quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Resíduos de Construção na TV

Caros amigos,

Está no ar o programa "Entre Formigas e Gafanhotos", da TV Ideal, do Grupo Abril, que exibe uma série de programas sobre sustentabilidade.

Tive a satisfação de ter sido convidado a participar de um dos programas (foto), a respeito dos Resíduos de Construção de Demolição - RCD, que contou também com contribuição da colega Daniela Corcuera e de outros profissionais de diferentes áreas.

No link a seguir você pode assistir a uma síntese do programa:
http://www.idealtv.com.br/formigasegafanhotos/

Com linguagem fácil e dinâmica, o programa é uma boa introdução a este importante tema.

Vale a pena.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Tecnologia de projetos para a sustentabilidade

O forma como se projetam edifícios está mudando.

Os requisitos da sustentabilidade estão exigindo dos arquitetos mais domínio sobre o projeto, mais dedicação aos estudos preliminares e ao desenvolvimento, que muitas vezes requerem simulações, mais gente envolvida no processo, mais tempo e consequentemente, mais custos.

Neste contexto, recursos computacionais podem ser muito úteis para promover a precisão do projeto, facilitar a comunicação entre projetistas e agilizar a tomada de decisões.

Vejam a seguir interessantes videos (em inglês) nos quais a Autodesk apresenta uma ferramenta que desenvolveu com apoio do USGBC, utilizando a tecnologia BIM - Building Information Modeling, que permite excelente interação entre projetistas e seus projetos, inclusive utilizando a base de dados LEED para pré-avaliação da classificação que a edificação obteria para a certificação ambiental, ainda durante o processo de projeto.

O sistema, muito interessante, ainda está em testes e será apresentado ao mercado durante a GreenBuild Conference & Expo, que ocorre este mês de novembro 2008 em Boston, EUA.

A Câmara de Arquitetos está organizando, junto ao GBC-Brasil, uma Missão Técnica para o evento, que prevê também vistas a green buildings em Nova York e Boston. Eu acompanharei o grupo e trarei notícias aqui neste blog nas próximas semanas.





(Videos reproduzidos aqui com autorização da Autodesk Brasil - agradecimentos a Thalita Tralci e Ruy Gatti)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

As construções sustentáveis no Brasil

O programa Cidades e Soluções, da GloboNews, neste mês apresenta uma matéria sobre as construções sustentáveis no Brasil. O jornalista André Trigueiro analisa edifícios certificados LEED no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Vale a pena assistir ao video do programa em:


As construções sustentáveis no Brasil
Qui, 02/10/08

por André Trigueiro
GloboNews

domingo, 19 de outubro de 2008

Edifícios giratórios: Será que funcionam?

A possibilidade de girar um edifício pronto como se estivesse em projeto parece fascinar os arquitetos. Aproveitar o sol de inverno durante o dia todo, evitar o sol de verão e ainda poder ter uma vista de 360 graus parece ser uma possibilidade arquitetônica fascinante.

Alguns projetos de edifícios giratórios estão sendo propostos para diferentes cidades do mundo. Alguns dos mais impressionantes estão previstos para Dubai (onde mais?).

Acompanhe no video que segue uma matéria (em espanhol) sobre um projeto para Dubai que utiliza geradores eólicos localizados entre os pavimentos para produzir energia elétrica para consumo da própria edificação.



Considerando que se encontrarão pessoas dispostas a pagar caro para habitar estas edificações, especialmente em se tratando dos Emirados Árabes, a questão que parece natural a respeito destes projetos giratórios é saber se as pessoas se habituarão a viver com paisagem externa dinâmica e à sensação de movimento (ainda que se possa manter o apartamento parado, que sentido faria habitar um apartamento giratório e não girá-lo?).

Há ainda a questão energética: se produzirá energia suficiente para fazer funcionar o sistema e ainda fornecer energia para o prédio? A manutenção de tantas peças móveis justificaria o esforço?

De qualquer forma, não quero aqui argumentar que não dará certo. A idéia é interessante. Mas toda nova tecnologia tem sua dose de risco de falhar e sua chance de sucesso.

O que me parece coerente observar é que, em se tratando de arquitetura, nem todas as tecnologias que se dizem sustentáveis e aparecem como soluções para a construção sustentável são de fato úteis para a esta finalidade. Todos querem parecer verdes e em meio a tantas novidades tecnológicas algumas aproveitam o momento para de alguma forma se destacarem.

Estas torrres giratórias de Dubai seguramente se destacarão, mesmo em um contexto em que há outras obras impressionantes, mas somente com o tempo saberemos se de fato funcionarão.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Grã-Bretanha apresenta projeto de casa carbono zero

Grã-Bretanha apresenta projeto de casa carbono zero
Fonte: site BBC.co.ok

Um novo projeto da primeira casa que atende a padrões de conservação ambiental a serem impostos na Grã-Bretanha até 2016 está sendo apresentado nesta segunda-feira em Watford, próximo a Londres, na feira Offsite 2007.
A casa de dois dormitórios, projetada pela empresa Kingspan Off-site, tem um revestimento que faz com que ela perca 65% menos de calor do que uma casa comum. A perda de calor é uma característica importante para moradias em países fora da zona tropical, onde a calefação é amplamente utilizada no inverno.

Painéis solares, aquecedor a biomassa e mecanismos para uso eficaz de água - inclusive com a coleta de água da chuva -, estão entre as características da casa.
O ministro das Finanças da Grã-Bretanha, Gordon Brown, anunciou em seu orçamento, apresentado em março passado, que casas de carbono zero ficarão isentas do imposto sobre a transferência de imóveis.

(foto) Um medidor inteligente vai mostrar se há desperdício de energia

Aquecedores a biomassa funcionam com combustíveis orgânicos como bolinhas de madeira e são classificados como "zero" em emissão de gases do efeito estufa porque a quantidade de dióxido de carbono que expelem quando em funcionamento é compensada pela quantidade absorvida quando o cultivo que deu origem ao seu combustível foi desenvolvido.

A casa tem ainda um sistema de separação de lixo que permite que material combustível seja queimado para contribuir para o fornecimento de energia doméstica. A quantidade de energia tem um medidor inteligente para que os moradores saibam o quanto estão desperdiçando.
O conceito do cidadão "carbono zero" é compensar as emissões decorrentes do seu estilo de vida por meio de ações que retiram gases de efeito estufa da atmosfera.

Veja abaixo algumas das características da casa zero carbono:

1. Estrutura para ventilação no verão.

2. Painel solar na parte de trás, para aquecer água e gerar eletricidade.

3. Revestimento reforçado para evitar perda de calor no inverno.

4. Aquecedor a biomassa.

Energia no Mundo

Energia no Mundo

Fonte: BBC

A demanda global por energia aumentou nos últimos 150 anos, acompanhando o desenvolvimento industrial e o crescimento populacional. Especialistas prevêem que a sede por energia deve continuar a crescer em ao menos 50% até 2030, à medida em que países em desenvolvimento como a China e a Índia procurarem manter seu rápido crescimento econômico. As maiores fontes da energia mundial (responsáveis por cerca de 80% da energia consumida no mundo no momento) são o carvão, o petróleo e o gás natural - os chamados "combustíveis fósseis" por terem surgido séculos atrás a partir de restos de plantas e animais mortos, ricos em carbono. No entanto, essas são fontes que um dia vão se esgotar.


Nas últimas décadas, também tem aumentado a preocupação sobre o impacto ambiental desses combustíveis. Os maiores especialistas em clima alertam que as emissões de gases do efeito estufa, criados pela queima de combustíveis fósseis e por outras atividades humanas, precisam ser reduzidas substancialmente para evitar mudanças climáticas perigosas. A pressão para substituir os combustíveis fósseis colocou em evidência as chamadas fontes renováveis de energia - como, por exemplo, o Sol e os ventos. Mas elas também enfrentam desafios: as tecnologias viáveis ainda estão se desenvolvendo, e os custos de instalação tendem a ser altos. Essas fontes de energia não devem conseguir uma fatia muito significativa do mercado dentro dos próximos 25 anos.

