quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A Arquitetura Sustentável Brasileira de Lelé

Amigos,

Verdade seja dita, falar de arquitetura sustentável no Brasil sem falar do Lelé, seria no mínimo uma injustiça e um desrespeito. Ao contrário, eu respeito e valorizo a atitude de projetar com a consciência de que o edifício deve necessariamente interagir dinamicamente com o meio.

São as mesmas boas e velhas soluções de arquitetura bioclimática, que foram de certa forma esquecidas, mas que são uma vez mais a resposta para a arquitetura do século XXI e que Lelé já utiliza há décadas.

Reproduzo a seguir recente entrevista concedida por Lelé para a AU, publicada em Piniweb:


João Filgueiras Lima, o Lelé, afirma que não há arquitetura desvinculada de questões ambientais
por Rafael Frank, para AU (Pini)

Arquiteto reconhecido pelo aproveitamento de sistemas naturais antes mesmo da "onda" da sustentabilidade afirma que, mais do que necessidade de preservação de recursos, essas questões eram encaradas como uma forma de humanização dos projetos


"Não existe trabalho de arquitetura sem considerar as questões ambientais".

Esta foi a primeira frase do consagrado arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé durante conversa com a reportagem da PINIweb pouco antes de receber homenagem na categoria "Reconhecimento Setorial" do Prêmio PINI, evento de premiação realizado em 22 de outubro aos melhores fornecedores do setor da construção.

Lelé criticou os baixos investimentos na arquitetura brasileira, falou sobre a arquitetura de Dubai (Emirados Árabes) e contou um pouco de sua trajetória profissional. Confira.

O senhor tornou-se reconhecido pela composição de projetos com aproveitamento de sistemas naturais. Como esse trabalho começou?

Não existe trabalho de arquitetura sem considerar as questões ambientais. Aprendi muito com o Oscar [Niemeyer] sobre a relação com o espaço, com o entorno. Ele é minha grande inspiração, absorvo a arquitetura dele dentro da minha competência, mas não vou imitá-lo. Se fizesse isso, seria uma espécie de caricatura.

A idéia de priorizar sistemas naturais começou com meu trabalho no ambiente hospitalar. Você precisa humanizar esses locais. Por exemplo, a luz artificial é um problema. Há 30 anos, não se pensava em sustentabilidade e não havia problema de fornecimento energético. Era uma questão de humanização do projeto. Já a climatização por meio de ventos foi uma forma de controlar a infecção hospitalar.

No projeto que a Rede Sarah Kubitscheck está executando no Rio de Janeiro utilizamos sistemas complementares. Investimos muito em sistemas mecatrônicos e computadorizados para que o ar-condicionado e a ventilação natural trabalhassem juntos. Não há como prescindir dessa necessidade em uma cidade como o Rio. A tecnologia é um instrumento, não há arquitetura sem estética ou beleza.

Como encara a onda da sustentabilidade?

Eu continuo trabalhando da mesma forma que sempre trabalhei. Já trabalhava as questões ambientais, de humanizar. Quando me formei em arquitetura, dava-se muita importância ao sol, à ventilação natural. Acho que depois da guerra houve um funcionalismo que perdeu essas características. Hoje, essas questões estão voltando e as pessoas pensam que estou nisso.

Há alguma inspiração para os seus projetos?

Eu faço muita recorrência nos meus trabalhos. Você encontra muita coisa assim, o arquiteto vai se aprimorando. Na área hospitalar isso é muito forte, não dá para criar todo dia e há especificações. Um centro cirúrgico não será modificado por um arquiteto, mas pelo avanço da medicina.

Dubai anuncia frequentemente novos empreendimentos, alguns até mesmo questionáveis. Qual sua visão sobre a arquitetura que está se praticando nos Emirados Árabes?

Dubai executa diversas proezas pelos altos investimentos que são realizados na cidade. Há bons projetos e bons arquitetos no local. Há diversas proezas arquitetônicas, mas isso também não significa que seja uma boa arquitetura. Não há problema na proeza, mas sim em como é feita. Por exemplo, a Ópera de Sidney se transformou em um ícone internacional que representa a Austrália. O mesmo ocorre na ponte Golden Gate, na baía de São Francisco (EUA). A Cidade da Música, no Rio de Janeiro, é outro projeto muito interessante. Só que para isso, são necessários altos investimentos. Nenhum desses projetos teria a dimensão que possuem, se o orçamento fosse cortado pela metade. Se isso ocorre, há descaracterização do conceito do arquiteto ou a execução é ruim.

O Brasil investe pouco em projetos inovadores, são raros os prédios que recebem esse tipo de atenção. Os governos europeus investem em obras e oferecem a possibilidade para que os arquitetos executem projetos importantes. Os projetos de arquitetura são projetos obras de arte, marcam a cultura e o momento.

A fundação Guggenheim aposta nisso, basta observar o Museu Guggenheim Bilbao. O acervo do museu não é grande, cheguei a ver uma exposição de motos. O prédio virou um ícone, chega a chamar mais a atenção do que as obras que abriga e expõe. A cidade é pequena, não havia grandes atrativos no local até que o prédio ganhasse destaque. Hoje, é um centro de referência cultural na Europa. A arquitetura do museu tem grande responsabilidade nisso. O país precisa reconhecer essa questão.

Publicado originalmente (sem as imagens aqui inseridas) na revista AU (Pini), outubro de 2008.



sábado, 6 de dezembro de 2008

Paris Rive Gauche: urbanismo sustentável

Paris Rive Gauche: urbanismo sustentável
Por Andressa Fernandes, para AU (Pini)

Polêmico por sua arquitetura, inteligente pela abordagem sustentável: assim é o projeto Paris Rive Gauche, na capital francesa, que une três bairros (os quartiers parisienses) de Austerlitz, Tolbiac e Masséna. E inclui edifícios como a Biblioteca Nacional, projeto de Dominique Perrault, e a Universidade de Paris 7. A região passa por debate e reformulações desde os anos de 1990, com projetos de repercussão que ultrapassam o perímetro das edificações e chega à urbanização e à consciência dos parisienses.

A revitalização de sua área de 130 hectares (1,3 km²) surgiu com o objetivo de ligar o antigo bairro ao Rio Sena, ao superar a declividade do terreno e remanejar 26 hectares (260 mil m²) cobertos por linhas férreas, que ficavam entre o bairro e o rio. A idéia também inclui o desenvolvimento de um novo pólo econômico da cidade, tornando a região atrativa para indústrias e para a geração de emprego, e ainda promover a miscigenação urbana e social. Para isso, propõe reequilibrar, por exemplo, a quantidade de moradias sociais e estudantis e integrar a universidade à cidade.

"Paris Revi Gauche era o último bairro que ainda podia receber novas obras", afirma Ana Rocha Melhado que, desde 2003, realiza uma pesquisa de pós-doutorado sobre a revitalização do local, pelo Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de São Paulo, em parceria com a Université Pierre Mendés France (UPMF) e a Société d'Économie Mixte et d'Aménagement de la Ville de Paris (Semapa, a responsável pelo gerenciamento do projeto). As obras no Paris Revi Gauche ainda devem durar cerca de dez anos.

Sustentabilidade aplicada
Segundo Ana Rocha, no início do projeto a preocupação era mais social que sustentável. Aos poucos, itens como a redução no consumo de energia, gestão da água, redução da poluição sonora e melhoria de moradias e construções foram incorporadas e passaram a nortear o projeto, ao lado da necessidade de novos empregos, transporte e lazer.

Todos os prédios construídos nos últimos quatro anos passaram a utilizar eletricidade gerada a partir da energia solar captada por painéis fotovoltaicos, além de sistemas de reúso de água. Até 2025, o consumo energético da região deverá ser reduzido a ¼ do que era em 2000.

Com a certificação da Semapa pela norma ISO 14001, algumas exigências passaram a determinar projetos arquitetônicos: prédios teriam de ter cinco fachadas, espaços para convivência e jardim no térreo, além de um telhado verde. "A Universidade de Física e Química já foi totalmente pensada dentro desses critérios de gestão de resíduos e redução de impactos ambientais", afirma Ana. "Foi preciso que a luz natural entrasse por diversos ângulos da edificação, ao contrário do que acontece no modelo 'caixote' clássico, visto em construções mais antigas", diz.

