quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Oportunidades de agregação de valor em projetos de empreendimentos imobiliários com a sustentabilidade

Caros,

Resolvi compartilhar aqui um fato que pode interessar: Ontem recebi confirmação (após uns 2 meses de idas e vindas de e-mails) de que um empreendedor, que irá lançar um empreendimento residencial de padrão econômico / médio em Santa Catarina, com 4 torres, que havia nos consultado para a considerar a adoção de estratégias de sustentabilidade e certificação ambiental do empreendimento, havia decidido que seguirá com o projeto sem adotar a certificação.

O que incomoda nisto não é a decisão em si (afinal, faz parte do dia a dia no mundo dos negócios), mas sim o fato de ter sido tomada sem que sequer tenha sido realizado um Estudo de Viabilidade Técnica, que iria proporcionar ao tomador de decisão dados consistentes sobre as oportunidades, os potenciais, os resultados que se poderia alcançar com as estratégias que seriam identificadas como as mais viáveis, o tamanho do esforço a ser empregado, mas fundamentalmente, os ganhos que o empreendimento teria e os benefícios que os seus usuários e promotores poderiam ter, inclusive financeiros, mas também de marketing, de imagem institucional, dentre outros.

Desta forma, imagino que a decisão tenha sido tomada muito provavelmente por terem considerado o investimento necessário (consultoria, taxas do processo) como custo adicional direto, e não como investimento em um produto melhor, em mais qualidade dos processos de concepção, desenvolvimento de projetos, execução de obras, com mais qualidade dos espaços construídos, mais adequado ao século XXI, mais sustentável.

Ao não adotar um processo de certificação ambiental, estou seguro em afirmar que estratégias de sustentabilidade serão inexoravelmente descartadas ou neglicenciadas no processo de desenvolvimento e execução do empreendimento. As coisas são assim. Se não houver comprometimento e pessoas dedicadas a cumpri-lo, não sendo obrigatório (por enquanto), a coisa certa a ser feita pode muito facilmente deixar de ser feita, ao menos na nossa realidade, ainda.

A questão, na minha opinião, ao menos no grande segmento do mercado imobiliário da "vida como ela é" (entenda-se: o médio, normal, nada de espetacular ou excepcional, maior setor do mercado), segue sendo, de maneira geral, ainda a da falta de informação, da falta de capacitação técnica, e fundamentalmente, falta da noção de que construir de forma sustentável, embora ainda seja uma opção (por enquanto) é a coisa certa a ser feita e oferece múltiplas oportunidades para o empreendedor agregar valor ao seu negócio, com retornos diretos e indiretos significativos, e que suplantam, em muito, os investimentos na área, tais como:

  • Menor consumo de energia e água (redução de taxa de condomínio);
  • Processo de Projeto Integrado, com projetos de mais qualidade, precisão e compatibilização entre as diversas disciplinas envolvidas (redução de perdas e desperdícios);
  • Melhor gestão de obras (com benefícios importantes tanto para o entorno do empreendimento, quanto para a economia de recursos com materiais e redução de desperdícios);
  • Melhor gestão da operação do empreendimento, em relação a equipamentos como ar condicionado, automação, iluminação, irrigação, elevadores, por exemplo (o que se reflete em menores taxas operacionais/condominiais);
  • Promovem espaços de mais qualidade, por exemplo em relação à iluminação, qualidade do ar e acústica, para os usuários (o que se reflete em bem-estar, saúde e produtividade);
  • Promovem a valorização do empreendimento e aumento da velocidade de vendas;
  • Associação à imagem de pioneirismo e liderança;
  • Visibilidade e reconhecimento públicos em relação à implantação de estratégias sustentáveis;
  • Podem se beneficiar de políticas públicas de incentivo à construção sustentável, como o “IPTU Verde”, já aprovado em muitas cidades;
  • Podem se beneficiar de linhas de financiamento específicas para empreendimentos sustentáveis, com condições vantajosas, em relação às tradicionais.
Muitos já perceberam estas oportunidades, e por isto o mercado de construções sustentáveis segue crescendo, em todo o mundo, mas muitos ainda não se aperceberam dos benefícios que esta nova forma de projetar e construir pode trazer.

Nós, especialistas da área, entidades do setor, profissionais projetistas, gestores, agentes financeiros, gestores públicos, temos todos ainda muito trabalho a fazer.

E você, o que acha pode ser feito para mudar este cenário?
Comente aqui.

Aproveito para compartilhar aqui vídeo de uma palestra que ministrei para o Green Building Council Brasil para a Green Building Week 2018, em que trato deste tema, com o título: "Oportunidades de agregação de valor em projetos de empreendimentos imobiliários com a sustentabilidade".


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