Combustíveis fósseis

(foto) A queima de carvão é uma das principais fontes de emissão de CO2

CARVÃO - O principal combustível associado com a Revolução Industrial continua sendo uma fonte de energia essencial. A produção de carvão mineral em todo o mundo cresceu 65% nos últimos 25 anos. As reservas são abundantes, e estima-se que durem pelo menos mais 164 anos - mais do que o petróleo ou o gás natural. O carvão supre 24% das necessidades primárias de energia mundiais, e é a maior fonte única para a eletricidade no planeta (40%). Mas ele também é o combustível que emite mais gases poluentes proporcionalmente, levando-se em conta a energia que produz).

PETRÓLEO - Apesar de conhecido há muitos séculos, só começou a ser usado como combustível recentemente. Desde o desenvolvimento dos processos de refinaria e o início do boom comercial, há 150 anos, o petróleo assumiu um papel central na economia mundial. Além de ser usado para mover carros, aviões e navios, e para aquecer casas e escritórios, ele também fornece matéria-prima para plásticos, produtos químicos, fertilizantes e tecidos. Ele responde por 6,9% da geração de energia elétrica. A cotação do petróleo vem atingindo altas recordes no mercado internacional desde 2005, por causa da instabilidade em áreas onde ele é mais extraído e por sinais de que os suprimentos podem estar se esgotando.

GÁS NATURAL - É encontrado em bolsões próprios, ou em depósitos de carvão e petróleo. Sua queima é menos poluente que a do petróleo e do carvão, pois ele produz menos dióxido de carbono que esses outros combustíveis. Sua contribuição para a demanda primária total de energia deve subir em 25% até 2030. Ele é uma importante fonte para a geração de energia e a produção industrial. O gás liquefeito e comprimido também é usado em veículos.

Energia Nuclear
FISSÃO - A fissão nuclear a base do atual sistema de produção de energia desse tipo. Ela envolve a divisão dos núcleos de certos isótopos como o urânio-235, durante a qual é liberada grande quantidade de energia. Reatores nucleares comerciais começaram a funcionar nos anos 50 e, atualmente, os cerca de 440 que existem respondem por mais de 15% da energia global. Apesar de prometer energia limpa e abundante, a indústria nuclear enfrenta resistência por parte da opinião pública por causa de acidentes (como o de reator de Chernobyl, em 1986) ou devido à dificuldade de se lidar com o lixo nuclear. Entretanto, com o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e a pressão cada vez maior para que diminua a poluição ligada às mudanças climáticas, alguns países contemplam a possibilidade de expandir sua capacidade de produção desse tipo de energia.

(foto) O processo de fusão está associado a altas temperaturas

FUSÃO - Esse sistema parte do princípio de que energia é liberada ao se forçar a união de dois núcleos atômicos com menor massa, em vez de dividir um maior. É o processo que cria a energia nas estrelas. Alguns acreditam que a fusão nuclear irá um dia produzir uma alternativa limpa aos combustíveis fósseis, permitindo criar grande quantidade de energia usando combustíveis abundantes, como água e lítio, sem produzir poluentes como subproduto. No entanto, ainda existem muitas dificuldades científicas e técnicas a se resolver antes de essa tecnologia estar disponível para uso comercial - o que não deve ocorrer antes de 2045 ou 2050.

Energias hidrelétrica e eólica

HIDRELÉTRICA - É a principal forma de produção renovável de energia hoje em dia. Ela se fundamenta no aproveitamento da água, que é canalizada para uma turbina e a movimenta, o que alimenta um gerador. Existe um gasto significativo na construção inicial da usina e da represa, mas a energia hidrelétrica é barata, não tem a desvantagem de produzir dióxido de carbono nem depende da variação dos preços e da oferta de combustíveis. Em 2003, quase 16% da energia produzida no mundo vinha de usinas hidrelétricas. Trata-se do principal tipo de energia produzida no Brasil para uso em residências e escritórios.


EÓLICA - A energia eólica é atualmente a segunda mais comum forma de energia renovável, só perdendo para a hidrelétrica. As turbinas, geralmente com dezenas de metros de diâmetro, não poluem e são fáceis de construir. Elas podem ser instaladas tanto em terra quanto no mar, mas a produção de energia depende da existência de ventos. Os críticos também dizem que as turbinas prejudicam muito o panorama. A Europa é a região do mundo onde mais se aproveita a energia eólica.


Energias solar e maremotriz

(foto) A energia solar está se popularizando

SOLAR - O Sol é uma fonte de energia não-poluidora e renovável que pode ser aproveitada por meio das células fotovoltaicas. Instaladas em painéis, elas transformam os raios solares em energia. Os painéis já estão instalados em telhados de muitas casas e estabelecimentos comerciais em todo o mundo. Em uma escala maior, sistemas de energia solar foram construídos e estão sendo projetados em várias cidades de países como a Alemanha e os Estados Unidos. A solar é possivelmente a forma mais cara de energia renovável. No entanto, os custos estão caindo e, uma vez instalada, a energia é gratuita.

MAREMOTRIZ - Os oceanos têm um grande potencial energético não utilizado. Pouco conhecidas no Brasil, as tecnologias de energia maremotriz são relativamente novas e pouco usadas, em comparação com as tecnologias para aproveitamento das energias solar e eólica. Os custos ainda são altos, o que significa que, pelo menos por ora, é improvável que essa tecnologia seja competitiva do ponto de vista econômico. Segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos, o potencial energético das ondas nas áreas costeiras é de entre dois e três milhões de megawatts. O sul da África, a Austrália e o norte do Canadá são algumas das áreas consideradas ricas em potencial maremotriz.

Outras fontes de energia

(foto) O álcool pode ser produzido a partir da cana e de outras lavouras

BIOMASSA - Um termo amplo, que abrange materiais não-fósseis de origem biológica que constituem uma fonte de energia renovável. Esse material de origem vegetal pode ser convertido em combustíveis. Alguns tipos de biomassa são mais usados hoje em dia, como os óleos vegetais, grãos e a cana-de-açúcar. Há cada vez mais carros em todo mundo que são movidos a biocombustíveis ou a uma mistura de biocombustíveis e combustíveis fósseis. O Brasil é o pioneiro mundial no uso do álcool combustível em larga escala. Em suas viagens internacionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado incentivar mais países a optar por essa alternativa energética.


GEOTÉRMICA - A energia geotérmica usa o calor do núcleo da Terra, que aquece rochas, fontes de água próximas da superfície ou lençóis subterrâneos, aproveitados com a perfuração de poços. Apenas 0,4% da capacidade de geração de energia no mundo é geotérmica. Na Islândia, água quente é encanada diretamente da natureza e usada no aquecimento das casas. Em vários outros países, como Estados Unidos, Japão e Nova Zelândia, a energia geotérmica também é utilizada.

HIDROGÊNIO - Embora o hidrogênio não seja uma fonte primária de energia (ou seja, ele tem que ser criado a partir de outros combustíveis), estudiosos acreditam que é uma grande promessa para o futuro. O hidrogênio é abundante e não polui. No entanto, a tecnologia para aproveitá-lo ainda tem problemas, e o hidrogênio é difícil de se transportar e armazenar.

ENERGIA DOS OCEANOS - Existe o potencial de se produzir energia se aproveitando a diferença de temperatura entre o fundo dos oceanos e a superfície, aquecida pelo Sol. Há uma estimativa de que menos de 0,1% da energia solar dos oceanos poderia saciar mais de 20% da demanda diária de energia dos Estados Unidos. Mas a tecnologia para aproveitar esse tipo de energia ainda está no futuro distante.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

R4House - Arq. Luis de Garrido - Barcelona, Construmat 2007

R4House - Barcelona, Construmat 2007

Em maio de 2007 estivemos em Missão Técnica em Barcelona por ocasião da Construmat, grande feira da construção que ocorre a cada dois anos na capital da Catalunha. Lá conhecemos a R4 House, interessante proposta de casa sustentável projetada pelo arquiteto valenciano Luis de Garrido.

Tive oportunidade de conhecer o arquiteto durante a feira na própria R4 House, que foi montada em um dos pavilhões da Gran Via, novo centro de exposições de Barcelona, uma vez a feira havia crescido e o tradicional centro do Mont Juic já não comportava a dimensão do evento.

