Por Antonio Macêdo Filho, a partir de artigo de Lance Hosey para a Architect Magazine, publicado em terra.com.br em agosto 2010
A revista americana Vanity Fair, em sua edição de agosto de 2010, publicou os resultados de uma pesquisa com 90 especialistas sobre as "maiores obras arquitetônicas dos últimos 30 anos". O Museu Guggenheim Bilbao, de Frank Gehry, foi o grande vencedor, seguido pelo Menil Collection, de Renzo Piano.
Não satisfeito, o arquiteto e jornalista Lance Hosey, da revista Architect Magazine, notou que a lista da Vanity Fair não contemplava construções sustentáveis. Segundo ele, "até as obras de Renzo Piano e Norman Foster, arquitetos conhecidos pela alta performance ambiental, eram antigas e pouco ambiciosas, ambientalmente".
Ele decidiu então fazer a sua própria pesquisa, para definir quais seriam as "cinco construções verdes mais importantes desde 1980". Consultou 150 especialistas, incluindo arquitetos, engenheiros, educadores e críticos dos Estados Unidos, Europa e Ásia que elegeram então os melhores projetos, segundo os critérios que prefirissem utilizar. Daí surgiu a G-List (G de Green, claro).
Dos edifícios selecionados, eu tive oportunidade de conhecer alguns -
Commerzbank (Frankfurt),
BedZed e
SwissRe Tower (Londres),
Genzyme (Boston),
New York Times Building e
Bank of America Tower (Nova York) - sempre em visitas técnicas que ajudei a organizar e acompanhei, e posso afirmar: estes são mesmo muito bem projetados e construídos e por isto devem de fato ser considerados referência. Sobre estes, acrescentei a seguir alguns comentários.
And the winners are:
1 - Centro de Estudos Ambientais Adam Joseph Lewis (Oberlin, Ohio), William McDonough + Partners, 2001 - O Centro de Estudos Ambientais Adam Joseph Lewis (AJCES), localizado no campus da Universidade de Oberlin, é um dos mais avançados exemplos de edifício auto-sustentável dos Estados Unidos. O AJCES produz toda energia que consome através de painéis fotovoltaicos, com potências instaladas de 60kW na cobertura e 100kW em área adjacente (estacionamentos).
O Centro Lewis ainda utiliza um sistema de tratamento de água chamado de "A Máquina Viva", que recebe a água de esgoto e a trata e purifica para que ela possa ser reutilizada nos vasos sanitários. O prédio ainda tem janelas posicionadas de maneira apropriada para aproveitar ao máximo a luz do dia e poços geotérmicos, que ajudam a aquecer e a resfriar a área interna da construção.
2 - California Academy of Sciences (San Francisco), Renzo Piano Building Workshop, 2008 - A Academia de Ciências da Califórnia foi inaugurada em 2008 e definida como uma "construção revolucionária".
O telhado verde mantém o interior do edifício sempre fresco e os 13 milhões de litros de água usados por ano na rega das plantas são em grande parte reutilizados para outros fins no museu. No telhado de vidro, janelas e cortinas controladas por computadores abrem-se e fecham-se para manter a temperatura adequada dentro do ambiente e facilitar a passagem da brisa do Pacífico. Calças jeans velhas foram utilizadas no isolamento das paredes e uma barreira de vedação envidraçada possui células fotovoltaicas integradas que geram 15 % da energia elétrica que o edifício consome.
3 - Genzyme Center (Cambridge, Mass.), Behnisch Architekten, 2003 - O Genzyme Center, sede mundial da empresa de biotecnologia Genzyme Corporation inaugurada 2003, recebeu a certificação LEED Platina do US Green Building Council graças aos seus princípios ambientais. O aproveitamento da luz natural e uso inteligente da água contribuíram para uma redução de 42 % dos gastos anuais em eletricidade e 32% do consumo da água.
Nota: Sobre o Genzyme, que visitei em 2008, publiquei um post aqui no blog em:
http://amacedofilho.blogspot.com/2009/04/um-exemplo-ser-seguido.html A arquitetura em si é aparentemente bem normal, mas quando se conhece melhor o projeto, percebe-se que de fato merece estar nesta lista. Os espelhos para direcionamento da luz natural no atrio interior são de eficácia e beleza impressionantes.
4 - BedZED - Beddington Zero Energy Development (Londres), ZEDfactory, 2002. Este bairro construído no Reino Unido, próximo a Londres, é considerado um modelo de sustentabilidade urbana. Ele segue uma filosofia de composição heterogênea dos seus residentes, e possui moradores de classe média, alta e baixa vivendo no mesmo local. O empreendimento ainda foi erguido com material de construção comprado na região, uso de materiais reciclados e mão-de-obra local, e possui um programa "clube do carro", exclusivo para os moradores, para o compartilhamento de veículos, de forma que as pessoas não precisem ter os seus próprios carros.
