quinta-feira, 25 de junho de 2009

Hospital Sarah Fortaleza por João Filgueiras Lima (Lelé).

Pesquisador estuda hospital Sarah Fortaleza
Texto resumido a partir de reportagem publicada originalmente em FINESTRA Edição 50


Motivado pela vontade de melhor compreender as variáveis de conforto ambiental e sua integração com o projeto arquitetônico, o arquiteto e urbanista Jorge Isaac Perén focou seu mestrado no projeto do hospital Sarah Kubitschek de Fortaleza, concebido pelo arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé). Para Isaac Perén, as obras de Lelé evidenciam as melhores soluções bioclimáticas para favorecer a ventilação e a iluminação naturais.

“A preocupação constante com o conforto ambiental e a economia de energia são características de suas obras: escolas, centros de vivência, elementos para infra-urbana, mobiliário urbano e hospitais. Apesar de Lelé ter um conjunto de obras voltadas para a arquitetura bioclimática, Perén optou por projetos de hospitais pela sua complexidade. “O arquiteto que consegue soluções bioclimáticas em hospitais conseguirá em qualquer outra edificação”, afirma. As soluções arquitetônicas para esse tipo de projeto estão subordinadas às características climáticas do local. “Por isso, a orientação, forma do edifício e as características de seus componentes - geometria e orientação de janelas, aberturas, cobertura e paredes - respondem à direção dos ventos e à posição do sol”, observa Perén.


Esquema do sistemas de ventilação natural


O hospital da rede Sarah em Fortaleza foi construído sobre um terreno cuja topografia, natureza do solo e nível do lençol freático favoreceram a execução da obra. Uma grande área arborizada, abundante em espécies locais, ocupa mais de 1/3 do terreno. Um bloco vertical abriga apartamentos e enfermarias. “Embora a disposição horizontal seja a ideal para projetos de hospitais, pois possibilita o acesso direto dos pacientes aos jardins adjacentes às áreas de tratamento e internação, no Sarah Fortaleza o arquiteto optou por verticalizar parte do programa para preservar a grande área arborizada do terreno”, afirma Perén.

Ventilação

Para o pesquisador, a setorização do hospital Sarah Kubitschek Fortaleza ilustra bem esses aspectos. O programa foi organizado de maneira a aproveitar os ventos provenientes do sudeste. Da mesma forma, as galerias de ventilação, no subsolo, foram orientadas para captar os ventos dominantes. E os sheds funcionam como sucção do ar quente. O bloco vertical (enfermarias e internação) foi localizado na parte posterior do terreno para não barrar as correntes de ar e permitir, assim, a ventilação natural dos ambientes flexíveis.

Os ambientes com ar-condicionado estão localizados na parte posterior ou na lateral do edifício, dando assim uma localização mais privilegiada para os ambientes ventilados naturalmente. Para atender aos princípios da ventilação natural foram desenvolvidos dois sistemas, que podem operar simultaneamente: o de convecção e o de ventilação cruzada. No modo por convecção, o ar frio é injetado através das galerias de ventilação do subsolo e extraído pelos sheds, com as aberturas a favor dos ventos dominantes, dando o efeito de sucção.


O programa foi organizado de maneira a aproveitar os ventos provenientes do sudeste

Merece atenção especial, devido ao funcionamento das galerias de ventilação. Já o sistema de ventilação cruzada ocorre através de dois sheds, com aberturas voltadas em sentido oposto. A eficiência desse sistema poderá ser eventualmente aumentada com o emprego de equipamento mecânico de exaustão ou insuflamento, localizado na abertura do shed.

Outro dado da pesquisa de Perén é que, no hospital de Fortaleza, a grande cobertura em arco está formada por vigas de metal apoiadas nos pilares periféricos da área de fisioterapia. Lâminas de metal, apoiadas às vigas, permitem a ventilação dos ambientes e funcionam como brises, protegendo o jardim interno da radiação direta do sol e da chuva. A cobertura em arco foi concebida com brisesmóveis, que deveriam mudar sua inclinação conforme a passagem do sol.

Mas essa idéia não foi executada e a inclinação dos brises é fixa.


O programa foi organizado de maneira a aproveitar os ventos provenientes do sudeste

Projetos

Perén observa que o arquiteto é quem orienta e deve saber que, hoje, os itens bioclimáticos são uma exigência de projeto. Porém devem estar contidos no raciocínio projetual. “Precisamos evoluir e integrar mais a prática à pesquisa. E alimentar, assim, a indústria, na procura de componentes de melhor qualidade”, conclui Perén, que cita o custo como uma limitante nos projetos.


Fachada sudoeste

Ao final de sua pesquisa, o arquiteto concluiu que a forma é fundamental para garantir eficientes ventilação e iluminação naturais. “A forma do edifício não pode ser gratuita e atender unicamente a valores estéticos. Quando se chega a uma forma, cujo objetivo é favorecer a passagem do vento e a entrada da luz natural, talvez seja um pouco mais difícil, mas é mais inteligente. O programa hospitalar pode ser agrupado em: ambientes flexíveis (passíveis de serem ventilados naturalmente) e ambientes especiais (com ventilação artificial). Dependendo das características climáticas do local, a setorização do programa pode ser realizada a partir desses aspectos, localizando os ambientes flexíveis em função dos ventos dominantes”, finaliza Perén.


Fachada sudeste

Inaugurado em setembro de 2001, o hospital da rede Sarah em Fortaleza tem capacidade instalada de 61 leitos. Isaac Perén formou-se em 2002, pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Primeiro estádio verde para a Copa.

Com estádio verde, Osasco quer ser subsede da Copa de 2014
Texto resumido a partir de reportagem de Adilson Melendez, publicada originalmente em PROJETO DESIGN Edição 350.

O primeiro estádio verde do país, criado pelo arquiteto Carlos de La Corte, pode receber 20 mil pessoas e incorpora uma arena multiuso.
Das candidatas a receber jogos da Copa do Mundo de 2014, São Paulo é tida como barbada - a divulgação da decisão sobre as sedes escolhidas estava marcada para meados de março. Em consequência, outros municípios paulistas vêm montando estratégias com a intenção de se tornar subsedes, servindo de base para o treinamento das seleções que vão disputar a primeira fase da competição na capital.

Cidade da região metropolitana de São Paulo, Osasco quer deixar de ser simples alternativa no segundo tempo dessa definição. Em janeiro, autoridades do município apresentaram um argumento para garantir a vaga de subsede: o desenho de um complexo esportivo que pretendem implantar em Vila Yolanda, em terreno ocupado pelo atual Estádio Municipal Elzo Piteri.

A proposta foi desenvolvida pelo arquiteto Carlos de La Corte, da empresa Arena Consultoria Projeto e Viabilidade, em colaboração com o escritório GCP Arquitetos. Fazem parte do complexo um estádio para 20 mil pessoas, uma arena de múltiplo uso para 7 mil espectadores e um centro comunitário. “Procuramos abordar o projeto com o conceito de parque urbano, sem enclausuramentos”, detalha o autor.

Para reforçar o caráter urbano da intervenção, uma praça integra o estádio e a arena. A implantação prevê aproveitar a topografia do lote, evitando grandes movimentos de terra. As arquibancadas laterais do estádio são cobertas e apenas atrás de um dos gols foram dispostos assentos. A imagem foge à da arena convencional totalmente envolta pela plateia, por dispor de espaços mais arejados e arquitetura mais fluida.

Não é a primeira vez que Osasco abraça a causa esportiva e lança mão da ideia de construir um estádio. Uma dessas tentativas foi registrada na edição 147 de PROJETO DESIGN, em novembro de 1991. Desenvolvido pelo escritório Ícaro de Castro Mello Arquitetos Associados (atual Castro Mello Arquitetos), o estádio teria capacidade para 44 mil pessoas. A Método, informava a nota, assinara contrato de 20 milhões de dólares para implantá-lo no prazo de 18 meses.

Apesar da capacidade menor, a nova proposta de estádio envereda pela adoção de técnicas modernas, como o teto verde, a utilização da água da chuva para irrigação do gramado e alimentação dos sanitários e os painéis fotovoltaicos para geração de energia, entre outras. Será, segundo as autoridades e o autor do projeto, o primeiro estádio verde brasileiro.

