quarta-feira, 30 de julho de 2008

Habitec - Fórum de Arquitetura e Inovações Tecnológicas para a Habitação


Nos dias 20 e 21 de agosto ocorreu no Centro de Convenções Imigrantes em São Paulo o Habitec - Fórum de Arquitetura e Inovações Tecnológicas para a Habitação.
Organizado pela Câmara de Arquitetos, o evento contou colaborações de profissionais especialistas em diversas áreas, como sistemas solares, uso racional da água, acessibilidade, automação predial, tecnologias para elevadores e alvenaria estrutural, dentre outros.
Algumas das palestras apresentadas serão disponibilizadas para download neste blog.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Aplicações de Energias Renováveis

Veja matéria que contou com minha contribuição, publicada na revista Sistemas Prediais, com o tema: "Aplicação energias renováveis é o desafio do momento para arquitetos e engenheiros" (por Marcelo Nicolósi):

"Em projetos de instalação dos sistemas solares e eólicos, as principais dúvidas dos profissionais recaem sobre os custos e métodos para aplicação de tecnologias"Incorporar tecnologias de geração de energia alternativa em um projeto de engenharia e arquitetura é um dos grandes desafios da atualidade, quando se fala em certificação verde e uso racional de energia.

Particularmente no Brasil, onde quase não existem iniciativas que sejam especialmente concebidas para uma integração inteligente de fontes alternativas de energia em uma edificação moderna. É o que pensa Mário Dias, engenheiro da Solarterra Energias Alternativas, especializada em energia solar fotovoltaica, energia solar térmica, eólica, hidráulica, entre outras fontes não convencionais. “Quando muito, se colocam placas de aquecimento solar em alguma laje da construção, preferencialmente em local onde ninguém possa ver”, afirma.

A realidade brasileira, na opinião de Dias, vai contra a filosofia usada em países como Alemanha e Espanha, em que o objetivo, quando se pensa em energias alternativas, seria incorporar o equipamento na arquitetura para que ele passe a ser uma peça integrante do conjunto: “os arquitetos e construtores devem entender que o uso inteligente de sistemas de energia alternativa deve e pode ser capitalizado em prol do sucesso do próprio empreendimento. Estamos cansados de ver caixotes de vidro como solução padronizada em grandes centros, quando poderíamos estar diante de fachadas em que parte dos vidros poderia ser substituída por painéis solares fotovoltaicos”, desabafa.O engenheiro assegura que o custo não é o maior problema. “Hoje se popularizou o uso de vidros refletivos que não custam menos do que R$ 400,00/m2. Temos painéis solares fotovoltaicos que custam R$ 750,00/m2 com toda a eletrônica necessária para injetar a energia gerada na rede elétrica. Preço por preço é mais caro, mas precisamos levar em conta que um painel solar, mesmo instalado na posição vertical, irá gerar por pelo menos 30 anos e isto tem um custo inestimável que nenhum vidro simples pode competir”, argumenta. Na opinião de Dias, foi-se o tempo em que um painel fotovoltaico era um produto para engenheiro.

“Hoje oferecemos painéis solares fotovoltaicos que são feitos para colocação em caixilharia convencional e o cabeamento fica totalmente escondido”. Ele destaca também não ser necessária a adaptação no prédio, sob o aspecto de engenharia elétrica, para receber a energia gerada pelos painéis solares fotovoltaicos. “A energia é gerada e imediatamente disponibilizada no barramento de energia, e se converte em economia real, ou seja, energia que antes seria comprada da concessionária passa a ser auto-gerada”, explica.

Dias fala sobre sua experiência quanto aos custos: “Quando me perguntam sobre custo alto, que é inviável, que isto e aquilo, não me canso em responder o seguinte: ninguém, absolutamente ninguém, do arquiteto ao construtor, se questiona quanto custa o metro quadrado do mármore importado que eles especificaram para uma fachada de um prédio. Posso apostar que é mais caro do que um sistema de energia alternativo por metro quadrado. O que ocorre é que o mercado está acostumado com certas tecnologias construtivas, mesmo sendo caras, e para outras que são novidades existe uma enorme resistência pelo desconhecimento.

Quando o primeiro prédio com energia solar fotovoltaica na fachada for lançado, todos os outros irão copiar, tenho certeza”. Dias cita a Alemanha como exemplo de utilização de energia alternativa. Segundo ele, apenas em 2007 foram instalados 2GWp de energia solar fotovoltaica, sendo que parte expressiva em sistemas conhecidos como BIPV (Building Integrated Photovoltaics). Essa energia é equivalente à potência de três turbinas de Itaipu. No Brasil, a energia que seria gerada por estes painéis solares seria o dobro do que o é na Alemanha, que tem metade da insolação anual que o Brasil: “lá existem enormes incentivos para uso de energia solar e fórmulas atrativas de remuneração da energia excedente gerada, mas nos prédios onde o BIPV é aplicado, isto é absolutamente secundário”, acrescenta.

Antonio Macêdo Filho, Máster em Arquitetura Bioclimática e Edifícios Inteligentes pela Universidad Politécnica de Madrid e diretor da Câmara de Arquitetos e Consultores, afirma que, na construção, pode-se utilizar a energia solar das seguintes formas:

a) De forma passiva, é a arquitetura que define o aproveitamento ou não da radiação solar para adequação das condições climáticas, seja para se evitar o excesso ou tirar proveito do calor, quando necessário, fazendo uso da orientação da edificação em relação ao percurso aparente do sol, da disposição das aberturas, dos fechamentos, coberturas e proteções, bem como dos isolamentos e materiais de acabamentos. “É, portanto, estratégia de projeto útil à melhoria da eficiência energética dos edifícios, e também, se considerarmos apenas os projetos de edificações novas, o mais barato método de conservação de energia e recursos naturais”.

b) De forma ativa, pode-se aproveitar o calor do sol, através do uso de coletores solares, que são acumuladores térmicos, para aquecimento de um fluido, normalmente água potável, para consumo direto na edificação. “O sistema é simples e de fácil instalação”. Ele detalha: placas coletoras são colocadas normalmente em coberturas, preferencialmente orientadas a norte e inclinadas de um ângulo alguns graus a mais que a latitude do lugar (para São Paulo - latitude 23º 33” sul - por exemplo, 30º de inclinação para o norte). “Desta forma se otimiza o aproveitamento do sol durante a maior parte do dia, inclusive durante o inverno, quando é mais útil. As placas são protegidas por vidros que deixam passar a maior parte da radiação incidente, mas não deixam escapar o calor absorvido, que é transmitido para uma serpentina cheia de água que percorre as placas”, diz. “Gradualmente a água quente é substituída por outra fria servida por um reservatório elevado e acumulada em um ou mais boilers, que mantêm a água aquecida por até alguns dias e abastece a instalação de água quente para banho, pias, lavanderias, e até mesmo piscinas ou processos industriais, dependendo do tamanho da instalação”, acrescenta.

