segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Como construções sustentáveis contribuem para os objetivos de desenvolvimento Sustentável da ONU

Reproduzido de publicação do GBC Brasil, elaborada a partir de texto original de Dominika Czerwinska, do WorldGBC.

Compartilho aqui, com satisfação, uma publicação original do World Green Building Council, que foi traduzida e publicada pelo Green Building Council do Brasil, em seu website, neste mês de setembro 2019.

O texto apresenta, de forma didática, quão importante pode ser a contribuição do setor da construção sustentável para que países, além de outros agentes públicos e privados, possam atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

São metas que estabelecem um desafio para a humanidade: Dissociar o crescimento econômico das mudanças climáticas, da pobreza e da desigualdade. Tais metas entraram em vigor no dia primeiro de janeiro de 2016 com a concordância de vários líderes mundiais, e foi um marco importante nos esforços coletivos para “promover a prosperidade enquanto protegemos o planeta”.

E como construções sustentáveis podem ajudar a a atingir essas metas?
Enquanto muitos vêem um edifício como apenas uma estrutura inanimada, nós olhamos para os prédios e vemos a fisicalidade e o processo pelo qual eles são criados – uma oportunidade de não apenas economizar energia, água e emissões de carbono, mas educar, criar empregos, fortalecer comunidades, melhorar a saúde e o bem-estar e muito, muito mais.
A construção sustentável é um verdadeiro catalisador para abordar alguns dos problemas mais prementes do mundo.

Como construções sustentáveis contribuem para os objetivos de desenvolvimento Sustentável da ONU
Vejamos então como construções sustentáveis podem contribuir para alcançar a maioria dos objetivos de desenvolvimento Sustentável da ONU:
Como construções sustentáveis contribuem para os objetivos de desenvolvimento Sustentável da ONU
– Objetivo 3: BOA SAÚDE E BEM-ESTAR – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
Hoje temos provas contundentes que sugerem que a maneira como um edifício é projetado pode afetar a saúde e o bem-estar de seus ocupantes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças pulmonares e respiratórias associadas à baixa qualidade do ambiente interno são três das cinco principais causas de morte.
Mas as características de um edifício sustentável, como iluminação aprimorada, melhor qualidade do ar e vegetação, têm provado impactar positivamente a saúde e o bem-estar, e essa agenda ganhou impulso crescente nos últimos anos.
O projeto global Better Places for People do World Green Building Council está focado na criação de um mundo em que os edifícios não sejam apenas bons para o meio ambiente, mas também ofereçam uma vida mais saudável, mais feliz e mais produtiva.
E a redução das emissões dos edifícios – particularmente nas cidades – pode reduzir a poluição e melhorar a qualidade do ar, beneficiando a saúde dos habitantes das cidades.
Como construções sustentáveis contribuem para os objetivos de desenvolvimento Sustentável da ONU
-Objetivo 7: ENERGIA ACESSÍVEL E LIMPA – Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
A energia mais barata é a energia que não usamos, e a economia de energia de edifícios sustentáveis e eficientes – sejam prédios de escritórios comerciais ou residências – costuma ser um dos benefícios mais comentados.
Os edifícios verdes também usam energia renovável, que pode ser mais barata que as alternativas de combustíveis fósseis. Por exemplo, a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) sugere que os sistemas solares domésticos na África podem fornecer eletricidade aos domicílios por apenas US$ 56 por ano – muito mais barato que a energia do diesel ou do querosene.
A energia renovável também tem o benefício adicional de não produzir emissões de carbono, limitando o impacto no planeta. A eficiência energética associada a fontes renováveis locais também contribuem para a segurança energética.
-Objetivo 8: EMPREGO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÔMICO – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.

