por mais tempo. Por essa razão as medidas tomadas para garantir a segurança do meio ambiente devem ser medidas eficazes num longo prazo. As zonas residenciais se manterão atuais no futuro se forem esteticamente atraentes além de eficientes do ponto de vista energético.

7- Transformaremos o passado em futuro revitalizando energeticamente os edifícios existentes, através das modernas técnicas construtivas que já desenvolvemos. Este procedimento nos permitirá usar menos energia para assegurar o conforto ambiental nesses edifícios. Dessa forma serão reduzidas fortemente as emissões de CO2.

8- Escolheremos para todos as edificações novas um padrão de construção que reduza drasticamente a necessidade de aportes externos de energia. Vamos utilizar materiais limpos e tecnologias ecocompativeis considerando globalmente o impacto ecológico dos materiais. Proveremos estas novas edificações com iluminação, acústica e qualidade interna do ar otimizadas pois são estes os fatores que incidem de forma decisiva na qualidade da vida.

9- Aplicaremos com sabedoria as técnicas que utilizam de modo econômico e eficiente os recursos naturais, cientes de que mesmo os canteiros de obra podem fazer a diferença na diminuição dos impactos ambientais. Ao mesmo tempo, daremos preferência às energias de fontes renováveis.

10- Nosso pensamento é flexível. As nossas ações serão direcionadas no sentido de cultivar uma mobilidade social sustentável. Em nossos empreendimentos daremos preferência a soluções que economizem energia e recursos naturais e que estejam à altura de ir de encontro às necessidades do individuo, sem com isso limitar a coletividade.

O "Decálogo do Sol" foi elaborado na Agenzia CasaClima de Bolzano pelo seu diretor, Norbert Lantschner e adaptado e traduzido pelo representante da Agenzia no Brasil, engenheiro Claudio Leozzi.

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