c) Além dos processos térmicos, a radiação solar pode ser diretamente convertida em energia elétrica com a utilização de células fotovoltaicas. O chamado efeito fotovoltaico decorre da excitação dos elétrons de determinados materiais semicondutores quando expostos à radiação solar. O material mais utilizado para a conversão da radiação solar em energia elétrica é o silício, abundante em sua forma bruta em todo planeta. Em qualquer caso – afirma Macêdo - assim como os coletores solares térmicos, os painéis fotovoltaicos devem ser orientados para o norte (no hemisfério sul) e inclinados na mesma angulação da latitude do lugar ou um pouco mais. “Naturalmente, devem ser evitadas sombras sobre o painel, o que simplesmente impediria o seu funcionamento”.A energia pode ser utilizada da forma como é gerada – garante o arquiteto - em baixa tensão e corrente contínua (em computadores e celulares, por exemplo) ou, com a utilização de conversores e transformadores, em outros equipamentos de baixa potência (como TVs ou lâmpadas fluorescentes). Pode ainda ser acumulada em baterias para uso noturno, como em radares e telefones em rodovias ou postes de iluminação pública.

O engenheiro Ronaldo Alves, diretor da Altercoop Energia, empresa fabricante de turbinas eólicas, acredita que, desde que haja disponibilidade de sol e vento, qualquer sistema predial poderá se beneficiar das energias renováveis, e cita como benefícios de tal tecnologia a autonomia, independência, redução de custos e o motivo que aponta como mais nobre: colaboração para diminuição de poluentes e do aquecimento global. Além disso, segundo Alves, não são exigidas grandes mudanças em equipamentos que produzem energia elétrica através de fontes alternativas. “O ideal é que se montem sistemas híbridos e conseqüentemente, que se façam as adequações de conexões entre os sistemas existentes, pois os sistemas elétricos existentes podem trabalhar em harmonia com os sistemas de energias renováveis”. Sobre o custo, Alves avalia que, em média, o payback de um sistema é de dois anos.

Segundo o arquiteto Antonio Macêdo Filho, os geradores eólicos podem basicamente ser de dois tipos: de eixo horizontal com pás em hélice, o mais utilizado em instalações de grande porte em torres, e os de eixo vertical, com pás em lâminas aerodinâmicas atadas aos eixos nas pontas, normalmente instalados próximos ao solo.”Um dos principais entraves à disseminação dos geradores eólicos no mundo é o seu alto custo de implantação, em torno de US $ 1 mil por kW instalado, uma vez que muitas vezes são construídos em locais de difícil acesso, isolados, ou até mesmo no mar”. Os custos de operação, entre US$ 5,00 e 10,00 por kWh produzido (quanto maior a instalação, menores os custos por unidade de energia produzida), mesmo quando as instalações estão próximas aos locais de consumo, seria superior ainda ao custo da energia elétrica servida na rede de distribuição, entre US$ 2,00 e 4,00 por kWh.

Estudos detalhados de mecânica dos fluidos e de aerodinâmica passam a fazer parte do conjunto de disciplinas necessárias ao projeto de arquitetura. De fato, edifícios altos, mesmo em regiões de grande adensamento urbano, tendem a ter bom potencial para aproveitamento da energia cinética dos ventos, principalmente a partir dos 100 metros de altura, equivalente a pouco mais que 30 andares, o que inclui boa parte dos novos edifícios de muitas grandes cidades do mundo. Para Macêdo, dificilmente, no entanto, serão capazes de se tornarem autônomos, ainda que se integrem diferentes fontes de energia, como solar e eólica, mas vale pela elevação da eficiência energética, pela redução da demanda de energia nos edifícios e das emissões de CO2, e principalmente vale pelo exemplo da arquitetura, da ciência e da tecnologia, apresentando soluções pontuais para problemas globais.“Está surgindo uma nova arquitetura, diversificada, rica, inteligente, consciente, eficiente, incorporada desde a fundação dos mesmos bons e velhos conceitos que sempre a orientaram, mas dos quais se havia distanciado. É a “boa e velha arquitetura do século XXI”, conclui.

Turbinas fornecem energia do BWTC

O Bahrain World Trade Center (BWTC) é o primeiro prédio comercial no mundo a incorporar em larga escala turbinas eólicas na sua concepção, aproveitando a energia eólica. O empreendimento, situado na capital do Bahrein, Manama, possui três turbinas eólicas que medem 29 metros de diâmetro, apoiadas em pontes entre as duas torres do BWTC. Simha LytheRao, gerente de projeto da Atkins, explica que a própria estrutura das torres, sua posição e design aerodinâmico criam um funil que canaliza diretamente para a zona das turbinas a brisa existente na costa do Golfo Pérsico, ajudando a gerar uma maior eficiência energética.

Pelo projeto do escritório Atkins Architects and Engineers, espera-se que as turbinas venham a suprir de 11% a 15% das necessidades energéticas do BWTC, reduzindo as emissões de carbono na atmosfera. O complexo fica no centro financeiro e empresarial de Manama. O BWTC inclui duas torres gêmeas em formato de vela, com 50 andares cada, um hotel Sheraton cinco estrelas e o Moda Mall, mais sofisticado shopping center do Bahrein, com cerca de 160 lojas.

O papel do arquiteto

A arquiteta e urbanista Karen Axelrud Sondermann, diretora da Axelrud Arquitetura & Assessoria, gerencia a divisão de arquitetura e desenvolve projetos nas áreas residenciais, comerciais, hotelaria, shopping centers e médico-hospitalares, acredita que, para incorporar o uso de tecnologias de geração de energia alternativa em um projeto de arquitetura, deva-se somar uma série de esforços, que perduram por todo o processo de projeto, seja qual for sua finalidade. Porém, para ela, essencial é iniciar através de uma correta conceituação, analisando alternativas desde a fase inicial dos estudos.