Naquela ocasião, o convidei a vir a São Paulo para participar de um evento do qual eu participava da organização, e que veio a acontecer em maio de 2008, o EcoBuilding, promoviodo pela ANAB - Associação Brasileira de Arquitetura Bioecológica. Mais uma vez tive oportunidade de trocar experiências com o colega, que se espantou com a densidade urbana de São Paulo e as possibilidades que temos por aqui de fazer boa arquitetura integrada ao meio.

Polêmico e muito seguro em suas posições, Luis de Garrido apresentou no EcoBuilding uma dinâmica e rica palestra sobre a sustentabilidade da arquitetura, na qual, dentre outros projetos, apresentou a R4 House para uma atenta platéia.

Na foto ao lado eu acompanho os colegas arquitetos Luis de Garrido (Espanha), Bruno Stagno (Costa Rica) e Paula Femenias (Suécia/França) em visita ao edif. Terraço Itália, no centro de São Paulo, de onde pode-se ter uma noção da imensidão da cidade, que de fato impressiona.

Reproduzo a seguir um artigo muito interessante do arquiteto espanhol a respeito da R4 house, publicado recentemente pela revista Sistemas Prediais:

R4House prevê consumo zero de energias convencionais

"Com estrutura arquitetônica realizada à base de contêineres portuários, habitação bioclimática é marcada pela utilização de materiais reciclados e pela não-geração de resíduos em sua construção"

A R4House pretende se tornar referência internacional de arquitetura sustentável, já que cumpre de forma exaustiva com todos os indicadores da arquitetura sustentável conhecidos. A habitação tem um consumo energético zero de energias convencionais, e se auto-regula termicamente devido a seu design bioclimático e ao seu ótimo aproveitamento de energia geotérmica e solar. Do mesmo modo, o design e construção foram realizados com a finalidade de reduzir ao máximo o consumo energético, tanto em seu processo de construção, como também em seu processo de “desconstrução”.

Praticamente não se gerou nenhum resíduo na construção. Todos os materiais entregados na obra foram utilizados por completo, de um modo ou outro, até o menor fragmento. Todos os componentes da habitação foram projetados de forma modular para serem encaixados a seco.

Deste modo, e do mesmo modo que ocorre em sua construção, na desmontagem da habitação não se gerará nenhum resíduo, e todas suas peças poderão ser reutilizadas. A composição das fachadas e interiores da R4House mostra um exemplo do que chamo de “beleza do imperfeito”.

O objetivo deste tipo de composição arquitetônica é criar objetos belos, harmônicos e atrativos, mas, ao mesmo tempo, aproveitar ao máximo todo tipo de recursos, e não gerar resíduo algum. Para isso não pode se ficar escravo de uma determinada modulação harmônica compositiva, que, inevitavelmente, produziria resíduos. Em seu lugar, propõe-se a utilização de uma modulação que aproveite ao máximo os materiais e painéis com o formato que saem de fábrica, e que, ao mesmo tempo, se adaptem perfeitamente em um objeto arquitetônico determinado.

O resultado é surpreendentemente atrativo. A estrutura portante da habitação foi realizada à base de contêineres de porto, o qual lhe proporciona flexibilidade, “reutilizabilidade” e baixíssimo custo, que dificilmente se pode conseguir de outro modo.
De onde vem o nome da R4House?
O nome do protótipo demonstra o que se pretende conseguir com o mesmo. A R4House leva em conta quatro “erres”, que sem dúvida se converterão em um símbolo da arquitetura sustentável:

1. Recicla

A habitação está realizada em parte com materiais reciclados e recicláveis. Ou seja, com materiais que foram obtidos de materiais já existentes (modificados mediante um processo industrial em sua estrutura física, química ou mecânica). Por isso foram escolhidas as empresas que fabricam os produtos mais ecológicos do setor da construção. Evidentemente, estes materiais poderão ser reciclados de novo, tantas vezes como se queira, uma vez superado seu ciclo de vida útil nas habitações.

2. Recupera

Parte dos materiais utilizados nas habitações é recuperada, ou seja, foram utilizados materiais que em princípio foram deixados pela sociedade: alguns são resíduos industriais e outros resíduos urbanos. Do mesmo modo, nos protótipos se mostram materiais recuperados mediante um processo industrial (isto é, produtos que a indústria elabora a partir de resíduos), e outros recuperados de forma profissional (como objetos elaborados de forma singular por designers, à base de resíduos). Assim, a construção, em lugar de ser uma ação negativa para o meio ambiente, vira positiva, já que o regenera.

3. Reutiliza

Alguns materiais dos protótipos tiveram um uso anterior e foram novamente reutilizados, fato que diminui ao máximo a energia utilizada na sua construção e evita gerar resíduos. Tem que se destacar que a habitação foi construída de tal forma que todos seus materiais podem se reutilizar de novo, por completo. Deste modo, os materiais podem se renovar e ser utilizados em outras construções, sem gerar resíduos, com o mínimo consumo energético possível.

4. Raciona

Sem dúvida, o componente mais importante dos quatro. O setor da construção é o de maior inércia de todos os setores produtores de riqueza existentes em nossa sociedade. E quanto à sustentabilidade, se tem algo que é requerido para que esta possa se estabelecer é o processo exaustivo de raciocínio. A arquitetura sustentável nos obriga a repensar todo o processo de design, construção e gestão de um edificio, com o fim de diminuir seu impacto negativo no meio ambiente. Conseqüentemente, todas as ações que devam se estabelecer como alternativa devem ir encaminhadas com a finalidade de:

- Diminuir as emissões e resíduos gerados;

- Diminuir o consumo energético necessário;

- Otimizar os materiais e recursos utilizados;

- Melhorar o bem-estar e saúde humana;

- Diminuir a manutenção e o custo dos edifícios;
Dentre as características da R4House, destacam-se:

Construção à base de materiais reciclados, materiais reutilizados e materiais recuperadosA maior parte dos materiais utilizados na construção do protótipo são reutilizados, recuperados e reciclados.

Reutilizados: perfis metálicos da escada, vigas da cobertura inclinada, painéis da cobertura inclinada, ripas do interior dos contêineres, ripas do exterior (antes pallets para o transporte de materiais), elementos decorativos, mobiliário à base de elementos laminares, lâmpada central, paralelepípedos de mármore, eletrodomésticos, sanitários antigos, etc.

Recuperados: contêineres abandonados no porto, lã de ovelha para isolamento, cânhamo, perfilaria metálica, mosaico à base de resíduos de Silestone, mosaico, painéis de fibra de madeira, painéis de aglomerado, recobrimento de cobertura à base de resíduos de vidro, painéis decorativos à base de resíduos de vidro e bolinhas de gude usadas, lavadora, geladeira e forno (reestruturados à base de papelão), mistura de terra à base de resíduos de vidro, etc.

Reciclados: vidro, polietileno e polipropileno de tubos, elementos metálicos, Silestone, mosaico, painéis de zinco, grama artificial, etc.Estrutura arquitetônica realizada à base de contêineres portuários não mais utilizados. A utilização de contêineres portuários permite conseguir espaços arquitetônicos flexíveis, “relocalizáveis”, ampliáveis e de preço baixo. Deste modo, se for necessário um espaço adicional simplesmente se deve acrescentar ou apoiar um novo contêiner. Além do mais, as habitações podem crescer de acordo com as necessidades reais de espaço de uma família.
Consumo energético zero (Design bioclimático extremo)

Graças ao seu especial design arquitetônico, a casa tem um perfeito comportamento bioclimático e de alta eficiência energética. Isso se deve, entre muitas outras ações, a sua perfeita orientação, sua tipologia arquitetônica, a incorporação de duplas “peles” com câmeras ventiladas, isolamentos ecológicos e lâminas de controle solar, vidros estruturais com serigrafia especial, um sistema de distribuição de ar fresco por captor de ventos e falsos solos. A habitação se aquece devido a sua estrutura bioclimática: orientação sul, quintal coberto central, efeito estufa, um sistema geotérmico subterrâneo, e um sistema de calefação solar por solo radiante, sem necessidade de apoio (graças a sua altíssima inércia térmica, e à existência do sistema geotérmico). O conjunto de contêineres forma um quintal central que, além de centro de convivência, é o espaço encarregado de distribuir o ar quente no inverno (e o ar fresco em verão).