A opção por meios de transporte menos poluentes também faz parte do conceito do Paris Revi Gauche: além do metrô, há o programa Velib, de aluguel de bicicletas em pontos estratégicos do bairro. "O conceito de sustentabilidade vai muito além das soluções técnicas de conforto acústico e energia; é preciso ter o transporte adequado", acredita a engenheira.

Arquitetura polêmica
As faculdades de Física, Química e Arquitetura já estão funcionando, junto das bibliotecas instaladas nos edifícios restaurados. Segundo Ana, a construção de edifícios residenciais no setor de Austerlitz deve começar em breve, enquanto as de Masséna e Tolbiac já estão prontas. Falta ainda agradar aos parisienses, que insistem na preferência pela arquitetura histórica.

Ana Rocha acredita que é possível trazer a idéia do Paris Revi Gauche para o Brasil, basta que as condições climáticas sejam revisadas. "Em São Paulo, esse conceito de urbanismo sustentável poderia ser utilizado na Operação Água Branca (criada em 1999, constitui-se de 13 obras que incluem a ampliação e alargamento de vias e abertura de novas ruas na região e viadutos sobre a linha férrea e o rio Tietê), mediante parceria entre capitais de investimento público e privado", afirma.

Ana acredita também que o Brasil está tecnicamente preparado para tal projeto. A maior barreira, pondera, será a cultural. "Envolve uma mudança de comportamento, associada à educação", diz. A pesquisadora ressalta que o investimento pesado em comunicação e conscientização da sociedade parisiense foi essencial para que o projeto desse certo. Essa também deverá ser condição básica para sua implantação e sobrevivência em um país como o Brasil.

O programa de Paris Rive Gauche:
- Investimento de 3 bilhões de euros entre 1991 e 2015;
- 26 hectares (260 mil m²) de linhas férreas cobertas;
- 20% da área para uso residencial (430 mil m²) com cinco mil unidades distribuídas entre unidades para estudantes, de interesse social e da iniciativa privada;
- 18% da área para serviços, como escolas (405 mil m²);
- 30% da área para bibliotecas e universidades (662 mil m² e 210 mil m², respectivamente);
- 32% da área para escritórios (700 mil m²), com capacidade para 60 mil funcionários;
- 10 hectares (98 mil m²) de área verde, com duas mil árvores.
Publicado originalmente em AU (Pini), em novembro 2008.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Uma parede viva

Parede que respira
Por Andressa Fernandes, para AU (Pini)

Uma parede viva que produz oxigênio e que ajuda a minimizar os efeitos da poluição nas grandes cidades. Esse é um dos projetos dos arquitetos-engenheiros Claudia Paquero e Marco Poletto, fundadores do londrino ecoLogicStudio. O Stem, como é chamado, funciona como uma espécie de parede viva capaz de unir a utilização da luz solar com a geração de oxigênio via fotossíntese.

O sistema é composto por garrafas recicláveis de plástico – não é um material 100% reciclável porque assim não haveria a transparência adequada ao projeto – que funcionam como unidades celulares, cada uma delas abrigando plantas chamadas blanket weeds, uma espécie de cobertor de algas. Esses vegetais realizam a fotossíntese e então liberam oxigênio no ambiente, troca permitida por meio de furos controlados em cada célula.
A eficácia do processo depende fundamentalmente do posicionamento da Stem, escolhido de acordo com a incidência da radiação solar no local em que será instalada. Com o constante desenvolvimento das algas, a Stem está sujeita a transformações contínuas. Fatores como a transparência líquida e seu potencial respiratório são variáveis ao longo do tempo, condição que tem tanto efeito ambiental quanto visual, funcionando como um original elemento de design. Cada unidade da Stem possui formato hexagonal, forma definida a partir do tipo de recipiente utilizado para criar os "tijolos" básicos do sistema.

Há no catálogo nove componentes com conteúdos variados – cada um conta com sete unidades de garrafas –, que correspondem a diferentes condições de luz e radiação. O atual projeto da Stem se auto-sustenta, mas ainda não funciona como uma parede estrutural. "Para ter essa função, a parede precisaria de uma espécie de armação a partir de determinada altura. No entanto, a Stem é bastante apropriada para uso em um sistema de fachadas", explica Claudia Paquero.

A escolha da planta a ser utilizada na Stem foi norteada não apenas por fatores como a eficiência na fotossíntese, mas também por sua disponibilidade no meio ambiente. Nesse cenário, os blanket weeds se mostraram ideais em Londres. "Esse tipo de alga é um problema nos lagos do Reino Unido, e precisa ser decomposto. Nossa idéia foi dar-lhe uma entrevida entre os lagos e a decomposição. Nesse período, ela pode ser utilizada durante cerca de três meses na Stem, sendo depois substituída", conta Claudia.
Além de realizar as trocas gasosas, os blanket weeds também possuem características tridimensionais, o que aumenta a quantidade de raios solares capturados. Segundo a arquiteta, outros países também possuem algas com características semelhantes, e, portanto, adequadas ao projeto. Isso garante que a Stem possa ser adaptada a diferentes radiações, mesmo considerando o fato de que o sistema tenha sido desenvolvido a partir da latitude solar em Londres.

Foto: exemplo de um componente da Stem, formado por sete garrafas. O conteúdo de cada garrafa varia: pode-se notar pelas cores que apresentam. Os componentes são unidos por cola ou fita elástica e todas as garrafas possuem um pequeno furo para as trocas gasosas
A adaptação da Stem a lugares como o Brasil, por exemplo, inclui a escolha do material orgânico apropriado, a quantidade em que esse material deverá ser utilizado e sua geometria. De acordo com Claudia, não há melhores lugares para a implantação do sistema, mas sim lugares em que ele pode ser mais necessário – caso das grandes cidades onde a concentração de gases como o CO² vem aumentando.
A Stem foi inicialmente instalada na Galeria 77 em Londres, sendo mais tarde exposta na também londrina Nous Gallery – e presente na Bienal de Arquitetura de Londres, na Semana de Arquitetura de Londres e na Bienal de Arquitetura de Veneza, todas em 2006. Entre os benefícios do sistema, Claudia e Marco destacam a capacidade de reequilibrar a quantidade de oxigênio por meio de uma ação simples, além da interatividade com o usuário. "Devido à modulação das condições de luz, os usuários terão mais que uma interação visual com a Stem. Eles também receberão benefícios pela produção de oxigênio, criando uma relação dinâmica com o sistema", garante Claudia.

O ecoLogicStudio desenvolveu também a Stem cloud, uma versão mais estruturada do modelo. Os princípios de atuação são os mesmos da Stem, com a diferença de que a nova versão possibilita a criação de ambientes em três dimensões, enquanto a primeira tem apenas duas. Dessa forma, a Stem cloud pode de fato viabilizar instalações fechadas e privativas, como espaços de trabalho, em vez de concebê-las apenas como um sistema de parede/filtro. Por se tratar de uma estrutura 3D, a altura de uma Stem cloud é definida de acordo com a escala dos móveis do espaço em questão. Essa estrutura que poderá ser conferida na Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Sevilha, no final de 2008, na qual a Stem cloud estruturará um pavilhão.

Segundo a arquiteta, no momento o sistema ainda é um projeto de pesquisa, e por isso necessitaria ser melhor desenvolvido para a aplicação na indústria da construção. Mas, ainda que a Stem não seja um produto comercial, seu preço já pode ser calculado – e é bem salgado. Um espaço de 5 x 5 m, por exemplo, sai por 25 mil euros. O preço por componente se mostra mais acessível: uma Stem (conjunto com sete garrafas) custa 15 euros, mais o custo da armação, enquanto uma Stem cloud custa 50 euros (cada uma com 50 x 50 x 50 cm aproximadamente).
Por Andressa Fernandes, para AU (Pini), março de 2008

O green building ficou pronto e agora?

Os primeiros green buildings brasileiros estão sendo concluídos. Outras considerações agora passam a ser feitas. Reproduzo a seguir texto de Newton Figueiredo, da SustentaX, que julgo pertinente:

Foto: Perspectiva do empreendimento comercial Rochaverá, em São Paulo.

O green building ficou pronto e agora?
Por Newton Figueiredo, publicado originalmente no Fórum da Construção

Após obter uma certificação ambiental, o processo de sustentabilidade de uma edificação deve continuar. Com a sua ocupação, novos desafios surgem, como, por exemplo, garantir a eficiência dos sistemas condominiais e a saúde de seus ocupantes.

