Especialistas veem como ultrapassado o modelo econômico baseado só no crescimento do PIB e defendem formas de desenvolvimento e medição de riqueza que levem em conta a distribuição de renda e o uso de recursos naturais.
Mais de 80% dos rios da China estão contaminados
O debate está em pauta há mais de 30 anos, mas a crise econômica mundial e as alterações climáticas deram um novo impulso às discussões sobre o modelo econômico tradicional, que só valoriza o crescimento da economia.
Para o economista alemão Gerhard Scherhorn, professor emérito de Mannheim, o problema central da humanidade é o esgotamento dos recursos naturais. "Nós esgotamos os recursos naturais por meio da sobrepesca dos oceanos, da redução do nível das águas subterrâneas, da diminuição da biodiversidade e do aquecimento global", afirma.
O ex-vice-ministro alemão do Meio Ambiente Michael Müller tem opinião semelhante. "Temos um histórico de desenvolvimento industrial em que os recursos materiais da Terra foram usados com desperdício e ignorância", afirma.
O mau exemplo China
Mulher coleta garrafas plásticas ao lado de um riacho poluído por uma fábrica de papel em Dongxiang, na ChinaEm nenhum outro lugar esse comportamento pode ser percebido de forma tão clara como na China. Mais de 80% dos rios do país são considerados contaminados. Além disso, 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo estão na China.
Por um lado, o país ostenta, há muitos anos, níveis anuais de crescimento econômico perto dos 10%; por outro, mais da metade desse crescimento acaba sumindo por conta dos prejuízos ambientais causados, afirma Müller.
Na opinião dele, a China sofrerá em breve as consequências das mudanças climáticas, causadas também pelo próprio crescimento econômico a todo custo. Ele lembra que, segundo os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o aquecimento global ameaçará sobretudo as zonas industrializadas próximas aos deltas dos rios chineses.
"Isso quer dizer que a China terá que organizar e financiar imensos programas de relocação de moradores. Eu não sei se o país é capaz disso. De qualquer forma, seria uma tragédia humana", alerta. A sua conclusão é que os limites de crescimento econômico já foram alcançados em todo o mundo.
Novo indicador de qualidade de vida
O economista Hans Diefenbacher, de Heidelberg, acha necessária uma reconstrução dentro de padrões ambientais. Ele cita como exemplo a Alemanha. "Podemos começar isolando termicamente as construções antigas dentro dos próximos 30 anos, a um ritmo anual de 3%. Podemos também ampliar os sistemas de transporte público", sugere.
Ele sugere ainda que as pessoas sejam mais contidas nos seus gastos. Mas mudanças no estilo de vida dos consumidores podem levar a uma contração do Produto Interno Bruto (PIB), cujo crescimento é a medida de todas as coisas para os governantes de qualquer país.
Poluição oriunda de uma fábrica em Baotou, na China
Diefenbacher, que desde meados dos anos 80 estuda a forma como o crescimento econômico é medido, defende uma revisão desse critério. "O Produto Interno Bruto deve ser substituído como medida de crescimento por um novo indicador de qualidade de vida, pois muitos aspectos importantes não são considerados no PIB", afirma.
Primeiro, a distribuição de renda não é contemplada pelo Produto Interno Bruto, lembra. Em segundo lugar, ele também não reflete os danos ambientais causados pela produção e pelo consumo. "Também não reproduz devidamente o consumo de recursos naturais não renováveis", explica o economista.
Franceses chegaram à mesma conclusão
Ou seja, a distribuição de renda e o uso dos recursos naturais teriam que ser levados em consideração por um novo indicador. Mas também o trabalho doméstico e os serviços voluntários deveriam ser incluídos como fatores positivos, de acordo com Diefenbacher.
Por muito tempo, a discussão sobre crescimento e sustentabilidade recebeu pouca atenção. Agora, esse debate começa a sair do seu nicho. Em alguns países europeus, ele está mais avançado do que na Alemanha.
Como na França, onde uma comissão criada pelo governo Sarkozy e chefiada pelo Prêmio Nobel Joseph Stiglitz chegou ano passado à mesma conclusão: o PIB não é um indicador suficiente, e distribuição de renda e consumo de recursos naturais também devem ser considerados.
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