Nota: Sobre o BedZed, publiquei um breve video que fiz durante visita técnica que acompanhei em março deste ano (2010), durante a I Missão Técnica EcoBuild Londres. Em breve publicarei em outro post fotos e comentários a respeito. Por enquanto, pode assistir ao video em:
http://www.youtube.com/watch?v=I0ymBgT6Q0s
O Bed Zed é um exemplo de que com boas idéias e uma atitude clara de cooperação, pode-se alcançar resultados de fato importantes.
5 - Chesapeake Bay Foundation (Annapolis, Md.), SmithGroup, 2001. O Centro Ambiental Philip Merrill da Fundação Baía de Chesapeake ocupa uma área construída de quase 3.000 m2 e segue padrões mundiais de conservação de energia, tendo recebido a certificação Platinum Rating do Green Building Council. Materiais reciclados e recicláveis foram usados na sua construção. Além disso, a utilização de um sistema de coleta de água de chuva associado a vasos sanitários compostáveis reduziu o consumo de água em 90%.
6 - Bank of America Tower (ou One Bryant Park, Nova York), Cook + Fox Architects, 2009 (6 votes)
O Bank of America é o primeiro arranha-céu comercial de Nova York a alcançar a certificação LEED Plantina. Em 2008, tive oportunidade de visitar a obra em fase de conclusão durante
I Missão Técnica Green Buildings em Nova York (a subida em elevador de obra até a última laje foi algo de memorável...). Sua fachada de vidro tem elevado desempenho térmico, permitindo amplo aproveitamento da luz do dia. Pudemos verificar isto em alguns pavimentos tipo. O sistema de ar condicionado que tem roda entálpica e filtros sucessivos, permite que o ar utilizado no edifício, quando descartado, após o uso, seja ainda mais limpo do que o ar que é tomado de fora. Ou seja, o edifício contribui para melhorar o ar da cidade. Não há uma vaga de garagem sequer. Os usuários são encorajados, portanto, a usar o metrô (há 3 linhas acessíveis pela Bryant Park, logo em frente). Assim fica fácil. Sem dúvida, é um exemplo para outras metrópoles, como São Paulo.
7 - Sidwell Friends School (Washington, DC), KieranTimberlake, 2006 (5 votes). A Sidwell Friends School é a escola onde estudam as filhas do presidente Barack Obama. O edifício é certificado LEED Platina e suas características e sistemas são utilizados para orientação e educação ambiental dos alunos da escola. Trarei mais informações em breve, após visita técnica que se realizará nesta semana com um grupo organizado pela ArqTours para o Sinduscon-SP.
8 - Advanced Green Builder Demonstration (Austin, Texas), Pliny Fisk, 1998 (5 votes)
9 - Dockside Green (Victoria, B.C.), Busby Perkins+Will, 2010 (4 votes)
10 - Omega Center for Sustainable Living, (Rhinebeck, N.Y.), BNIM, 2009 (4 votes)
11 - New York Times Building, (Nova York), Renzo Piano Building Workshop/FXFowle Architects, 2008 (4 votes)
Conheci a obra do NY Times Buildings em 2007 e nos anos seguintes, estive outras vezes em visitas ao edifício com grupos das Missões Técnicas Green Buildings em Nova York. Com sua forma básica e simples, o edifício não é especialmente bonito, mas certamente se destaca na paisagem e é mesmo bem interessante, por conta do seu desempenho.
No video que segue, feito com câmera fotográfica, faço alguns comentários sobre o projeto, para os participantes da missão deste ano (2010), realizada em junho:
http://www.youtube.com/watch?v=RDQXeaXeDAg
12 - Aldo Leopold Legacy Center, (Barabook, Wis.), Kubala Washatko Architects, 2007 (4 votes)
13 - Druk White Lotus School (Ladakh, India), Arup, 2005 (4 votes)
14 - Swiss Re Tower (Londres), Foster + Partners, 2003 (4 votes)
A forma cilíndrica em si já representa um desafio à arquitetura. Utilizá-la em meio à City londrina, formal e tradicional, pode ser ainda mais difícil. Fazer um edifício de elevado desempenho ambiental assim certamente não foi fácil. Novo ícone da arquitetura contemporânea de Londres, o SwissRe é também um excelente green building, projetado para ser utilizado com amplo aproveitamento da luz e da ventilação naturais.