Com o objetivo de gerar menores impactos no meio ambiente, os prédios verdes (green buildings) são concebidos e construídos levando-se em conta uma série de cuidados, como controle de erosão e sedimentação do terreno, separação e armazenagem de resíduos recicláveis, utilização de madeira de reflorestamento, redução do consumo de água, entre outros itens.

Aspectos como eficiência energética, medidas para a racionalização do uso da água e o gerenciamento da qualidade do ar interno merecem especial atenção também após a obra. O objetivo de toda concepção dos Green Buildings é fazer com que haja redução dos custos condominiais e melhores condições de salubridade e de qualidade de vida para os colaboradores.

Estudos mostram que poeira, mofo, bactérias, vírus e uma série de outros poluentes orgânicos e inorgânicos, em excesso nos ambientes de trabalho, afetam a saúde dos profissionais, que podem desenvolver doenças, como a asma, enfermidade crônica muitas vezes associada à má qualidade do ar interno.

Além dos gastos gerados nos tratamentos, outros fatores econômicos devem ser considerados. De acordo com o relatório da Environmental Protection Agency (EPA), dos Estados Unidos, os empregadores podem gastar dezenas de bilhões de dólares por ano como resultado de problemas da qualidade do ar interno em suas instalações relacionados à perda de produtividade e ao aumento nos índices de absenteísmo.

Nesse sentido, há uma série de medidas que podem ser colocadas em prática, como a utilização de produtos de limpeza com baixos índices de COV (Compostos Orgânicos Voláteis), que prejudicam a saúde. Outra maneira simples e eficaz é o carpete de contenção na entrada. Corretamente dimensionado, reduz em até 80% a entrada de poeira nos ambientes.

É sempre bom lembrar que passamos ao redor de 90% de nosso tempo dentro de edificações. O compromisso com a responsabilidade socioambiental e com a qualidade de vida das pessoas é um processo contínuo que não acaba com a certificação e que não implica, necessariamente, em maiores gastos, mas no uso consciente de materiais e recursos e na implementação de novas práticas e costumes.

Oásis sustentável

Empresa britânica desenvolve projeto que se valerá do mar e do sol para produzir água doce e transformar o deserto do Saara em uma grande reserva ambiental
por Joice Tavares - Revista Isto É

Esqueça por algum tempo a imagem da região árida, inóspita e desértica do Saara. Agora imagine uma área com agricultura, água limpa e energia renovável. Finalmente, tente visualizar essa área ideal encravada no próprio Saara, um dos maiores desertos do planeta.

Não se trata de um oásis natural, mas, isso sim, do resultado de uma das maiores intervenções do homem no meio ambiente - uma espécie de oásis sustentável. Está-se falando do Sahara Forest Project, o mais ambicioso plano de construção ecológica no coração desse escaldante universo de areia, desenvolvido pela empresa britânica Seawater Greenhouse.

O objetivo é devolver ao deserto do Saara a sua capacidade de produção de alimentos e de água limpa, de reciclagem e renovação de energia, exatamente como era essa região antes da desertificação, que os geólogos estimam ter ocorrido há 40 mil anos.

Para que esse fenômeno de transformação do deserto seja possível, o sistema de tecnologia previsto no Sahara Forest Project se valerá da água do mar, do sol e de condições atmosféricas para criar "ilhas" produtivas dentro de gigantescas estufas. Na entrada de cada uma delas serão instalados vaporizadores que transformarão a água marinha em puro vapor.

A umidade fará com que a temperatura no interior das estufas se mantenha na casa dos 15 graus centígrados, ou seja, em condições ideais para o desenvolvimento de lavouras. Quanto à luz solar, ela será filtrada nas estufas por telhados especiais.

Todo o vapor produzido será então revertido novamente à forma líquida através de condensadores. É interessante destacar que o volume de água pura que será obtido a partir dessa condensação será útil e suficiente não somente no processo de hidratação das plantas cultivadas como poderá também ser responsável pela geração e fornecimento de energia.

A água abastecerá conjuntos de turbinas que integrarão o sistema de obtenção de energia solar. Segundo os engenheiros e ambientalistas da Seawater Greenhouse, a energia resultante desse projeto será tão potente que poderá ser distribuída para a Europa.

Tecnologia do deserto

O desafio era contornar as bruscas mudanças de temperatura e o excesso de sal no solo arenoso. Nos projetos piloto, engenheiros conseguiram lavouras estáveis e produtivas durante todo o ano.

Produzir, armazenar e preservar água no deserto é, a rigor, o ponto vital do projeto de instalação de uma cidade no Saara. Além da geração de energia, essa água será utilizada, por exemplo, no cultivo de um tipo de pinhão chamado pinhão manso - cuja semente pode ser empregada na produção de biodiesel.
Essa planta é bastante cultivada no Brasil nas diversas áreas com solos mais pobres das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste e trata-se de um arbusto que chega a atingir até quatro metros de altura, conseguindo sobreviver em condições pouco favoráveis - e é isso que garante a sua adaptação ao deserto.
Atualmente o Sahara Forest Project já possui plantas demonstrativas em regiões áridas do Tenerife (a maior ilha do arquipélago das Canárias), de Omã e também dos Emirados Árabes Unidos, localizados na Península Arábica. Em Omã as estufas já rendem culturas produtivas para os povos que vivem no deserto.
O sucesso dos planos piloto mostra que o projeto é uma alternativa racional e viável. Além de geração de energia (solar e através de biocombustíveis), produção de água e estabelecimento de agricultura (benefícios voltados mais diretamente para o homem), ele trará também vantagens ambientais indiretas ao funcionar no combate à cres cente desertificação do planeta.
Piblicado em Isto É, em setembro de 2008.

Cemitério solar na Espanha

Em uma cidade de 116 mil habitantes chamada Santa Coloma de Gramenet, no subúrbio da província catalã de Barcelona, foram instalados 752 m² de painéis solares fotovoltaicos sobre a cobertura dos mausoléus do cemitério local.

E embora seja o quinto e o mais eficiente parque solar implantado na cidade, a iniciativa da prefeitura sofreu resistência dos moradores. A prefeitura justifica a escolha do local por ser uma das poucas áreas na cidade onde se encontram todas as condições para a implantação: é um espaço aberto, plano e que recebe muita luz solar por um bom período de tempo todos os dias.

Por outro lado, a empresa selecionada para assumir a gestão do parque solar, a Live Energy, teve o cuidado de realizar uma campanha de conscientização com a população local e ainda garantiu que a instalação das peças seria de forma menos invasiva possível, com uma angulação de 30º.

Os 462 painéis ocupam 5% da área do total do cemitério e, com potência de 100 kW, o conjunto gera mais de 124.000 kWh por ano, o suficiente para abastecer 60 casas anualmente. Foram gastos 720 mil euros com a instalação e a previsão é que se evite a emissão de 62 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.

Santa Coloma de Gramenet é uma das cidades mais avançadas na geração e uso de energia limpa na Catalunha. São 1.083 m² de painéis fotovoltaicos e 2000 m² de painéis térmicos instalados, o que equivale economia de 900 mil kw/hora, ou seja, o consumo de 145 famílias, além de evitar a emissão de 450 toneladas por ano de dióxido de carbono na atmosfera.

Para 2009, está previsto um plano de ampliação do número de painéis, com a expectativa de triplicar a quantidade de energia gerada.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

GreenBuild Conference & Expo - Boston 2008

Caros amigos,

Acabo de chegar de Boston, onde participei da GreenBuild Conference & Expo 2008 evento anual promovido pelo USGBC e que se tornou este ano provavelmente o maior evento de Construção Sustentável do mundo.

Em parceria da Câmara de Arquitetos com o GBC-Brasil, organizamos a Missão Técnica Green Buildings em Nova York e Boston, que reuniu profissionais de várias empresas brasileiras que têm se dedicado a diferentes setores da construção sustentável no país. Em uma próxima postagem aqui no blog, tratarei especificamente da nossa missão.

Agora relato um pouco sobre o evento, que apresenta alguns números bem eloquentes, como costumam ser as coisas nos EUA.

O Boston Convention Center ficou totalmente tomado por 4 dias, onde se realizaram a feira e a conferencia, com mais de 2.000 empresas expositoras (dentre as quais uma brasileira, a SustentaX), os 240 workshops programados em dezenas de salas e mais de 30.000 participantes de diversas partes do mundo.

