segunda-feira, 27 de abril de 2009

Entrevista para o jornal Folha de São Paulo.

Caros,

Na semana passada, dei entrevista para subsidiar matéria da repórter Natalie Cotuogno, da Folha de São Paulo, que foi publicada em 26/04/09. Reproduzo a seguir seu conteúdo.

A publicação da reportagem completa se encontra no link:

http://www.cursosgreenbuilding.com.br/artigos/Reportagem-Folha-SP.asp


Tem aumentado a procura por retrofit "sustentável" nos imóveis residenciais, ou seja, aquele que leva em consideração economia de recursos (água, energia elétrica) e uso mais inteligente de recursos naturais como iluminação e ventilação?


O brasileiro não tem a cultura da conservação. Economizou energia quando foi obrigado a fazê-lo em 2001, por conta do apagão. Não economiza água, usa chuveiro elétrico, prioriza o mais barato ao mais econômico. Com isto é natural que a reforma (ou retrofit) de imóveis residenciais no Brasil, com vistas ao uso mais eficiente dos recursos, ainda não é, eu diria, um grande mercado. Já no setor comercial as reformas trazem retorno operacional, se viabilizam, e por isto têm sido feitas.

Mas, em se tratando de edificações novas, o cenário é diferente. Já há leis que estimulam o uso eficiente de energia, há recomendações nos códigos de obras de muitos municípios e, mais recentemente, as certificações ambientais de edificações. Tudo isto estimula a qualidade de projeto e da construção de edificações novas.

O que é possível fazer, em um apartamento residencial, por exemplo, que não tem autonomia para mudanças externas, para que o retrofit garanta economia de água e energia?
No caso do uso da água, é muito comum que equipamentos como bacias de caixa acoplada, torneiras e registros com o tempo percam a capacidade de vedação e comecem a deixar vazar água. Mesmo um pequeno filete ou gotejamento pode desperdiçar imensas quantidades de água. A simples revisão e substituição de algumas peças destes equipamentos pode trazer economias importantes. Além disto, o uso de medição de consumo individualizada em condomínios, como é a da energia, por exemplo, também pode trazer benefícios, pois o consumidor sabe quanto consome e quanto paga pela água, pode mais rapidamente identificar a existência de vazamentos, e daí naturalmente passar a economizar. Finalmente o mais importante, hábitos de consumo: Evitar banhos demorados, lavar calçadas e carros, desperdícios ao lavar pratos e roupas, etc.

Com relação à energia, além evidentemente dos hábitos de consumo (como evitar deixar lâmpadas acessas e equipamentos ligados desnecessariamente), pode-se estimular o uso de equipamentos mais eficientes. Trocar uma geladeira com 10 anos de uso, máquina de lavar ou micro-ondas, por novos, pode trazer economias significativas. Mas as maiores economias são obtidas evitando-se o uso de chuveiros elétricos, substituindo-se por gás, quando for possível (embora esta não seja também uma solução muito ecológica), ou prerencialmente por coletores solares, estes sim, a solução mais interessante para aquecimento de água para banho. Mesmo em edifícios residenciais, obtem-se resultados úteis com o pré-aquecimento de água.

Deve-se ainda evitar (eu diria até mesmo banir, definitivamente) o uso de lâmpadas incandescentes, que transformam em calor, e não em luz visível, 90% da energia que consomem. Lâmpadas fluorescentes, por outro lado, consomem entre 1/5 e 1/7 da energia que as incandescentes consomem e duram entre 8 e 10 vezes mais. Mesmo custando menos de R$ 2,00 a unidade, não vale a pena usar lâmpadas incandescentes mais para nada em iluminação. Sua fabricação está inclusive sendo proibida em muitos países desenvolvidos.

E em relação ao melhor uso da luz natural e da circulação de ar?
A maior parte de nosso imenso território, incluindo toda a faixa litorânea, que concentra a maior parte da população, tem clima tropical, quente e úmido. Nestas condições, a melhor estratégia para se obter conforto ambiental sem recorrer a mecanismos artificiais, é proporcionar sombra, ou seja, proteção quanto à radiação solar direta, e ventilação, ou seja, amplas aberturas para a retirada de calor. Deve-se conhecer o percurso aparente do sol durante o ano, implantar adequadamente a edificação de forma a que se valorize o aproveitamento da luz do dia, evitando-se o inconveniente da luz solar direta. Pode parecer um pouco complicado mas as ferramentas necessárias para isto são bem simples. Os arquitetos as conhecem (ou deveriam conhecer) bem. São avaliações que são feitas em projeto.