Outra promessa “sustentável” é aproveitar o material de demolição das construções existentes. Mas aqui o uso será parcimonioso: o atual estádio de Vila Yolanda não vai além de um campo varzeano, que não conta sequer com arquibancadas fixas.
O antigo projeto para o estádio de Vila Yolanda, desenhado pelo escritório Ícaro de Castro Mello, previa capacidade para 44 mil pessoas

terça-feira, 23 de junho de 2009

Governo incentiva uso de energia alternativa

Caros,

Acredito que, entre os colegas, a maioria já deve conhecer o suficiente a respeito, mas acho que permanece oportuno o comentário que acrescento a seguir.

O uso de coletores solares é simples, relativamente barato e, para uso residencial unifamiliar, de elevada eficácia no fornecimento de água quente para consumo doméstico. Mas o melhor mesmo é que para isto, utiliza apenas uma fonte de energia limpa, renovável, gratuita e praticamente infinita, o sol.

No Brasil, apesar de ser um dos países que mais recebem radiação solar no mundo, o sistema mais utilizado para aquecimento de água é ainda o chuveiro elétrico, equipamento que transforma energia elétrica, forma nobre de energia (que precisa ser produzida, transformada e transmitida), em calor, forma pobre de energia, resultante não aproveitável de qualquer processo de transformação de energia, que equivale, em muitos casos, a perda de rendimento, ou baixa eficiência no processo.

Um chuveiro elétrico pode custar menos de R$ 20,00, mas pode ter potências de 8.000 W, frequentemente o equipamento mais potente de uma residência, que, para a classe média brasileira, pode facilmente ter 3 banheiros, cada um com um chuveiro elétrico.

Consideremos agora o seguinte: Todo o sistema elétrico brasileiro, das usinas às tomadas elétricas, está dimensionado para atender à demanda de pico, que é representada por um verdadeiro "pão de açucar" no gráfico da curva de carga de um dia típico padrão nacional, por um período de aproximadamente 3 horas, entre 17:30 h. e 20:30 h., todos os dias. Boa parte desta demanda é devida ao uso do chuveiro elétrico em todo o país. Em cidades médias ou grandes isto pode representar 20% de tudo o que se consome na ponta, que é, não por acaso, quando a energia é mais cara para o consumidor.

Gráfico: Curva de carga típica nacional - fonte: Procel - Eletrobrás

Ou seja, o uso de coletores solares para aquecimento de água para uso doméstico, além de trazer benefícios econômicos diretos para o próprio usuário e consumidor, traz ainda importantes benefícios para o país como um todo, uma vez que colabora para diminuir a demanda futura de energia, quando ela é mais necessária, na ponta.

Toda esta introdução se justifica por que parece que o assunto finalmente chegou às esferas superiores do poder executivo do nosso país. O programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, ambicioso projeto para habitação social, está prevendo o uso de coletores solares para aquecimento de água para estas residências populares. O governo está preocupado com o conforto do banho do brasileiro de baixa renda? Acho que não é caso. O governo está preocupado com a demanda energética nacional, por que sabe que se não fizer isto, o usuário fatalmente porá chuveiros elétricos e o problema apenas crescerá. Não há mesmo outra opção.

Mas tem que fazer bem feito, dimensionar adequadamente, especificar adequadamente, considerando-se as características regionais de insolação, os hábitos de consumo, etc. Sei que há no Ministério de Minas e Energia técnicos bem capacitados a fazê-lo. Espero que sejam bem sucedidos no processo.

Acrescento a seguir matéria a respeito do assunto, que reproduzo com autorização dos colegas da revista Sistemas Prediais.

Boa leitura.

Arq. Antonio Macêdo Filho.

Governo incentiva uso de energia alternativa
Por Alberto Nascimento, na revista Sistemas Prediais, editora Novatécnica.

Um sinal de que o uso da energia solar está cada vez mais em evidência é o Programa Minha Casa, Minha Vida, lançado no final de março pelo Governo Federal, que tem a meta de construir um milhão de casas para famílias brasileiras de baixa renda. O projeto prevê o uso da energia solar térmica em substituição aos chuveiros elétricos. Além disso, está prevista a aplicação de outras soluções sustentáveis como o reaproveitamento de água, sistemas de coleta e tratamento de esgoto e uso de madeira de origem certificada.



As tecnologias e materiais ambientalmente sustentáveis vão variar dependendo da região do país. Em algumas localidades, por exemplo, poderão ser instalados sistemas de coleta e reaproveitamento de água de chuva. Já as placas solares devem ser utilizadas em todas as cidades.

Com base em estudos técnicos e experiências piloto realizadas no Rio de Janeiro - onde já se utiliza placas solares em casas populares - o aproveitamento da energia solar, mesmo que apenas para substituir os chuveiros elétricos nas habitações do programa, pode poupar 520 megawatts /ano e evitar a emissão de 830 mil toneladas de gases poluentes. O custo estimado para a instalação dos equipamentos é de R$ 1,9 mil por habitação, o que corresponde a cerca de 3% do valor da obra.
"Isso não é custo, é investimento que vai virar economia. Será sentida no bolso dessas famílias, que vão pagar menos de conta de luz, e pelo ambiente, que será menos poluído", disse o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, que participou da solenidade de lançamento do Programa ao lado de outros onze ministros, treze governadores e dezenas de parlamentares, além de representantes de movimentos sociais e entidades empresariais.
O Programa também prevê mais rapidez e simplificação dos procedimentos para os licenciamentos ambientais dos projetos de casas populares. Resolução nesse sentido será apreciada na próxima reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que será realizada até o final de abril.

A proposta em pauta prevê procedimento uniforme e simplificado para o licenciamento de empreendimentos até 100 habitações; licença única para todo o empreendimento; um critério único para todos os estados; e um prazo máximo de 60 dias para a expedição da licença ambiental. As condições para o licenciamento serão: preservação de áreas de proteção permanente; o empreendimento não pode estar localizado em área de risco e terá que ter infra-estrutura de esgoto, entre outros.
Casas padronizadas

O programa prevê imóveis padronizados. As casas térreas possuirão 35m², e os apartamentos, 42 m².

Especificação da tipologia 1 (casa térrea com 35 m2)
- Compartimentos: sala, cozinha, banheiro, 2 dormitórios, área externa com tanque.
- Área da unidade: 35 m².
- Área interna: 32 m².
- Piso: cerâmico na cozinha e banheiro, cimentado no restante.
- Revestimento de alvenarias: azulejo 1,50m nas paredes hidráulicas e box. Reboco interno e externo com pintura PVA no restante.
- Forro: laje de concreto ou forro de madeira ou pvc.
- Cobertura: telha cerâmica.
- Esquadrias: janelas de ferro ou alumínio e portas de madeira.
- Dimensões dos compartimentos: compatível com mobiliário mínimo.
- Pé-direito: 2,20m na cozinha e banheiro, 2,50m no restante.
- Instalações hidráulicas: número de pontos definido, medição independente.
- Instalações elétricas: número de pontos definido, especificação mínima de materiais.
- Aquecimento solar/térmico: instalação de kit completo.
- Passeio: 0,50m no perímetro da construção.

Especificação da tipologia 2 (apartamento com 42 m²)

• Compartimentos: sala, cozinha, área de serviço, banheiro, 2 dormitórios.
• Prédio: 4 pavimentos, 16 apartamentos por bloco – opção: até 5 pavimentos e
20 apartamentos.
• Área da unidade: 42m².
• Área interna: 37 m².
• Piso: cerâmico na cozinha e banheiro, cimentado no restante.
• Revestimento de alvenarias: azulejo 1,50m nas paredes hidráulicas e box. Reboco
interno e externo com pintura PVA no restante.
• Forro: laje de concreto.
• Cobertura: telha fibrocimento.
• Esquadrias: janelas de ferro ou alumínio e portas de madeira.
• Dimensões dos compartimentos: compatível com mobiliário mínimo.
• Pé-direito: 2,20m na cozinha e banheiro, 2,40m no restante.
• Instalações hidráulicas: número de pontos definido, medição independente.
• Instalações elétricas: número de pontos definido, especificação mínima de materiais.
• Aquecimento solar/térmico: instalação de kit completo.
• Passeio: 0,50m no perímetro da construção.


Acrescento este vídeo, que ilustra a reportagem acima da revista Sistema Prediais, explicando como é o funcionamento de um aquecedor solar.
O sistema de aquecimento solar já é bastante conhecido no Brasil, porem poderia ser mais utilizado nas edificações.





O futuro das lâmpadas incandescentes

Caros,

Aqueles que já estiveram em meus cursos já sabem, mas quero aqui compartilhar a minha visão sobre um assunto relevante e, no momento, oportuno: o futuro das lâmpadas incandescentes comuns.

