Por
Antonio Macedo Filho, LEED AP / WELL AP / DGNB Consultant
Adaptado a partir de artigos de Gloria Gibbons, Global Practice Leader na Ogilvy Health & Wellness (Reino Unido) e de Barbara Bigarelli, jornalista do Valor Econômico (São Paulo)
Novembro 2019
O estresse mata
Já
se sabe hoje que períodos contínuos e regulares de estresse, combinados com um
estilo de vida sedentário, podem de fato provocar morte precoce. Um trabalho
publicado por Elizabeth Blackburn e Elissa Epel comenta que o chamado ‘efeito
telômero’ (extremidade protetora de seus cromossomos), cujo encurtamento leva a
doenças cardíacas, cânceres e enfraquecimento do sistema imunológico, está relacionado
com o aumento do estresse e estilo de vida sedentário.
Em maio de 2019, o esgotamento profissional, conhecido como “Síndrome de Burnout”, foi
incluído na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da
Saúde (OMS). A lista é baseada nas conclusões de especialistas de todo o mundo
e utilizada para estabelecer tendências e estatísticas de saúde.
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A síndrome de burnout, ou de esgotamento
profissional, está sendo chamada de “Mal do Século”. Fonte: Ministério da Saúde |
Segundo
pesquisa da ISMA-BR (representante brasileiro da International Stress
Management Association), 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho
sofrem alguma sequela associada ao estresse. Deste total, 32% sofrem da
Síndrome de Burnout e 92% destas pessoas continuariam trabalhando. Segundo a
psicóloga e presidente da ISMA-BR, Ana Maria Rossi, “um trabalhador neste
estado está muito mais propenso a cometer erros graves”.
Trata-se de um
problema que, para além da importância que já toma em relação à saúde pública,
tem sido relacionado a prejuízos multimilionários para empresas do mundo
inteiro. As questões relacionadas ao bem-estar das pessoas, em especial nos
ambientes de trabalho, já deixaram de ser, para o mundo corporativo, uma coisa
desejável, para ser algo necessário, fundamental mesmo para a sobrevivência das
empresas hoje e no futuro.
A vez das pessoas
Empresas de todo o mundo,
de diferentes tamanhos, em especial as maiores, já têm adotado estratégias e
boas práticas de sustentabilidade, com os seus ganhos de eficiência, de
funcionalidade e redução de impactos ambientais, em muitos casos de maneira consistente
em suas diretrizes corporativas. Agora, entendem que os seus esforços devem
dirigidos à valorização das pessoas, na promoção da saúde, conforto, bem-estar
e qualidade de vida. É o chamado “Movimento Wellness”.
Trata-se de um setor que
tem muitas ramificações, em diferentes áreas de negócios, que foi avaliado em
US$ 3,7 trilhões de dólares, no mundo, somente em 2016, crescendo mais de 10%
ao ano.
Os conceitos defendidos
pelo Movimento Wellness tem levado para as mesas de reuniões de muitas empresas
questões como: a qualidade do ar, da água e da comida servidas aos
funcionários, a oferta de programas de incentivo à atividade física, a
flexibilidade de horários e locais de trabalho, a oferta de espaços de convívio
e relaxamento, dentre outras estratégias que, em conjunto, visam promover a
saúde, o conforto e o bem estar das pessoas nos ambientes de trabalho.
Segundo matéria publicada
no jornal Valor Econômico em 23/08/2019, citando estudo realizado com 1,6 mil funcionários de empresas dos
Estados Unidos, “os esforços das empresas não têm sido suficientes para
promover o bem-estar dos funcionários, a despeito dos investimentos crescentes
em academias, ergonomia e opções de alimentação mais saudáveis”, disse Jeanne
Meister, sócia da Future Workplace, empresa que realizou a pesquisa em parceria
com a View.
“São os fatores
aparentemente invisíveis, como qualidade do ar e luz natural, que mais
influenciam o bem-estar, a produtividade dos funcionários e, acima de tudo, a
qualidade da experiência das pessoas nos escritórios”.
Apenas 1 de cada 4
entrevistados afirmou que a qualidade do ar de seu escritório é adequada para
se realizar seu melhor trabalho e metade deles afirmaram que a má qualidade do
ar no ambiente interno os deixa mais sonolentos.
Mais do que isso: quase um
terço deles apontou sofrer com olhos lacrimejando ou irritação na garganta no
trabalho. Para 85% deles, o ar que respiram em suas casas ou na rua é melhor do
que o do escritório.
Com relação à temperatura,
apenas um em cada três funcionários disse que a temperatura do ar de seus
escritórios é ideal e um terço disse que trabalha, hora com ar quente demais,
hora frio demais. Metade deles gostaria que suas empresas projetassem ambientes
que resolvessem esse dilema.
Sobre a luz dos
escritórios, grande parte dos entrevistados indicou que é comum ter sua visão
bloqueada por persianas ou cortinas e um terço disse que a intensidade e
coloração da luz a que têm acesso é importante para seu bem-estar.
Outro fator analisado pela
pesquisa foi a acústica. Metade dos entrevistados afirmou se distrair com a
conversa alheia e mais de um terço deles afirmaram que o barulho de telefones,
da digitação nos teclados e dos sistemas de refrigeração do ar atrapalham sua
concentração. Para 37% deles, as empresas deveriam criar um ambiente mais
silencioso.