A operação do serviço de almoço para 15.000 pessoas simultaneamente exigia uma logística semelhante a uma operação de guerra (o que eles fazem como nenhum outro país do mundo).
O serviço online de informações e programação das agendas individuais dos participantes, em meio a tantas opções e tamanha variedade de assuntos, funcionou bem. Todos sabiam onde ir e quando ir. Filas aceitáveis. O serviço de shuttle para os hotéis também funcionou bem. Internet wireless em toda parte. Em resumo, organização praticamente perfeita. Soube que em edições anteriores as coisas não tinham funcionado tão bem. Mas em Boston, tudo parecia estar acontecendo como planejado.

É certo que muitas palestras tinham temas recorrentes e por vezes redundantes, mas os workshops técnicos, especialmente aqueles que tratavam de certicação ambiental (leia-se: LEED) foram, segundo alguns de nossos companheiros de viagem que assistiram a alguns deles, muito elucidativos.

Segundo eles, que atuam na área pelo CTE, foi gratificante perceber que nos projetos brasileiros nos quais se está buscando a certificação LEED, nós não estamos em nada defasados em relação aos melhores casos dos EUA, tanto em processos e métodos quanto na qualidade do produto da construção.

Constatou-se ainda que, tanto lá quanto aqui, as universidades permanecem deslocadas da realidade de mercado, propondo muitas vezes soluções viáveis tecnicamente mas não comercialmente.

Os desafios são proporcionais ao tamanho do mercado e a crise financeira que se iniciou no mercado imobiliário nos EUA provavelmente trará consequências adversas, mas acredito que podemos crer, a partir desta vista à GreenBuild Conference & Expo de Boston, que o caminho em direção à sustentabilidade é mesmo sem volta.

A indústria da construção, que é também cada vez mais global, já percebeu sua cota de responsabilidade e, afinal, como disse o arquebispo Desmond Tutu em sua palestra na abertura do evento: "God is green".

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Arquitetura e Sustentabilidade em Porto Velho

No mês passado estive em Porto Velho como professor convidado no curso de Arquitetura da Uniron, Universidade de Rondônia, que está formando a sua primeira turma. A disciplina: Arquitetura Sustentável.

É notável que já desde início a coordenação do curso, na pessoa da colega Arq. Cristina, esteja buscando oferecer aos seus graduandos a melhor formação que se possa obter, especialmente em se tratando de uma região onde ainda muito o que se fazer em prol da sustentabilidade. Abordo aqui apenas alguns aspectos, que puder observar.

Esta foi a minha segunda visita a Porto Velho e à Uniron e nas duas oportunidades, pude perceber, sobrevoando a porção sul da Amazônia, como há, de fato, ainda muitas queimadas, em pontos diversos aparentemente isolados no meio da imensa floresta. É mesmo preciso que se ofereça estímulo convincente o suficiente fazer um proprietário de terras manter a sua parte de floresta e obter retorno por isto. Ou seja, dinheiro. É o que precisa.

Nos dois hotéis em que estive, em todos os quartos, nos banheiros são utilizados chuveiros elétricos. Não vi instalações de coletores solares em nenhuma parte e a região, que está a apenas 8 graus de latitude sul, é, portanto, de sol abundante e praticamente constante todo o ano. Detalhe: os chuveiros consomem energia elétrica que é em grande parte produzida em usinas térmicas a diesel! Pior: o combustível, que não é produzido localmente, tem de ser trazido de barco de Manaus, em uma viagem de 7 dias. Sem comentários.

Mas, as coisas estão mudando. As duas únicas usinas hidrelétricas em construção atualmente no Brasil estão sendo feitas no Rio Madeira, em Rondônia e serão capazes de atender não apenas a demanda da região como contribuirão para o progresso do país injetando mais energia no sistema elétrico nacional.

As duas novas usinas, chamadas Santo Antônio e Jirau, serão as primeiras a terem sido aprovadas pelo ministério do Meio Ambiente segundo as novas e mais exigentes regulamentações ambientais que foram aprovadas pela então ministra Marina Silva, que inclusive é da região (nasceu no Acre). Estas novas normas colocam o Brasil entre os de legislação ambiental mais avançada do mundo (uns diriam mais restritiva do mundo) e farão destas novas usinas hidrelétricas as mais ambientalmente responsáveis do planeta.

Um exemplo para muitos países, especialmente para a China, onde recentemente foi inaugurada a usina de Três Gargantas que, além do imenso impacto ambiental, provocou um dos maiores movimentos migratórios que tem registro na história da humanidade, obrigando mais de 4 milhões de pessoas a deixarem as suas vilas, que foram inundadas.

Espero que quando a energia elétrica vier a ser produzida de forma renovável em Porto Velho, os arquitetos locais (muitos deles terão já sido formados lá mesmo), saibam utilizá-la de forma eficiente e ponderada, valorizando a que recebemos gratuitamente do sol e do vento, de forma que nos aproximemos da almejada sustentabilidade.

Se assim for, ficarei satisfeito em ter podido contribuir um pouco e terão valido a pena as minhas visitas a Porto Velho, onde espero voltar em breve, para rever os novos amigos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Caros amigos,

Foi realizada neste início de mês mais uma turma do meu curso "Arquitetura Sustentável", na Câmara de Arquitos, em São Paulo.

Mais uma vez, recebemos colegas de diversas partes do Brasil, buscando se desenvolver neste tema que tem ganho importância notável ultimamente.

Tardiamente, é fato, mas não tarde demais, por que, assim como estes colegas que estiveram no curso, muitos mais pelo país já sabem que nossa responsabilidade como projetistas é enorme quanto à contribuição que podemos dar para o uso responsável da energia e dos recursos naturais.

Vejam a seguir algumas opiniões dos participantes desta turma do curso:

“Achei o curso fantástico! Ótima didática, bastante informação, novidades. Era o que eu esperava.”
Arq. Luana Afio Cavalcante, Autônoma – Fortaleza/CE

“Estudei em escola técnica de edificações e posteriormente fiz o curso de arquitetura e urbanismo, na UFBA. Posso dizer que depois de 30 anos em contato com a Arquitetura, hoje me lembrei por que escolhi esta profissão.”
Arq. Hermann Navarro Jacques, IURD – Salvador/BA

“O curso foi maravilhoso, consegui entender como funcionam os materiais aplicados para a sustentabilidade e como valorizar o projeto.”
Arq. Kátia Silene Minghella, JNT Engenharia – São Paulo/SP
“O curso foi meu primeiro contato efetivo com a arquitetura sustentável e achei excelente, abre os horizontes através do conhecimento vasto do professor.”
Arq. Tatiana França Pitta Campos, Vector Arquitetura e Consultoria Ltda – Rio de Janeiro/RJ
“O curso foi muito relevante para introduzir as soluções de eficiência energética no projeto de edificações”
Arq. Rosana Silva Vieira, Patrícia Penna Arquitetura e Design - Taubaté/SP
Muito obrigado aos colegas.
Para saber sobre as próximas turmas do curso, fique atento à programação da EcoBuilding.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Resíduos de Construção na TV

Caros amigos,

Está no ar o programa "Entre Formigas e Gafanhotos", da TV Ideal, do Grupo Abril, que exibe uma série de programas sobre sustentabilidade.

Tive a satisfação de ter sido convidado a participar de um dos programas (foto), a respeito dos Resíduos de Construção de Demolição - RCD, que contou também com contribuição da colega Daniela Corcuera e de outros profissionais de diferentes áreas.

No link a seguir você pode assistir a uma síntese do programa:
http://www.idealtv.com.br/formigasegafanhotos/

Com linguagem fácil e dinâmica, o programa é uma boa introdução a este importante tema.

Vale a pena.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Tecnologia de projetos para a sustentabilidade

O forma como se projetam edifícios está mudando.

Os requisitos da sustentabilidade estão exigindo dos arquitetos mais domínio sobre o projeto, mais dedicação aos estudos preliminares e ao desenvolvimento, que muitas vezes requerem simulações, mais gente envolvida no processo, mais tempo e consequentemente, mais custos.

Neste contexto, recursos computacionais podem ser muito úteis para promover a precisão do projeto, facilitar a comunicação entre projetistas e agilizar a tomada de decisões.