Quando Thomas Edison inventou a lâmpada incandescente tinha provavelmente noção de que estava fazendo algo importante. Não sabemos, no entanto, se ele esperava com isto mudar o mundo. Mas mudou. Além da lâmpada, ele também criou um novo negócio: o serviço de iluminação pública elétrica, em Nova York, na década de 1860. As cidades e forma como as pessoas viviam nelas, mudaram definitivamente.

Sua mais famosa invenção, no entanto, a lâmpada incandescente, não mudou muito, na verdade, em todos estes anos. É basicamente a mesma. Mudou o material do filamento, a quantidade de ar (e oxigênio) dentro do bulbo, e ponto. Ou seja, ainda usamos hoje a mesma tecnologia criada no século 19.

Nós estamos falando de um equipamento que utiliza apenas 5% da energia que consome para efetivamente produzir aquilo a que se propõe: luz visível. Os restantes 95% são desperdiçados em forma de radiação não visível, basicamente infra-vermelho, ou seja, calor. Se fosse um aquecedor, teríamos uma eficiência de 95%, seria ótimo. Mas estamos falando de lâmpadas, e de uma eficiência de 5%.

A conta fica ainda pior se consideramos que muitas delas são utilizadas em ambientes condicionados artificialmente (em restaurantes, shoppings, lojas), o que quer dizer que todo o calor que estas lâmpadas despejam nos ambientes tem de ser retirado com ar condicionado, gastando-se ainda mais energia e dinheiro. Me parece um contra senso.

No Brasil inteiro as pessoas compram lâmpadas incandescentes achando que estão fazendo um excelente negócio pagando menos de R$ 2,00 por cada uma. Daí as acendem acionando os seus 60 watts e deixando-as acessas a noite inteira do lado de fora de casa, por exemplo. Economizariam muito, elas próprias e o país como um todo, se utilizassem, por exemplo, fluorescentes de 15 watts.

Então, não resta dúvida, temos que banir de uma vez por todas as incandescentes, certo?
Bem, não é tão simples assim. Vamos devagar.
Quem vai bancar esta susbstituição?
E a questão do mercúrio das fluorescentes?
E as indústrias de lâmpadas incandescentes, que têm no Brasil um dos maiores mercados do mundo?
E a reciclagem das lâmpadas, como anda?
Há ainda o fato de que há algumas aplicações nas quais somente as incandescentes dão certo.

Então, o que eu recomendo é o seguinte:
Tente não usar nenhuma incandescente comum. Se encontrar alguma por aí, substitua.
Se se trata de instalações novas, não há por que usá-las. Basta projetar sem elas.
Mas, especialmente em ambientes residenciais, sempre haverá aquela arandela, abajur ou lustre onde só cabem incandescentes comuns, de rosca E27, e colocar fluorescentes não dá, mesmo as de temperatura de cor baixa, ou seja, de luz quente. Aí não tem jeito. temos que ir mesmo para as incandescentes. Pelo menos certifique-se que sejam luminárias de uso eventual, para iluminação secundária, não funcional.

O texto que segue, publicado na revista Lume, da minha amiga Maria Clara, que me autorizou a reprodução aqui, evolui o assunto e traz, quase literalmente, luz (e calor) à discussão.

Boa leitura.

Arq. Antonio Macêdo Filho


Até quando elas vão resistir?
Por Claudia Sá, na revista LUME Arquitetura.

SUSTENTABILIDADE. ESTA É A PALAVRA DE ORDEM.

Depois que o mundo se deu conta que é preciso usar os bens naturais com parcimônia, o mercado que está sempre de olho na oportunidade da vez, virou o seu foco para a ecologia.

Hoje, das pequenas empresas às multinacionais, todas têm o seu “braço” verde.

E isso não é bom? Sim, claro, mas os ambientalistas agora temem que essa enxurrada de ações pró meio ambiente acabe se tornando tão ou mais prejudiciais que os velhos hábitos, pela pressa de ser executada, já que a regra número um na selva dos negócios é chegar primeiro.
No que diz respeito à eficiência energética, o mundo parece ter elegido o seu grande vilão, ou melhor, vilã – a velha lâmpada incandescente. Países como a Austrália e a Irlanda e o Estado norte-americano da Califórnia já saíram na frente e proibiram o uso do produto.

A campanha, que tem ganhado força por toda a Europa, chegou às terras brasileiras. Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei, de autoria do deputado cearense Arnon Bezerra, que pretende proibir a fabricação, a venda e o uso das lâmpadas incandescentes no País, a partir de 2010.

Polêmica

A proibição do uso dessa tecnologia seria eficiente para resolver a escassez da energia elétrica? As lâmpadas fluorescentes compactas (FLCs) que têm sido apresentadas como substitutas das incandescentes são realmente ecológicas porque duram mais? Estas são algumas das questões levantadas pelos que discordam da proposta, que vão de entidades de classe a profissionais ligados ao setor.

A presença de mercúrio na composição das FLCs, metal altamente nocivo ao meio ambiente, está no centro da discussão, já que o principal apelo da campanha pelo banimento das incandescentes é o impacto ambiental causado por elas, por desperdiçarem energia.
Para a Associação Internacional de Lighting Designers Profissionais (IALD), sediada nos Estados Unidos e de alcance mundial, a falha dessa ação reside na proibição do uso indistinto desse tipo de lâmpadas. Em nota oficial divulgada à imprensa, em março último, a instituição afirma que a questão deve ser tratada com cautela, caso contrário corre o risco de ser ineficiente.

Entre os argumentos da entidade estão: a inexistência de uma tecnologia que substitua as lâmpadas incandescentes para alguns usos e os danos que uma proibição imediata provocaria ao meio ambiente, devido à quantidade de lixo que produziria. “As lâmpadas incandescentes não devem ser proibidas até que suas recolocações estejam provadas ser uma melhoria ambiental total”, afirmou trecho da nota.

O lighting designer brasileiro Guinter Parschalk, que tem seu trabalho reconhecido internacionalmente e é um dos diretores da Associação Brasileira de Arquitetos de Iluminação (Asbai), é uma das vozes dissonantes ao banimento. “O movimento de proibir, além de ineficiente, compromete muito mais o impacto ambiental e de uma forma mais nociva”,disse.

Guinter, segundo informou, é um dos convidados da Associação Inglesa de Lighting Designers para palestrar em um seminário em Londres, em setembro próximo, que pretende orientar as autoridades daquele país sobre os prejuízos que a medida pode provocar ao meio ambiente, já que a Inglaterra também possui o seu projeto de lei.

“A escassez da energia elétrica no mundo é fruto do crescimento populacional. É uma questão séria e complexa que não pode ser resolvida com a simples substituição das lâmpadas incandescentes e, posteriormente halógenas, por fluorescentes”, argumentou.

O lighting designer lembra, ainda, que as lâmpadas fluorescentes são econômicas quando usadas em locais onde não sejam acesas e apagadas com freqüência, como os ambientes de trabalho, por consumirem uma grande carga de energia ao serem ligadas. Em residências, por exemplo, onde não há controle de quantas vezes as lâmpadas são acionadas, o consumo pode continuar alto após a troca das incandescentes pelas fluorescentes.

Quem apóia

São inúmeras as entidades que apóiam a substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes no mundo. Entre elas, o Greenpeace, que lidera uma campanha, iniciada em 2007, em Berlim, pelo banimento das incandescentes.

Nessa ocasião, um ativista esmagou dez mil lâmpadas com um rolo-compressor, em frente ao Portão de Brandenburgo, às vésperas do encontro entre ministros europeus e representantes dos países-membros do G8 na cidade alemã.

No Brasil, um dos maiores apoiadores da substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes é a Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação, a ABilumi, que representa os interesses das empresas de importação e distribuição de equipamentos de iluminação.
Segundo o presidente da entidade, Alexandre Cricci,“um dos principais objetivos da associação é criar campanhas nacionais de conscientização da população para a substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes”. No entanto, faz ressalvas ao projeto de lei brasileiro. “A proposta precisa passar por alguns ajustes.

Um deles é o prazo, que é muito curto”, declarou.

O projeto de lei brasileiro

O projeto de lei que tramita no congresso, de autoria do deputado Arnon Bezerra, propõe a proibição da fabricação, importação, venda e uso das lâmpadas incandescentes comuns, a partir de 1º de janeiro de 2010, e sua substituição pelas fluorescentes compactas. A proposta também determina que os fabricantes e comerciantes que descumprirem a lei estarão a sujeitos à multa e outras sanções.

Para que as comunidades mais carentes tenham acesso às FLCs, que são, em média, cinco vezes mais caras que as incandescentes, o deputado sugere a distribuição gratuita das lâmpadas. Os recursos, segundo Bezerra, viriam dos programas de eficiência energética dos governos estaduais.