À medida que a demanda por construções sustentáveis cresce globalmente, o mesmo acontece com a força de trabalho necessária para entregá-las, e esse é outro objetivo que a construção sustentável pode contribuir significativamente.
Por exemplo, a indústria de construção sustentável no Canadá representou quase 300.000 empregos em tempo integral em 2014.
Além disso, o ciclo de vida de um edifício sustentável – desde sua concepção até a construção, operação e sua eventual reforma – impacta uma grande variedade de pessoas, proporcionando mais oportunidades de emprego inclusivo.
E alguns GBCs, como da África do Sul, desenvolveram formas de integrar questões socioeconômicas mais complexas, como desemprego ou falta de habilidades, em sistemas de certificação de empreendimentos sustentáveis – criando incentivos adicionais para as empresas considerarem esses critérios em seus desenvolvimentos.
-Objetivo 9: INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.

Os edifícios sustentáveis não tratam apenas do aqui e agora. Eles devem ser projetados para garantir sua resiliência e adaptabilidade em face das mudanças climáticas globais.
Isto é extremamente importante nos países em desenvolvimento, muitos dos quais serão particularmente suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas. Mas não se trata apenas de edifícios à prova do futuro, mas dos espaços intermediários – a infra-estrutura que deve ser igualmente sustentável e resiliente a riscos futuros.
Um relatório recente do New Climate Economy descobriu que US $ 90 trilhões de investimentos em todo o mundo são necessários nos próximos 15 anos no setor de infra-estrutura para alcançar um futuro próspero de emissões zero.
E a busca por edifícios que ampliem as fronteiras da sustentabilidade, como os prédios com emissões zero, também é um grande motivador para inovação e tecnologia.
-Objetivo 11: CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

Quase 60% da população mundial viverá em áreas urbanas até 2030 e, portanto, garantir sua sustentabilidade é de suma importância.
Os edifícios são as fundações de uma cidade, e os edifícios sustentáveis são, portanto, fundamentais para sua sustentabilidade a longo prazo. Quer se trate de casas, escritórios, escolas, lojas ou espaços verdes – o ambiente construído contribui para a composição das comunidades, que deve ser sustentável para garantir uma alta qualidade de vida para todos.
De fato, em muitos países, os Green Building Councils foram além da certificação de edifícios verdes únicos e desenvolveram ferramentas que facilitam a formação de bairros e distritos verdes. Outros, como o GBC das Filipinas, ajudaram cidades como Mandaue a desenvolver e implementar políticas que promovam práticas sustentáveis de construção em cidades inteiras.
-Objetivo 12: CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS – Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.

Este objetivo foca na promoção de recursos e eficiência energética, infraestrutura sustentável e acesso a serviços básicos e empregos “verdes”.
A indústria da construção civil tem um papel importante a desempenhar na prevenção de resíduos através da redução, reciclagem e reutilização – princípios de “economia circular”, onde os recursos não são desperdiçados.
Nosso movimento inclui os principais fabricantes de produtos, como a Shaw Contract, membro do GBC Brasil, que desenvolveram maneiras de gerar produtos – neste caso, carpetes – do que antes era considerado como resíduo, conhecido como abordagem “do berço ao berço”. Isso não só reduz a quantidade de resíduos que vão para o aterro, mas também reduz a quantidade de matérias-primas que estão sendo extraídas da terra. Desde 2006, a Shaw recuperou e reciclou mais de 400 milhões de quilos de carpetes pós-consumo.
Objetivo 13: COMBATE ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS – Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.

Os edifícios são responsáveis por mais de 30% das emissões globais de gases de efeito estufa e, portanto, são um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas.
Mas, da mesma forma, os edifícios verdes têm um enorme potencial para combatê-las, oferecendo uma das maneiras mais econômicas de fazê-lo, por meio de medidas como a eficiência energética. Por exemplo, os edifícios certificados pela Green Star na África do Sul economizam 336 milhões de quilos de emissões de carbono por ano – o mesmo que tirar 84.000 carros das ruas – ajudando a limitar os efeitos da mudança climática.
Objetivo 15: VIDA SOB A TERRA – Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.

