Publicada originalmente em FINESTRA Edição 38
Com a função de filtrar os raios solares através da reflexão da radiação em todas as suas freqüências, de forma seletiva, os vidros refletivos podem ser grandes aliados do conforto ambiental e da eficiência energética nas edificações.
Desenvolvido com tecnologia que garante o controle eficiente da intensidade de luz e do calor transmitidos para os ambientes internos, através das fachadas e coberturas, o vidro refletivo requer, para sua especificação, que o projetista conheça suas características de desempenho e leve em consideração itens como transmissão de luz, calor, refletividade, cor do vidro, região em que se localiza a obra e finalidade da edificação. Sem esses e outros estudos, há riscos de o projeto apresentar problemas como claridade desconfortável e aquecimento do ambiente interno ou quebra de vidros em alto percentual, devido ao estresse térmico causado pela alta absorção energética.
Já no processo de câmara a vácuo, a camada refletiva é depositada em câmaras de alto vácuo, por bombardeio iônico e em atmosfera de plasma, depois de o vidro sair da linha de produção e ser resfriado. O resultado são vidros refletivos com melhor desempenho de proteção solar, porém com camada refletiva mais superficial. Esse tipo de vidro não admite a maioria dos beneficiamentos que utilizem calor, aplicados a outros vidros.
Entre 0 e 380 nanômetros estão as radiações ultravioleta (UV), que são invisíveis ao olho humano e têm características benéficas e maléficas para o homem. Na faixa entre 380 e 800 nanômetros, temos o espectro da luz visível, que, começa nas freqüências mais altas do violeta, passa pelo azul e vai pelo verde, amarelo até chegar ao vermelho, passando depois para as radiações no infravermelho (IV), que também são invisíveis e concentram mais calor (figura 2).
Figura 2 - Espectrofotometria Gráfico do espectro solar mostra a curva de distribuição das ondas da radiação oriundas do sol, tomando como base seus comprimentos de onda e suas freqüências.
A radiação solar é composta por aproximadamente 3% de UV, 42% de luz visível e 55% de IV. Ao atingir uma placa de vidro, essa radiação se divide da seguinte forma: parte atravessa o vidro, penetrando no ambiente interno (transmissão direta); parte é refletida para fora; e um terceiro percentual é absorvido pelo vidro, que se aquece e redistribui essa energia, devolvendo parte para o exterior e parte para o interior. Conclui-se que a quantidade total de radiação que passa para o interior é o percentual de transmissão direta (TD) mais a parte da energia absorvida pelo vidro que foi devolvida para o lado interno (AE).
Centro empresarial Times Square, projeto de Königsberger Vannucchi: vidro SG SI-20 On Clear, da Guardian
A radiação refletida não faz parte da energia que passa por transmissão direta, e vice-versa. Quando o vidro reflete demais, passa pouca radiação; quando absorve demais, além de permitir passar menos radiação, reduz a parcela refletida. A combinação entre os percentuais de radiação transmitida, refletida e absorvida definem o desempenho fotoenergético do vidro; o bom desempenho é o balanço desejável entre a transmissão de luz direta e o bloqueio máximo de calor. Este balanço ocorre matematicamente para cada comprimento de onda e vai muito além de simples cálculos aritméticos.
Não é fácil mensurar ou quantificar os valores fotoenergéticos, porém existem alguns coeficientes que definem seus índices. O balanço a considerar, na realidade, ocorre entre os percentuais de radiação, em todos os comprimentos de onda. No entanto, para a análise de um vidro para construção civil, são de grande interesse os valores relativos à luz visível. Por essa razão, alguns dos coeficientes analisados se referem à radiação luminosa e outros à radiação em todo o espectro. Só os especialistas analisam esses dados para comprimentos de onda específicos.
Cobertura da piscina do Hotel Hilton São Paulo Morumbi, projeto de Botti Rubin: vidros laminados refletivos da Santa Marina.
O vidro refletivo não é um espelho, ele reflete parcialmente para o lado onde há mais luz. Isso significa que durante o dia a reflexão é externa e durante a noite é interna, e se essa reflexão é excessiva o resultado pode ser desagradável. Portanto, passa a interessar o percentual de refletividade interna.
Alta, média e baixa reflexão
Não há uma classificação oficial, a interpretação desses dados é muito subjetiva. No entanto, nota-se uma tendência, há mais ou menos seis anos, no sentido de seleção de vidros menos refletivos. Para o arquiteto Paulo Duarte, esse conceito deve ser bem entendido, pois a maioria dos profissionais se preocupa apenas com o aspecto externo e esquece ou desconhece o fato de que, ao escurecer o dia, os mesmos vidros passam a ser refletivos internamente. Um dado importante e muito negativo é que, na maioria dos casos, os vidros de alto desempenho, como os de controle solar, apresentam coeficiente de refletividade interna (Ri) superior ao de refletividade externa (Re). Ou seja, se o arquiteto aceita ou deseja um vidro mais refletivo externamente, terá também maior refletividade internamente.
Paulo Duarte afirma que é possível classificar os vidros da seguinte maneira:
• alta refletividade - refletividade externa superior a 25%;
Vidros coloridos
Os vidros coloridos refletivos tendem a enfatizar a refletividade interna, obrigando a uma revisão dos valores fotoenergéticos. Portanto, é importante considerar também o efeito da cor do vidro. Pode-se obter um vidro colorido refletivo de três maneiras.
A primeira é aplicando uma camada refletiva na face 2 do vidro monolítico incolor, que reflita uma cor - verde, azul, dourado etc.
A segunda ocorre com a aplicação de uma camada refletiva neutra - geralmente o prata neutro - na face 2 de um vidro monolítico colorido na massa. Nesse caso, a luz refletida adquire a cor da massa do vidro, podendo ser verde, bronze, cinza e variações.
A terceira e última maneira é aplicar a camada refletiva neutra na face 3 de um vidro laminado e colocar um filme colorido de PVB. Sendo os vidros incolores, a luz refletida atravessa a lâmina incolor e o PVB colorido, reflete na face 3 do segundo vidro e atravessa novamente o PVB, resultando na cor refletida correspondente ao PVB (figura 3).
Figura 3 - Indicação das faces de vidro
É preciso ficar atento à cor do vidro monolítico ao especificar um vidro refletivo. A utilização de vidros coloridos influencia a cor refletida e altera o desempenho fototérmico do vidro refletivo, reduzindo a transmissão de luz direta, melhorando o fator solar e piorando a absorção de calor, porque aumenta a absorção de energia pelo vidro.
Sede administrativa dos Laboratórios Pfizer, São Paulo, projeto da Empresa Brasileira de Engenharia e Projetos: vidros refletivos Blindex.
A escolha adequada
• Escolha o que melhor atender ao cliente e à obra. Isso implica conhecer o que o projeto de ar condicionado requer como desempenho do vidro para melhor suprir as necessidades de conforto térmico, com eficiência e economia.
Também é preciso considerar o nível adequado de iluminação e determinar o bloqueio correto das radiações que mais conduzem o calor, de modo a reduzir a quantidade dele que penetra nos ambientes. O bloqueio de calor também implica o bloqueio da luz visível.
Os aspectos estéticos relativos às refletividades externa e, principalmente, interna também devem ser considerados, pois ninguém quer estar num quarto de hotel, por exemplo, de onde se pode observar uma bela paisagem, e, ao olhar através do vidro, ver quase somente sua própria imagem refletida.
Em tempo, Paulo Duarte é convidado para ministrar palestra no Fórum Ecotech.
Confira a programação do evento em: http://www.forumecotech.com.br/.