“Qual o problema de as próprias estatais de energia subsidiarem, como já estão fazendo, ou doarem lâmpadas de baixo consumo para os mais pobres? Isso representará mais lucro para as próprias distribuidoras, uma vez que haverá menos desperdício”, questionou o deputado.

Ele cita como exemplos, os programas da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) e da Light (RJ), que têm distribuído geladeiras eficientes e substituindo lâmpadas e fiações antigas para as populações de baixa renda.

“A Coelba já trocou 800 geladeiras para seus clientes. A Celpe vai empregar 1,9 milhão na distribuição de cerca de 1.300 geladeiras para consumidores de baixa renda, e a Light vai doar 600 eletrodomésticos desse tipo, num projeto piloto. Paralelamente à substituição da geladeira, as três concessionárias incluem ações de troca das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes e também da fiação elétrica das residências contempladas”, argumentou.

Incandescentes

Prós:
-São consideradas lixo comum, o que significa que o descarte não causa grandes danos ao meio ambiente;
- Têm índice de reprodução de cor de 100, valor ainda não alcançado por nenhuma outra tecnologia;
- São em média de 5 vezes mais baratas do que as concorrentes.

Contras:
- Utilizam apenas 5% da energia que consomem, transformando os outros 95% em calor;
- Têm vida curta, em torno de 700 a 1000 horas (um ano).

Fluorescentes

Prós:
- Consomem de 4 a 5 vezes menos energia que as lâmpadas comuns (incandescentes);
- Têm longa vida; algumas chegam a durar até 6000 horas (seis anos);
- Trabalham em baixa temperatura;
- Estão disponíveis com aparências de cor desde o branco-quente até o branco-frio.

Contras:
- Possuem mercúrio em sua composição, que é altamente tóxico;
- Têm um índice de reprodução de cor de até 85;
- Praticamente todas as lâmpadas fabricadas no mundo têm baixo fator de potência;
- São mais caras que as incandescentes.
O impacto na indústria

Para a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), o projeto de lei, se aprovado do jeito que está, será danoso ao País, por não haver produção nacional de lâmpadas fluorescentes e o prazo não permitir que o setor se ajuste às novas regras. “A substituição abrupta das lâmpadas incandescentes por fluorescentes compactas causaria danos aos consumidores, aos fabricantes e ao País, disse o coordenador do Grupo Setorial de Lâmpadas da associação”, Isac Roizenblatt.

A troca, segundo Isac, deveria ser progressiva e abrir exceções para alguns usos. “Sou a favor de um programa de conservação de energia que limite a comercialização das lâmpadas incandescentes de forma gradativa, a exemplo dos programas europeu “Make the Switch” e norte-americano “H.R. 6”, que consideram um período de cerca de dez anos e ainda permitem algumas exceções para lâmpadas de aplicações especiais”, declarou.

Isac lembra também que o Brasil, desde o apagão, tornou se um dos maiores consumidores, per capita, de lâmpadas fluorescentes compactas, o que, segundo ele, demonstra que a lei é desnecessária para transição de uma tecnologia para outra. “Praticamente uma de
cada quatro lâmpadas residenciais comercializadas é fluorescente compacta e, em relação às instaladas, a proporção deve estar em torno de uma compacta para três incandescentes”, avaliou.

Outra questão levantada pela Abilux é a qualidade e o desempenho das lâmpadas importadas, que, segundo a associação, devem ser regulamentados e fiscalizados.

“Já foram importadas mais de 500 milhões de lâmpadas fluorescentes compactas e se estas tivessem a vida que está escrita nas embalagens, não haveria espaço hoje para as lâmpadas incandescentes. Logo, fica claro que há lâmpadas no mercado de baixa qualidade”, calculou Isac.

Reciclagem

Um dos principais desafios dos governos para viabilizar a utilização massiva das lâmpadas fluorescentes sem grandes prejuízos para as populações e o meio ambiente é a reciclagem, já que o mercúrio, um de seus componentes, pode contaminar os lençóis freáticos. Um trabalho árduo a ser feito, visto que ainda existem poucas recicladoras no mundo. No Brasil, existem em torno de dez, apenas.

Para Guinter o grande obstáculo a ser vencido é fazer com que os equipamentos utilizados em residências retornem à cadeia produtiva. “Enquanto uma lâmpada fluorescente tubular é bem empregada numa empresa, onde a reciclagem pode ser feita facilmente sob orientações dos governos, nas residências esta operação se torna inviável, porque o uso é pulverizado” opinou Guinter.

O lighting designer adianta que tem um projeto, ainda em desenvolvimento, para suavizar o impacto desses produtos no meio ambiente e viabilizar a reciclagem. Trata-se de um sistema de troca de lâmpadas usadas pelas novas, com abatimento no preço, como acontecia com os “cascos” de refrigerantes, cerveja etc.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Energia Solar Fotovoltáica na Arquitetura

Caros,

Há pouco mais de uma década, em 1998, eu estava estudando eficiência energética no IEE -Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e conheci o prof. Roberto Zilles, entusiasta da energia solar fotovoltaica. Se ainda hoje a coisa ainda continua precisando "pegar", naquele tempo era preciso mesmo muito entusiasmo.

Mas, eu também acredito que os painéis fotovoltaicos são uma grande solução e que quando nos apercebermos disto, o Brasil tem tudo para assumir posição de destaque, mundialmente falando.
Há muitos exemplos de sucesso por aí, em lugares com muito menos sol, com sistemas integrados à rede pública, economizando grandes quantidades de energia para os seus países, que incentivam o uso dos painéis por consumidores de todas as escalas.

Estou certo que isto acontecerá também aqui e que o entusiasmo do prof. Zilles, que já se conta em décadas, não será em vão. Mas está demorando muito!

Há algumas iniciativas louváveis de técnicos e pesquisadores, para os quais os problemas de aplicação estão resolvidos, mas a coisa só irá mesmo para frente quando houver compromisso sério dos organismos reguladores no sentido de tornar viável a utilização em larga escala dos painéis fotovoltaicos no Brasil. Com tanto sol de graça, é mesmo uma pena não usarmos mais.

A seguir reproduzo video do Discovery Channel sobre o processo de fabricação dos painéis fotovoltaicos e matéria a respeito do cenário brasileiro, publicada na Finestra, com texto da Cida Paiva.

Antonio Macêdo Filho.



No Brasil, o meio acadêmico sai na frente não apenas na pesquisa, como também na implantação de projetos com uso de energia fotovoltaica
Por Cida Paiva, Em FINESTRA Edição 56

No Brasil, os primeiros passos

A experiência bem-sucedida de alguns países europeus com o uso dessa fonte de energia renovável e limpa, aliada à crescente crise energética mundial, incentiva projetos com sistemas fotovoltaicos em universidades brasileiras. Fora do círculo acadêmico, no entanto, eles ainda constituem objeto de desejo para o mercado.
A crise de energia que gerou o apagão em várias regiões do país, em 2001, foi um dos sinais da necessidade de buscar novas fontes de fornecimento. No Brasil, o meio acadêmico sai na frente não apenas na pesquisa, como na elaboração de programas de incentivo. O Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (Labsolar/UFSC), que há alguns anos pesquisa e aplica essa tecnologia, vem desenvolvendo os projetos Estádios Solares e Aeroportos Solares, em parceria com o Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal) e com a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), no caso das instalações aéreas, que já têm como projeto piloto o novo terminal de passageiros de Florianópolis.


Cobertura do prédio administrativo do Instituto de Eletrotécnica da USP ganhou painéis fotovoltaicos

Além disso, um convênio de transferência tecnológica entre Brasil e Alemanha na área energética, assinado no ano passado, tem incentivado encontros para auxiliar na formulação de políticas de apoio mútuo. Presente em uma dessas reuniões, na cidade de Colônia, em que a pauta era energia elétrica, Ricardo Rüther, coordenador do Labsolar e diretor técnico do Ideal, afirmou que “os aeroportos são uma ótima vitrine para demonstrar a tecnologia fotovoltaica e, ao mesmo tempo, compensar um pouco das emissões de CO2 relacionadas à aviação comercial”. Em uma viagem de ida e volta Florianópolis-Brasília, exemplifica Rüther, cada passageiro é responsável pela emissão de cerca de 680 quilos de CO2 na atmosfera, o que corresponde a quase 40 reais (considerando a cotação internacional dos créditos de carbono, adotada em programa para a redução do efeito estufa no planeta). Para que o aeroporto de Florianópolis ficasse completamente abastecido por energia solar, bastaria que, ao longo de um ano, cada um dos mais de 100 milhões de passageiros aéreos no Brasil pagasse menos de 25 centavos.