“Desta forma pode-se obter um resultado íntegro, que contenha as tecnologias como parte de um todo da edificação para que o projeto não tenha elementos agregados, posteriores”. A arquiteta aponta que muitas condições podem ser pensadas desde o princípio e de forma favorável quanto à questão da forma da edificação, sua orientação, condição de ventos, insolação, e demais questões ambientais, buscando um equilíbrio destes fatores com a arquitetura do prédio, formando um sistema integrado, não do tipo corretivo: “acredito na importância do papel do arquiteto na alavancagem destas propostas. É peça chave, interface plenamente presente, profissional de concepção, com condições de propor o uso de novas tecnologias, oferecendo possibilidades, defendendo e traduzindo estes conceitos através de seu processo projetual”.

Incentivo do governo

Frederico Dantas, Gerente Comercial da Tuma Industrial, destaca a tecnologia de aquecimento de água para uso sanitário por energia solar. Dantas relata que as três esferas de governo têm procurado incentivar o uso dos aquecedores solares com isenção de alguns impostos e com legislações que estimulem e, em alguns casos, obriguem sua aplicação. Em sua opinião, um dos maiores desafios para o crescimento deste mercado é a capacitação de uma quantidade maior de técnicos da área. “Neste ponto o poder público pode, mais uma vez, colaborar, e a grande geração de empregos diretos e indiretos justifica um investimento nesta qualificação, sendo que este desafio é também de países desenvolvidos, onde o uso do aquecimento solar também tem crescido paulatinamente”.

O engenheiro mecânico Luciano Torres Pereira, diretor técnico da Soletrol Tecnologia, afirma que o sistema de aquecimento solar de água é facilmente incorporado aos projetos de arquitetura e engenharia, uma vez que os mesmos serão planejados já com o uso de aquecimento solar para a edificação. Portanto, todo o dimensionamento é feito no projeto, assim como os dimensionamentos para a parte hidráulica, por exemplo.Pereira considera viável a instalaçãodo sistema, visto que a economia de energia na geração de água quente poderia retornar os gastos com sua implantação em média entre 24 e 36 meses.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Saiba como foi a Missão Técnica Green Buildings em Nova York











Saiba como foi a Missão Técnica
Green Buildings Nova York 2008

Por Arq. Antonio Macêdo Filho

Dia 1 (14/06/08):

Desde quando eu e Raquel estivemos em Nova York em 2007, nesta mesma época do ano, nossa expectativa em relação à Missão Técnica que faríamos no ano seguinte já se anunciava. Havia muito que ver. Muitos preparativos depois, às vésperas da viagem estávamos com as vagas disponíveis esgotadas e um grupo de alto nível reunido.

No final da tarde de um sábado de temperatura amena em São Paulo, a maior parte do grupo compareceu com antecedência apropriada ao aeroporto internacional de Guarulhos para o embarque com destino a Nova York. Já no check-in, todos foram recepcionados por mim, pela Raquel e também pela Isabela, da operadora de turismo. Receberam orientações e material sobre a missão técnica, bem como nosso Guia de Viagem Nova York 2008 e outros materiais para ler e consultar durante o vôo. Entre as 30 pessoas que embarcaram em São Paulo, 11 eram estudantes de arquitetura da Belas Artes e os demais profissionais arquitetos e engenheiros de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Em Nova York, juntaram-se ao grupo duas arquitetas do Paraguai, um casal de construtores da Espanha, e também dois engenheiros do Rio Grande do Sul.

Dia 2 (15/06/08):

O vôo da American Airlines havia saído com atraso de São Paulo, mas não tivemos problemas em nossa chegada. Nova York estava tranquila naquela manhã de domingo de primavera, quase verão. Um ônibus nos aguardava para nos levar ao hotel em Manhattan, próximo ao Empire State Building.

Após nos acomodarmos, muitos aproveitaram o tempo livre para visitar alguns dos principais cartões postais da cidade, como o Flatiron Building, a Times Square, alguns subiram no topo do Empire State enquanto outros foram conhecer os ricos e completos acervos dos principais museus da cidade. À noite, um jantar informal no Pier 17 aproximou as pessoas que começavam a se conhecer, em ambiente descontraído.

Dia 3 (16/06/08):

Acordamos cedo. Após reunião no lobby do hotel e dadas as coordenadas pela Raquel, saímos para Battery Park City, em Downtown. O dia se iniciou com a vista da Estátua da Liberdade e começamos por ali a explorar a ilha, a partir do mesmo local por onde chegaram colonizadores e também milhares de imigrantes.

Após explanação, feita por um guia turístico brasileiro, a respeito da história da chegada dos imigrantes em Nova York e da tragédia de 11 de setembro de 2001, dois fatos marcantes da área, seguimos para o The Skyscrapers Museum, que gentilmente abriu nesta segunda-feira exclusivamente para receber a nossa missão, de forma a encaixar em nossa agenda do primeiro dia de visitas, como introdução ao que veríamos naquela semana.

Lá tivemos uma apresentação ricamente ilustrada a respeito da evolução urbana de Nova York e seus arranha-céus, passando pelos conceitos urbanísticos do século XIX, que nortearam a corrida para o alto das primeiras décadas do século XX, indo até as recentes torres de escritórios verdes.

Saindo do The Skyscrapers Museum seguimos em caminhada pelo Battery Park City, região ao lado do distrito financeiro que foi tomada ao rio Hudson, com administração independente do município e que segue uma legislação própria de construção que obriga que os projetos de novas edificações obedeçam a claros requisitos de sustentabilidade.

Atendendo a estes requisitos, os novos edifícios da área naturalmente passaram a mirar a certificação LEED. O primeiro desta nova safra, o The Solaire, foi o primeiro edifício residencial certificado dos EUA (atingiu LEED ouro), tendo os seus projetistas e incorporadores inclusive colaborado para a criação da categoria residencial do programa do USGBC.

Visitamos o The Solaire com acompanhamento de profissionais de administração do edifício que nos receberam gentilmente e nos mostraram os equipamentos e características de projeto do empreendimento que garantiram a certificação, como os sistemas de fotovoltaicos em suas fachadas e cobertura, o teto verde, equipamentos de ar condicionado e sistema de coleta e reuso de água.

Visitamos ainda um dos apartamentos prontos, que são locados por valores acima da média do mercado local. É um residencial elegante, localizado ao lado do distrito financeiro mais importante do mundo, mas com uma qualidade de vida urbana rara em Manhattan.

Do alto do The Solaire pudemos observar os demais edifícios do condomínio. Em um deles, um conjunto de espelhos colocados na cobertura acompanha o percurso do sol, direcionando-o para um jardim, no térreo do edifício vizinho, garantindo luz natural durante todo o ano naquela área de lazer. Uma solução que pode parecer um tanto exagerada, mas não por isto desinteressante.

