Por Tiago Reis, para o Procel Info, publicado em 15/08/2016
Rio de Janeiro - Vila dos Atletas e arenas esportivas utilizam recursos que valorizam a otimização da utilização dos recursos naturais
Rio de Janeiro – A Olimpíada já começou e no momento em que você lê essa reportagem, atletas de várias partes do mundo estão competindo em busca de vitórias, novos recordes e da tão sonhada medalha olímpica. Mas antes dos mais de 10 mil atletas chegarem ao Rio de Janeiro, uma delegação gigante entrou em campo com um só objetivo: transformar a Rio 2016 nos Jogos mais sustentáveis da história. E para que essa meta pudesse ser alcançada, a construção e operação das instalações esportivas tiveram uma participação importante. Desde a concepção dos projetos, passando pela escolha dos locais, tamanho das arenas e construção e operação desses locais, sempre foram priorizadas soluções para minimizar o impacto ambiental dessas instalações, antes, durante e depois da realização dos Jogos.
A primeira versão do Plano de Gestão de Sustentabilidade dos Jogos Rio 2016, lançado em março de 2013, determinava que todas as instalações, provisórias, temporárias ou permanentes, atendessem a todos os requisitos de uma construção sustentável. A Gerente Geral de Sustentabilidade, Acessibilidade e Legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, Tânia Braga, explica que essas diretrizes foram pensadas desde 2008 quando foi apresentada a candidatura do Rio de Janeiro para ser cidade da Olimpíada de 2016. Com a evolução e desenvolvimento de novos processos tecnológicos o Comitê sempre buscou adaptar à nova realidade para entregar o evento o mais sustentável possível.
Ações de eficiência energética reduziram em 10% o consumo de energia na Vila dos Atletas
Para isso, todas as novas construções, foram obrigadas a seguir as orientações do Procel Edifica e do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) para que, quando concluídas, os administradores que manifestassem interesse, pudessem obter as certificações ambientais para essas edificações.
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Projeto do Parque Olímpico dos Jogos Rio 2016 na Barra da Tijuca (fonte: Empresa Olímpica Municipal) |
“No caso das instalações esportivas, buscamos sempre adequá-los para que o seu uso pudesse ser feito de forma mais racional. Projetos compactos, instalações compartilhadas, otimização e reaproveitamento de insumos, reduzem o uso de material, água e energia, sem afetar a qualidade e a funcionalidade desses locais. Além disso, ajuda o meio ambiente, já que dessa forma conseguimos mitigar uma grande quantidade de gases de efeito estufa. É a fórmula do mais com menos. Menos espaço é igual a menos material, menos energia e menos emissões. E com isso, todos ganham”, afirma Tânia.
Nos Jogos do Rio estão sendo utilizadas 32 instalações esportivas, sendo 17 já existentes, cinco temporárias e outras dez novas permanentes. No caso das edificações permanentes que foram construídas para a competição a Vila dos Atletas (foto), as Arenas Cariocas 1, 2 e 3, a Quadra Central de Tênis e o Velódromo, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, e a Arena da Juventude, o Estádio de Canoagem e o circuito radial de BMX e mountain Bike, no Complexo Esportivo de Deodoro. A gerente completa que todas edificações construídas de forma permanente foram pensadas para ter um uso eficiente e adequado após os Jogos para que fosse evitado a ociosidade e a transformação em elefantes brancos.
Vila dos Atletas: referência em sustentabilidade
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Bairro da Ilha Pura é considerado o primeiro sustentável da América Latina |
Uma das mais desafiadoras construções para os Jogos Olímpicos Rio 2016 foi a da Vila dos Atletas. Batizado com nome de Ilha Pura, bairro planejado na Região da Barra da Tijuca, que depois da Olimpíada terá os apartamentos vendidos e funcionará dividido em três condomínios, foi concebido para gerar conforto e qualidade de vida para os seus hospedes e moradores, observando questões como o uso racional dos recursos naturais e baixo impacto ambiental.