Atratividade, retenção de
talentos e ganhos de produtividade
O estudo indica que pensar
no bem-estar é também uma questão de atração e retenção de talentos. Para 67%
dos entrevistados, a produtividade e o engajamento aumentam em ambientes que
contam com fatores que promovem o bem-estar físico e emocional.
Mais de dois terços dos
entrevistados (67%) afirmaram que trabalhar em um ambiente que contribui para
seu bem-estar e saúde os faz considerar aceitar uma oferta de trabalho e 69%
disseram que este é um fator que os leva a permanecer no emprego.
Estes índices chegam à
quase totalidade dos casos quando se trata dos chamados “millenials”, jovens
profissionais, nascidos nos anos 90 e crescidos já na era digital. Para estes,
a busca da felicidade e bem-estar é crucial, com nível de importância inclusive
superior ao sucesso financeiro.
São jovens que representam
boa parte da massa de trabalho e que começam a assumir posições de liderança em
muitas empresas. Com formatos e ambientes de trabalho mais dinâmicos e
flexíveis, produtividade passou a ser a palavra-chave. E isto pode fazer, de
fato, toda a diferença.

São custos que podem
alcançar cifras multimilionárias, em muitos casos, incluindo-se aqueles
relacionados aos custos diretos das empresas com planos de saúde de seus
funcionários. As empresas estão percebendo que investir em qualidade de vida
das pessoas é um bom negócio.
Vale muito mais a pena
investir em saúde e bem-estar das pessoas (o que se refletirá em ganhos de
produtividade), do que planos de saúde e atendimentos médicos.
Como implementar o Wellness nos ambientes
Algumas questões que surgem
nas reuniões para discussão destes assuntos são, por exemplo: O que fazer?
Quais estratégias propor? Quais darão melhores resultados? Como estimar e medir
estes resultados? Como vamos justificar os investimentos?
Para dar respostas precisas
a questões como estas e orientar as empresas na implantação e no contínuo
aperfeiçoamento de estratégias de bem-estar para as pessoas, foi criada nos
EUA, em 2014, a certificação WELL.
Trata-se de uma ferramenta
a ser usada para efetivamente se obter indicadores mensuráveis para aferir os
impactos que os espaços construídos têm sobre o corpo humano, sobre nossa
saúde, comportamento e capacidade de realizar trabalho ou se relacionar com
outros.

O International Well Building Institute, entidade que
promove o WELL
Building Standard, baseada em Nova York, tem observado crescimento
exponencial da aplicação da certificação, atingindo, em agosto de 2019, 58
países ao redor do mundo, inclusive o Brasil.
O processo prevê uma
abordagem holística de aspectos relacionados a assuntos como a qualidade do ar,
da água, da alimentação, o nível de conforto (térmico, acústico, luminoso,
ergonômico), a qualidade dos materiais, o incentivo à atividade física e
implantação de políticas de gestão de pessoas mais inclusivas, transparentes,
participativas e integradas entre si.
São medidas que devem ser
consideradas nos projetos, na execução e na operação dos espaços certificados e
podem ser implementadas tanto em instalações novas, a serem construídas, ou
mesmo já existentes, uma vez sejam capazes de atender aos critérios mínimos de
certificação.
Os resultados da busca e
conquista da certificação WELL, com a visibilidade e credibilidade que ela
traz, tem sido tão bons que muitas empresas, de diferentes portes, têm passado
a adotá-la de forma sistemática em suas políticas de gestão dos espaços de
trabalho, em todo o mundo.
Este ano foi inclusive
lançada uma nova versão do sistema para dar ainda mais impulso a estas
iniciativas, chamada WELL Portfolio, voltada para empresas que adotem o WELL Building
Standard em um conjunto de instalações de uma só vez, mesmo que estas estejam
em países diferentes, de maneira coordenada e com esforços otimizados, desde
que atendam a um conjunto de critérios de desempenho que possam ser
implementados, medidos e validados no processo de certificação.
É, de fato, uma ferramenta
poderosa e que faz todo o sentido, não apenas para as próprias pessoas, mas
também para as empresas, que desta forma podem comprovar e validar, por meio de
medidas práticas e com indicadores precisos, a adoção de estratégias de
Wellness, em suas instalações.
Estamos diante de uma nova era. A era da valorização das pessoas.
Nas palavras do
Sr. Rick Fedrizzi, fundador e CEO por mais de 16 anos do U.S. Green Building
Council, entidade criou a certificação de empreendimentos sustentáveis LEED,
mais utilizada em todo o mundo para identificar Green Buildings, e que desde
2016 é CEO do IWBI (International Well Building Institute), entidade que
promove o WELL, “estamos falando da 2ª onda da sustentabilidade, o próximo
passo que todos devemos dar”.
Para saber mais:
Avaliações de desempenho e
consultorias técnicas WELL:
EcoBuilding Consultoria: 11 2218 0277 / contato@ecobuilding.com.br
Missão Técnica WELL Experience Tour Nova York:
ArqTours, by Raquel Palhares: 11 99285 4554 / raquel@arqtours.com.br
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