Os materiais que compõem um edifício são fundamentais para determinar sua sustentabilidade. E assim, a indústria da construção e suas cadeias de suprimentos têm um papel importante a desempenhar no uso de materiais de origem responsável, como a madeira.
As ferramentas de certificação de construção ecológica também reconhecem a necessidade de reduzir o uso da água e o valor da biodiversidade e a importância de garantir sua proteção e incorporá-la ao espaço que constroem durante e após a construção – minimizando danos e projetando formas de melhorar a biodiversidade , como paisagismo com flora local.
-Objetivo 17: PARCERIAS EM PROL DAS METAS – Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

Historicamente, a indústria da construção civil careceu de uma voz coletiva no cenário mundial nas principais conferências sobre mudanças climáticas e muitas vezes não foi reconhecida pelas enormes oportunidades que apresenta.
Em 2015, um marco significativo foi alcançado quando o WorldGBC, o PNUMA, o governo francês e várias outras organizações se reuniram para sediar o primeiro “Dia dos Edifícios” como parte da agenda oficial da COP21 e para lançar a Aliança Global para Construção e Construção. Um ano e meio depois, e nosso movimento já está vendo os benefícios de ter um assento na mesa.
Fortes novas parcerias, como as do World Resources Institute e do Global Environmental Facility, estão garantidas, aumentando nossa capacidade de gerar mudanças e garantindo que estamos construindo as forças um do outro, em vez de reinventar a roda.
As barreiras para um ambiente construído sustentável não são soluções técnicas, mas sim como colaboramos efetivamente, garantindo que nossos esforços coletivos estejam realmente alinhados para alcançar um impacto muito maior.
Como construções sustentáveis contribuem para os objetivos de desenvolvimento Sustentável da ONU
Como construções sustentáveis contribuem para os objetivos de desenvolvimento Sustentável da ONU

Quando se trata dos ODS restantes, os links diretos entre eles e como construções sustentáveis podem ajudar podem ser menos explícitos, mas isso não quer dizer que eles não existam.
Por exemplo, existem várias oportunidades educacionais criadas através do processo de criação de edifícios sustentáveis – a formação de profissionais em questões de sustentabilidade ou técnicas de construção sustentável – e pelos nossos GBCs através dos seus próprios programas educacionais.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) reconheceu esta oportunidade através da parceria com os Green Building Councils, por exemplo na Zâmbia, para fornecer programas locais de empregos verdes.
E as empresas e organizações responsáveis ​​que trabalham dentro e ao redor da indústria da construção civil estão ajudando a quebrar o sexismo e promover a igualdade de gênero no local de trabalho do prédio sustentável.
Quase 50% dos GBCs Estabelecidos são liderados por mulheres, e a iniciativa Women4Climate também destaca o papel que as mulheres estão desempenhando na ação climática.
Na Austrália, com a revisão do Green Star, o Green Building Council da Austrália está procurando auxiliar incorporadores e proprietários a reportar critérios específicos contra 16 dos 17 SDGs – demonstrando o quão relevantes eles são para o nosso setor.
Por todas estas razões, acreditamos que o movimento de construção sustentável significará um progresso significativo na dissociação do crescimento econômico das mudanças climáticas, pobreza e desigualdade, ajudando a alcançar as metas e criando um mundo mais verde que todos podemos nos orgulhar de chamar de lar.
Por Dominika Czerwinska, diretora do WorldGBC, originalmente publicado em worldgbc.org – Via GBC Brasil / SustentArqui

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Oportunidades de agregação de valor em projetos de empreendimentos imobiliários com a sustentabilidade

Caros,

Resolvi compartilhar aqui um fato que pode interessar: Ontem recebi confirmação (após uns 2 meses de idas e vindas de e-mails) de que um empreendedor, que irá lançar um empreendimento residencial de padrão econômico / médio em Santa Catarina, com 4 torres, que havia nos consultado para a considerar a adoção de estratégias de sustentabilidade e certificação ambiental do empreendimento, havia decidido que seguirá com o projeto sem adotar a certificação.