Do mesmo modo, a habitação se refresca por meio de um sistema captor de ar do norte, um sistema geotérmico subterrâneo de esfriamento do ar, um sistema de distribuição do ar fresco pelos falsos solos das habitações (os mesmos falsos solos dos contêineres), um sistema de extração de ar requentado por efeito chaminé e todo tipo de proteções solares (lamas de zinco e vidros serigrafados). Assim, a habitação não necessita de nenhum tipo de sistema de ar acondicionado, nem sequer de um sistema de calefação de apoio.
Estrutura arquitetônica flexível

Para responder às necessidades de mudança de uma determinada família, a estrutura arquitetônica proposta é totalmente flexível e os espaços são facilmente renováveis. Esta flexibilidade tem se conseguido devido à utilização de várias estratégias e soluções construtivas diferentes: contêineres de porto, painéis recuperáveis encaixados a seco, solos e tetos desmontáveis, painéis de vidro móveis, sanitários móveis “relocalizáveis”, móveis de cozinha móveis e “relocalizáveis”, instalações de água e eletricidade flexíveis. Deste modo, pode se realizar na estrutura arquitetônica qualquer mudança sem necessidade de fazer nenhum tipo de dobras. Os contêineres podem ser deslocados para se reconfigurar novos espaços simplesmente movendo-os. Claro que existe todo tipo de possibilidades de ampliação de espaços, tão só acrescentando novos contêineres.

Não geração de resíduos na montagem

Na construção do conjunto R4House, praticamente não se geraram resíduos. Isso se deve ao sistema de construção a seco, ao controle da construção, ao sistema flexível de painéis (a beleza do imperfeito), ao controle do material solicitado, e à perfeita otimização dos materiais utilizados.Só as embalagens dos materiais têm se convertido em resíduos, mesmo que alguns deles tenham sido recuperados para a construção do protótipo (por exemplo, têm se utilizado os pallets do transporte de mercadorias para fazer a estrutura exterior que sujeita os painéis de Trespa).

Reutilização de todos os componentes arquitetônicos

Todas as peças com as quais se construiu a R4House se montaram a seco mediante parafusos, pregos, abraçadeiras, ou simplesmente por pressão. Deste modo, uma vez desmontadas as habitações (superada sua vida útil), todas as peças podem voltar a ser utilizadas na construção de um novo edifício.

Não geração de resíduos na desmontagem

Devido ao sistema de construção empregado, o design de cada componente e os mecanismos de ensamble empregados, na desmontagem (melhor dizendo, todas as desmontagens que possa ter no futuro) da R4House não se gerará nenhum resíduo.
Cobertura inclinada à base de retalhos de vidro
A cobertura inclinada tem uma cobertura realizada à base de retalhos de vidro, que sobraram da fabricação dos elementos de vidro da habitação. Deste modo, foram aproveitados ao máximo os painéis de tamanho padrão realizados em fábrica.Por outro lado, o resultado final proporciona um atrativo considerável à habitação, e simboliza seu alto caráter ecológico.

Cobertura ajardinada de terra de alta eficiência

Para aumentar o grau de bioclimatismo e a inércia térmica do protótipo foi escolhida uma cobertura ajardinada. Além da sua beleza, proporciona um isolamento adicional. No inverno, a cobertura se esfria menos do que uma cobertura tradicional; no verão, o calor é absorvido parcialmente pela capa vegetal, que se esfria por evaporação da umidade que mantém. Igualmente, uma cobertura vegetal proporciona muito mais isolamento sonoro, alonga a vida da impermeabilização, e melhora o micro-clima, ao colaborar na geração do oxigênio consumindo CO2.Parte da vegetação das coberturas ajardinadas é natural de muito baixo consumo de água, e parte é artificial, fabricada por materiais sadios e recicláveis, que podem ser utilizados como filtro adicional para a colheita das águas de chuva (já que a água passa sucessivamente pela base da grama, a capa de areia e a capa de gravilha).

Integração arquitetônica correta de energias alternativas

Foi realizada uma correta integração formal arquitetônica dos captores solares térmicos e fotovoltaicos. Este ponto é muito importante, já que em muitos projetos do passado, o termo integração arquitetônica tem sido bastante mal utilizado, já que o tipo de módulos e seu posicionamento no edifício tem sido pouco afortunado. Além do mais, mediante a integração arquitetônica da tecnologia solar se deve buscar um valor adicional à geração elétrica, como elegância, impacto visual, proteção e segurança.

A integração arquitetônica não consiste em incluir os captores solares nos elementos arquitetônicos já existentes, e sim, ao contrário, fazer uma arquitetura que, por sua própria sintaxe arquitetônica, integre estes captores em sua posição ótima, de uma forma bela, equilibrada e homogênea. Quer dizer, a integração arquitetônica obriga a criar e utilizar novas regras sintáticas na composição arquitetônica. Na R4House, os captores térmicos estão em perfeita orientação sul, inclinados a 50º, e os captores fotovoltaicos a 30º. O que é adequado para a latitude de Barcelona.

Controle domótico

As funções da habitação estão controladas por um sistema de controle de tecnologia EiBus de última geração que permite mostrar as vantagens de um lar conectado sem as restrições de outros sistemas domóticos. O sistema foi incorporado para controlar cenários ambientais do protótipo. Assim, o funcionamento das persianas incorporadas nos vidros duplos e os toldos situados ao sul estão perfeitamente coordenados com a regulação das luminárias de baixo consumo energético.

Do mesmo modo, podem ser gerados diferentes cenários lumínicos e ambientais na habitação, dependendo dos desejos concretos dos seus ocupantes (ambiente de leitura, ambiente de comida, ambiente de bate-papo, ambiente de reunião,…).

Iluminação alternativa

A iluminação da R4House se realizou por meio de um sistema de controle que integra luminárias de baixo consumo e leds. Do mesmo modo, se utilizam paredes de vidro transparente iluminadas em seu interior com leds, novos materiais retro-iluminados e o plak’up, material entre a cerâmica e o vidro. Toda a iluminação de emergência foi realizada à base de luminárias de leds.

Utilização de materiais autenticamente ecológicos

Os materiais utilizados foram escolhidos por seu alto valor ecológico. Para a construção do protótipo se escolheram inicialmente um conjunto de materiais possíveis. Entre estes materiais se encontram: chapa de zinco, pedra natural, contrachapado de bambu, painéis de bambu, parquet de bambu, papelão, mosaico, contrachapado de abeto, contrachapado de choupo branco, painéis de polietileno, painéis de gesso-celulose, tintas ecológicas, Silestone, painéis de vidro, lousa, Trespa, terraço contínuo, etc.

Novos painéis sanduíche de vidro, isolantes e transparentes

Foi utilizado um conjunto de 20 painéis pré-fabricados de vidro duplo com uma câmera de 25 mm. Nesta câmera foram introduzidos diferentes tipos de material isolante, e também resíduos. Em concreto: restos de vidro triturado de cores, lã de ovelha tingida, cânhamo colorido, polietileno e inclusive bolinhas de gude usadas. Estes painéis foram utilizados em três lugares diferentes: recobrimento de paredes interiores, painéis separadores e vidros exteriores.

Calefação solar por solo radiante e radiadores de alta eficiência energética

A habitação dispõe de um sistema altamente efetivo, ecológico e saudável de calefação solar por solo radiante (climatização invisível). Este sistema trabalha com temperaturas muito mais baixas do que os sistemas tradicionais, e por si mesmo significa poupança energética de 20%. Por outro lado, temos que destacar que o sistema está alimentado por um conjunto de captores solares térmicos de última geração e que, além do mais, a energia consumida é de origem exclusivamente solar.

Solução flexível ao problema social de acessibilidade

A R4House pretende mostrar uma resposta ao problema da dificuldade ao aceso a uma habitação. Com um contêiner de 30 m2 foi projetada uma habitação mínima que pode satisfazer as necessidades de um casal, a um preço baixíssimo. Este contêiner pode se localizar no lugar que se deseje, com um gasto mínimo de ancoragem ao terreno. E o resultado final pode ser considerado como um bem móvel ou imóvel, segundo desejar.