Instalação em edifício na Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Aproveitando a demanda por instalações esportivas, que virá com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, os pesquisadores também trabalham para alinhavar o projeto Estádios Solares, que propõe a implantação de módulos fotovoltaicos nas coberturas, a exemplo do que vem ocorrendo na Alemanha e em outros países europeus. “Estamos na fase de produção piloto, domínio de tecnologia, sem produção comercial significativa”, observa Trajano Viana, pesquisador do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE), da Universidade Federal de Santa Catarina. Em novembro de 2008, a UFSC sediou o 2º Congresso Brasileiro de Energia Solar, mais uma prova do interesse em aproveitar esse recurso natural como fonte de calor e de geração de eletricidade.



Exemplos de módulos fotovoltaicos





EXPERIMENTO NO IEE


Em São Paulo, o prédio administrativo do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP) ganhou painéis fotovoltaicos, com potência nominal de 12 quilowatts, instalados em 120 metros quadrados de sua fachada. O sistema produz, em média, 50% das necessidades de energia elétrica da edificação, cuja demanda nos dias de semana é de cem quilowatts-hora. Aos sábados e domingos, o excedente é injetado na rede elétrica. Integrados na fachada como elementos construtivos, os módulos fotovoltaicos produzem energia, reduzem a carga térmica do prédio e também funcionam como brises.

O sistema conectado à rede (on-grid) não permite acúmulo de energia em bateria - se não for consumida, a eletricidade é devolvida automaticamente à rede. Nos países onde essa tecnologia é bem desenvolvida, o ponto de conexão da energia fotovoltaica ocorre antes do contador, fora da instalação da residência. Dessa forma, não há redução de consumo do ponto de vista da concessionária, mas o proprietário do sistema recebe uma tarifa prêmio por quilowatt-hora produzido com o sistema solar, chegando a cinco vezes mais que o valor da tarifa média de referência. “Essas bonificações são uma forma de incentivar os sistemas conectados às redes elétricas”, observa Roberto Zilles, professor do IEE.


Edifício Bionordica AG, Neumarkt / Alemanha






MERCADO DÁ PEQUENOS PASSOS

Ainda não há demanda do mercado brasileiro para a aplicação de painéis fotovoltaicos em edificações. E a oferta existente é de produtos importados, como os oferecidos pela fabricante alemã Schüco, detentora de tecnologia de ponta em sistemas de fachadas. Mas já há mudanças nesse quadro, e a empresa deu um dos primeiros passos nesse sentido, em 2008, ao criar um Departamento de Energia Solar em sua unidade na Argentina, após pesquisas que apontaram a receptividade para o uso desse tipo de energia em obras residenciais. E há planos de propor a mesma ação para o mercado brasileiro em 2010.

Desde a década de 1990, a Schüco desenvolve tecnologia que possibilita aproveitar a luz solar para a geração de energia elétrica. Os projetos amplamente aplicados em edificações em países europeus incluem estudos que indicam o investimento necessário para gerar a energia fotovoltaica desejada para determinada obra. O pacote tecnológico envolve células fotoelétricas, cabeamento, transformadores e sistemas de integração, que podem ser ligados à fachada, à cobertura de vidro, a brises ou outras partes do edifício. Por serem fechadas, as células fotoelétricas impedem a visibilidade entre áreas internas e externas. Assim, os painéis são utilizados, geralmente, em fachadas cegas ou coberturas. “Caso haja interesse no mercado brasileiro, a empresa pode atender a solicitação num prazo entre 30 e 120 dias”, observa Michael Eidinger, gerente geral da Schüco no Brasil.

Placas semitransparentes da Heliodinâmica

A Alcoa, outra grande produtora de sistemas de fachadas, também começa a voltar sua atenção para possíveis movimentos do mercado brasileiro. Na mais recente edição da Fesqua (feira de esquadrias e componentes), realizada no final do ano passado, em São Paulo, a empresa mostrou um protótipo de caixilhos com sistema fotovoltaico, tendo como base uma de suas linhas, a Unit. “Nosso objetivo foi apresentar a tecnologia aqui no Brasil e constatamos que houve grande interesse”, observa Cíntia Figueiredo, coordenadora de novos produtos da Alcoa. Ainda é cedo para detalhar como será o produto final, desenvolvido em parceria com empresas especializadas na tecnologia fotovoltaica, como a Heliodinâmica, fornecedora dos painéis para o protótipo. Apesar da experiência da Alcoa no exterior, onde já oferece os painéis fotovoltaicos entre seus produtos, os estudos para o mercado brasileiro consideram as características regionais, principalmente quanto às tipologias. “Mas é importante frisar que o edifício que vier a utilizar essa tecnologia já deve ser projetado com essa finalidade, o que também envolve a orientação solar e a necessidade de não sofrer sombreamento, entre outros fatores”, explica Cíntia. Ela observa que os painéis fotovoltaicos não devem ser encarados como limitação aos projetos arquitetônicos - ao contrário, como demonstram excelentes exemplos em outros países.
Protótipo da Alcoa, com caixilhos da linha Unit
“O mercado brasileiro ainda está por descobrir a energia fotovoltaica. Trata-se de um dos investimentos mais rentáveis e a durabilidade das placas solares fotovoltaicas é de 25 anos, pelo menos”, afirma Bruno Topel, diretor da Heliodinâmica. Pioneira nessa tecnologia no Brasil, a empresa fabrica placas de até 140 Wp para o setor de telecomunicações e para utilização em locais desprovidos de rede elétrica. Em algumas rodovias de São Paulo há painéis em funcionamento, para os sistemas de controle de tráfego, instalados em postes com cerca de seis metros de altura.

“As placas fotovoltaicas fabricadas pela Heliodinâmica podem ser transparentes nos espaços intercelulares, característica que permite a passagem parcial da luz solar e um efeito visual high-tech”, comenta Topel. Esses painéis podem ser aplicados em fachadas, janelas, coberturas ou sacadas e em diversos tamanhos, formatos e acabamentos, de acordo com as exigências do projeto. “Até mesmo a disposição das células fotovoltaicas pode seguir o padrão desejado”, ele acrescenta.



Sistemas fotovoltaicos isolados






Sistemas fotovoltaicos conectados a rede


MUDANÇAS NA LEI

A produção de energia elétrica a partir de fontes alternativas deve corresponder, até 2020, a 25% de toda a energia gerada e consumida no Brasil. Essa é a proposta do projeto de lei 523/2007, do deputado Mendes Thame (PSDB/SP), em tramitação na Câmara dos Deputados. Ele estabelece ainda que esse índice atinja 35% até 2030. Caso isso não ocorra, ficará proibida a expedição de licenças ambientais para novos empreendimentos convencionais de geração de energia elétrica, mesmo estando em fase de instalação e operação. Atualmente, no Brasil, a tecnologia fotovoltaica vem sendo utilizada em áreas desprovidas de rede elétrica ou onde a energia fornecida é de má qualidade. Nesses locais, a eletricidade fotovoltaica faz funcionar bombas de água, televisores e geladeiras, além de iluminar postos de saúde, escolas, centros comunitários e de pesquisa. Alimenta, ainda, telefonia, internet e cercas elétricas. Em regiões urbanas brasileiras, já é aplicada na sinalização (viária, fluvial, aeroportuária), iluminação pública, semáforos, alimentação de sistemas críticos e energia de backup, entre outros usos, conforme a resolução 83/2004 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).



domingo, 21 de junho de 2009

Green Buildings em Nova York 2009

Caros amigos,

Acabo de retornar da II Missão Técnica Green Buildings em Nova York que foi, na opinião de todos, um sucesso!

Na semana de 14 a 21 de junho cumprimos uma agenda repleta de visitas e experiências que, sem dúvida, ficarão gravadas de maneira definitiva na memória (e nas milhares de fotos) de todos os que tiveram oportunidade de acompanhar.

Além de termos tido uma visão um pouco mais aprofundada da evolução da arquitetura e do urbanismo de Nova York, pudemos visitar, com orientação e acompanhamento técnicos adequados, alguns dos mais representativos edifícios sustentáveis da cidade, alguns dos mais ativos escritórios de arquitetura sustentável, inclusive dois dos maiores escritórios do mundo, instituições e entidades relacionadas à promoção da sustentabilidade, além de visitar as feiras Buildings NY e GreenBuildings NY.