Foi muito elucidativa a explanação, feita por um engenheiro que acompanhou a obra e administra o The Solaire, a respeito dos sistemas de tratamento e reuso de água, capazes de proporcionar grande economia para os condôminos e menos impacto para os esgotos da cidade. Pudemos visitar a área onde estão instalados os equipamentos e constatar pessoalmente a qualidade da chamada água cinza.

Após a visita, deixamos a região do Battery Park City e fomos até a região do Village onde à tarde fomos recebidos no AIA – American Institute of Architects em seu Center for Architecture. Lá assistimos primeiro a uma palestra apresentada exclusivamente para o nosso grupo por um engenheiro do USGBC-NY, US Green Building Council – New York, sobre o programa LEED, lançado em 2000 nos EUA e que em Nova York originou uma espécie de corrida pela certificação entre os novos empreendimentos, cada um buscando ser o primeiro, o melhor, o maior, o mais “verde”. Já havíamos conhecido o The Solaire naquela manhã e durante aquela semana teríamos ainda oportunidade de conhecer de perto outros Green Buildings.

Em seguida assistimos ainda a uma apresentação oferecida pelo AIA sobre os projetos vencedores de um concurso promovido por eles no ano passado sobre Arquitetura Sustentável. Ficou claro na apresentação, feita por um arquiteto que participou do concurso, que a sustentabilidade da arquitetura e da construção vai muito além das certificações e que estas são um caminho, talvez um bom atalho, tomado principalmente por empreendimentos que dependem do marketing imobiliário, mas não são solução para todos as questões.

Foi também igualmente interessante perceber que temos também no Brasil bons projetos e projetistas que poderiam muito bem ser premiados em um concurso como aquele. Alguns destes profissionais estavam ali em nosso grupo.

No final da tarde ainda pudemos conhecer um edifício residencial que atende basicamente a estudantes da NYU, cujos campi se espalham pela região, onde o proprietário instalou um grande sistema de aquecedores solares na cobertura do edifício com mais de 100 anos de uso. O sistema, além de servir água quente para banho, ainda abastece os radiadores dos apartamentos, nos dias de inverno. Interessante saber pelo engenheiro indiano que nos recebeu que a água que circula nos coletores trabalha em circuito fechado, trocando calor em um trocador específico com a água servida, diferentemente dos nossos sistemas, cuja água de consumo é a que passa pelas placas solares.

Com isto concluímos o programa oficial do primeiro dia de visitas desta missão técnica Green Buildings em Nova York. Mas estava só começando...

Dia 4 (17/06/08):

Com o grupo reunido no lobby já após o café da manhã, seguimos para o Javitz Convention Center, local da feira Buildings NY que estava abrindo naquele dia. Lá fomos recebidos numa sala VIP, de onde, após recebermos nossas credenciais, fomos visitar a feira. A maior parte do grupo, no entanto, antes assistiu a uma palestra de um arquiteto titular de um grande escritório responsável por muitos projetos certificados LEED em Nova York.

A feira não era muito grande, mas passou a impressão de muitos negócios pareciam ser feitos ali. Judeus ortodoxos, latino-americanos e norte-americanos de todas as partes, em empresas de diversos segmentos disputavam o dinâmico mercado de construção e reabilitação de edifícios na cidade.

À tarde, nos encontramos em Downtown para visitar um importante escritório de arquitetura, responsável por muitos projetos sustentáveis, inclusive o 1, Bryant Park, primeiro edifício de escritórios certificado LEED Platina dos EUA e maior Green Building do mundo. O próprio escritório, localizado em um edifício do século XIX, foi certificado LEED Platina para os seus interiores.

Os profissionais que nos receberam se esforçaram em apresentar a filosofia verde que eles buscam imprimir a cada projeto. Mesmo no dia-a-dia do escritório, percebe-se a busca da sustentabilidade em todos os processos. Pelas janelas se vê uma grande cobertura verde, do lado de fora do escritório, que ajuda a lembrar a todos como devem trabalhar ali.
Ficou claro que a preocupação com todos os detalhes é fundamental na busca da sustentabilidade e que a certificação LEED Platina não é fácil de ser alcançada, mas é possível, com a integração de diversas estratégias de projeto, tecnologias e, naturalmente, recursos.

Após a visita, algumas das minhas alunas comentaram que gostariam de trabalhar em escritório como aquele, outros colegas comentaram que queriam ter clientes como aqueles, todos tinham algo a comentar. Foi mesmo muito interessante a visita.

Com isto fechamos a programação de terça e como já era final de tarde, o grupo se dispersou por Downtown. Alguns foram jantar no Meatpacking District, região onde antes havia muitos açougues (daí o nome) e hoje em dia de animada vida noturna e com bons restaurantes.

Dia 5 (18/06/08):

Pela manhã fomos até o City Hall (prefeitura) e seguimos para o Ground Zero, onde tínhamos agendado uma visita ao 7, World Trade Center, primeira das novas torres do complexo a ficar pronta e primeiro Green Building certificado LEED Ouro de Nova York, projetado pelo SOM. O edifício original do 7 WTC também veio a desabar na tarde de 11 de setembro de 2001, destruindo a sub-estação de energia da Edison Co. que abrigava, motivo pelo qual sua reconstrução se tornou prioritária.

Fomos recebidos no 7, WTC por representantes da incorporadora, que é proprietária de quatro das cinco novas torres do complexo do WTC. Após breve apresentação do projeto, subimos para conhecer os escritórios das equipes de projeto das novas torres do World Trade Center, de onde, em meio a maquetes, plantas e perspectivas, pudemos ter uma visão privilegiada das obras no Ground Zero, e tivemos a oportunidade, um verdadeiro privilégio, de observar uma reunião dos coordenadores de projetos, das equipes dos escritórios Norman Foster, Richard Rogers e Maki além da incorporadora, discutindo detalhes técnicos das novas torres, cujas obras se desenvolviam algumas dezenas de metros abaixo. De certa forma, estávamos acompanhando ao vivo a história sendo escrita. Fascinante.

Mas o mais impressionante ainda estava por vir. Saindo do pavimento do WTC Design Team, subimos ao 52º e último andar do 7 World Trade Center, ainda desocupado, de onde tivemos uma espetacular visão 360º de toda a cidade a partir de Lower Manhanttan. A Estátua da Liberdade, Staten Island, New Jersey, Brooklin Bridge, Chrysler Building, Empire State Building, além é claro do Ground Zero logo abaixo, todos os principais os marcos arquitetônicos de Nova York estavam visíveis desde ali.

