Por Antonio Macedo Filho
LEED AP / WELL AP / DGNB Consultant
LEED AP / WELL AP / DGNB Consultant
Março 2020
Toda crise gera oportunidades. Estamos diante de uma enorme janela de oportunidades.
Quando esta crise de pandemia viral passar, será que precisamos mesmo voltar a ser exatamente como éramos?
Tanto no campo das relações humanas e sociais, quanto nas nossas relações com o meio em que vivemos, há muitas lições a serem aprendidas.
Compartilho aqui algumas das que já podemos antecipar, no que se refere às nossas relações com o meio:
1 - Temos que deixar a Terra se curar
1 - Temos que deixar a Terra se curar
Os
céus estão limpos!
Os paulistanos, que normalmente não veem as estrelas no céu, porque o ar geralmente poluído da cidade não permite, agora podem admirar o firmamento de casa.
O rio Tietê, assim como os canais de Veneza, está mais limpo.
Poluição sonora também já não há.
São Paulo não é mais a mesma, assim como também não são as demais principais cidades do mundo.
Os paulistanos, que normalmente não veem as estrelas no céu, porque o ar geralmente poluído da cidade não permite, agora podem admirar o firmamento de casa.
O rio Tietê, assim como os canais de Veneza, está mais limpo.
Poluição sonora também já não há.
São Paulo não é mais a mesma, assim como também não são as demais principais cidades do mundo.
Céu de São Paulo limpo, em março de 2020 |
O mesmo foi verificado para as emissões de NO2, dióxido de nitrogênio, e CO, monóxido de carbono, gases extremamente nocivos, emitidos por veículos a combustão, responsáveis por dezenas de milhares de mortes todos os anos, globalmente, cujas reduções foram ainda maiores nas últimas semanas, em especial na China, mas também na Itália e outras regiões da Europa onde o regime de quarentena geral foi implementado.
Especialistas já apontam para a real possibilidade, mesmo após a retomada do funcionamento normal da sociedade, que deve ocorrer no segundo semestre, de que o mundo consiga em 2020, pela primeira vez, alcançar a meta de redução das emissões em 7,6%, ao longo de um ano, prevista pelo Acordo de Paris de 2015, que propõe metas de reduções ambiciosas para buscar conter os efeitos do aquecimento global.
O mês de janeiro
de 2020 já tinha sido registrado como o mais quente da história, na média
global, e o mês de fevereiro de 2020, o segundo mais quente da história,
segundo a NOAA – Agência Estadunidense para os Oceanos e Atmosfera. Março 2020 não
apenas inverterá esta tendência, como são esperadas temperaturas mais amenas, com
as menores médias históricas dos últimos anos para o mês.
Ou seja, involuntariamente, estamos efetivamente colaborando para a diminuição dos efeitos nocivos do aquecimento global do planeta.
Ou seja, involuntariamente, estamos efetivamente colaborando para a diminuição dos efeitos nocivos do aquecimento global do planeta.
2 - A
forma como nos movemos nas cidades importa
Todos os anos,
mais 1,5 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito em todo o mundo,
segundo a OMS. O Brasil, com mais de 35 mil mortes por ano, é 5º no mundo
número de mortes no trânsito. Em se considerando apenas os casos de mortes de motociclistas,
o país passa a 2º no mundo, tendo a cidade de São Paulo como líder mundial em
número de motociclistas mortos todos os anos em suas ruas.
Estes índices,
por força da quarentena à qual estamos submetidos, já caíram abruptamente em
todo o país e não gostaríamos que eles retornassem aos níveis anteriores,
inclusive por que o contingente de acidentados no trânsito (número muito maior
do que de mortos) ocupa boa parte das redes públicas e privadas de saúde, que poderá
ser dirigida para atender a outros pacientes, inclusive aqueles com a Covid-19. A relação é direta: menos trânsito, menos poluição, menos mortes.
De posse
destas informações (emissões de CO2 e NO2 e mortes no trânsito), se somarmos o
fato de que muita gente passou a trabalhar em home office (empresas inteiras,
em todo o mundo), me parece claro que o nosso modo de vida anterior não deve mais
ser retomado.
3 - Cidades
Inteligentes e Sustentáveis são melhores
Temos que garantir
serviços de transporte público de qualidade e desestimular o uso do automóvel
como meio de transporte preponderante. Pequenos deslocamentos a pé no próprio bairro
ou via transporte público ou serviços compartilhados de transportes para outras
partes, além de mais recomendáveis para a saúde do indivíduo e da comunidade, são
também para a saúde do planeta, na medida em que colabora de forma eficaz para
a redução das emissões de CO2, como estamos vendo ocorrer na prática nestas
últimas semanas.
Está provado que cidades mais
adensadas, com boa oferta de comércio e serviços, boa infraestrutura de transporte
públicos, com segurança e espaços públicos de qualidade, são mais agradáveis,
mais humanas, mais sustentáveis e provocam menores impactos ao meio do que
outras de foram planejadas prevendo o uso intensivo do automóvel.
Como ilustração do conceito, um trabalho
realizado pelo WRI com o Banco Mundial apresenta uma interessante comparação
entre os casos de Barcelona e Atlanta. Ambas têm número de habitantes
semelhantes, mas densidades e modos de transporte predominantes muito diferentes.
A maioria dos moradores de Atlanta usa carros particulares, enquanto os de
Barcelona usam principalmente o transporte coletivo e caminham. Parte do
resultado é que Atlanta tem 18 vezes mais mortes de trânsito
em média, do que Barcelona, todos os anos.
4 - Construções
Sustentáveis e Saudáveis são necessárias
Passamos a maior parte das nossas vidas (90% do tempo) em ambientes
construídos. Os espaços onde moramos, trabalhamos, estudamos, nos divertimos e
socializamos impactam de maneira profunda a nossa saúde, bem estar e qualidade
de vida.
Nossas edificações precisam estar capacitadas para atuar, ativa e
positivamente, na promoção da saúde e qualidade de vida dos seus ocupantes e
comunidades onde se encontrem.
Os chamados “Empreendimentos
Saudáveis” (que vão além das questões já bem conhecidas da
sustentabilidade, que se baseiam nos pilares econômico, ambiental e social),
trazem as pessoas para centro das tomadas de decisão no projeto, construção e
operação dos espaços construídos, com o objetivo de criar ambientes mais salubres,
agradáveis e confortáveis para as pessoas, para viverem com saúde e mais
qualidade de vida.
Empreendimentos sustentáveis e saudáveis devem ser o novo “normal”. Políticas,
normas, certifcações e programas de incentivo que promovam ações neste sentido,
devem ser desenvolvidos, implementados e estimulados.
5 - É hora
de repensar
Estamos diante
de uma oportunidade, inédita e valiosa, de repensarmos o nosso modo de vida,
nossos hábitos, a forma como vivemos em sociedade, e como nossas sociedades se
relacionam entre si, globalmente.
Temos
oportunidade, aprendendo com lições como estas, de recomeçarmos, de uma nova forma,
mais humana, mais leve, mais sustentável e mais saudável.
Estamos, quero
crer, no começo de uma nova era.
E nós, profissionais do design, arquitetura, urbanismo, construção e operação de edifícios, temos o importante papel, do qual não devemos e não iremos escapar, de criar um mundo melhor para as futuras gerações.