Em edificações existentes, muitas vezes é possível se abrir janelas, paredes ou mesmo coberturas, para se promover melhor aproveitamento da luz natural e ventilação, mas é preciso tomar cuidado para que estas medidas, ao invés de mais conforto, provoquem incômodo pelo excesso de calor. É preciso saber, em cada caso, em função das orientações em relação ao percurso do sol, quais as soluções mais indicadas, de maneira a promover o conforto do usuário. É, portanto, necessária orientação técnica.

E quanto à iluminação? Quais alternativas de iluminação artificial são mais recomendadas para baixo consumo e iluminação adequada?
Como comentei na questão anterior, deve-se estimular o uso de lâmpadas fluorescentes, muito mais eficientes e econômicas que as incandescentes. Cabe lembrar que hoje em dia, ao contrário de alguns anos atrás, há modelos de lâmpadas fluorescentes com temperaturas de cor quentes, nuetras e frias. A temperatura de cor é o índice que define a aparência da luz da lâmpada. As pessoas em geral (isto é fisiológico) têm preferência pela luz quente em ambientes residenciais e há alguns anos (na época do apagão, por exemplo) não havia no Brasil muitas opções de fluorescentes de luz quente. Hoje há, e não custam mais que as frias.

Outra tecnologia que está ficando cada vez acessível são os LED´s (da sigla em inglês, Light Emission Diodes). Os LED´s são a meu ver, o futuro da iluminação. Duram muito mais, até mesmo do que as fluorescentes, têm tonalidades de cor diversas e consomem muito pouco. As potências das lâmpadas de LED´s, como têm sido chamadas (embora tecnicamente não sejam propriamente lâmpadas, mas equipamentos eletrônicos) são medidas em unidades de Watts, não em dezenas de watts, ou sejam alguns consomem quase nada, relativamente. Ainda são caros, não têm fabricação no Brasil ainda, mas já são uma realiadade de mercado em muitos pasíses e não tenho dúvida de que serão também no Brasil, em breve.

É melhor ter um grande ponto de iluminação, por exemplo, ou vários pequenos?
Eu diria que na maioria dos casos, mais de um ponto resolve melhor do que apenas um. Mesmo em ambientes pequenos, um lavabo, por exemplo, é conveniente se ter um ponto central geral e outro sobre a bancada, ou uma arandela, para o espelho, por exemplo. Em quartos, pode-se ter uma iluminação para leitura, em salas de estar, opções para iluminação de objetos ou peças decorativas. Naturalmente, deve-se distribuir os circuitos de forma a que se possa acendê-los separadamente, o que também contribui para economia de energia.

Quais as tendências que o senhor antevê em relação ao retrofit sustentável em residências?
Eu diria que a tendência é que a busca pelas certificações ambientais ou etiquetagem de edificações será cada vez maior e isto trará maior preocupação com relação à eficiência energética das edificações. Por enquanto, estas certificações, como o LEED, de origem estadunidense, o AQUA, derivada do HQE francês, Casa Clima, italiana, ou o Procel Edifica, programa brasileiro de etiquetagem de edificações, lançado em 2008 pelo Procel (todas têm modalidades específicas para edificações existentes), são todas de adesão voluntária. No entanto, o Procel Edifica está previsto para se tornar obrigatório no país em 2012 e a partir daí, todas as novas edificações terão que atender aos seus requisitos. Naturalmente, criar-se-á então novo estímulo para o retrofit de edificações existentes.

O senhor tem algum caso que possa dividir conosco a esse respeito?
Estou atualmente envolvido, como consultor de projetos, em casos de edificações residenciais novas, já participei de trabalhos de retrofit de edificações comerciais, mas não residenciais.
Acrescento link para uma interessante matéria a respeito de um retrofit de um ícone da arquitetura do séc XX, o Empire State Building, edifício comercial, mas talvez possa interessar:
http://br.noticias.yahoo.com/s/06042009/24/economia-negocios-equipe-especialistas-anunciam-revolucionario.html

Aproveito para informar que o Empire State Building será uma das visitas técnicas que faremos em junho próximo, como parte da II Missão Técnica Green Buildings em Nova York, com meu acompanhamento e orientação.

Atualização em setembro 2010:
Mais informações sobre as missões técnicas que organizo e acompanho podem ser obtidas aqui no blog ou no portal http://www.ecobuilding.com.br/. Registre-se no blog (coluna à direita) e cadastre-se no site para que possa se manter informado. As vagas normalmente se esgotam rapidamente.

Até breve,

Antonio Macêdo Filho.

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