Vejam a seguir interessantes videos (em inglês) nos quais a Autodesk apresenta uma ferramenta que desenvolveu com apoio do USGBC, utilizando a tecnologia BIM - Building Information Modeling, que permite excelente interação entre projetistas e seus projetos, inclusive utilizando a base de dados LEED para pré-avaliação da classificação que a edificação obteria para a certificação ambiental, ainda durante o processo de projeto.

O sistema, muito interessante, ainda está em testes e será apresentado ao mercado durante a GreenBuild Conference & Expo, que ocorre este mês de novembro 2008 em Boston, EUA.

A Câmara de Arquitetos está organizando, junto ao GBC-Brasil, uma Missão Técnica para o evento, que prevê também vistas a green buildings em Nova York e Boston. Eu acompanharei o grupo e trarei notícias aqui neste blog nas próximas semanas.





(Videos reproduzidos aqui com autorização da Autodesk Brasil - agradecimentos a Thalita Tralci e Ruy Gatti)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

As construções sustentáveis no Brasil

O programa Cidades e Soluções, da GloboNews, neste mês apresenta uma matéria sobre as construções sustentáveis no Brasil. O jornalista André Trigueiro analisa edifícios certificados LEED no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Vale a pena assistir ao video do programa em:


As construções sustentáveis no Brasil
Qui, 02/10/08

por André Trigueiro
GloboNews

domingo, 19 de outubro de 2008

Edifícios giratórios: Será que funcionam?

A possibilidade de girar um edifício pronto como se estivesse em projeto parece fascinar os arquitetos. Aproveitar o sol de inverno durante o dia todo, evitar o sol de verão e ainda poder ter uma vista de 360 graus parece ser uma possibilidade arquitetônica fascinante.

Alguns projetos de edifícios giratórios estão sendo propostos para diferentes cidades do mundo. Alguns dos mais impressionantes estão previstos para Dubai (onde mais?).

Acompanhe no video que segue uma matéria (em espanhol) sobre um projeto para Dubai que utiliza geradores eólicos localizados entre os pavimentos para produzir energia elétrica para consumo da própria edificação.



Considerando que se encontrarão pessoas dispostas a pagar caro para habitar estas edificações, especialmente em se tratando dos Emirados Árabes, a questão que parece natural a respeito destes projetos giratórios é saber se as pessoas se habituarão a viver com paisagem externa dinâmica e à sensação de movimento (ainda que se possa manter o apartamento parado, que sentido faria habitar um apartamento giratório e não girá-lo?).

Há ainda a questão energética: se produzirá energia suficiente para fazer funcionar o sistema e ainda fornecer energia para o prédio? A manutenção de tantas peças móveis justificaria o esforço?

De qualquer forma, não quero aqui argumentar que não dará certo. A idéia é interessante. Mas toda nova tecnologia tem sua dose de risco de falhar e sua chance de sucesso.

O que me parece coerente observar é que, em se tratando de arquitetura, nem todas as tecnologias que se dizem sustentáveis e aparecem como soluções para a construção sustentável são de fato úteis para a esta finalidade. Todos querem parecer verdes e em meio a tantas novidades tecnológicas algumas aproveitam o momento para de alguma forma se destacarem.

Estas torrres giratórias de Dubai seguramente se destacarão, mesmo em um contexto em que há outras obras impressionantes, mas somente com o tempo saberemos se de fato funcionarão.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Grã-Bretanha apresenta projeto de casa carbono zero

Grã-Bretanha apresenta projeto de casa carbono zero
Fonte: site BBC.co.ok

Um novo projeto da primeira casa que atende a padrões de conservação ambiental a serem impostos na Grã-Bretanha até 2016 está sendo apresentado nesta segunda-feira em Watford, próximo a Londres, na feira Offsite 2007.
A casa de dois dormitórios, projetada pela empresa Kingspan Off-site, tem um revestimento que faz com que ela perca 65% menos de calor do que uma casa comum. A perda de calor é uma característica importante para moradias em países fora da zona tropical, onde a calefação é amplamente utilizada no inverno.

Painéis solares, aquecedor a biomassa e mecanismos para uso eficaz de água - inclusive com a coleta de água da chuva -, estão entre as características da casa.
O ministro das Finanças da Grã-Bretanha, Gordon Brown, anunciou em seu orçamento, apresentado em março passado, que casas de carbono zero ficarão isentas do imposto sobre a transferência de imóveis.

(foto) Um medidor inteligente vai mostrar se há desperdício de energia

Aquecedores a biomassa funcionam com combustíveis orgânicos como bolinhas de madeira e são classificados como "zero" em emissão de gases do efeito estufa porque a quantidade de dióxido de carbono que expelem quando em funcionamento é compensada pela quantidade absorvida quando o cultivo que deu origem ao seu combustível foi desenvolvido.

A casa tem ainda um sistema de separação de lixo que permite que material combustível seja queimado para contribuir para o fornecimento de energia doméstica. A quantidade de energia tem um medidor inteligente para que os moradores saibam o quanto estão desperdiçando.
O conceito do cidadão "carbono zero" é compensar as emissões decorrentes do seu estilo de vida por meio de ações que retiram gases de efeito estufa da atmosfera.

Veja abaixo algumas das características da casa zero carbono:

1. Estrutura para ventilação no verão.

2. Painel solar na parte de trás, para aquecer água e gerar eletricidade.

3. Revestimento reforçado para evitar perda de calor no inverno.

4. Aquecedor a biomassa.

Energia no Mundo

Energia no Mundo

Fonte: BBC

A demanda global por energia aumentou nos últimos 150 anos, acompanhando o desenvolvimento industrial e o crescimento populacional. Especialistas prevêem que a sede por energia deve continuar a crescer em ao menos 50% até 2030, à medida em que países em desenvolvimento como a China e a Índia procurarem manter seu rápido crescimento econômico. As maiores fontes da energia mundial (responsáveis por cerca de 80% da energia consumida no mundo no momento) são o carvão, o petróleo e o gás natural - os chamados "combustíveis fósseis" por terem surgido séculos atrás a partir de restos de plantas e animais mortos, ricos em carbono. No entanto, essas são fontes que um dia vão se esgotar.


Nas últimas décadas, também tem aumentado a preocupação sobre o impacto ambiental desses combustíveis. Os maiores especialistas em clima alertam que as emissões de gases do efeito estufa, criados pela queima de combustíveis fósseis e por outras atividades humanas, precisam ser reduzidas substancialmente para evitar mudanças climáticas perigosas. A pressão para substituir os combustíveis fósseis colocou em evidência as chamadas fontes renováveis de energia - como, por exemplo, o Sol e os ventos. Mas elas também enfrentam desafios: as tecnologias viáveis ainda estão se desenvolvendo, e os custos de instalação tendem a ser altos. Essas fontes de energia não devem conseguir uma fatia muito significativa do mercado dentro dos próximos 25 anos.

Combustíveis fósseis

(foto) A queima de carvão é uma das principais fontes de emissão de CO2

CARVÃO - O principal combustível associado com a Revolução Industrial continua sendo uma fonte de energia essencial. A produção de carvão mineral em todo o mundo cresceu 65% nos últimos 25 anos. As reservas são abundantes, e estima-se que durem pelo menos mais 164 anos - mais do que o petróleo ou o gás natural. O carvão supre 24% das necessidades primárias de energia mundiais, e é a maior fonte única para a eletricidade no planeta (40%). Mas ele também é o combustível que emite mais gases poluentes proporcionalmente, levando-se em conta a energia que produz).

PETRÓLEO - Apesar de conhecido há muitos séculos, só começou a ser usado como combustível recentemente. Desde o desenvolvimento dos processos de refinaria e o início do boom comercial, há 150 anos, o petróleo assumiu um papel central na economia mundial. Além de ser usado para mover carros, aviões e navios, e para aquecer casas e escritórios, ele também fornece matéria-prima para plásticos, produtos químicos, fertilizantes e tecidos. Ele responde por 6,9% da geração de energia elétrica. A cotação do petróleo vem atingindo altas recordes no mercado internacional desde 2005, por causa da instabilidade em áreas onde ele é mais extraído e por sinais de que os suprimentos podem estar se esgotando.

GÁS NATURAL - É encontrado em bolsões próprios, ou em depósitos de carvão e petróleo. Sua queima é menos poluente que a do petróleo e do carvão, pois ele produz menos dióxido de carbono que esses outros combustíveis. Sua contribuição para a demanda primária total de energia deve subir em 25% até 2030. Ele é uma importante fonte para a geração de energia e a produção industrial. O gás liquefeito e comprimido também é usado em veículos.

