segunda-feira, 16 de março de 2020

Movimento Wellness: A vez das pessoas.

Por Antonio Macedo Filho, LEED AP / WELL AP / DGNB Consultant
Adaptado a partir de artigos de Gloria Gibbons, Global Practice Leader na Ogilvy Health & Wellness (Reino Unido) e de Barbara Bigarelli, jornalista do Valor Econômico (São Paulo)
Novembro 2019

O estresse mata


Já se sabe hoje que períodos contínuos e regulares de estresse, combinados com um estilo de vida sedentário, podem de fato provocar morte precoce. Um trabalho publicado por Elizabeth Blackburn e Elissa Epel comenta que o chamado ‘efeito telômero’ (extremidade protetora de seus cromossomos), cujo encurtamento leva a doenças cardíacas, cânceres e enfraquecimento do sistema imunológico, está relacionado com o aumento do estresse e estilo de vida sedentário.

Em maio de 2019, o esgotamento profissional, conhecido como “Síndrome de Burnout”, foi incluído na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS). A lista é baseada nas conclusões de especialistas de todo o mundo e utilizada para estabelecer tendências e estatísticas de saúde.

A síndrome de burnout, ou de esgotamento profissional, está sendo chamada de “Mal do Século”.
Fonte: Ministério da Saúde
Segundo pesquisa da ISMA-BR (representante brasileiro da International Stress Management Association), 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem alguma sequela associada ao estresse. Deste total, 32% sofrem da Síndrome de Burnout e 92% destas pessoas continuariam trabalhando. Segundo a psicóloga e presidente da ISMA-BR, Ana Maria Rossi, “um trabalhador neste estado está muito mais propenso a cometer erros graves”.

Trata-se de um problema que, para além da importância que já toma em relação à saúde pública, tem sido relacionado a prejuízos multimilionários para empresas do mundo inteiro. As questões relacionadas ao bem-estar das pessoas, em especial nos ambientes de trabalho, já deixaram de ser, para o mundo corporativo, uma coisa desejável, para ser algo necessário, fundamental mesmo para a sobrevivência das empresas hoje e no futuro.

A vez das pessoas

Empresas de todo o mundo, de diferentes tamanhos, em especial as maiores, já têm adotado estratégias e boas práticas de sustentabilidade, com os seus ganhos de eficiência, de funcionalidade e redução de impactos ambientais, em muitos casos de maneira consistente em suas diretrizes corporativas. Agora, entendem que os seus esforços devem dirigidos à valorização das pessoas, na promoção da saúde, conforto, bem-estar e qualidade de vida. É o chamado “Movimento Wellness”.

Trata-se de um setor que tem muitas ramificações, em diferentes áreas de negócios, que foi avaliado em US$ 3,7 trilhões de dólares, no mundo, somente em 2016, crescendo mais de 10% ao ano.

Os conceitos defendidos pelo Movimento Wellness tem levado para as mesas de reuniões de muitas empresas questões como: a qualidade do ar, da água e da comida servidas aos funcionários, a oferta de programas de incentivo à atividade física, a flexibilidade de horários e locais de trabalho, a oferta de espaços de convívio e relaxamento, dentre outras estratégias que, em conjunto, visam promover a saúde, o conforto e o bem estar das pessoas nos ambientes de trabalho.

Segundo matéria publicada no jornal Valor Econômico em 23/08/2019, citando estudo realizado com 1,6 mil funcionários de empresas dos Estados Unidos, “os esforços das empresas não têm sido suficientes para promover o bem-estar dos funcionários, a despeito dos investimentos crescentes em academias, ergonomia e opções de alimentação mais saudáveis”, disse Jeanne Meister, sócia da Future Workplace, empresa que realizou a pesquisa em parceria com a View.

“São os fatores aparentemente invisíveis, como qualidade do ar e luz natural, que mais influenciam o bem-estar, a produtividade dos funcionários e, acima de tudo, a qualidade da experiência das pessoas nos escritórios”.

Apenas 1 de cada 4 entrevistados afirmou que a qualidade do ar de seu escritório é adequada para se realizar seu melhor trabalho e metade deles afirmaram que a má qualidade do ar no ambiente interno os deixa mais sonolentos.

Mais do que isso: quase um terço deles apontou sofrer com olhos lacrimejando ou irritação na garganta no trabalho. Para 85% deles, o ar que respiram em suas casas ou na rua é melhor do que o do escritório.

Com relação à temperatura, apenas um em cada três funcionários disse que a temperatura do ar de seus escritórios é ideal e um terço disse que trabalha, hora com ar quente demais, hora frio demais. Metade deles gostaria que suas empresas projetassem ambientes que resolvessem esse dilema.

Sobre a luz dos escritórios, grande parte dos entrevistados indicou que é comum ter sua visão bloqueada por persianas ou cortinas e um terço disse que a intensidade e coloração da luz a que têm acesso é importante para seu bem-estar.

Outro fator analisado pela pesquisa foi a acústica. Metade dos entrevistados afirmou se distrair com a conversa alheia e mais de um terço deles afirmaram que o barulho de telefones, da digitação nos teclados e dos sistemas de refrigeração do ar atrapalham sua concentração. Para 37% deles, as empresas deveriam criar um ambiente mais silencioso.