Alguns chegaram a se emocionar ao lembrar que milhares de pessoas perderam a vida naquele lugar, naquele fatídico dia que ficará marcado para sempre na memória de todos, assim como possivelmente também ficará este dia em que tivemos a oportunidade, muito provavelmente única, de ter acesso a este lugar também singular. Foi de fato e literalmente um dos pontos altos desta nossa visita a Nova York.

A partir daí, o grupo ficou livre para voltar à feira ou se dedicar a interesses pessoais (para muitos, compras).

Dia 6 (19/06/08):
Neste dia, logo cedo fomos à nova sede do New York Times Building, para mais uma visita técnica exclusiva. Fomos recebidos no lobby por representantes da equipe de arquitetura de interiores contratada pelo New York Times para desenvolver os seus escritórios juntamente e desde o início dos trabalhos de arquitetura do escritório Renzo Piano.

O sistema de brises que recobre toda a fachada, escondendo uma torre com muro cortina de vidro, foi desenvolvido especificamente para o edifício e utiliza um inusitado sistema de tubos cerâmicos que, ao tempo em que evita o excesso de calor, permite boa iluminação natural.

Com luz natural em boa parte da área dos escritórios, um sistema automatizado controla e regula a intensidade da luz artificial em toda a periferia do edifício, de forma dinâmica.

Os sistemas de iluminação utilizam em todos os pavimentos as recém lançadas lâmpadas fluorescentes T2, menores, mais eficientes e duráveis que as T5 e T8, em luminárias também desenhadas especificamente que comportam o retorno do ar condicionado. Os forros recebem ainda os sistemas de sprinklers, que ficam embutidos, sensores da automação, a sonorização e sinalização de emergência.

Os acabamentos dos interiores de escritórios também impressionaram pela qualidade e elegância.

Saindo do NY Times, fomos até a Times Square, onde fiz uma breve apresentação dos primeiros Green Buildings de Nova York, o Condé Nast e o Reuters Building, que são anteriores à certificação LEED.

Seguimos para visitar o Bank of America Tower, o ponto mais alto da viagem, ao menos literalmente. A vista do topo da torre, mais alta que o Chrysler Building e quase tão alta quanto o Empire State, após a subida de 280 metros em um elevador de obra externo, de fato impressiona.

Tivemos oportunidade de conhecer as entranhas do primeiro LEED Plantina dos EUA, em conclusão de obra, já com equipamentos instalados, inclusive o impressionante sistema de ar condicionado, que com filtros enormes são capazes de oferecer aos usuários ar com qualidade de centro cirúrgico. Mesmo após ser utilizado no prédio, em sistemas de insuflamento pelo piso, o ar será devolvido ao exterior mais puro do que antes, e assim, o edifício se converterá em um filtro gigante para a cidade, inclusive em relação aos níveis de CO2.

No teto haverá uma cobertura verde (naturalmente pequena em relação ao tamanho do edifício) que captará água da chuva para reuso do edifício.
O edifício será integrado em seu sub solo a duas estações de metrô, o que facilitará o acesso sem a utilização de veículos de transporte individual.

Suas fachadas utilizam vidros low-e e vidros com lâminas fotovoltaicas em diferentes orientações e alturas, sempre permitindo ampla iluminação natural em todos os pavimentos de escritórios.

Os melhores Green Buildings estão de fato cada vez mais se parecendo com as próprias plantas, quanto à sua interação com o meio, coletando a água da chuva para próprio consumo, a energia do sol para produzir energia e purificando o ar ambiente com a sua respiração. Este é o exemplo que está dando o Bank of America Tower.

Bons exemplos também foi o que encontramos numa visita à tarde ao escritório responsável pela elaboração do NY Green Map, completo e complexo levantamento de tudo que há em Nova York, que se pode chamar de sustentável, muito além da arquitetura, embora sua criadora seja também arquiteta.

Foi uma experiência interessante conhecer este lado puro e fundamental da sustentabilidade, dos movimentos de comunidade, da reciclagem de bicicletas, dos jardins que os moradores cuidam, dos edifícios básicos, mas eficientes, que simplesmente precisam racionalizar o uso dos recursos. Estes edifícios não precisam de certificação.

A visita serviu também para apresentar um contra ponto, uma outra visão, para nos lembrarmos de que a sustentabilidade não se refere apenas a grandes e high-tech green buildings, mas pode ser buscada e vivida por todos, em diferentes realidades.

Já no final da tarde, chegamos ao SOM - Skidmore, Owings & Merryl, na região de Wall Street, possivelmente o maior escritório de arquitetura do mundo, com projetos em todos os continentes.

Fomos recebidos para uma visita exclusiva na qual nos foram apresentados dezenas de projetos que o escritório desenvolve em todo o mundo, muitos dos quais certificados.

Muitos se surpreenderam com a naturalidade com que grandes números e cifras são tratados. Alguns projetos apresentados, para a Coréia do Sul e Emirados Árabes, por exemplo, eram de fato impressionantes.

O escritório tem também projetos no Brasil, três grandes edifícios de escritórios em São Paulo. Em Nova York, dentre os mais recentes destaca-se o 7, World Trade Center, que tínhamos visitado no dia anterior, e a Freedom Tower, mais alta e imponente torre dos novos edifícios do World Trade Center, cujas obras começam a sair do chão, como também vimos in loco.

Assim encerramos mais um dia intensa programação.

Dia 7 (20/06/08):

Logo no início da manhã fomos recebidos com um café da manhã no escritório pela equipe que desenvolveu os projetos dos interiores do New York Times Building, que nos apresentou uma série de projetos de arquitetura e de interiores, desenvolvidos para diversas partes do mundo.

A empresa colocou-se à disposição para receber estudantes de arquitetura brasileiros em seus elegantes escritórios no Rockfeller Center.

Após a visita, fomos até a Park Ave, onde conhecemos obras de retrofit de fachadas com a colocação de películas em vidros, em visita oferecida pela 3M.

Em um dos casos, o edifício do JP Morgan Chase Bank, o investimento de 1 milhão de dólares na instalação de filmes nas quatro fachadas, provocou redução de 50% da carga térmica do edifício reduzindo o consumo de energia e levando ao retorno do investimento em apenas 24 meses. Pode ser uma boa solução para muitos edifícios existentes, inclusive no Brasil.