Energia Nuclear
FISSÃO - A fissão nuclear a base do atual sistema de produção de energia desse tipo. Ela envolve a divisão dos núcleos de certos isótopos como o urânio-235, durante a qual é liberada grande quantidade de energia. Reatores nucleares comerciais começaram a funcionar nos anos 50 e, atualmente, os cerca de 440 que existem respondem por mais de 15% da energia global. Apesar de prometer energia limpa e abundante, a indústria nuclear enfrenta resistência por parte da opinião pública por causa de acidentes (como o de reator de Chernobyl, em 1986) ou devido à dificuldade de se lidar com o lixo nuclear. Entretanto, com o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e a pressão cada vez maior para que diminua a poluição ligada às mudanças climáticas, alguns países contemplam a possibilidade de expandir sua capacidade de produção desse tipo de energia.

(foto) O processo de fusão está associado a altas temperaturas

FUSÃO - Esse sistema parte do princípio de que energia é liberada ao se forçar a união de dois núcleos atômicos com menor massa, em vez de dividir um maior. É o processo que cria a energia nas estrelas. Alguns acreditam que a fusão nuclear irá um dia produzir uma alternativa limpa aos combustíveis fósseis, permitindo criar grande quantidade de energia usando combustíveis abundantes, como água e lítio, sem produzir poluentes como subproduto. No entanto, ainda existem muitas dificuldades científicas e técnicas a se resolver antes de essa tecnologia estar disponível para uso comercial - o que não deve ocorrer antes de 2045 ou 2050.

Energias hidrelétrica e eólica

HIDRELÉTRICA - É a principal forma de produção renovável de energia hoje em dia. Ela se fundamenta no aproveitamento da água, que é canalizada para uma turbina e a movimenta, o que alimenta um gerador. Existe um gasto significativo na construção inicial da usina e da represa, mas a energia hidrelétrica é barata, não tem a desvantagem de produzir dióxido de carbono nem depende da variação dos preços e da oferta de combustíveis. Em 2003, quase 16% da energia produzida no mundo vinha de usinas hidrelétricas. Trata-se do principal tipo de energia produzida no Brasil para uso em residências e escritórios.


EÓLICA - A energia eólica é atualmente a segunda mais comum forma de energia renovável, só perdendo para a hidrelétrica. As turbinas, geralmente com dezenas de metros de diâmetro, não poluem e são fáceis de construir. Elas podem ser instaladas tanto em terra quanto no mar, mas a produção de energia depende da existência de ventos. Os críticos também dizem que as turbinas prejudicam muito o panorama. A Europa é a região do mundo onde mais se aproveita a energia eólica.


Energias solar e maremotriz

(foto) A energia solar está se popularizando

SOLAR - O Sol é uma fonte de energia não-poluidora e renovável que pode ser aproveitada por meio das células fotovoltaicas. Instaladas em painéis, elas transformam os raios solares em energia. Os painéis já estão instalados em telhados de muitas casas e estabelecimentos comerciais em todo o mundo. Em uma escala maior, sistemas de energia solar foram construídos e estão sendo projetados em várias cidades de países como a Alemanha e os Estados Unidos. A solar é possivelmente a forma mais cara de energia renovável. No entanto, os custos estão caindo e, uma vez instalada, a energia é gratuita.

MAREMOTRIZ - Os oceanos têm um grande potencial energético não utilizado. Pouco conhecidas no Brasil, as tecnologias de energia maremotriz são relativamente novas e pouco usadas, em comparação com as tecnologias para aproveitamento das energias solar e eólica. Os custos ainda são altos, o que significa que, pelo menos por ora, é improvável que essa tecnologia seja competitiva do ponto de vista econômico. Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos, o potencial energético das ondas nas áreas costeiras é de entre dois e três milhões de megawatts. O sul da África, a Austrália e o norte do Canadá são algumas das áreas consideradas ricas em potencial maremotriz.

Outras fontes de energia

(foto) O álcool pode ser produzido a partir da cana e de outras lavouras

BIOMASSA - Um termo amplo, que abrange materiais não-fósseis de origem biológica que constituem uma fonte de energia renovável. Esse material de origem vegetal pode ser convertido em combustíveis. Alguns tipos de biomassa são mais usados hoje em dia, como os óleos vegetais, grãos e a cana-de-açúcar. Há cada vez mais carros em todo mundo que são movidos a biocombustíveis ou a uma mistura de biocombustíveis e combustíveis fósseis. O Brasil é o pioneiro mundial no uso do álcool combustível em larga escala. Em suas viagens internacionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado incentivar mais países a optar por essa alternativa energética.


GEOTÉRMICA - A energia geotérmica usa o calor do núcleo da Terra, que aquece rochas, fontes de água próximas da superfície ou lençóis subterrâneos, aproveitados com a perfuração de poços. Apenas 0,4% da capacidade de geração de energia no mundo é geotérmica. Na Islândia, água quente é encanada diretamente da natureza e usada no aquecimento das casas. Em vários outros países, como Estados Unidos, Japão e Nova Zelândia, a energia geotérmica também é utilizada.

HIDROGÊNIO - Embora o hidrogênio não seja uma fonte primária de energia (ou seja, ele tem que ser criado a partir de outros combustíveis), estudiosos acreditam que é uma grande promessa para o futuro. O hidrogênio é abundante e não polui. No entanto, a tecnologia para aproveitá-lo ainda tem problemas, e o hidrogênio é difícil de se transportar e armazenar.

ENERGIA DOS OCEANOS - Existe o potencial de se produzir energia se aproveitando a diferença de temperatura entre o fundo dos oceanos e a superfície, aquecida pelo Sol. Há uma estimativa de que menos de 0,1% da energia solar dos oceanos poderia saciar mais de 20% da demanda diária de energia dos Estados Unidos. Mas a tecnologia para aproveitar esse tipo de energia ainda está no futuro distante.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

R4House - Arq. Luis de Garrido - Barcelona, Construmat 2007

R4House - Barcelona, Construmat 2007

Em maio de 2007 estivemos em Missão Técnica em Barcelona por ocasião da Construmat, grande feira da construção que ocorre a cada dois anos na capital da Catalunha. Lá conhecemos a R4 House, interessante proposta de casa sustentável projetada pelo arquiteto valenciano Luis de Garrido.

Tive oportunidade de conhecer o arquiteto durante a feira na própria R4 House, que foi montada em um dos pavilhões da Gran Via, novo centro de exposições de Barcelona, uma vez a feira havia crescido e o tradicional centro do Mont Juic já não comportava a dimensão do evento.

Naquela ocasião, o convidei a vir a São Paulo para participar de um evento do qual eu participava da organização, e que veio a acontecer em maio de 2008, o EcoBuilding, promoviodo pela ANAB - Associação Brasileira de Arquitetura Bioecológica. Mais uma vez tive oportunidade de trocar experiências com o colega, que se espantou com a densidade urbana de São Paulo e as possibilidades que temos por aqui de fazer boa arquitetura integrada ao meio.

Polêmico e muito seguro em suas posições, Luis de Garrido apresentou no EcoBuilding uma dinâmica e rica palestra sobre a sustentabilidade da arquitetura, na qual, dentre outros projetos, apresentou a R4 House para uma atenta platéia.

Na foto ao lado eu acompanho os colegas arquitetos Luis de Garrido (Espanha), Bruno Stagno (Costa Rica) e Paula Femenias (Suécia/França) em visita ao edif. Terraço Itália, no centro de São Paulo, de onde pode-se ter uma noção da imensidão da cidade, que de fato impressiona.

Reproduzo a seguir um artigo muito interessante do arquiteto espanhol a respeito da R4 house, publicado recentemente pela revista Sistemas Prediais:

R4House prevê consumo zero de energias convencionais

"Com estrutura arquitetônica realizada à base de contêineres portuários, habitação bioclimática é marcada pela utilização de materiais reciclados e pela não-geração de resíduos em sua construção"

A R4House pretende se tornar referência internacional de arquitetura sustentável, já que cumpre de forma exaustiva com todos os indicadores da arquitetura sustentável conhecidos. A habitação tem um consumo energético zero de energias convencionais, e se auto-regula termicamente devido a seu design bioclimático e ao seu ótimo aproveitamento de energia geotérmica e solar. Do mesmo modo, o design e construção foram realizados com a finalidade de reduzir ao máximo o consumo energético, tanto em seu processo de construção, como também em seu processo de “desconstrução”.