O que incomoda nisto não é a decisão em si (afinal, faz parte do dia a dia no mundo dos negócios), mas sim o fato de ter sido tomada sem que sequer tenha sido realizado um Estudo de Viabilidade Técnica, que iria proporcionar ao tomador de decisão dados consistentes sobre as oportunidades, os potenciais, os resultados que se poderia alcançar com as estratégias que seriam identificadas como as mais viáveis, o tamanho do esforço a ser empregado, mas fundamentalmente, os ganhos que o empreendimento teria e os benefícios que os seus usuários e promotores poderiam ter, inclusive financeiros, mas também de marketing, de imagem institucional, dentre outros.

Desta forma, imagino que a decisão tenha sido tomada muito provavelmente por terem considerado o investimento necessário (consultoria, taxas do processo) como custo adicional direto, e não como investimento em um produto melhor, em mais qualidade dos processos de concepção, desenvolvimento de projetos, execução de obras, com mais qualidade dos espaços construídos, mais adequado ao século XXI, mais sustentável.

Ao não adotar um processo de certificação ambiental, estou seguro em afirmar que estratégias de sustentabilidade serão inexoravelmente descartadas ou neglicenciadas no processo de desenvolvimento e execução do empreendimento. As coisas são assim. Se não houver comprometimento e pessoas dedicadas a cumpri-lo, não sendo obrigatório (por enquanto), a coisa certa a ser feita pode muito facilmente deixar de ser feita, ao menos na nossa realidade, ainda.

A questão, na minha opinião, ao menos no grande segmento do mercado imobiliário da "vida como ela é" (entenda-se: o médio, normal, nada de espetacular ou excepcional, maior setor do mercado), segue sendo, de maneira geral, ainda a da falta de informação, da falta de capacitação técnica, e fundamentalmente, falta da noção de que construir de forma sustentável, embora ainda seja uma opção (por enquanto) é a coisa certa a ser feita e oferece múltiplas oportunidades para o empreendedor agregar valor ao seu negócio, com retornos diretos e indiretos significativos, e que suplantam, em muito, os investimentos na área, tais como:

  • Menor consumo de energia e água (redução de taxa de condomínio);
  • Processo de Projeto Integrado, com projetos de mais qualidade, precisão e compatibilização entre as diversas disciplinas envolvidas (redução de perdas e desperdícios);
  • Melhor gestão de obras (com benefícios importantes tanto para o entorno do empreendimento, quanto para a economia de recursos com materiais e redução de desperdícios);
  • Melhor gestão da operação do empreendimento, em relação a equipamentos como ar condicionado, automação, iluminação, irrigação, elevadores, por exemplo (o que se reflete em menores taxas operacionais/condominiais);
  • Promovem espaços de mais qualidade, por exemplo em relação à iluminação, qualidade do ar e acústica, para os usuários (o que se reflete em bem-estar, saúde e produtividade);
  • Promovem a valorização do empreendimento e aumento da velocidade de vendas;
  • Associação à imagem de pioneirismo e liderança;
  • Visibilidade e reconhecimento públicos em relação à implantação de estratégias sustentáveis;
  • Podem se beneficiar de políticas públicas de incentivo à construção sustentável, como o “IPTU Verde”, já aprovado em muitas cidades;
  • Podem se beneficiar de linhas de financiamento específicas para empreendimentos sustentáveis, com condições vantajosas, em relação às tradicionais.
Muitos já perceberam estas oportunidades, e por isto o mercado de construções sustentáveis segue crescendo, em todo o mundo, mas muitos ainda não se aperceberam dos benefícios que esta nova forma de projetar e construir pode trazer.

Nós, especialistas da área, entidades do setor, profissionais projetistas, gestores, agentes financeiros, gestores públicos, temos todos ainda muito trabalho a fazer.

E você, o que acha pode ser feito para mudar este cenário?
Comente aqui.

Aproveito para compartilhar aqui vídeo de uma palestra que ministrei para o Green Building Council Brasil para a Green Building Week 2018, em que trato deste tema, com o título: "Oportunidades de agregação de valor em projetos de empreendimentos imobiliários com a sustentabilidade".