Isto para tratar apenas da agenda oficial, que foi complementada por oportunidades de relacionamento e descontração entre os participantes, arquitetos e engenheiros das 4 mais importantes regiões do país.

Trarei mais informações sobre a missão, com mais ilustrações e detalhes, nos próximos dias aqui no blog.

Até breve.



Arq. Antonio Macêdo Filho

(A próxima Missão Técnica Green Buildings em Nova York será em junho de 2010, mas antes dela teremos outras oportunidades, por exemplo: Batimat 2009 em Paris com Dubai e Green Build Conference & Expo em Phoenix, ambas em novembro. Darei sempre notícias a respeito aqui no blog.)




sexta-feira, 19 de junho de 2009

WTorre Nações Unidas.

Caros,

Na primeira edição das Visitas Guiadas Green Buildings em São Paulo, realizada em março passado, visitamos uma série deles, inclusive este WTorre Nações Unidas, elegante edifício de escritórios projetado por Edo Rocha para a WTorre.

O empreendimento é um dos que estão buscando a certificação LEED e incorpora o que, na minha opinião, é o que parece ser o mais efetivamente viável para se fazer em um edifício de escritórios que vise obter a certificação internacional.

Acompanhe a seguir matéria a respeito do empreendimento, publicada em Projeto Design.

Passarelas unem edifícios com áreas de laje diferentes


Para o condomínio WTorre Nações Unidas, Edo Rocha optou pela implantação de dois edifícios menores e com diferentes gabaritos, em escala inferior à dos demais prédios da região. As fachadas paginadas com laminado melamínico de alta resistência e painéis de ACM estabelecem identidade própria para o conjunto, que deve receber certificação Leed para o núcleo e os envoltórios. A interligação por meio de passarelas e duas opções em área de laje visam dar mais flexibilidade à locação.

Texto de Nanci Corbioli
Publicada em PROJETO DESIGN, Abril de 2009
O empreendimento é formado por dois edifícios que combinam linhas retas e curvas

Dois novos edifícios, relativamente baixos em comparação com os demais do entorno, chamam a atenção de quem passa pela marginal do rio Pinheiros, nas proximidades da ponte Eusébio Matoso. O empreendimento é o WTorre Nações Unidas, marcado por grandes recuos que atendem à legislação - devido à presença de uma vila na parte posterior direita do lote e ao posicionamento frontal à grande avenida. Ocupando a porção central do terreno, os prédios têm 13 pavimentos-tipo (com altura equivalente a 17 andares) e dez pavimentos-tipo e cobertura (gabarito correspondente a 14 pisos).

Os volumes são interligados no térreo e também em alguns andares superiores através de vigas metálicas que funcionam como passarelas. Aliadas ao revestimento com laminado melamínico de alta resistência, próprio para aplicações externas, elas transformam a leitura dos edifícios, que possuem desenhos diferenciados. “As passarelas estabelecem unidade visual e permitem ir de um prédio a outro sem ter que descer até o térreo, o que traz mais flexibilidade para a locação”, avalia o arquiteto Mauro Halluli, integrante da equipe de Edo Rocha e coordenador do projeto.

O revestimento melamínico é de alta resistência e próprio para aplicações externas. Ele foi fixado por meio de uma estrutura auxiliar
Em pele de vidro, a fachada da edificação menor contrasta harmoniosamente com a do prédio mais alto, composta por painéis unitizados em módulos de 4,20 x 1,25 metros que incorporam caixilhos, vidros e revestimentos. Já montados, eles foram içados até o ponto de fixação na estrutura, o que garantiu maior rapidez à etapa de fechamento externo. Com a finalidade de romper com a idéia de uma fachada totalmente lisa, as chapas de ACM foram colocadas oito centímetros à frente dos vidros, criando pequenas saliências. No formato de régua, os laminados melamínicos em padrão madeira unificam as duas construções e foram instalados por meio de inserts de alumínio sobre uma estrutura metálica auxiliar, opção que também contribuiu para dar maior velocidade de execução. A própria paginação dos laminados, no padrão 0,50 x 2,50 metros, permitiu maior quantidade de pontos de fixação e com isso foi possível utilizar peças mais finas, com apenas oito milímetros de espessura, sem comprometer a estabilidade do conjunto. Dependendo do ponto, os peitoris empregam chapas de drywall ou blocos de concreto celular. “O projeto previa apenas o drywall, mas houve essa alteração durante a obra”, detalha Halluli. Outra característica marcante do conjunto - que também ajuda a formar sua identidade - são os trechos curvos das fachadas dos dois edifícios, ambos voltados para o quadrante de maior visibilidade, em direção da ponte Eusébio Matoso.

A marquise com acabamento em laminado melamínico prolonga-se para o interior do grande hall de acesso
O embasamento resulta da combinação entre fechamento em vidro do térreo de pé-direito duplo, pilares de seção circular com revestimento de aço inoxidável e marquise que marca o ponto de acesso e avança para o interior da recepção, compartilhada pelos dois edifícios. O piso interno, em mármore polido do Ceará, tem tonalidade contrastante com a pavimentação externa, feita com placas de basalto. O mezanino sobre o térreo apresenta painéis de madeira como revestimento e abriga setores de expedição e administração do condomínio. Externamente, as áreas comuns incluem um café e um salão de múltiplo uso projetado com todas as características necessárias para o funcionamento de um auditório.

Ambos os edifícios possuem core alinhado com a fachada posterior, o que libera em todos os andares a vista panorâmica para o rio, o Jockey Club e a Cidade Universitária. Os pavimentos-tipo do prédio maior somam cerca de 1,5 mil metros quadrados de área de laje, com pilares centrais formando vãos de aproximadamente dez metros. No edifício menor, que foi locado para uma única empresa, a área de laje é de 1,2 mil metros quadrados e os pilares, alinhados com a fachada, resultam em vãos de 11,25 metros e mais uma faixa em balanço. Incluído na categoria denominada triple A (classificação dos edifícios comerciais com avançados recursos de tecnologia e acabamentos de alto padrão), o empreendimento pleiteia a classificação Prata do Leed, conferida pelo United States Green Building Council (USGBC), na categoria que abrange o conjunto formado por núcleo e envoltórios.

O vidro evidencia o pé-direito duplo do térreo. Os fechamentos do mezanino empregam madeira

Entre os recursos sustentáveis da edificação estão sistema de captação e tratamento das águas pluviais, que são destinadas aos sistemas de irrigação e de ar condicionado, coberturas verdes que liberam a água da chuva gradativamente e fachadas com menos de 50% de área translúcida a fim de reduzir a entrada de calor e o consumo de energia com o condicionamento do ar. Adicionalmente, foram empregados vidros importados de nova geração que apresentam elevados índices de transmissão luminosa e baixos níveis de absorção de calor. “No início das obras os fornecedores ainda não estavam estruturados para atender aos parâmetros exigidos pelo Leed”, explica Halluli.
Outras características do empreendimento são as fachadas iluminadas por leds, geradores que atendem 100% às necessidades operacionais e ar condicionado insuflado pelo piso elevado.

Pilares revestidos por aço inoxidável marcam o embasamento do conjunto

As edificações possuem estrutura mista, com pilares e caixas de elevador em concreto, vigas metálicas e lajes do tipo steel deck. No interior dos pilares, cuja seção é reduzida nos pavimentos mais altos, foram acrescentados perfis metálicos em forma de I. A peça tem a finalidade de amarrar as vigas, todas jateadas para dar proteção contra o fogo. As passarelas que unem os dois prédios têm fechamentos laterais com placas cimentícias.

Vista do hall para a frente do empreendimento

As duas unidades do WTorre Nações Unidas foram erguidas durante a recente fase de aquecimento econômico, momento em que dificuldades como escassez de concreto, atrasos no fornecimento de materiais e filas de espera para a locação de equipamentos tornaram-se comuns na construção civil. Apesar de terem interferido no cronograma, esses problemas só não tiveram impacto mais significativo porque os prédios foram planejados em acordo com o conceito de obra seca. “O projeto evitou ao máximo os aspectos artesanais da construção. O objetivo era uma obra rápida, seca, que otimizasse mão-de-obra, materiais e não precisasse de muito espaço de canteiro”, destaca Halluli.
Inicialmente, as passarelas seriam espaços ajardinados de convivência, mas por questões relativas à área computável ficaram apenas com a função de interligação

Entre os projetos em andamento no escritório de Edo Rocha atualmente está o de uma terceira edificação com a mesma linguagem, a ser implantada no lote livre, atrás do prédio mais alto. Ela deve ser concluída até o final de 2010 e compartilhar as áreas comuns, acrescentando ao térreo lojas e praça de alimentação.
Detalhes das passarelas que unem pavimentos alternados e dão mais flexibilidade à locação

Hall e recepção são compartilhados pelos dois edifícios. Internamente, os acabamentos combinam mármore, aço inox e laminado melamínico







O pavimento-tipo do edifício maior soma 1,5 mil metros quadrados de área de laje, com pilares centrais que formam vãos de aproximadamente dez metros








Perspectiva do empreendimento já incorporando a terceira torre, que deve ser concluída no final de 2010




terça-feira, 16 de junho de 2009

Chad Oppenheim

Caros,

Com satisfação informo que obtivemos na semana passada confirmação para a palestra do arquiteto norte-americano Chad Oppenheim no Fórum EcoTech, para a edição do Rio de Janeiro, em novembro.