Praticamente não se gerou nenhum resíduo na construção. Todos os materiais entregados na obra foram utilizados por completo, de um modo ou outro, até o menor fragmento. Todos os componentes da habitação foram projetados de forma modular para serem encaixados a seco.

Deste modo, e do mesmo modo que ocorre em sua construção, na desmontagem da habitação não se gerará nenhum resíduo, e todas suas peças poderão ser reutilizadas. A composição das fachadas e interiores da R4House mostra um exemplo do que chamo de “beleza do imperfeito”.

O objetivo deste tipo de composição arquitetônica é criar objetos belos, harmônicos e atrativos, mas, ao mesmo tempo, aproveitar ao máximo todo tipo de recursos, e não gerar resíduo algum. Para isso não pode se ficar escravo de uma determinada modulação harmônica compositiva, que, inevitavelmente, produziria resíduos. Em seu lugar, propõe-se a utilização de uma modulação que aproveite ao máximo os materiais e painéis com o formato que saem de fábrica, e que, ao mesmo tempo, se adaptem perfeitamente em um objeto arquitetônico determinado.

O resultado é surpreendentemente atrativo. A estrutura portante da habitação foi realizada à base de contêineres de porto, o qual lhe proporciona flexibilidade, “reutilizabilidade” e baixíssimo custo, que dificilmente se pode conseguir de outro modo.
De onde vem o nome da R4House?
O nome do protótipo demonstra o que se pretende conseguir com o mesmo. A R4House leva em conta quatro “erres”, que sem dúvida se converterão em um símbolo da arquitetura sustentável:

1. Recicla

A habitação está realizada em parte com materiais reciclados e recicláveis. Ou seja, com materiais que foram obtidos de materiais já existentes (modificados mediante um processo industrial em sua estrutura física, química ou mecânica). Por isso foram escolhidas as empresas que fabricam os produtos mais ecológicos do setor da construção. Evidentemente, estes materiais poderão ser reciclados de novo, tantas vezes como se queira, uma vez superado seu ciclo de vida útil nas habitações.

2. Recupera

Parte dos materiais utilizados nas habitações é recuperada, ou seja, foram utilizados materiais que em princípio foram deixados pela sociedade: alguns são resíduos industriais e outros resíduos urbanos. Do mesmo modo, nos protótipos se mostram materiais recuperados mediante um processo industrial (isto é, produtos que a indústria elabora a partir de resíduos), e outros recuperados de forma profissional (como objetos elaborados de forma singular por designers, à base de resíduos). Assim, a construção, em lugar de ser uma ação negativa para o meio ambiente, vira positiva, já que o regenera.

3. Reutiliza

Alguns materiais dos protótipos tiveram um uso anterior e foram novamente reutilizados, fato que diminui ao máximo a energia utilizada na sua construção e evita gerar resíduos. Tem que se destacar que a habitação foi construída de tal forma que todos seus materiais podem se reutilizar de novo, por completo. Deste modo, os materiais podem se renovar e ser utilizados em outras construções, sem gerar resíduos, com o mínimo consumo energético possível.

4. Raciona

Sem dúvida, o componente mais importante dos quatro. O setor da construção é o de maior inércia de todos os setores produtores de riqueza existentes em nossa sociedade. E quanto à sustentabilidade, se tem algo que é requerido para que esta possa se estabelecer é o processo exaustivo de raciocínio. A arquitetura sustentável nos obriga a repensar todo o processo de design, construção e gestão de um edificio, com o fim de diminuir seu impacto negativo no meio ambiente. Conseqüentemente, todas as ações que devam se estabelecer como alternativa devem ir encaminhadas com a finalidade de:

- Diminuir as emissões e resíduos gerados;

- Diminuir o consumo energético necessário;

- Otimizar os materiais e recursos utilizados;

- Melhorar o bem-estar e saúde humana;

- Diminuir a manutenção e o custo dos edifícios;
Dentre as características da R4House, destacam-se:

Construção à base de materiais reciclados, materiais reutilizados e materiais recuperadosA maior parte dos materiais utilizados na construção do protótipo são reutilizados, recuperados e reciclados.

Reutilizados: perfis metálicos da escada, vigas da cobertura inclinada, painéis da cobertura inclinada, ripas do interior dos contêineres, ripas do exterior (antes pallets para o transporte de materiais), elementos decorativos, mobiliário à base de elementos laminares, lâmpada central, paralelepípedos de mármore, eletrodomésticos, sanitários antigos, etc.

Recuperados: contêineres abandonados no porto, lã de ovelha para isolamento, cânhamo, perfilaria metálica, mosaico à base de resíduos de Silestone, mosaico, painéis de fibra de madeira, painéis de aglomerado, recobrimento de cobertura à base de resíduos de vidro, painéis decorativos à base de resíduos de vidro e bolinhas de gude usadas, lavadora, geladeira e forno (reestruturados à base de papelão), mistura de terra à base de resíduos de vidro, etc.

Reciclados: vidro, polietileno e polipropileno de tubos, elementos metálicos, Silestone, mosaico, painéis de zinco, grama artificial, etc.Estrutura arquitetônica realizada à base de contêineres portuários não mais utilizados. A utilização de contêineres portuários permite conseguir espaços arquitetônicos flexíveis, “relocalizáveis”, ampliáveis e de preço baixo. Deste modo, se for necessário um espaço adicional simplesmente se deve acrescentar ou apoiar um novo contêiner. Além do mais, as habitações podem crescer de acordo com as necessidades reais de espaço de uma família.
Consumo energético zero (Design bioclimático extremo)

Graças ao seu especial design arquitetônico, a casa tem um perfeito comportamento bioclimático e de alta eficiência energética. Isso se deve, entre muitas outras ações, a sua perfeita orientação, sua tipologia arquitetônica, a incorporação de duplas “peles” com câmeras ventiladas, isolamentos ecológicos e lâminas de controle solar, vidros estruturais com serigrafia especial, um sistema de distribuição de ar fresco por captor de ventos e falsos solos. A habitação se aquece devido a sua estrutura bioclimática: orientação sul, quintal coberto central, efeito estufa, um sistema geotérmico subterrâneo, e um sistema de calefação solar por solo radiante, sem necessidade de apoio (graças a sua altíssima inércia térmica, e à existência do sistema geotérmico). O conjunto de contêineres forma um quintal central que, além de centro de convivência, é o espaço encarregado de distribuir o ar quente no inverno (e o ar fresco em verão).

Do mesmo modo, a habitação se refresca por meio de um sistema captor de ar do norte, um sistema geotérmico subterrâneo de esfriamento do ar, um sistema de distribuição do ar fresco pelos falsos solos das habitações (os mesmos falsos solos dos contêineres), um sistema de extração de ar requentado por efeito chaminé e todo tipo de proteções solares (lamas de zinco e vidros serigrafados). Assim, a habitação não necessita de nenhum tipo de sistema de ar acondicionado, nem sequer de um sistema de calefação de apoio.
Estrutura arquitetônica flexível

Para responder às necessidades de mudança de uma determinada família, a estrutura arquitetônica proposta é totalmente flexível e os espaços são facilmente renováveis. Esta flexibilidade tem se conseguido devido à utilização de várias estratégias e soluções construtivas diferentes: contêineres de porto, painéis recuperáveis encaixados a seco, solos e tetos desmontáveis, painéis de vidro móveis, sanitários móveis “relocalizáveis”, móveis de cozinha móveis e “relocalizáveis”, instalações de água e eletricidade flexíveis. Deste modo, pode se realizar na estrutura arquitetônica qualquer mudança sem necessidade de fazer nenhum tipo de dobras. Os contêineres podem ser deslocados para se reconfigurar novos espaços simplesmente movendo-os. Claro que existe todo tipo de possibilidades de ampliação de espaços, tão só acrescentando novos contêineres.

Não geração de resíduos na montagem

Na construção do conjunto R4House, praticamente não se geraram resíduos. Isso se deve ao sistema de construção a seco, ao controle da construção, ao sistema flexível de painéis (a beleza do imperfeito), ao controle do material solicitado, e à perfeita otimização dos materiais utilizados.Só as embalagens dos materiais têm se convertido em resíduos, mesmo que alguns deles tenham sido recuperados para a construção do protótipo (por exemplo, têm se utilizado os pallets do transporte de mercadorias para fazer a estrutura exterior que sujeita os painéis de Trespa).