Quando as necessidades espaciais da habitação crescem, simplesmente basta acrescentar mais módulos. Com dois contêineres (60 m2) se obtém uma habitação mais complexa para uma família pequena. Com três contêineres (90 m2) se obtém uma habitação que pode satisfazer as exigências de uma família média em qualquer lugar do mundo. Com mais contêineres se podem ter estruturas de habitação tão complexas como a da R4House, a um preço muito baixo.

E, o melhor, se um membro de uma família desejar se emancipar, simplesmente basta acrescentar um novo módulo ao conjunto, criando uma unidade de convivência básica, na qual o membro da família segue em contacto com o núcleo familiar, mantendo sua independência e intimidade (Este é o caso da estrutura mostrada pela R4House).

Por último, se o núcleo familiar decrescer, simplesmente basta eliminar um módulo do conjunto. Deste modo, uma família só compra o espaço que realmente necessita, sem necessidade de hipotecar o resto de sua vida.

Com contêineres portuários (o módulos similares) podem ser criadas estruturas mais complexas e de muito maior tamanho, como quarteirões, blocos de habitações ou edifícios em altura.
Crédito: Luis de Garrido - Doutor em arquitetura, formado pela Universidade de Valência (Espanha). Presidente da Anavif (Asociación Nacional para la Vivienda del Futuro) ANAS (Asociación Nacional para la Arquitectura Sostenible)

Elaborado a partir de matéria publicada pela revista Sistemas Prediais

Para conhecer mais sobre o projeto, recomendo que assistam a um video em que o próprio Luis de Garrido apresenta a R4 House:


Atualização em Setembro 2010:

Em abril de 2011 voltaremos a visitar Barcelona, em mais uma Missão Técnica, agora organizada pela ArqTours by Raquel Palhares. Assim como também foi em 2009 (mais info em: http://amacedofilho.blogspot.com/2009/04/green-box-casa-sustentavel-na.html), certamente veremos mais uma demonstração da arquitetura sustentável de Luis de Garrido, no ambiente da Construmat.

Fique atento à programação pelo http://www.ecobuilding.com.br/ ou pelo http://www.arqtours.com.br/.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Exposição Arquitetura + Ecologia: uma visão alemã

Espaço Brasil Telecom e Instituto Goethe apresentam visão alemã da arquitetura ecológica
(publicado em http://www.vitruvius.com.br/)

O Espaço Brasil Telecom recebe a exposição Arquitetura + Ecologia: uma visão alemã, que representa a primeira parte de uma série de exposições do Instituto Goethe sobre a nova arquitetura da Alemanha. A intenção é apresentar um diálogo dos diferentes conceitos culturais e sociais, por meio de exemplos de projetos contemporâneos.

De acordo com a coordenadora da Exposição, Annsusanne Fackler, do Instituto Goethe, nos últimos anos, surgiram no cenário arquitetônico alemão notáveis perspectivas para a configuração da vida moderna. “Ainda assim, em uma comparação com outros países, a sua importância não é devidamente reconhecida e a idéia de arte arquitetônica alemã está, freqüentemente, mais ligada a nomes do passado, como a Bauhaus, Peter Behrens ou Walter Gropius”, esclarece.

Nos últimos 30 anos do século passado, o setor testemunhou, entretanto, uma sucessão de movimentos e estilos. Alto padrão tecnológico e soluções inovadoras se tornaram marcos dessa época e de seus arquitetos. A partir deste momento, a principal meta dos novos projetos arquitetônicos passou a ser a relação entre a construção e o ambiente em seu entorno. “Não apenas o efeito estético, mas especialmente o efeito sobre todos os aspectos da vida cotidiana ganha em importância e a insere em um contexto muito mais abrangente do que aquele de um simples projeto a ser executado”, comenta Annsusanne.

O objetivo da série Arquitetura + Ecologia é ilustrar a evolução da Alemanha na área a partir de diferentes temáticas, por meio de fotografias e maquetes. A exposição inaugural tem como foco o tema ecologia e apresenta nove projetos de diferentes abordagens.

Do jardim de infância à fábrica livre de emissão de poluentes, do edifício administrativo ao projeto da estação ferroviária, os exemplos mostram uma diversidade de novos desenvolvimentos na área da arquitetura sustentável, que podem ser encontrados atualmente por toda a Alemanha. Essa diversidade de formas de construção, economizando materiais e energia, como também as pesquisas na área de matérias-primas renováveis, equilíbrio energético ou ganho de calor, geram continuamente novas idéias, regulamentos e normas.

Entre os projetos, está um prédio de escritórios em Halensee, Berlim, no qual o espaço entre camadas age ao mesmo tempo como isolante térmico e acústico na barulhenta face oeste do edifício. Há, também, a casa solar Heliotrop®, que gira com o sol, de modo a obter a iluminação e o aquecimento ideais em todas as estações do ano e em todos os períodos do dia. O grande painel de células solares pode se orientar conforme o sol, otimizando o grau de aproveitamento da energia solar.

Debate
A exposição Arquitetura + Ecologia pretende ser mais do que uma mostra e suscitar discussões a respeito do tema. Por conta disso, o Goethe-Zentrum promove, também, um debate no dia 1º de outubro, às 20 horas. Compõem a mesa os professores Jaime Gonçalves de Almeida e Alexandra Albuquerque Maciel, além do presidente honorário do Instituto, Hartmut Günther, como mediador. Diretor do Centro de Pesquisa e Aplicação de Bambu e Fibras Naturais, Almeida destaca a utilização dos materiais na arquitetura. Alexandra, doutora pela Universidade de Nottingham (Reino Unido), apresenta sua pesquisa sobre estratégias bioclimáticas em Brasília.

Data e horário

Período: até 22 de outubro de 2008Terça a domingo, das 12h às 19h. Entrada franca

Local: Espaço Brasil Telecom - Brasília
Alvorada Hotel - SHTN Trecho 1 Lote 1B Conjunto C
Brasília DF

Mais informações:
Fone: (61) 3306 2959

Publicado originalmente em: http://www.vitruvius.com.br/

sábado, 4 de outubro de 2008

Impermeabilização de coberturas vegetais

A necessidade de impermeabilizar telhados verdes
Tema é discutido durante a Fiaflora ExpoGarden, em São Paulo.

A discussão sobre ações sustentáveis invadiu amplamente todos os setores - da reciclagem caseira a grandes planejamentos contra o aquecimento global. E a pauta na construção civil certamente não estaria de fora.

Tendência, os telhados verdes são grandes aliados não só do bem-estar, mas da economia, uma vez que é possível reduzir no mínimo em 30% os custos com a refrigeração. Todavia, sem a adequada impermeabilização, todo o esforço vai por água a abaixo, quase que literalmente. Esse será um dos assuntos abordados pela Lwart Química, empresa que fabrica e comercializa produtos asfálticos e sistemas impermeabilizantes, durante a Fiaflora ExpoGarden - Feira Internacional de Paisagismo, Jardinagem e Floricultura, que acontece de 1 a 4 de outubro, no Centro de Exposição Imigrantes, em São Paulo.

Além de oferecer os benefícios mais evidentes - o ecológico e estético - o telhado verde ainda tem grande poder de isolação térmica no inverno e esfriamento por evapo-transpiração das plantas no verão, o que diminui os gastos com energia para aquecimento e resfriamento dos ambientes. Além disso, é um isolante acústico é uma nova opção de design para indústrias, residências e fachadas devido à variedade de plantas e folhagens possíveis.

É justamente aí que a atenção para a impermeabilização deve ser redobrada; a escolha das vegetações deve ser feita com muito cuidado pelos profissionais de paisagismo. A vida útil de uma impermeabilização varia, em média, de 15 a 20 anos, e a escolha errada de plantas pode encurtar esse período para apenas cinco anos, resultando em re-trabalho e muito dinheiro gasto. Alguns exemplos de plantas que prejudicam o sistema impermeabilizante são: xeflera, ficcus, primavera ou bounganville, dizem os especialistas da Lwart Química."Sem dúvida, o telhado verde é uma grande tendência.