Com área total de mais de 800 mil metros quadrados, maior que o tradicional bairro do Leme, na zona sul carioca, o local conta com 31 prédios de 17 andares e uma série de requisitos ecológicos, o que fez com que o Ilha Pura/Vila dos Atletas fosse reconhecido como o primeiro bairro totalmente sustentável da América Latina. Todos os 3.604 apartamentos que são ocupados por atletas olímpicos e, em setembro, terão os paraolímpicos como hóspedes, possuem técnicas que proporcionam a economia de água e luz, além de sistemas de iluminação e climatização eficientes.
“A filosofia de fazer um ambiente totalmente sustentável foi nossa única opção. Utilizamos as melhores técnicas para que o condomínio Ilha Pura [Vila dos Atletas] torne-se uma referência para o país e mostrar que investir em construções sustentáveis é viável tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental”, explica Maurício Cruz Lopes, diretor Geral do Ilha Pura.
Na fase de projeto, uma das primeiras ações sustentáveis foi a escolha do posicionamento de cada torre. Por meio de um software, foi possível definir o melhor local para construir cada prédio, o que possibilitou criar um bioclima favorável para a redução da temperatura no interior dos apartamentos, o que diminui a necessidade do uso do ar condicionado nos dias mais quentes.
Durante a construção foram utilizadas diversas técnicas para reduzir o consumo de água e energia. No uso da água, foi construída uma estação para tratar a água cinza, que é proveniente dos chuveiros e torneiras do vestiário dos operários, que após o procedimento foi reutilizada nas descargas, limpeza dos equipamentos e central de concreto. Com o condomínio concluído, essa estação está sendo utilizada nas bacias sanitárias, irrigação dos jardins e abastecimento dos lagos, o que reduziu em 40% a utilização de água no local. Ainda durante a fase de construção, também foi usado um sistema online para monitorar o uso de água e energia em 15 centros de atividade do canteiro de obras, o que possibilitou uma gestão mais eficiente desses recursos.
Em relação a eficiência energética, foi priorizado a utilização de materiais que minimizassem a sensação de calor e valorizassem a iluminação natural. Para isso, foram usados revestimentos com tons mais claros, que refletem a luz do sol e reduzem o aquecimento, e vidros semi-reflexivos, que funcionam como isolantes térmicos, permitindo a entrada da luz natural sem esquentar o ambiente.
Arquitetura nômade e compacta é uma das principais inovações apresentadas na Rio 2016
Maurício conta que para reduzir o consumo de energia, os elevadores possuem sistemas regenerativos que gastam 70% menos energia em comparação com equipamentos convencionais. Além disso, os apartamentos contam com aquecedores solar de água, toda a iluminação das áreas comuns do condomínio é de LED e conta com sistemas automatizados de presença. O condomínio também conta com telhado verde na cobertura dos prédios, fazendo com que todos os apartamentos tenham temperaturas semelhantes, reduzindo a utilização do ar-condicionado.
“Todas as ações de eficiência energética reduziram em cerca de 10% o consumo de energia da Vila dos Atletas. Pode parecer pouco, mas levando em consideração a área ocupada e a utilização de todo o complexo, é uma economia significativa”, ressalta o diretor geral do llha Pura.
Com essas ações a Vila dos Atletas/Ilha Pura já conquistou quatro certificações ambientais, os selos LEED for Neighborhood Development (Leed-ND); LEED para Desenvolvimento de Bairros; Aqua-HQE Bairros e Loteamentos; Aqua‑HQE Habitacional de Alta Qualidade Ambiental, e o Selo Casa Azul. Mesmo com a elevação do custo total da obra, devido a inclusão das tecnologias que tornaram o espaço 100% sustentável, Maurício Cruz destaca que o grande legado que vai ficar para a cidade, além da mudança urbanística daquela parte da Barra da Tijuca, é a consciência ambiental que está presente em cada espaço do empreendimento.
“Mudamos completamente aquela região. Além das práticas de uso racional de recursos naturais na construção, o conceito se expande no legado sustentável que fará parte do dia a dia do morador”, completa.