Reutilização de todos os componentes arquitetônicos

Todas as peças com as quais se construiu a R4House se montaram a seco mediante parafusos, pregos, abraçadeiras, ou simplesmente por pressão. Deste modo, uma vez desmontadas as habitações (superada sua vida útil), todas as peças podem voltar a ser utilizadas na construção de um novo edifício.

Não geração de resíduos na desmontagem

Devido ao sistema de construção empregado, o design de cada componente e os mecanismos de ensamble empregados, na desmontagem (melhor dizendo, todas as desmontagens que possa ter no futuro) da R4House não se gerará nenhum resíduo.
Cobertura inclinada à base de retalhos de vidro
A cobertura inclinada tem uma cobertura realizada à base de retalhos de vidro, que sobraram da fabricação dos elementos de vidro da habitação. Deste modo, foram aproveitados ao máximo os painéis de tamanho padrão realizados em fábrica.Por outro lado, o resultado final proporciona um atrativo considerável à habitação, e simboliza seu alto caráter ecológico.

Cobertura ajardinada de terra de alta eficiência

Para aumentar o grau de bioclimatismo e a inércia térmica do protótipo foi escolhida uma cobertura ajardinada. Além da sua beleza, proporciona um isolamento adicional. No inverno, a cobertura se esfria menos do que uma cobertura tradicional; no verão, o calor é absorvido parcialmente pela capa vegetal, que se esfria por evaporação da umidade que mantém. Igualmente, uma cobertura vegetal proporciona muito mais isolamento sonoro, alonga a vida da impermeabilização, e melhora o micro-clima, ao colaborar na geração do oxigênio consumindo CO2.Parte da vegetação das coberturas ajardinadas é natural de muito baixo consumo de água, e parte é artificial, fabricada por materiais sadios e recicláveis, que podem ser utilizados como filtro adicional para a colheita das águas de chuva (já que a água passa sucessivamente pela base da grama, a capa de areia e a capa de gravilha).

Integração arquitetônica correta de energias alternativas

Foi realizada uma correta integração formal arquitetônica dos captores solares térmicos e fotovoltaicos. Este ponto é muito importante, já que em muitos projetos do passado, o termo integração arquitetônica tem sido bastante mal utilizado, já que o tipo de módulos e seu posicionamento no edifício tem sido pouco afortunado. Além do mais, mediante a integração arquitetônica da tecnologia solar se deve buscar um valor adicional à geração elétrica, como elegância, impacto visual, proteção e segurança.

A integração arquitetônica não consiste em incluir os captores solares nos elementos arquitetônicos já existentes, e sim, ao contrário, fazer uma arquitetura que, por sua própria sintaxe arquitetônica, integre estes captores em sua posição ótima, de uma forma bela, equilibrada e homogênea. Quer dizer, a integração arquitetônica obriga a criar e utilizar novas regras sintáticas na composição arquitetônica. Na R4House, os captores térmicos estão em perfeita orientação sul, inclinados a 50º, e os captores fotovoltaicos a 30º. O que é adequado para a latitude de Barcelona.

Controle domótico

As funções da habitação estão controladas por um sistema de controle de tecnologia EiBus de última geração que permite mostrar as vantagens de um lar conectado sem as restrições de outros sistemas domóticos. O sistema foi incorporado para controlar cenários ambientais do protótipo. Assim, o funcionamento das persianas incorporadas nos vidros duplos e os toldos situados ao sul estão perfeitamente coordenados com a regulação das luminárias de baixo consumo energético.

Do mesmo modo, podem ser gerados diferentes cenários lumínicos e ambientais na habitação, dependendo dos desejos concretos dos seus ocupantes (ambiente de leitura, ambiente de comida, ambiente de bate-papo, ambiente de reunião,…).

Iluminação alternativa

A iluminação da R4House se realizou por meio de um sistema de controle que integra luminárias de baixo consumo e leds. Do mesmo modo, se utilizam paredes de vidro transparente iluminadas em seu interior com leds, novos materiais retro-iluminados e o plak’up, material entre a cerâmica e o vidro. Toda a iluminação de emergência foi realizada à base de luminárias de leds.

Utilização de materiais autenticamente ecológicos

Os materiais utilizados foram escolhidos por seu alto valor ecológico. Para a construção do protótipo se escolheram inicialmente um conjunto de materiais possíveis. Entre estes materiais se encontram: chapa de zinco, pedra natural, contrachapado de bambu, painéis de bambu, parquet de bambu, papelão, mosaico, contrachapado de abeto, contrachapado de choupo branco, painéis de polietileno, painéis de gesso-celulose, tintas ecológicas, Silestone, painéis de vidro, lousa, Trespa, terraço contínuo, etc.

Novos painéis sanduíche de vidro, isolantes e transparentes

Foi utilizado um conjunto de 20 painéis pré-fabricados de vidro duplo com uma câmera de 25 mm. Nesta câmera foram introduzidos diferentes tipos de material isolante, e também resíduos. Em concreto: restos de vidro triturado de cores, lã de ovelha tingida, cânhamo colorido, polietileno e inclusive bolinhas de gude usadas. Estes painéis foram utilizados em três lugares diferentes: recobrimento de paredes interiores, painéis separadores e vidros exteriores.

Calefação solar por solo radiante e radiadores de alta eficiência energética

A habitação dispõe de um sistema altamente efetivo, ecológico e saudável de calefação solar por solo radiante (climatização invisível). Este sistema trabalha com temperaturas muito mais baixas do que os sistemas tradicionais, e por si mesmo significa poupança energética de 20%. Por outro lado, temos que destacar que o sistema está alimentado por um conjunto de captores solares térmicos de última geração e que, além do mais, a energia consumida é de origem exclusivamente solar.

Solução flexível ao problema social de acessibilidade

A R4House pretende mostrar uma resposta ao problema da dificuldade ao aceso a uma habitação. Com um contêiner de 30 m2 foi projetada uma habitação mínima que pode satisfazer as necessidades de um casal, a um preço baixíssimo. Este contêiner pode se localizar no lugar que se deseje, com um gasto mínimo de ancoragem ao terreno. E o resultado final pode ser considerado como um bem móvel ou imóvel, segundo desejar.

Quando as necessidades espaciais da habitação crescem, simplesmente basta acrescentar mais módulos. Com dois contêineres (60 m2) se obtém uma habitação mais complexa para uma família pequena. Com três contêineres (90 m2) se obtém uma habitação que pode satisfazer as exigências de uma família média em qualquer lugar do mundo. Com mais contêineres se podem ter estruturas de habitação tão complexas como a da R4House, a um preço muito baixo.

E, o melhor, se um membro de uma família desejar se emancipar, simplesmente basta acrescentar um novo módulo ao conjunto, criando uma unidade de convivência básica, na qual o membro da família segue em contacto com o núcleo familiar, mantendo sua independência e intimidade (Este é o caso da estrutura mostrada pela R4House).

Por último, se o núcleo familiar decrescer, simplesmente basta eliminar um módulo do conjunto. Deste modo, uma família só compra o espaço que realmente necessita, sem necessidade de hipotecar o resto de sua vida.

Com contêineres portuários (o módulos similares) podem ser criadas estruturas mais complexas e de muito maior tamanho, como quarteirões, blocos de habitações ou edifícios em altura.
Crédito: Luis de Garrido - Doutor em arquitetura, formado pela Universidade de Valência (Espanha). Presidente da Anavif (Asociación Nacional para la Vivienda del Futuro) ANAS (Asociación Nacional para la Arquitectura Sostenible)

Elaborado a partir de matéria publicada pela revista Sistemas Prediais

Para conhecer mais sobre o projeto, recomendo que assistam a um video em que o próprio Luis de Garrido apresenta a R4 House:


Atualização em Setembro 2010:

Em abril de 2011 voltaremos a visitar Barcelona, em mais uma Missão Técnica, agora organizada pela ArqTours by Raquel Palhares. Assim como também foi em 2009 (mais info em: http://amacedofilho.blogspot.com/2009/04/green-box-casa-sustentavel-na.html), certamente veremos mais uma demonstração da arquitetura sustentável de Luis de Garrido, no ambiente da Construmat.

Fique atento à programação pelo http://www.ecobuilding.com.br/ ou pelo http://www.arqtours.com.br/.