Porém, o projeto precisa contar uma impermeabilização adequada, como isolante mesmo. O ideal é consultar o técnico e certificar-se de que antes do paisagismo, o local recebeu o tratamento correto com mantas asfálticas", informa Marcelo Ming, engenheiro civil da empresa.

Publicado (sem ilustrações) pela Revista Infra, Talen Editores, outubro 2008

Consumo de energia cresce 4,9% em um ano no Brasil


EPE: consumo de energia cresce 4,9% em um ano

O consumo de energia elétrica atendido pelo Sistema Elétrico Nacional (SIN) registrou uma expansão de 4,9%, atingindo uma carga total de 388.578 gigawatts-hora (GWh), no acumulado dos últimos 12 meses, informou nesta segunda-feira (29), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
O resultado foi puxado pela demanda industrial que atingiu 179.687 GWh no período. De acordo com a Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica elaborada pela EPE, em agosto deste ano o consumo subiu 6,4% em relação ao mesmo mês de 2007, atingindo 33.327 GWh, o maior montante de 2008. Segundo o boletim, as regiões Sudeste e Centro-Oeste revelaram os maiores crescimentos, com destaque para o Estado de São Paulo, que apresentou expansão de 6,4%. O desempenho de agosto foi impulsionado pelo consumo comercial, que apresentou a maior elevação dentre as classes de consumo.

A demanda por energia na classe residencial cresceu 7,0% em agosto, com taxas acima da média nacional nas regiões Norte (10,6%), Centro-Oeste (10,1%) e Sudeste (7,4%). De acordo com o balanço da EPE, o consumo médio por residência assinalou elevação de 3,4%, ficando em 147,5 kWh/mês na média dos valores mensais de janeiro a agosto. O boletim explica que, “no período de um ano, 1,785 milhão de novas unidades consumidoras residenciais passaram a ser atendidas, aumentando o total de clientes residenciais em 3,5%”.

A expansão do consumo comercial atingiu taxas de 12% nas regiões sudeste e Centro-Oeste, que juntas representaram 64% do total da classe. Entre os estados com aumentos significativos estão: São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Já o consumo industrial, em agosto, teve uma elevação de 5,3%, segunda maior taxa do ano no setor, ficando atrás apenas do mês de julho (5,5%). Os maiores índices foram registrados nas regiões Sudeste e Sul.

Fonte: Agência Rio (pulicado no site do CREA-RJ)

Selo verde da Caixa

Selo verde da Caixa

A Caixa Econômica Federal está trabalhando, junto a consultorias, no desenvolvimento de um selo verde para avaliar projetos de edificações. A idéia é não só incentivar construções mais sustentáveis, como também oferecer vantagens para quem construir com responsabilidade socioambiental. Alguns consultores do mercado já acreditam que a curto prazo os bancos passarão a estabelecer exigências mínimas de sustentabilidade para aprovar a liberação de crédito.

Fonte: Revista Construção mercado 87 - outubro 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Performance verde - Ecoeficiência em conta

Vejam interessante e rica matéria assinada por Mirian Blanco para a revista Construção Mercado (Editora Pini), publicada na edição deste mês (outubro 2008).

Performance verde

Ganhos da construção de empreendimentos residenciais sustentáveis, como redução dos custos de operação e manutenção, maior velocidade de venda e valorização do imóvel, comprovam viabilidade e vantagens do negócio

A adoção de medidas sustentáveis em edifícios residenciais ainda esbarra na resistência de muitos empresários da construção civil e até dos compradores de imóveis quanto à viabilidade e vantagens do negócio. Entretanto, o avanço de estudos de ecoeficiência na construção de empreendimentos residenciais no Brasil e a consolidação desses projetos no exterior - notadamente Estados Unidos e Europa - têm comprovado a inconsistência desse receio: em comparação com edifícios convencionais, prédios reconhecidos como verdes são mais valorizados no mercado, apresentam velocidade de venda e taxas de ocupação superiores, além de poderem oferecer uma performance econômica atrativa para compradores e vendedores.

Como? A estratégia, já traçada por empresários nacionais, tem sido produzir e vender eficiência. Ou seja, oferecer ao mercado produtos com preços de venda competitivos e custos de operação (condomínio + manutenção + concessionárias) expressivamente inferiores aos modelos convencionais, gerando uma economia que, em curto ou médio prazo, não só compensa o investimento inicial do comprador, como gera rentabilidade.

É isso que demonstrou recente estudo da Tishman Speyer do Brasil, que adota uma ótica pragmática, calcada exclusivamente na economia de água e energia, os dois fatores de principal impacto ambiental e responsáveis pelos maiores índices de gastos de um imóvel durante sua vida útil de 50 anos. De acordo com o estudo, um investimento adicional de 5% do custo de construção de um edifício habitacional, para aprimoramento da eficiência de instalações elétricas e hidráulicas, resulta num incremento do preço de venda do imóvel entre 2,5% e 3%. "Isso acontece porque o aumento de custo só incide sobre 50% do preço de venda, correspondente ao custo de construção. Outros valores, como o custo do terreno, de marketing etc., não são acrescidos pela opção de sustentabilidade maior no projeto", explica Luiz Henrique Ceotto, diretor de projetos da Tishman Speyer.
Mas por que o consumidor assumiria esse adicional? A vantagem é o retorno do investimento. A partir dos incrementos citados, o edifício proporciona uma redução do gasto mensal de operação (condomínio + concessionárias) de R$ 3/m² (confira tabela no alto da página). Isso corresponde ao abatimento dos gastos do condomínio e de manutenção em até 40% e redução das despesas com água e energia de até 50%. No fim das contas, em apenas 34 meses o comprador pagaria, por meio de suas economias com os custos de operação, os 2,5% a 3% a mais que teve de investir na compra do imóvel ecoeficiente.

Custos diluídos

Vamos então aos números do estudo:

Com base nos dados citados, o estudo da Tishman Speyer adotou como exemplo um apartamento de 120 m², com três quartos e duas suítes, com preço de venda de R$ 3.000/m² (ou R$ 360 mil a unidade). Como o custo de construção é geralmente metade do valor de venda do imóvel, nesse caso a construção do imóvel custou R$ 1.500/m².

O incorporador que se decidir por um projeto ecoeficiente, precisará investir R$ 75 a mais em cada metro quadrado construído. Isso equivale a um incremento de 5% no custo de construção, o que refletiria em aumento de 2,5% no preço de venda.

O apartamento ecoeficiente, portanto, tem preço de venda de R$ 370.800, o correspondente a R$ 10.800 a mais do que o apartamento convencional. Mas, em contrapartida, o comprador terá uma economia de R$ 3/m² no custo mensal de operação.

Nesse exemplo, o comprador pagou, no custo de construção, R$ 75 a mais por metro quadrado para obter um retorno mensal de R$ 3/m² em economia com condomínio. Portanto, obtém uma taxa de retorno de 4% ao mês (R$ 3/m² divididos por R$ 75/m²) - um rendimento muito superior à média do mercado.

Segundo o estudo da Tishman Speyer, se o comprador do imóvel optar pelo apartamento ecoeficiente, ele terá uma economia de R$ 360/mês em comparação aos custos de operação do apartamento convencional. Essa economia, se investida mensalmente em uma aplicação com rendimento de 0,7% ao mês - média da poupança - totaliza, em 34 meses, R$ 13.765 (veja tabela rentabilidade convencional x ecoeficiente). Ou seja, nesse período o comprador paga o investimento adicional de R$ 10.800 - pois esse valor, em 31 meses, com o mesmo rendimento de 0,7%, chega a R$ 13.596.

Nas palavras de Ceotto: "O ganho com o investimento mensal de R$ 360 (economia que ele obtém com a opção sustentável) supera o ganho com o rendimento de R$ 10.800 (se ele deixar no banco e comprar um edifício não sustentável) após 34 meses, quando o comprador terá no banco R$ 13.765 contra R$ 13.596 (opção de não investimento em um edifício sustentável)". Com base nisso, Ceotto conclui: "Hoje, investir em economia de energia e de água compensa. Já temos tecnologia disponível e acessível para alcançar esses resultados".

