Por Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz, para Uol.com.br - Agosto 2010
Nos tempos atuais, a conservação de recursos naturais é tema de qualquer conversa de bar. E ao falar de preservação, uma das primeiras coisas que nos vem à cabeça é a questão da água. Apesar de abundante no Brasil – temos a maior bacia hidrográfica do mundo, a do Amazonas – a água já falta em diversas regiões do planeta.
Mesmo no Brasil, as bacias hidrográficas não estão distribuídas uniformemente por todo o território e, pior, sua distribuição não coincide com as áreas de maior concentração populacional. O que vemos, então, são alguns locais com muita água e pouca gente, e outros com uma grande população sem o acesso adequado à água e, ainda mais grave, saneamento.
A água da chuva é coletada, filtradas e levada a um reservatório inferior, em geral enterrado. Uma bomba leva a água para uma segunda caixa d'água, a partir da qual é feita a distribuição para os pontos desejados: torneira de jardim, sanitários e lava roupa são os mais comuns.
Recurso valioso
Portanto a água passou a ser um bem raro e que deve ser poupado e reaproveitado ao máximo. Quando falamos de poupar água, estamos nos referindo a diversas práticas, desde fechar a torneira enquanto escovamos os dentes e o chuveiro enquanto nos ensaboamos, até desenvolver sistemas de irrigação para as lavouras que sejam mais eficientes.
Países como Israel plantam no deserto graças a sistemas de irrigação por gotejamento que utilizam menos de 5% da quantidade de água necessária por nosso sistema mais comum, o da aspersão, em que boa parte da água evapora antes mesmo de chegar ao solo. Outro exemplo simples pode ser notado nos arejadores para torneiras, que já estão presentes nos modelos das principais fabricantes do país. Trata-se de um equipamento simples e barato que reduz drasticamente o consumo de água. Nessa linha encontramos diversos sistemas eficientes de descargas entre outros implementos que nos auxiliam a economizar água.
E a água já utilizada?
Hoje em dia, na grande maioria dos edifícios (de uma residência a uma indústria), a água vai diretamente para o sistema de coleta de esgoto e águas pluviais. Entretanto, boa parte dela pode ser facilmente reutilizada, visto que o grau de impurezas é muito baixo após a primeira utilização. Grandes indústrias, como as de cerveja, por exemplo, já possuem sistemas capazes de utilizar diversas vezes a mesma água para a fabricação de seu produto, reduzindo muito o impacto no meio ambiente. Esses são sistemas mais complexos e vamos nos concentrar nos convencionais, desenvolvidos para residências.
Ao pensarmos em reuso de água para residências, podemos primeiramente tratar das águas pluviais, ou seja, a água da chuva. Captar a água que cai nos telhados e lajes de nossas casas para uma futura utilização não só é uma prática econômica e ecológica, como também diminui a quantidade de água que vai para o sistema público de coleta, ou seja, ajuda a diminuir as terríveis enchentes das épocas de chuva forte.
Coletar, filtrar, usar
Os sistemas mais simples de reuso de água tratam apenas das águas pluviais, que após caírem nos telhados são direcionadas às calhas e, ao invés de serem descartadas, são filtradas e levadas a um reservatório inferior, normalmente enterrado. Uma bomba simples transfere a água deste reservatório inferior para outro elevado (uma segunda caixa d’água) e a partir daí a água é direcionada para os pontos que desejamos.
Os sistemas mais simples direcionam esta água de reuso apenas para a irrigação de jardim. Em locais com grandes áreas ajardinadas, só isso já é suficiente, uma vez que toda a água da chuva será reaproveitada e bem utilizada. Em locais com poucas áreas ajardinadas ou mesmo sem nenhuma área verde, podemos utilizar o mesmo conceito de reuso, mas com uma complexidade um pouco maior – a água da chuva, após estar filtrada e no reservatório superior, é levada aos jardins e também para os vasos sanitários, tanques e máquinas de lavar roupas. Essa água, embora imprópria para ser bebida, é bastante limpa para essas finalidades.
Águas cinzas
Há diversos sistemas disponíveis no mercado com filtragem da água após ela entrar no reservatório inferior, imediatamente antes ou ainda no tubo de queda. São vários os filtros existentes e a NBR 15527 (Água de Chuva - Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não-potáveis) da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é a que regula todos esses sistemas. É importante sempre prestarmos muita atenção ao método de filtragem e de armazenamento, já que ao cair na cobertura, a água carrega consigo todas as impurezas do telhado.
Além da água da chuva, as chamadas águas cinzas também podem ser reutilizadas. As águas cinzas são as que foram utilizadas nas pias de banheiros ou chuveiros, por exemplo. É uma água mais limpa do que a que sai do vaso sanitário (por razões óbvias) e, portanto mais fácil de ser filtrada. O sistema de funcionamento é basicamente o mesmo do reuso de águas pluviais. A água cinza é recolhida, filtrada e reaproveitada nos jardins ou sanitários. Os filtros e os métodos de filtragem podem variar, mas o funcionamento é muito parecido.
Desde que bem projetados, os sistemas para reuso de água são eficientes e vieram para ficar. Além disso, algumas localidades já exigem estes sistemas para qualquer edificação a ser construída.
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