Arenas nômades
As arenas esportivas construídas para os Jogos também foram pensadas para valorizar a eficiência energética e a sustentabilidade. As Arenas Carioca 1, 2 e 3, no Parque Olímpico da Barra, foram erguidas com foco nas principais tecnologias e inovações para tornar o espaço mais otimizado e racional na utilização dos recursos naturais. Construídas de forma geminada, ou seja, uma ligada a outra, mas, operando de forma independente, os três ginásios foram erguidos para aproveitar da melhor forma possível a iluminação e ventilação natural para reduzir a demanda por energia. Para isso, a cobertura e a fachada possuem isolamento térmico com o objetivo de reduzir a incidência solar e manter a temperatura confortável, além de possuir aberturas nas laterais para permitir a entrada dos ventos. Já em relação à iluminação natural foi utilizado o sistema zenital, que por meio de tubos difusores, permite a entrada dos raios solares sem interferir na temperatura interna do ambiente. Esse sistema é capaz de produzir 20.500 lumens, o que equivale a 17 lâmpadas incandescentes de 100 watts.Com essa tecnologia evita-se o uso de aproximadamente quatro mil lâmpadas, o que segundo estimativas do Comitê Rio 2016 pode proporcionar uma economia de mais de R$ 40 mil por mês na conta de energia das três arenas.
Ainda no Parque Olímpico da Barra, o Estádio Aquático, que está sendo utilizado nas competições de natação e polo aquático na Olimpíada e depois na Paralimpíada, e a Arena do Futuro, palco dos confrontos do handebol e do golbol nos Jogos Paralímpicos, são dois equipamentos que contam com soluções inovadoras para atender aos requisitos sustentáveis. Para evitar que torne-se elefantes brancos após a Rio 2016, as duas estruturas adotam o conceito da arquitetura nômade. Após o encerramento das Paralimpiadas, os dois estádios serão desmontados e transformadas em quatro escolas e dois centros esportivos. Essa é a mesma técnica que será utilizada no Centro Internacional de Mídia (MPC) e no Centro Internacional de Transmissão (IBC), que terão suas estruturas desmontadas e reutilizadas nos Jogos de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, em 2018, e na Olimpíada de Verão de 2020, em Tóquio.
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Legado do Parque Olímpico Rio 2016 - Fonte: Jornal “O Globo” – Matéria: “Rio 2016 terá projeto inglês no Autódromo”, por Rafaela Santos |
Para aumentar a eficiência energética, o Estádio Aquático conta com cerca de 15 mil pequenos furos instalados em sua estrutura para permitir a entrada da ventilação natural. Segundo a Empresa Olímpica Municipal (EOM), órgão da Prefeitura do Rio responsável pela supervisão da obra, essa medida proporciona uma economia significativa de energia, já que serão evitados a utilização de cerca de dez mil aparelhos de ar condicionado convencionais para refrigerar o local. Na arena do handebol, além dos recursos da iluminação e ventilação natural, a fachada do local atua como isolante térmico da mesma forma como ocorre no (MPC) e no (IBC).
“Os Jogos Olímpicos Rio 2016 demonstram como a ciência e a tecnologia podem gerar benefícios para o mundo dos esportes. O aprendizado que tivemos com a experiência em outras Olimpíadas, combinado com a grande evolução que fizemos em outras plataformas globais de esporte, possibilitaram a criação de soluções sob medida para as necessidades mais desafiadoras dos grandes eventos esportivos”, afirma, por meio de comunicado, Louis Vega, vice-presidente global para Soluções em Esportes e Olimpíadas da Dow, empresa responsável pela tecnologia utilizada no MPC e no IBC.
Soluções semelhantes também foram utilizadas na Arena da Juventude, localizada no Complexo Esportivo de Deodoro.Apesar de ser uma estrutura permanente, o local será redimensionado para utilização pós Jogos além de contar com sistemas que otimizam a utilização dos recursos naturais. No Parque de Deodoro também está sendo testado um sistema piloto de geração de energia solar para grandes eventos. Por ser uma região quente e com pouca oferta de sombra, foram instalados ombrelones com placas fotovoltaicas. A energia gerada é usada para a recarga de celulares e equipamentos elétricos portáveis.
“A Rio 2016 deixa a mensagem de que é possível e viável organizar um mega evento esportivo respeitando o meio ambiente. Mostramos que a partir da mudança de hábito, planejamento e reengenharia de que os espaços podem ser otimizados e usados com mais eficiência o que gera inúmeros ganhos para todos os envolvidos. A mensagem sustentável é sem dúvidas, um dos principais legados que os Jogos deixarão para o país”, conclui Tânia Braga.