No longuíssimo prazo, os ganhos são ainda maiores. "A economia gerada em 50 anos de uso com a implementação de pequenas soluções é tão brutal que paga de cinco a seis vezes o valor investido. Se empatasse, já era lucro, mas vai muito além disso", diz Ceotto.

É importante lembrar que os processos construtivos e dispositivos tecnológicos levados em conta nesse cálculo restringem-se a soluções já conhecidas de grande parte dos empreendedores e que atendem à relação atrativa de alto impacto ambiental x baixo/médio custo de implantação (veja tabela impacto ambiental x custo de implantação). Para redução do consumo energético, foram considerados no estudo medidores individuais, lâmpadas PL, automação de elevadores e de iluminação, motores de freqüência variável para elevadores e bombas e aquecimento solar de água.

Já no racionamento de água, que impacta diretamente a emissão de esgotos, foram incluídos medidores individuais, chuveiros de baixo consumo, vaso sanitário dupla descarga, reaproveitamento das águas cinzas, reaproveitamento de águas de chuvas na irrigação e automação da irrigação. "O maior impacto ambiental das construções ocorre durante a fase de uso e operação (80%) e, nessas fases, os fatores preponderantes são água e energia. Focando nisso, estabelecemos prioridades para viabilizar o investimento e a venda", explica Ceotto. As estimativas são simulações da Tishman elaboradas com base em dados atualizados de mercado.

A Hubert Condomínio também apurou a economia nos custos de operação em 50 condomínios residenciais depois da implantação de sistemas simples e financeiramente acessíveis obtida pela inclusão de medidores individuais de água e gás. "Identificamos uma redução de 10% a 30% no valor do condomínio", diz Natalie Gretilat, supervisora de meio ambiente da administradora. A opção por peças redutoras de vazão trouxe uma economia de 9% no consumo de água, e a troca da parte interna das caixas acopladas de 16 l por outras de 6 l (economia de 10 l por acionamento de descarga), resultou num retorno exemplar: redução de R$ 1.200/mês, com investimento inicial de R$ 2.800. "No ano, essa economia representou quase R$ 15 mil, que podem ser aplicados em outras benfeitorias", diz.

Ganhos para o incorporador

Foto: Segundo estudo da Tishman Speyer, o investimento em sistemas ecoeficientes em edifícios convencionais, como placas solares e reúso de água, gera uma redução mensal de operação de 3/m²

As vantagens de negócio para o empresário da construção ao apostar em um edifício ecoeficiente também são atrativas: um produto diferenciado, com maior velocidade de venda (o que aumenta o capital de giro) e valorização do imóvel em 14%, segundo o estudo da Tishman Speyer. Na conta também entram: competitividade, já que a valorização dos edifícios residenciais ecoeficientes é uma tendência global, o que força a desvalorização de empreendimentos convencionais ou "não sustentáveis", e a menor velocidade de obsolescência, pois, para o futuro, a expectativa é que os altos custos operacionais dos edifícios convencionais os tornem cada vez menos atrativos. "Os insumos da construção estão ficando tão caros que o mercado reconhecerá com facilidade os edifícios inviáveis economicamente e, portanto, nada competitivos", diz Ceotto.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, o preço médio da eletricidade residencial no Brasil saltou de US$ 223/bep, em 1996, para US$ 328/bep em 2007 (bep é a medida geralmente utilizada para medir o consumo de energia e significa barril de petróleo equivalente; os preços são dados em dólar para facilitar a comparação ao longo do tempo). "Já se cogita hoje que, em dez anos, os edifícios terão cotas de energia e de água, e aí, o incorporador, para conseguir atender a essas restrições, terá que gastar muito, muito mais", diz Ceotto. "A sustentabilidade é um caminho sem volta, se a lei não fizer, o mercado vai fazer", diz Ceotto.

Não é preciso ir muito longe para comprovar a factualidade dessa afirmativa. Basta citar o caso do selo Procel Edifica, do Ministério de Minas e Energia, que estabelece diretrizes para avaliação da eficiência energética de edifícios, classificando os empreendimentos com notas A (mais eficiente) a E (menos eficiente) conforme índices mínimos. O selo já começa a valer, em todo território nacional, em 2009. A expectativa é que a medida, a ser lançada inicialmente em caráter voluntário, se torne compulsória em não mais do que cinco anos.

Por todos esses motivos, as empresas que se adiantarem no processo de implementação de itens sustentáveis não correm o risco de, em pouco tempo, ter no portfólio de sua marca empreendimentos obsoletos ou fora dos padrões técnicos, normativos e legislativos já incorporados no setor imobiliário. "Se o construtor não conseguir repassar em nada seu custo de implementação de itens que agreguem eficiência ao uso e manutenção, no mínimo ele terá uma liquidez e um poder de venda maiores", diz o presidente do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável) e da Takaoka Incorporadora, Marcelo Takaoka.


Vendas mais rápidas

De acordo com executivos consultados, edifícios ecoeficientes têm maior velocidade de vendas, pois produzem economias de operação para o usuário. Exemplo disso é o edifício Ecoway Carrão, lançado pela Ecoesfera, em setembro último. Em quatro dias, a empresa vendeu metade das unidades, que têm valor de venda compatível aos modelos convencionais do mercado, devido à absorção do custo excedente pela própria incorporação. "Quando as pessoas percebem que o edifício sustentável também faz bem para o bolso, porque diminui em 30% seu gasto para moradias, é mais fácil vender. Mas, para isso, é preciso informar e ter custo competitivo", diz Luiz Fernando Lucho do Valle, presidente da Esfera Incorporadora.
O giro de capital da Ecoesfera é hoje, segundo o executivo, de três anos. "A média do mercado é de quatro a cinco anos, e esse diferencial de velocidade que conseguimos, ganhando em eficiência e produtividade e convertendo em melhoria de produto, com lucro e taxa de retorno adequados, também tem deixado os investidores satisfeitos", diz. Em uma pesquisa com ocupantes de seus edifícios, a empresa averiguou que 70% de seus clientes manifestam a sustentabilidade como item primeiro na decisão pela compra.

Para Maurício Bianchi, diretor da construtora BKO, idealizadora do empreendimento residencial MO.R.E (Movimento Residencial Ecológico), os compradores brasileiros ainda não estão suficientemente informados a ponto de valorizarem as ações sustentáveis. "A média de quem reconhece, mas não paga, é muito superior à daqueles que reconhecem e pagam", diz. A construtora optou realizar um projeto residencial com itens que englobam não só retornos financeiros, como comprometimento ético-sustentável e qualidade de vida. Com isso, os custos de construção cresceram 3,71%, mas metade desse excedente foi arcada pela redução da margem de lucro, segundo a empresa.

Sustentabilidade sem custo?

Mas os tão mencionados "custos adicionais" da sustentabilidade não são uma verdade absoluta. Na avaliação da pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e conselheira do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), Vanessa Gomes, que estuda os custos das certificações ambientais de edifícios, o investimento exigido por um empreendimento sustentável - aqui entendido como aquele que responde a índices mínimos exigidos por certificações como LEED, Green Building, e não restritos à dupla água-energia - nem sempre é mais alto. "Não existe necessariamente correlação entre nível de certificação de um edifício ou restrição ao aumento do nível de desempenho com custo", defende.

Segundo ela, nos Estados Unidos, onde diversas iniciativas nesse campo estão mais avançadas, o capital demandado para obter selos como Green Building e LEED é menor que 3% do custo de construção. "Quanto mais caro fica isso? Tecnicamente diria 15%, porque esse é o custo de qualquer integração de inovação tecnológica no mercado brasileiro. Mas pergunta se alguma inovação hoje consolidada, e que custou 15% a mais há 20 anos, ainda custa isso hoje", questiona. "Existe certo mito nessa coisa de custo inicial porque não necessariamente aquilo que é sustentável custa mais", diz.