Atratividade, retenção de talentos e ganhos de produtividade

O estudo indica que pensar no bem-estar é também uma questão de atração e retenção de talentos. Para 67% dos entrevistados, a produtividade e o engajamento aumentam em ambientes que contam com fatores que promovem o bem-estar físico e emocional.

Mais de dois terços dos entrevistados (67%) afirmaram que trabalhar em um ambiente que contribui para seu bem-estar e saúde os faz considerar aceitar uma oferta de trabalho e 69% disseram que este é um fator que os leva a permanecer no emprego.

Estes índices chegam à quase totalidade dos casos quando se trata dos chamados “millenials”, jovens profissionais, nascidos nos anos 90 e crescidos já na era digital. Para estes, a busca da felicidade e bem-estar é crucial, com nível de importância inclusive superior ao sucesso financeiro.

São jovens que representam boa parte da massa de trabalho e que começam a assumir posições de liderança em muitas empresas. Com formatos e ambientes de trabalho mais dinâmicos e flexíveis, produtividade passou a ser a palavra-chave. E isto pode fazer, de fato, toda a diferença.

Os investimentos em bem-estar se justificam, sob o aspecto financeiro, quando se compara o aumento de produtividade das pessoas nos seus trabalhos (mesmo que seja de poucos pontos percentuais), com os custos destas pessoas para as empresas ao longo do tempo.

São custos que podem alcançar cifras multimilionárias, em muitos casos, incluindo-se aqueles relacionados aos custos diretos das empresas com planos de saúde de seus funcionários. As empresas estão percebendo que investir em qualidade de vida das pessoas é um bom negócio.

Vale muito mais a pena investir em saúde e bem-estar das pessoas (o que se refletirá em ganhos de produtividade), do que planos de saúde e atendimentos médicos.

Como implementar o Wellness nos ambientes

Algumas questões que surgem nas reuniões para discussão destes assuntos são, por exemplo: O que fazer? Quais estratégias propor? Quais darão melhores resultados? Como estimar e medir estes resultados? Como vamos justificar os investimentos?

Para dar respostas precisas a questões como estas e orientar as empresas na implantação e no contínuo aperfeiçoamento de estratégias de bem-estar para as pessoas, foi criada nos EUA, em 2014, a certificação WELL.

Trata-se de uma ferramenta a ser usada para efetivamente se obter indicadores mensuráveis para aferir os impactos que os espaços construídos têm sobre o corpo humano, sobre nossa saúde, comportamento e capacidade de realizar trabalho ou se relacionar com outros.

Empreendimentos ou espaços certificados WELL são aqueles que comprovadamente foram projetados, construídos e são mantidos de forma a promoverem a saúde, a felicidade, o bem-estar e a produtividade dos seus usuários.

O International Well Building Institute, entidade que promove o WELL Building Standard, baseada em Nova York, tem observado crescimento exponencial da aplicação da certificação, atingindo, em agosto de 2019, 58 países ao redor do mundo, inclusive o Brasil.

O processo prevê uma abordagem holística de aspectos relacionados a assuntos como a qualidade do ar, da água, da alimentação, o nível de conforto (térmico, acústico, luminoso, ergonômico), a qualidade dos materiais, o incentivo à atividade física e implantação de políticas de gestão de pessoas mais inclusivas, transparentes, participativas e integradas entre si.

São medidas que devem ser consideradas nos projetos, na execução e na operação dos espaços certificados e podem ser implementadas tanto em instalações novas, a serem construídas, ou mesmo já existentes, uma vez sejam capazes de atender aos critérios mínimos de certificação.

Os resultados da busca e conquista da certificação WELL, com a visibilidade e credibilidade que ela traz, tem sido tão bons que muitas empresas, de diferentes portes, têm passado a adotá-la de forma sistemática em suas políticas de gestão dos espaços de trabalho, em todo o mundo.

Este ano foi inclusive lançada uma nova versão do sistema para dar ainda mais impulso a estas iniciativas, chamada WELL Portfolio, voltada para empresas que adotem o WELL Building Standard em um conjunto de instalações de uma só vez, mesmo que estas estejam em países diferentes, de maneira coordenada e com esforços otimizados, desde que atendam a um conjunto de critérios de desempenho que possam ser implementados, medidos e validados no processo de certificação.

É, de fato, uma ferramenta poderosa e que faz todo o sentido, não apenas para as próprias pessoas, mas também para as empresas, que desta forma podem comprovar e validar, por meio de medidas práticas e com indicadores precisos, a adoção de estratégias de Wellness, em suas instalações.

Estamos diante de uma nova era. A era da valorização das pessoas.

Nas palavras do Sr. Rick Fedrizzi, fundador e CEO por mais de 16 anos do U.S. Green Building Council, entidade criou a certificação de empreendimentos sustentáveis LEED, mais utilizada em todo o mundo para identificar Green Buildings, e que desde 2016 é CEO do IWBI (International Well Building Institute), entidade que promove o WELL, “estamos falando da 2ª onda da sustentabilidade, o próximo passo que todos devemos dar”.

Para saber mais:

Avaliações de desempenho e consultorias técnicas WELL:
EcoBuilding Consultoria: 11 2218 0277 / contato@ecobuilding.com.br


Missão Técnica WELL Experience Tour Nova York:
ArqTours, by Raquel Palhares: 11 99285 4554 / raquel@arqtours.com.br


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