À noite, nos reunimos em um bom restaurante de comida italiana para o jantar de confraternização do grupo. Uma longa mesa com muitas garrafas de vinho denunciavam que novos amigos se haviam conhecido.

Dia 8 (21/06/08):

No sábado tivemos a manhã livre para as lembranças de última hora e à tarde fomos ao JFK para tomar o vôo de volta para São Paulo, a maioria, pelo menos. Alguns foram para outras cidades dos EUA, outros foram para a Espanha, outros ainda ficaram em Nova York.

Em comum a sensação era de que havíamos de fato tido uma semana intensa, rica e cheia de experiências. Tantas que parecia até que aquela primeira visita da segunda-feira no The Skyscrapers Museum havia passado há muito tempo, e não apenas há cinco dias.

Nesta missão técnica Green Buildings em Nova York 2008 tivemos oportunidade de ver e visitar grandes casos de arquitetura sustentável, alguns deles Green Buildings expoentes mundiais, edifícios do mais alto nível, mas também bons edifícios comuns, e até reformas. Vimos o high-tech e o low-tech. Vimos feira de construção e vimos green markets. Visitamos os primeiros vencedores da corrida pela certificação, tivemos acesso a locais e edifícios que de outra forma não teríamos, conhecemos pessoas e locais interessantes.

Como imaginávamos, foi mesmo uma semana e tanto...

Até a próxima!

Arq. Antonio Macêdo Filho

(cadastre-se pelo http://www.ecobuilding.com.br/ para receber informações sobre as próximas Missões Técnicas Green Buildings em Nova York, além de outras visitas guiadas e missões, além dos cursos regulares da EcoBuilding)




terça-feira, 22 de julho de 2008

Norman Foster: Building on the green agenda


Eu recomendo que dediquem algum tempo para ouvir o renomado arquiteto inglês, pioneiro da chamada "Green Architecture":

Norman Foster: Building on the green agenda
Palestra apresentada durante a DLD Conference em Munique, Alemanha, em janeiro de 2007.

http://www.youtube.com/watch?v=jNgkEGs1l4A
(video em inglês - duração: aprox.: 32 min.)

The Solaire, Battery Park City - Nova York

Assista a videos (em inglês) a respeito do The Solaire, primeiro edifício residencial certificado LEED nos EUA (2003), na região de Battery Park City, no distrito financeiro de Nova York. O edifício foi um dos que visitamos na I Missão Técnica Green Buildings em Nova York, em junho de 2008.





Link para video no You Tube:
http://www.youtube.com/watch?v=Y4qAwBQJPoo


Para saber quando ocorrerão as próximas Missões Técnicas relacionadas à Construção Sustentável e outras, consulte: http://www.ecobuilding.com.br/ e http://www.arqtours.com.br/. Cadastre-se para que possamos mantê-lo(a) informado(a).

Sustentabilidade na Metrópole

Sustentabilidade na Metrópole, A Nova Arquitetura de Nova York

(Texto extraído do Guia de Viagem Green Buildings em Nova York, elaborado por mim e pela Arq. Raquel Palhares para orientar os participantes da Missão Técnica de mesmo título, realizada em junho de 2008)

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NY Times Building e 7, World Trade Center, dois dos novos Green Buildings de NYC, edifícios visitados nesta missão técnica.

Nova York é uma cidade que em muitos sentidos é uma ilha. Geograficamente, Manhattan, a principal das quatro ilhas da Grande Nova York, uma das mais densamente habitadas do mundo, é também considerada o coração financeiro do planeta. NYC é também frequentemente palco de inovações e acontecimentos sócio-culturais-tecnológicos que muitas vezes têm o poder de mudar o mundo.


Desde séculos atrás, quando Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica e a iluminação pública a eletricidade, Elisha Otis inventou o elevador para pessoas, Henry Ford inventou a linha de produção em série, Jonh D. Rockfeller Jr. deu o impulso internacional ao nascente capitalismo, passando pelos primeiros arranha-céus e pelas primeiras torres de vidro propostas por Le Corbusier e Mies van Der Rohe, a cidade de Nova York tem servido de celeiro para inovações de impacto global.

Neste início do século XXI, Nova York está se preparando para mais uma vez tomar a liderança ao se tornar também uma referência mundial em construção sustentável, com muitos novos edifícios projetados sob os conceitos de eficiência e uso racional dos recursos. Muitos são edifícios certificados verdes, para atender a clientes de interesses e atuações internacionais com elevados padrões de exigências, porém, muitos outros mais não visam a certificação, mas adotam técnicas e tecnologias interessantes e úteis para se atingir os mesmos objetivos e contribuem para transformar Nova York na capital mundial dos Green Buildings.

Nesta Missão Técnica Green Buildings em Nova York, estamos presenciando - com vista privilegiada, de perto e por dentro - ao surgimento de um novo modo de pensar e fazer edifícios. Estamos vivendo e fazendo a história da Arquitetura em tempo real. Estamos vendo surgir a Arquitetura do século XXI.

Saibamos ter a sabedoria para valorizar e aproveitar estas oportunidades, para que também nossa prática seja mais sustentável, para benefício de todos.

Vale lembrar que no Brasil, especialmente em São Paulo, que em certo sentido é também uma ilha e guarda muitas similaridades com Nova York, estamos acompanhando bem de perto as tendências nesta área e muitos de nós, e também nossos colegas, estamos todos atuando ativamente na produção dos primeiros Green Buildings brasileiros, que já estão sendo concluídos.

A atuação do recém criado Green Building Council Brasil tem sido aplaudida internacionalmente, muito por conta também da força do crescimento do mercado da construção nacional e do trabalho de profissionais competentes e bem informados.

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Central Park. Ao fundo, a torre Hearst.

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Greenmarkets: mercados de produtos orgânicos estão se popularizando. O mais famoso é o da Union Square, ás quartas, sextas e sábados.

Para quem vê de fora, Nova York pode parecer o perfeito cenário oposto à sustentabilidade. Com seus cânions artificiais de concreto, aço e vidro, Nova York não é normalmente associada a movimentos ambientais. Contudo, com seus edifícios de escritórios e apartamentos e até estacionamentos multi pavimentados e seus eficientes sistemas de transporte público, o consumo de energia por habitante é dos menores dos EUA. Se a cidade de Nova York fosse o 51º estado dos EUA, teria 12ª maior população e seria o último em consumo de energia.

O adensamento urbano facilita o compartilhamento dos serviços públicos, o que faz com que cada habitante de Nova York utilize individualmente menos recursos e energia, por exemplo para se deslocar para o trabalho, do que a maioria dos americanos que habitam outras cidades.