Para o professor Vandeley John, professor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e diretor do CBCS, se a construtora já tiver implantado um sistema de gestão da qualidade, é possível obter ganhos importantes com ecoeficiência sem nenhum investimento adicional. "A sustentabilidade foi muito difundida no Brasil pelo viés da certificação, que, em geral, está vinculada a edifícios muito sofisticados com uso de tecnologias avançadas. Mas isso não é sustentabilidade, é certificação, e tem muita coisa que pode ser feita, com grande impacto socioambiental, como a gestão de resíduos, trabalho com os operários, uso de cimento CP-3, enfim, a custo zero", diz.

Uma alternativa responsável e vantajosa pode ser o emprego de soluções que tenham uma boa relação custo-benefício de implantação, como: metais sanitários de baixo consumo, medição individual de gás e água e redutores de vazão, automação da irrigação das áreas verdes e de iluminação, paisagismo com baixo consumo de água e adequado ao clima local e retenção e reaproveitamento de água de chuva são exemplo de medidas de baixo custo e grande impacto ambiental.

Margem reduzida

A BKO Empreendimentos Imobiliários iniciou recentemente uma nova linha de empreendimentos residenciais com itens de sustentabilidade, que aliam conceitos de qualidade de vida com redução de impactos sociais e ambientais, desde a implantação da obra até o uso e manutenção do apartamento.

Para edificar esses projetos, a construtora teve um custo adicional com iluminação e ventilação natural (solstícios), incorporação de inovações de instalação elétrica e hidráulica, incremento de área verde e implementação de brises, piso elevado e terra na cobertura. Além disso, desenvolveu um conceito próprio para reúso da água de pré-aquecimento de chuveiro, preservou a vegetação nativa, com área permeável acima dos mínimos - o que significa, para o construtor, reduzir a possibilidade de construção de mais unidades para conservação ambiental. Sem contar os treinamentos e campanhas, além dos programas sócio-responsáveis que englobaram diversas iniciativas incluindo redução de geração de entulho de projeto e ações para redução de embalagens excessivas. (Confira na tabela quanto custaram os itens adicionados.)

A empresa calcula que tenha incrementado seu custo de construção da obra em R$ 980.924 mil, o que representou 3,71% do valor total de R$ 26,406 milhões. Metade dessa quantia (R$ 490,462 mil) foi assumida pela empresa por meio da redução das margens de lucro, e a outra repassada ao conjunto de condôminos. "Nem sempre se consegue repassar o custo de construção para os compradores porque o consumidor, apesar de reconhecer as vantagens da sustentabilidade, ainda não assume o peso no bolso", afirma Bianchi.

A perspectiva do executivo é aumentar a porcentagem de repasse das cifras adicionais aos compradores, que detêm grande parte dos ganhos. "A partir dos resultados comprovados desse edifício, teremos mais argumentos de venda para convencer os futuros moradores dos próximos produtos da linha MO.R.E sobre as vantagens desse produto", explica Bianchi.

Com as inovações do MO.R.E (unidades com quatro dormitórios e áreas úteis de 155 m2 a 196 m2), a BKO estima que R$ 80 mil por ano serão economizados em gastos condominiais, produzindo um retorno do investimento adicional em seis anos e dois meses. A vantagem é grande, mas, na prática, segundo Mauricio Bianchi, o construtor investe e o comprador se beneficia. "As ações aumentam os custos a valor presente que são recuperados durante a operação, mas de 100 compradores, dez reconhecem. O resto, reconhece, mas não paga.

"Para ele, esse nó tende a se desatar com a massiva predileção dos consumidores por edifícios sustentáveis, forçando a valorização dos imóveis residenciais ecoeficientes e conseqüente desvalorização de empreendimentos convencionais, além da diminuição gradativa e rápida dos custos de itens sustentáveis e do aumento do rigor de leis governamentais.

Edifícios ecoeficientes valem mais

Segundo estimativa da Tishman Speyer, edifícios ecoeficientes, devido às economias que proporcionam, valem 14% a mais que um edifício convencional.

Acompanhe a simulação:

1. Para arcar com os custos de operação (condomínio + concessionárias) de um edifício convencional de 120 m², o comprador desse bem teria um gasto adicional por mês de R$ 3/m².
2. Para efeito de comparação: por meio de uma aplicação na poupança, que oferece taxa média de 0,7%/mês, esse comprador precisaria ter R$ 142 investidos para obter R$ 1/mês de rendimento. Portanto, o comprador, a fim de pagar os custos de operação adicionais mensais de seu imóvel convencional, teria que ter R$ 426 aplicados para obter os R$ 3/mês por metro quadrado.

3. Como o edifício tem 120 m², o condomínio do edifício convencional custará R$ 360 a mais por mês para o comprador, em comparação com um ecoeficiente. Para pagar os custos adicionais do condomínio convencional com os rendimentos de uma aplicação em poupança, ele precisaria ter R$ 51 mil investidos (ou R$ 426/m²).

4. Segundo o estudo da Tishman, isso significa dizer que o apartamento ecoeficiente vale R$ 3.000/m² (preço do convencional) mais os R$ 426/m² mensais. Portanto, o apartamento ecoeficiente vale R$ 3.426/m², o que, multiplicando pela área do apartamento, dá R$ 411,120 mil - embora o comprador pague apenas 370,8 mil por ele. Ou seja, o apartamento ecoeficiente vale cerca de 14% a mais que o apartamento convencional, de R$ 360 mil. A diferença de um para o outro, portanto, é de cerca de R$ 51 mil.

5. Concluindo: devido à economia na operação, o comprador paga R$ 370,8 mil por um imóvel ecoeficiente que, na verdade, poderia valer R$ 411 mil - valor que apresenta o mesmo desempenho financeiro do apartamento não sustentável. "Esse é o preço que um comprador poderá pagar sem que tenha prejuízo, pois a economia na operação vai remunerar essa diferença. Por isso eu digo que o investimento de R$ 10.800 no preço do apartamento sustentável conduz a uma valorização de R$ 51.000", explica Luiz Henrique Ceotto, diretor técnico da Tishman Speyer.

Produção em série

A Ecoesfera representa um caso bastante particular no mercado brasileiro por se tratar de uma empresa que adota itens de ecoeficiência e sustentabilidade de forma sistemática em 100% de seus produtos e linhas de empreendimentos: EcoOne (unidades entre R$ 80 e R$ 100 mil, com oito itens considerados sustentáveis), EcoWay (de R$ 100 a R$ 200 mil, e 14 adicionais) e Ecolife (de R$ 200 a R$ 400 mil, que chega, segundo a empresa, a 20 diferenciais ecológicos, 12 voltados para a sustentabilidade e quatro para a qualidade de vida dos moradores).
Para viabilizar a comercialização desses imóveis que saíram 10% mais caros, segundo Luiz Vale, presidente da incorporadora, a empresa desenvolveu projetos padrões a serem repetidos e métodos industrializados de produção em série para edificação, reduzindo 1/3 de todas as atividades do processo de incorporação (concepção de projeto, pesquisas de mercado, estratégias distintas de marketing e publicidade etc.), padronizando a especificação de materiais, num total de 16 fornecedores, rápida velocidade de venda, abatimento de custos e menor preço de construção.

Criando uma "indústria da construção", como diz Valle, a empresa conseguiu alcançar um custo 2% superior aos empreendimentos convencionais, mas que são absorvidos em sua margem de lucro, de modo que o excedente não é repassado aos clientes, e ainda oferece custos de condomínio até 30% menores. "Esse índice é obtido economizando água, energia, gás, e revendendo, para os coletores, todo o lixo inorgânico que é separado, gerando receita para o condomínio", explica Vale.

Conteúdo online exclusivo (para assinantes da Pini):

Acesse slides utilizados por Luiz Henrique Ceotto, da Tishman Speyer, e Maurício Bianchi, da BKO Engenharia, durante o fórum "Empreendimentos Imobiliários Sustentáveis - Viabilidade, Projeto e Execução", realizado pela PINI em agosto de 2008.

Por Mirian Blanco
Construção mercado 87 - outubro 2008
Quero deixar aqui registradas minhas congratulações aos responsáveis pela matéria e pelos casos nela apresentados, pela seriadade e relevância dos trabalhos realizados. Arq. Antonio Macêdo Filho.