Em março deste ano (2010) durante a I Missão Técnica EcoBuild Londres, fomos conhecer o SwissRe. Assista a um video feito durante a visita com camêra fotográfica, no qual eu apresento algumas das características do projeto:
http://www.youtube.com/watch?v=CyFYSsn76dQ
15 - Colorado Court, Pugh + Scarpa Architects(Los Angeles, CA) 2002 (4 votes)
16 - Institute for Forestry and Nature Research (Wageningen, Holanda), Behnisch Architekten, 1998 (4 votes)
17 - Commerzbank Headquarters (Frankfurt), Foster + Partners, 1997 (4 votes)
O Commerzbank eu tive a satisfação de visitar em 2002, durante missão técnica que organizei, então pela Câmara de Arquitetos, para o Congresso Mundial da UIA, que naquele ano ocorreu em Berlim. No evento, ouvi o próprio Norman Foster dizer em palestra que estava muito orgulhoso do resultado do projeto e da satisfação dos usuários do edifício. Ele agradeceu ao cliente, o banco, pela encomenda para desenvolver o edifício mais sustentável que se pudesse fazer. Conseguiram. Até hoje o Commerzbank é uma referência em construção sustentável para o mundo. Não podia faltar nesta lista.
Os seus jardins suspensos criam inusitados ambientes de convívio, que são também utilizados para o trabalho, em reuniões e conversas mais descontraídas, o que pude in loco verificar, e trazem maior qualidade ao ambiente de escritórios, o que se reflete em produtividade, como se pôde confirmar.
18 - Menara Mesiniaga Tower (Kuala Lumpur, Malaysia), Hamzah & Yeang, 1992 (4 votes)
Comentários de Lance Hosey sobre os resultados:
"
A comunidade representada pelas duas pesquisas parecem ter padrões dramaticamente diferentes. Nenhum edifício da lista da Vanity Fair aparece na G-list e nenhum arquiteto americano aparece com projetos nas duas listas. Apenas dois, Piano e Foster aparecem em ambas, mas com projetos diferentes. Assim como eles, o escritório Behnisch Architekten, também tem dois projetos na Green Building List. Isto parece confirmar a impressão geral de que a Europa está muito à frente dos EUA em se tratando de edifícios de alta performance, o que foi comentado por muitos dos jurados.
Um dia, talvez as referências do "bom design" venham a coincidir com "design sustentável" mas ainda não chegamos lá. Falta muito, mas certamente este dia chegará."
Jurados:
Lucia Athens, City of Austin, Texas
Kate Bakewell, Hart Howerton
Bob Berkebile, BNIM
Dana Bourland, Enterprise Community Partners
Angela Brooks, Pugh + Scarpa Architects
Hillary Brown, New Civic Works
Bill Browning, Terrapin Bright Green
Will Bruder, Will Bruder + Partners
John Cary, Next American City
Rick Cook, Cook + Fox Architects
Randy Croxton, Croxton Collaborative Architects
Betsy del Monte, Beck Architecture
Rick Fedrizzi, U.S. Green Building Council
Thomas Fisher, University of Minnesota College of Design
Pliny Fisk, Founder, Center for Maximum Potential Building Systems
Eric Corey Freed, Organic Architect
Kira Gould, William McDonough + Partners
Walter Grondzik, Ball State University College of Architecture and Planning
Brad Guy, Material Reuse
Robert Harris, Lake/Flato Architects
Volker Hartkopf, Center for Building Performance and Diagnostics
Lisa Heschong, Heschong Mahone Group
Michelle Kaufmann, MK Designs
Allison Kwok, University of Oregon Department of Architecture
Mary Ann Lazarus, HOK
Charlie Lazor, Lazor Office
Marc L'Italien, EHDD Architecture
Vivian Loftness, Carnegie Mellon University School of Architecture
Ray Lucchesi, Lucchesi Galati Architects
Jason McLennan, Cascadia Region Green Building Council
Kirstin Miller, Ecocity Builders
Steven Moore, University of Texas at Austin School of Architecture
David Orr, Oberlin College
Sergio Palleroni, Portland State University Department of Architecture
Jason Pearson, GreenBlue (formerly)
Susan Piedmont-Palladino, National Building Museum
John Quale, University of Virginia School of Architecture
Jonathan Reich, California Polytechnic State University Department of Architecture
Quilian Riano (via Ed Mazria), DSGN AGNC
Traci Rose Rider, Emerging Green Builders (USGBC)
Anne Schopf, Mahlum Architects
Jennifer Siegal, Office of Mobile Design
Henry Siegel, Siegel & Strain Architects
Alex Steffen, Worldchanging
Susan Szenasy, Metropolis
Rives Taylor, Gensler
(Nota: Rives Taylor esteve recentemente conosco em São Paulo. Mais info em:
http://amacedofilho.blogspot.com/2010/08/universidade-promove-aula-sobre.html)
Gail Vittori, Center for Maximum Potential Building Systems
Donald Watson, Rensselaer Polytechnic Institute School of Architecture
Andrew Whalley, Grimshaw Architects
Dan Williams, Dan Williams Architect
Kath Williams, Kath Williams + Associates
Ken Yeang, Hamzah & Yeang
Baseado no artigo:
The G-List, de Lance Hosey.
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