Chad Oppenheim é um ativo arquiteto de Nova York que estudou em Cornell e fundou seu Oppenheim arquitetura + design em 1999, em Miami. É professor na Universidade Internacional da Flórida, é ganhador de prêmios de arquitetura e tem grande atuação não só nos EUA, Emirados Árabes, França, Grécia, Ilhas Turcas e no Japão.

Entre seus principais projetos, pode-se citar o Planeta Hollywood Hotel e o Cassino L'Defense, em Paris ; o Discovery Science Center, em Los Angeles; San Silencio Eco-resort,em Porto de Caldera; Dellis Cay ,nas Ilhas Turcas e Caicos; o Hard Rock Hotel, em Las Vegas; o Ten Museum Park e o COR Tower, em Miami, entre outros.

Este último, um interessante projeto que integra algumas soluções úteis para a sustentabilidade da construção. Acompanhe a seguir breve matéria sobre o projeto:

Edifício COR - Miami, EUA

O projeto consiste em um condomínio vertical multifuncional, em Miami, Flórida.

O edifício COR reúne residências, escritórios, academia e lojas, e tem como partido arquitetônico um núcleo de estrutura metálica e vidro cercado por um exoesqueleto de grande impacto visual que ao mesmo tempo que ele funciona como estrutura, também protege os ambientes internos dos raios solares, com a mesma função de um brise solei sobre a fachada envidraçada.
Além do sombreamento das áreas internas o exoesqueleto cria espacialmente nichos para os terraços e espaços de convívio coletivo da edificação.

A edificação abriga uma série de turbinas eólicas que agem em conjunto com o sistema de painéis fotovoltáicos e coletores solares para o aquecimento de água, que formam o sistema de geração de energia do edifício.
Ao lado observamos imagens e gráficos, desenvolvidos por conta dos estudos de conforto ambiental com o programa Ecotect, uma importante ferramenta de apoio para o estudo das condições conforto.
No COR todos estes sistemas se integram à fachada e ao entorno com uma leitura irregular e ao mesmo tempo composta por formas geométricas simples.

Com a utilização de modulações e do aço como sistema estrutural, obtém-se boa flexibilidade espacial tanto externamente na edificação como internamente, nas plantas dos pavimentos.
Acrescento a seguir um video no qual o arquiteto Chad Oppenheim comenta sobre o projeto da COR e os conceitos de sustentabilidade que ele aplica em seus projetos:


Para conhecer melhor o trabalho do arquiteto Chad Oppenheim, recomendo participar do Fórum EcoTech, para o qual é um convidados internacionais.
O Fórum EcoTech, que tem minha coordenação técnica, é o maior evento voltado para a sustentabilidade na construção de edifícios já realizado no Brasil. Mais informações em: http://www.forumecotech.com.br/
Arq. Antonio Macêdo Filho, com colaboração de Bruno Moraes

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eficiência Energética

Apesar das iniciativas do governo para minimizar o consumo energético em edificações, o Brasil ainda tropeça na adequação de projetos mais eficientes

Por Eliane Quinalia, na revista Téchne, maio 2009.

Preocupação entre os países de Primeiro Mundo, a energia, bem como o melhor aproveitamento dos recursos naturais, também tem sido alvo de atenção entre os brasileiros, especialmente após a crise energética de 2001, que surpreendeu a população com o memorável blecaute. Foi a partir desse evento, que o governo brasileiro se viu obrigado a tomar medidas eficientes visando à expansão da capacidade energética e sua adequada limitação, nos casos em que a população precisava ser conscientizada sobre a melhor maneira de empregar tal recurso em residências.


Entretanto, engana-se quem pensa que apenas essas ações permearam o cenário de energia nacional. O famoso "apagão" trouxe à tona uma outra vertente - a da melhoria dos níveis de eficiência energética em eletrodomésticos e eletroeletrônicos, que não demoraram a influenciar também o panorama da construção civil, com o uso de sistemas construtivos que priorizassem a redução do consumo de energia. Nada mais justo, afinal, a construção e o uso dos edifícios são um dos maiores consumidores de recursos naturais no ambiente, consumindo cerca de 16,6% do fornecimento mundial de água pura, 25% de madeira e 40% de combustíveis fósseis e materiais manufaturados (Wines, 2000). Isso sem mencionar a emissão de CO2 na atmosfera, na qual a indústria cimenteira também tem grande participação.
O consumo de energia elétrica no mundo, especialmente nos países mais desenvolvidos, tem crescido com o passar dos anos. No Brasil, por exemplo, as edificações consomem anualmente 44% do total de energia elétrica do País, sendo 22% destinados ao setor residencial, 14% comercial e 8% para o público, conforme apontam os dados divulgados pelo LabEEE (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações) da Universidade Federal de Santa Catarina. (Veja o quadro Evolução do consumo de energia elétrica por habitante no mundo).
Como estratégia para combater tal desperdício, o governo tem aprimorado leis, investido em programas de eficiência energética e recentemente desenvolveu o selo de eficiência em parceria com o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), destinado a aparelhos e equipamentos energeticamente eficientes - etiqueta Inmetro (A-E). O que poucos imaginam é que esse selo também será empregado na construção civil em edifícios comerciais, de serviços e públicos, que passarão a receber etiquetas conforme o desempenho energético de cada construção. "Nosso marco legal é a lei 10.295/01 e o decreto que a regulamenta, 4.059/01. Ambos dispõem sobre a política nacional de conservação e uso racional de energia, atribuindo ao poder executivo a prerrogativa de estabelecer níveis máximos de consumo ou mínimos de eficiência para máquinas e aparelhos consumidores de energia, que permitiu determinar critérios para a etiquetagem de edificações", diz Paulo Augusto Leonelli, gerente do departamento de desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia.
O Procel Edifica, como é chamado o programa, a partir deste ano deverá etiquetar os edifícios, concluídos ou em reforma e retrofit, atribuindo conceitos que vão de A a E conforme o consumo de eletricidade. A regra é simples: estarão enquadrados nesse programa os edifícios com área total útil mínima de 500 m2 e que apresentem tensão de abastecimento superior ou igual a 2,3 kV. O objetivo será avaliar a eficiência e potência instalada do sistema de iluminação, no sistema de condicionamento do ar e no desempenho térmico da envoltória (análise da cobertura, áreas de vidro, janelas, aberturas e vãos) do edifício. Com essas ações o governo espera atingir uma economia de 50% em novas construções e 30% no retrofit.













Iniciativas x impasses
Apesar do empenho do governo para incentivar projetos bioclimáticos com uso de energias renováveis nas construções, o Brasil ainda engatinha em termos de eficiência energética, principalmente se comparado aos demais países de primeiro mundo que investem pesado no desenvolvimento de tecnologias para a sustentabilidade e melhor aproveitamento energético.

De acordo com o engenheiro civil Roberto Lamberts, também coordenador do LabEEE (Laboratório de Eficiência Energética em Edificações), da Universidade Federal de Santa Catarina, o Brasil deveria caminhar de forma mais rápida nesse sentido, especialmente devido às alterações climáticas que afetam o mundo, em termos de aquecimento global. "As ações do governo ainda são modestas. É preciso evoluir muito em termos de medição da eficiência. A sociedade precisa se conscientizar e pressionar o governo para desenvolver níveis mais altos", explica. O engenheiro se baseia nos últimos fatos da administração de Barack Obama, no governo norte-americano, o qual destinou US$ 16,8 bilhões para o desenvolvimento de ações em eficiência energética e energia renovável, dos US$ 43 bilhões destinados à energia do país. "Os EUA têm investido, mas aqui ainda falta muito em termos de divulgação. As pessoas desconhecem o que é o programa de etiqueta. Todos deveriam saber."