A cidade tem incorporado por muito tempo muitos dos chamados princípios “verdes”. Além do transporte público, a coleta seletiva de lixo funciona e a população em grande parte colabora para isto. Também o Central Park é uma grande bolsa verde que ajuda a reduzir os efeitos da ilha de calor.

Nos últimos anos, os “Greenmarkets” vêm se popularizando em NY, e muitas fazendas estão aderindo à agricultura de produtos orgânicos. Participam também destas feiras, pequenos agricultores locais, cujas fazendas ficam próximas a Nova York, o que também é valorizado, pelo pouco deslocamento sofrido pelas mercadorias até chegar ao consumidor final.

Em relação à arquitetura, muitos projetos dos primeiros arranha-céus utilizavam a massa térmica para reter calor e os edifícios não dispunham de condicionamento artificial de ar. Porém, nos anos 50, mudanças no zoneamento e o uso intensivo do ar condicionado possibilitaram a construção de gigantes caixas de vidro com janelas inoperáveis nas quais as pessoas, geralmente trabalhadores de escritórios, como se dizia então, “não mais tinham de lidar com o incômodo do vento e da luz do sol”. São edifícios que consomem grande quantidade de energia e combustíveis fósseis.

Os sinais de que as atitudes que criaram tais edifícios estão mudando apontam para alguns novos edifícios que têm sido construídos recentemente na cidade. A torre de escritórios na Times Square nº 4, conhecida como Condé Nast Building, nome da empresa que a ocupa, deu o exemplo: um "projeto ambiental consciente", que prevê circulação de 50% mais ar pelo edifício do que é exigido pela lei, que utiliza células fotovoltaicas em sua fachada e materiais de limpeza atóxicos.

O Condé Nast e o seu vizinho, o 3 Times Square, novo Reuters Building, deram a direção para onde a arquitetura do séc. XXI deveria seguir. O caminho da sustentabilidade da arquitetura.

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Condé Nast Building: Duas fachadas com tratamento diferenciado uma da outra: na Times Square, incorpora a agitação e movimento da área, a outra, na 42th Street, é mais sóbria e com características de outros edifícios de Midtown

Não há contestações. A sustentabilidade dos edifícios é a base para a sustentabilidade das cidades, que, por sua vez, é a base para a sustentabilidade do planeta, já que a maior parte da humanidade vive nelas.

E se há algo que Nova York está habituada a fazer é definir tendências. O mercado imobiliário da cidade percebeu a importância de se construir de forma sustentável e a certificação LEED passou a ser considerada importante medidor de sustentabilidade de empreendimentos.

O que se está verificando neste início de século é uma verdadeira corrida pela certificação, uma nova competição para ver quem chega primeiro, quem será o melhor. Pode-se contar hoje em Nova York dezenas de projetos certificados LEED concluídos e muitos mais em processo. Alguns dos quais são grandes e importantes edifícios comerciais, outros públicos ou residenciais. A certificação ambiental parece estar se tornando, além de uma tendência, uma condição necessária ao sucesso de um empreendimento, especialmente aqueles que pretendem transmitir uma imagem de responsabilidade e compromisso com o ambiente às empresas e pessoas que os ocupam.

To LEED or not to LEED

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Edifício 1.400, 5th Ave.

Mas, se os primeiros grandes empreendimentos comerciais verdes não precisaram da certificação LEED (Condé Nast, Reuters Building, New York Times Building) muitos outros casos de edificações menores, sem dúvida também não.

O pequeno edifício de oito andares na 5ª Avenida, nº 1400, em East Harlem, não é luxuoso: dois terços de seus 128 apartamentos são reservados para compradores com rendimentos anuais entre US$ 53.000,00 e US$ 103.000,00, mas o edifício é considerado um dos projetos urbanos mais sustentáveis dos EUA. “Todos merecem habitações construídas de maneira que sustente o ambiente" diz Carlton Brown da Full Spectrum New York, incorporadora do edifício. Para alcançar este resultado, Brown parte da premissa de que desperdício custa dinheiro. Janelas bem isoladas, firmemente seladas, permitirão um sistema de aquecimento e refrigeração menor e menos potente. Enquanto a maioria dos construtores faz suas paredes no canteiro de obras, Brown usa paredes pré-fabricadas. Também utiliza steel frame de aço reciclado de pouco peso, que permite que se utilize menos alvenaria. Tais práticas consomem menos material do que os métodos convencionais de construção e produzem menos entulho, o que facilita a operação de descarga e o destino final, e menores custos.

Com esse dinheiro, diz Brown, "você pode reinvestir naquelas áreas que custarão um pouco mais" como materiais reciclados ou reutilizados ou o uso de um sistema mais eficiente de condicionamento ambiental (No 1400 da 5ª Ave. o sistema de aquecimento e refrigeração utiliza uma bomba de calor geotérmico, um dispositivo que aproveita a temperatura da terra, relativamente constante, mais fresca do que o ar no verão e mais quente no inverno).
Considerando-se toda a eficiência energética, o 1400, 5ª Ave. espera consumir mais de 70% menos energia do que um edifício multi-familiar comparável. "No final, os custos praticamente batem", diz Brown: "Ambientes sustentáveis podem ser construídos para todas as faixas de renda"

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The Solaire, primeiro edifício residencial certificado LEED em NYC.

A arquiteta novaiorquina Chris Benedict tem desenvolvido projetos de recuperação e retrofit de edifícios residenciais em Nova York, sempre com foco no uso eficiente da energia. Seus prédios novos e reformas não são certificados, mas o sistema de controle da circulação e troca de ar entre os apartamentos e o exterior que desenvolveu, que precisou de uma licença especial da prefeitura para poder ser implantado, mereceu uma série de publicações, inclusive internacionais, e uma premiação está por ser conquistada.

A arquiteta esteve em São Paulo em maio de 2008 apresentando seus projetos em um congresso de arquitetura sustentável e comentou que muitas soluções para isolamento térmico e ventilação passiva que propõe para seus projetos podem muito bem ser adotadas, com adaptações, às nossas construções.

People, Planet and Profit

Mas os custos permanecem sendo o interesse principal. Enquanto os incorporadores do 1400 da 5ª Ave. dizem que o projeto não custará mais do que um edifício convencional, o The Solaire custou de 8% a 14% mais do que um edifício convencional do mesmo tamanho. No entanto, seu incorporador, Russell C. Albanese, disse recentemente ao New York Times que os 293 apartamentos são alugados por aproximadamente 5% a mais do que o valor de mercado.

