Por Antonio Macedo Filho
amacedo@ecobuilding.com.br
Abril 2020
Abril 2020
Hoje, quarta-feira, 22 de abril
de 2020, é o Dia da Terra!
Este ano se celebra o cinquentenário
do surgimento do movimento hoje global, que ocorreu pioneiramente em 22 de
abril de 1970, por iniciativa de alguns professores e alunos da Universidade de
Michigan, nos EUA.
Estou seguro em afirmar que
nem os seus criadores, nem quaisquer outros dos seus participantes poderiam antecipar
o cenário no qual estamos vivendo hoje em dia.
Reunião recente de alguns dos fundadores do Dia da Terra na Universidade de Michigan.
Fonte: University of Michigan School for the Environment and Sustainability |
Ontem, 21 de abril, uma
notícia foi anunciada com relativa banalidade, em meio a tantas outras alarmantes
dos últimos dias: O barril de petróleo no mercado internacional estava sendo
negociado com cotação negativa!! Isto quer dizer que quem tem petróleo para vender está
literalmente pagando para quem quiser levar (US$ 37,00 por barril, exatamente)!
Ou seja, o mais importante e
desejado recurso do planeta, responsável por revolucionar o modo de vida de toda
a Humanidade, no século 20, agora literalmente não vale nada!!
A Terra pode se curar
E este é só um de muitos
indicadores que fazem deste um Dia da Terra de fato especial, pois, pela 1ª vez
na História, estamos de fato dando uma chance à Terra!
A inédita e abrupta redução das atividades
humanas, em todo o planeta, consequência direta das medidas de controle e prevenção
da pandemia da Covid-19, possibilitou que fenômenos antes impensáveis pudessem
ocorrer. Estamos vendo a natureza recuperar espaço e efetivamente começar a se
curar dos efeitos nocivos da ação humana.
As emissões de CO2 (assim como as de NO2,
dióxido de nitrogênio, e CO, monóxido de carbono, gases extremamente nocivos,
emitidos por veículos a combustão) despencaram em todo o mundo.
A temperatura média do planeta caiu. O
mês de janeiro de 2020 já tinha sido registrado
como o mais quente da história,
na média global, e o mês de fevereiro de 2020, o segundo mais quente da
história, segundo a NOAA – Agência Estadunidense para os Oceanos e Atmosfera.
Março 2020 não apenas inverterá esta tendência, como são esperadas temperaturas
mais amenas, com as menores médias históricas dos últimos anos para o mês. De fato, o inverno já parece estar chegando mais
cedo no hemisfério sul este ano.
A poluição do ar nas grandes metrópoles do planeta
praticamente sumiu. Os paulistanos agora podem ver estrelas no céu. Contemplar o
horizonte. Poluição sonora também já não há.
Aves, peixes e uma variedade de outras
espécies animais estão voltando a aparecer e desfrutar dos rios, mares e lagoas
(inclusive a Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro) e também das ruas, parques
e praças, em muitas cidades pelo mundo.
As pessoas estão preferindo andar ou pedalar, quando
possível, ao invés de usar carros, ônibus ou metrô. Muitos estão cultivando
alimentos em casa ou nos condomínios para consumo próprio.
Muitas empresas estão percebendo que é
possível funcionar e serem produtivas com espaços de trabalho mais econômicos e
eficientes, com equipes trabalhando de diferentes formas, em diferentes
lugares, o que impacta em sensíveis reduções dos deslocamentos e dos consumos
de energia, de água, materiais e insumos e, portanto também, menores impactos
ambientais.
O novo "Normal"
Por estas razões, para citar apenas algumas, quero
crer que lições importantes serão aprendidas, a partir desta pandemia, a
primeira da era moderna. Não podemos e quero crer que não vamos mais voltar a agir
da mesma forma que antes. Um novo "normal" deve ser criado.
Os negócios, de forma geral, não poderão mais
ser conduzidos da mesma forma, com as mesmas diretrizes. O próprio conceito do
que é um bom negócio deve mudar. O resultado econômico só será considerado um bom
resultado se vier acompanhamento de bons desempenhos ambientais e de valorização
do capital humano. Do contrário, não será sustentável. Resultados econômicos,
sem respeito ao ambiente e ao fator humano simplesmente não se sustentarão.
Negócios sustentáveis não serão mais uma opção, uma alternativa. Serão, simplesmente, negócios. Ponto.
A curva a ser achatada
Existe uma outra curva, com a qual já lidamos há bem mais tempo, bem mais ampla
e de prazo mais longo, da qual não temos como escapar, e que ainda precisa ser
bastante achatada, para podermos garantir o desenvolvimento sustentável: A curva
da oferta de recursos do planeta versus a nossa demanda por recursos, ao longo no tempo.
Fonte: GreenBiz Group |
Estamos provando, na prática, por força de um
agente externo, invisível mas poderoso, que é possível diminuirmos bastante as nossas
demandas e permitirmos que a Terra se cure.
A questão que permancece é como encontrar e manter este delicado equilíbrio, de maneira dinâmica e consistente, num ponto em que todos os povos possam ter garantidas saúde, segurança (em todos os sentidos) e qualidade de vida.
É o que propõe a ONU, por meio dos seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris, para citar apenas duas das principais iniciativas.
Estamos diante da oportunidade,
inédita e valiosa, de repensarmos o nosso modo de vida, nossos hábitos, a forma
como vivemos em sociedade, e como nossas sociedades se relacionam entre si,
globalmente.
Estamos
presenciando, ao vivo e a cores, páginas importantes da História sendo escritas.
Podemos recomeçar,
de uma nova forma, mais humana, mais leve, mais sustentável e mais saudável.
Estamos, quero crer, no começo de uma nova era. A Era da Resiliência.
Tratarei mais a
respeito, em outros posts futuros.
Até breve.