A exigência de níveis de eficiência mais altos se deve particularmente à questão dos sistemas de condicionamento de ar em edificações. Os modelos etiquetados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) e Procel destinados à janela ou mesmo split, têm sido mais procurado por consumidores, especialmente na região Norte do País. Para se ter uma ideia, de acordo com a última pesquisa do Procel, o uso desse aparelho na região já representa 40% do consumo de energia elétrica, ou seja, mais até que o famoso vilão, o chuveiro, em outras regiões. (Veja o quadro Avaliação do mercado de eficiência energética no Brasil: Pesquisa na classe residencial). "Falta uma política pública mais agressiva do Ministério de Minas e Energia em elevar os níveis mínimos (E) de eficiência desse equipamento. Apenas assim teremos máquinas mais econômicas. Aqui no Brasil esse valor ainda é de 2.2. Ou seja, compra-se o equipamento por um preço baixo, mas o quanto se vai pagar de conta de luz é outra história", diz Lamberts.

O aumento do uso de ar-condicionado nessa região, e até no Brasil, pode ser facilmente explicado por um problema térmico das fachadas. Hoje, muitas construções ainda são entregues sem proteção externa, ou seja, venezianas e brises. Com isso, as salas ou aposentos recebem não apenas a luz solar, mas armazenam energia em forma de calor, fato que resulta na compra de aparelhos de ar para amenizar a sensação térmica de "estufa" deixada no ambiente. "Infelizmente, a maioria de nossas fachadas não são inteligentes. Elas deveriam ser projetadas para controlar os ganhos solares e bloquear o ganho excessivo de energia no verão. Nossas fachadas são inteiras de vidros transparentes. Falta ainda muito sombreamento", diz Lamberts.

Outro ponto que chama a atenção são os sistemas ou fontes alternativas de energia, que englobam especialmente os aquecedores solares de água. Recentemente o Brasil tem abraçado essa ideia como a solução de todos os problemas energéticos, o que não é verdade. Apesar da solução ser eficaz e proporcionar reduções energéticas notáveis, o mercado ainda sofre com problemas de instalação. Afinal, se o coletor for mal posicionado e a resistência elétrica no reservatório não for regulada - e isso traz custos - os resultados são ineficazes. Além disso, é recente, porém notável, a ação de algumas empresas em instalar tais sistemas para a baixa renda. A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e a CPFL Energia (Companhia Paulista de Força e Luz), por exemplo, deverão instalar sistema de aquecimento solar para água do chuveiro em seis mil moradias, em 300 municípios de São Paulo, até 2010. "A baixa renda deve ser privilegiada com tal sistema, especialmente se o mercado desenvolver coletores mais econômicos, como de plástico, por exemplo. Apenas seria necessário, nesse caso, complementar a instalação com um chuveiro elétrico", diz Lamberts. Nesse sentido, a classe média também pode ser beneficiada com aquecedores a gás, desde que o País se empenhe mais na qualificação de seus profissionais, já que a maior parte dos problemas desse setor se deve à má instalação de equipamentos.









Ferramentas auxiliares

Para auxiliar a concepção de edifícios mais eficientes, alguns softwares simuladores têm sido lançados no mercado, principalmente porque de acordo com as exigências do Procel Edifica, as novas construções deverão ter seu consumo de energia avaliado por um simulador validado pela Ashrae Standard 140, capaz de modelar variações horárias de ocupação, potência de iluminação e equipamentos e sistemas de ar-condicionado, definidos separadamente para cada dia da semana e feriados. No site do Procel Info, por exemplo, diversos programas gratuitos podem ser utilizados para tal aplicação, basta que o usuário esteja cadastrado no site. "O uso de softwares como o Energyplus, que permite a simulação horária do consumo de energia de um edifício para um ano inteiro, já é corriqueiro nos grandes empreendimentos executados em São Paulo", conta Leonelli. A ideia, é que o método de simulação compare o desempenho da edificação proposta com uma similar, cujas características estejam de acordo com os níveis de eficiência exigidos em projeto.

Vale ressaltar ainda, que segundo especialistas, a maioria dos investimentos em eficiência energética são retornáveis em menos de três anos, além de serem ambientalmente sustentáveis.

Tecnologias para sustentabilidade
Fachadas inteligentes
Projetadas para filtrar automaticamente a energia solar conforme as variações climáticas. Devem ter baixa manutenção e vidros autolimpantes, tendo preferencialmente cores claras na parte opaca para minimizar a manutenção, com o intuito de manter o conforto térmico no interior do edifício a um gasto mínimo de energia.


Sistema de condicionamento de ar

Tratamento destinado a controlar simultaneamente a temperatura, a umidade, a pureza e a distribuição de ar de um meio ambiente. Precisam ser escolhidos com cautela, já que a compra de um aparelho ineficiente ou maldimensionado pode trazer gastos energéticos ao consumidor. Para evitar prejuízos, deve-se verificar no site do Inmetro (Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) o nível de eficiência enérgetica dos aparelhos antes da compra.

Sistemas ou fontes alternativas de energia

Aquecedores solares de água, painéis fotovoltaicos e gás natural têm sido utilizados para minimizar os gastos energéticos. Os edifícios comerciais que utilizem água quente e contem com aquecedores solares deverão provar atendimento com uma fração solar igual ou superior a 60%. Além disso, a estimativa do programa é que o uso de energia eólica ou mesmo painéis fotovoltaicos possa proporcionar uma economia mínima de 10% no consumo de energia elétrica do edifício. Já os sistemas de cogeração podem melhorar em até 30% os gastos com energia.


Sistemas e equipamentos que racionalizem o uso da água

Economizadores de torneira, sanitários com sensores, aproveitamento de água pluvial podem proporcionar uma economia mínima de 20% no consumo de água do edifício.






Sistemas de iluminação

As luminárias, reatores e lâmpadas eficientes podem reduzir de 30% a 50% o consumo em iluminação. Assim, os ambientes fechados devem possuir ao menos um dispositivo de controle manual acessível para o acionamento independente da iluminação interna do ambiente. Sendo que cada dispositivo deve controlar uma área de até 250 m² para ambientes até 1.000 m², bem como uma área de até 1.000 m² para ambientes maiores do que 1.000 m². O uso de sistemas automáticos com desligamento de luz ou sensores de presença também se faz obrigatório.


Materiais isolantes

Fundamental em climas frios, o uso do isolante térmico não pode ser generalizado. Afinal, nos dias quentes a realidade é outra. Sua melhor aplicação ainda se dá na cobertura.








Consórcio Brasil leva projeto nacional para Europa







Uma iniciativa que tem chamado a atenção é a do Consórcio Brasil, grupo formado por acadêmicos de engenharia e arquitetura de seis universidades brasileiras, todos empenhados na divulgação de projetos de eficiência energética em âmbito mundial. Ao que consta, as universidades federais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em parceria com a USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) receberam um convite no início de 2008 para representar o País na 1a edição do Solar Decathlon Europe, que acontecerá no próximo ano em Madri, na Espanha.

Para entender um pouco melhor, esse concurso acadêmico organizado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos e realizado em território norte-americano desde 2002, foi desenvolvido para incentivar a construção de moradias autossuficientes em termos de energia, bem como conscientizar a sociedade sobre os temas ambientais, principalmente no que diz respeito ao uso de energia e recursos naturais. "É a primeira vez que universidades tão importantes se juntam para apresentar um trabalho no exterior sobre soluções bioclimáticas com integração de painéis solares térmicos e fotovoltaicos", conta Adnei Melges de Andrade, vice-diretor do IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia) e coordenador do Consórcio Brasil.

O concurso mundialmente conhecido em 2005, com a adesão da Escola Politécnica de Madri, logo recebeu o apoio do governo espanhol para promover a competição na Europa - continente engajado em questões sustentáveis e ambientais, tal como na Ásia, no que se refere às ações da China. De acordo com Andrade, os estudantes brasileiros de gradução, mestrado e doutorado deverão apostar no uso de materiais ecologicamente corretos e na concepção de uma moradia flexível, utilizando não apenas a inovação para melhorar as condições de sustentabilidade, mas também zelando pelos aspectos socioeconômicos da construção. "Já enviamos as maquetes e a apresentação audiovisual, mas a entrega do plano de operações para a montagem de protótipos será realizada em março de 2010", conta.

A equipe brasileira até o momento conta com o financiamento da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) - órgão do Governo Federal ligado à educação e do Ministério da Habitação da Espanha, para locação de gruas e equipamentos e para a montagem dos protótipos no Parque do Retiro, em Madri.