Os Green Buildings vingarão se conseguirem manter os seus investimentos rentáveis. Pesquisa recente feita por Roper ASW verificou que poucos americanos estão de fato dispostos a pagar mais para consumir produtos ditos sustentáveis, ou environmentally friendly, inclusive e principalmente edifícios. As pessoas continuarão a priorizar a localização, a planta do apartamento, proximidade de escolas e áreas de lazer ao invés de acabamentos atóxicos ou eficiência energética na hora da compra de um imóvel.

Parece claro que este é o desafio a partir de agora para os Green Buildings. A construção, para ser mesmo sustentável, não pode deixar de também atender aos requisitos do tripé da sustentabilidade: é preciso atender aos aspectos sociais, ambientais e econômicos. É a tríade dos P´s, em inglês: People, Planet e Profit.

Big & Green

Mas, o que não falta em Nova York é empreendedorismo. E capital. Dois dos principais ingredientes necessários para se vencer grandes desafios. Nova York é, por essência, uma cidade de superlativos e seus grandes edifícios cumprem grandes metas e causam grandes impactos.

De sedes de grandes corporações, edifícios de escritórios multi-usuários, de usos mistos a edifícios institucionais e residenciais, Nova York está “construindo verde”. Estas práticas sustentáveis contemplam o clima local, a cultura e a economia da cidade. São provas de que a cidade pode ser melhor.

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Conjunto de edifícios sustentáveis no Battery Park City. No destaque dado pelo sol, o The Solaire.

Uma nova safra de grandes Green Buildings está pipocando pela cidade. Estes edifícios representam a ponta da lança tecnológica em termos de eficiência energética e responsabilidade ambiental e sinalizam por onde deve seguir o futuro da construção sustentável de grandes edifícios.

A menos de uma década, o Condé Nast Building, projetado pelo escritório local Fx Fowle Architects, era visto como um experimento visionário e um fiasco financeiro. Hoje a indústria da construção se orgulha de estar produzindo edifícios semelhantes ou melhores, que utilizam recursos como o Condé Nast e buscam obter a certificação LEED, considerada um importante diferencial de mercado.

Mas, como as torres verdes tomaram Manhattan, o metro quadrado mais caro dos EUA (um dos mais caros do mundo), onde grandes obras podem custar 1 bilhão de dólares?

Os pioneiros arquitetos, engenheiros, investidores e clientes esclarecidos são a chave para o sucesso. Eles apostaram em tecnologias avançadas, especialmente em sistemas de fachadas e de condicionamento ambiental, em eficiência energética e no uso de energias renováveis, para promover a qualidade do ar, o conforto e a saúde dos ocupantes, o que veio também a abrir novas possibilidades estéticas para os edifícios e, fundamentalmente, uma nova demanda de mercado.

Ainda assim, Nova York pode ser melhor se definir padrões mais rigorosos para a construção sustentável. Arranha-céus podem se tornar máquinas inteligentes que contribuam para criar ambientes interiores mais saudáveis e uma cidade mais sustentável.

Os Green Buildings de Nova York podem oferecer um modelo para o futuro de cidades de todo o mundo.

Como funciona o LEED

LEED, Leadership in Energy and Environmental Design, é um sistema de avaliação e certificação ambiental voluntário de edificações promovido pelo USGBC – United States Green Building Council (Conselho Estadunidense para Construção Sustentável). O USGBC (fundado em 1993) começou a desenvolver o LEED em 1994, mas somente em março de 2000, em um programa piloto, os primeiros edifícios foram certificados na versão 1.0 do sistema. Apenas dois meses depois foi lançada a versão 2.0 e em 2002 entrou em vigor a versão 3.0, que está sendo utilizada atualmente.

O LEED avalia o desempenho ambiental de um edifício inteiro e seu ciclo de vida, fornecendo um parâmetro para classificação de um edifício verde de acordo com seis categorias: sustentabilidade do local; eficiência no uso da água; eficiência energética; materiais e recursos; qualidade do ar; e inovação e processo de projeto. Os edifícios podem ser considerados certificados, prata, ouro ou platina em função da pontuação atingida em uma escala de créditos somados em função das características de projeto e desempenho do edifício.

Antes, porém, para serem registrados para o LEED, os projetos precisam atender a uma lista de pré-requisitos obrigatórios, que definem níveis mínimos de qualidade e eficiência. Uma vez aceitos, os projetos recebem uma pré-certificação para a categoria condizente com o nível de desempenho e qualidade pretendido pelo projeto. Para esta fase, é preciso reunir extensa documentação sobre os diversos sistemas do edifício, bem como de seus projetistas, promotores e fornecedores.

A vantagem principal é que a partir daí os promotores podem fazer uso comercial da certificação no marketing do empreendimento, com o que se pretende alavancar as vendas, deixando claro, no entanto, que se trata de uma pré-certificação. A certificação propriamente somente é concedida após a conclusão das obras e rigorosa verificação de todos os sistemas e requisitos previstos em projetos. O edifício será certificado na categoria condizente com o nível de desempenho e qualidade comprovados após a auditoria e comissionamento dos sistemas, mesmo que seja em uma categoria diferente daquela para a qual tenha sido pré-certificado. A edificação certificada poderá usar o selo LEED por um período de dois anos, prazo ao final do qual, se houver interesse na renovação da certificação, o edifício deve ser reavaliado, para verificação do desempenho de sua operação.

O LEED utiliza critérios específicos para avaliar diferentes edificações agrupadas em: LEED New Construction (NC): Edifícios corporativos, nos quais o proprietário ou locatário ocupa mais de 51% do edifício. São avaliados os desempenhos do núcleo da edificação, fechamentos e interiores. LEED Core and Shell Development Projects (CS): Edifícios de escritórios multi-usuários. São considerados a estrutura central e envoltórios, ou seja, o edifício vazio e o LEED Commercial Interior (CI), que podem ser solicitados pelos ocupantes do edifício que poderão ter classificações diferentes para os interiores de seus escritórios. Há ainda os sistemas LEED dedicados a edifícios existentes (EB) e outros tipos de edificações, como condomínios e loteamentos (ND), escolas (LS) e residências.

Apesar de ser mais recente que as certificações ambientais européias (o BREEAM, inglês, por exemplo, é 10 anos mais antigo), o LEED tem se mostrado uma eficente ferramenta de promoção de empreendimentos, foi adotado em muitos outros países e hoje é o que mais se aproxima de um padrão internacional de certificação ambiental de edificações.