Aqueles que já estiveram em meus cursos já sabem, mas quero aqui compartilhar a minha visão sobre um assunto relevante e, no momento, oportuno: o futuro das lâmpadas incandescentes comuns.
Quando Thomas Edison inventou a lâmpada incandescente tinha provavelmente noção de que estava fazendo algo importante. Não sabemos, no entanto, se ele esperava com isto mudar o mundo. Mas mudou. Além da lâmpada, ele também criou um novo negócio: o serviço de iluminação pública elétrica, em Nova York, na década de 1860. As cidades e forma como as pessoas viviam nelas, mudaram definitivamente.
Sua mais famosa invenção, no entanto, a lâmpada incandescente, não mudou muito, na verdade, em todos estes anos. É basicamente a mesma. Mudou o material do filamento, a quantidade de ar (e oxigênio) dentro do bulbo, e ponto. Ou seja, ainda usamos hoje a mesma tecnologia criada no século 19.
Nós estamos falando de um equipamento que utiliza apenas 5% da energia que consome para efetivamente produzir aquilo a que se propõe: luz visível. Os restantes 95% são desperdiçados em forma de radiação não visível, basicamente infra-vermelho, ou seja, calor. Se fosse um aquecedor, teríamos uma eficiência de 95%, seria ótimo. Mas estamos falando de lâmpadas, e de uma eficiência de 5%.
A conta fica ainda pior se consideramos que muitas delas são utilizadas em ambientes condicionados artificialmente (em restaurantes, shoppings, lojas), o que quer dizer que todo o calor que estas lâmpadas despejam nos ambientes tem de ser retirado com ar condicionado, gastando-se ainda mais energia e dinheiro. Me parece um contra senso.
No Brasil inteiro as pessoas compram lâmpadas incandescentes achando que estão fazendo um excelente negócio pagando menos de R$ 2,00 por cada uma. Daí as acendem acionando os seus 60 watts e deixando-as acessas a noite inteira do lado de fora de casa, por exemplo. Economizariam muito, elas próprias e o país como um todo, se utilizassem, por exemplo, fluorescentes de 15 watts.
Então, não resta dúvida, temos que banir de uma vez por todas as incandescentes, certo?
Bem, não é tão simples assim. Vamos devagar.
Quem vai bancar esta susbstituição?
E a questão do mercúrio das fluorescentes?
E as indústrias de lâmpadas incandescentes, que têm no Brasil um dos maiores mercados do mundo?
E a reciclagem das lâmpadas, como anda?
Há ainda o fato de que há algumas aplicações nas quais somente as incandescentes dão certo.
Então, o que eu recomendo é o seguinte:
Tente não usar nenhuma incandescente comum. Se encontrar alguma por aí, substitua.
Se se trata de instalações novas, não há por que usá-las. Basta projetar sem elas.
Mas, especialmente em ambientes residenciais, sempre haverá aquela arandela, abajur ou lustre onde só cabem incandescentes comuns, de rosca E27, e colocar fluorescentes não dá, mesmo as de temperatura de cor baixa, ou seja, de luz quente. Aí não tem jeito. temos que ir mesmo para as incandescentes. Pelo menos certifique-se que sejam luminárias de uso eventual, para iluminação secundária, não funcional.
O texto que segue, publicado na revista Lume, da minha amiga Maria Clara, que me autorizou a reprodução aqui, evolui o assunto e traz, quase literalmente, luz (e calor) à discussão.
Boa leitura.
Arq. Antonio Macêdo Filho
SUSTENTABILIDADE. ESTA É A PALAVRA DE ORDEM.
No que diz respeito à eficiência energética, o mundo parece ter elegido o seu grande vilão, ou melhor, vilã – a velha lâmpada incandescente. Países como a Austrália e a Irlanda e o Estado norte-americano da Califórnia já saíram na frente e proibiram o uso do produto.
-São consideradas lixo comum, o que significa que o descarte não causa grandes danos ao meio ambiente;
- Têm índice de reprodução de cor de 100, valor ainda não alcançado por nenhuma outra tecnologia;
- São em média de 5 vezes mais baratas do que as concorrentes.
Contras:
- Utilizam apenas 5% da energia que consomem, transformando os outros 95% em calor;
- Têm vida curta, em torno de 700 a 1000 horas (um ano).
- Consomem de 4 a 5 vezes menos energia que as lâmpadas comuns (incandescentes);
- Têm longa vida; algumas chegam a durar até 6000 horas (seis anos);
- Trabalham em baixa temperatura;
- Estão disponíveis com aparências de cor desde o branco-quente até o branco-frio.
Contras:
- Possuem mercúrio em sua composição, que é altamente tóxico;
- Têm um índice de reprodução de cor de até 85;
- Praticamente todas as lâmpadas fabricadas no mundo têm baixo fator de potência;
- São mais caras que as incandescentes.
Para a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), o projeto de lei, se aprovado do jeito que está, será danoso ao País, por não haver produção nacional de lâmpadas fluorescentes e o prazo não permitir que o setor se ajuste às novas regras. “A substituição abrupta das lâmpadas incandescentes por fluorescentes compactas causaria danos aos consumidores, aos fabricantes e ao País, disse o coordenador do Grupo Setorial de Lâmpadas da associação”, Isac Roizenblatt.
A troca, segundo Isac, deveria ser progressiva e abrir exceções para alguns usos. “Sou a favor de um programa de conservação de energia que limite a comercialização das lâmpadas incandescentes de forma gradativa, a exemplo dos programas europeu “Make the Switch” e norte-americano “H.R. 6”, que consideram um período de cerca de dez anos e ainda permitem algumas exceções para lâmpadas de aplicações especiais”, declarou.
Isac lembra também que o Brasil, desde o apagão, tornou se um dos maiores consumidores, per capita, de lâmpadas fluorescentes compactas, o que, segundo ele, demonstra que a lei é desnecessária para transição de uma tecnologia para outra. “Praticamente uma de
cada quatro lâmpadas residenciais comercializadas é fluorescente compacta e, em relação às instaladas, a proporção deve estar em torno de uma compacta para três incandescentes”, avaliou.
Outra questão levantada pela Abilux é a qualidade e o desempenho das lâmpadas importadas, que, segundo a associação, devem ser regulamentados e fiscalizados.
“Já foram importadas mais de 500 milhões de lâmpadas fluorescentes compactas e se estas tivessem a vida que está escrita nas embalagens, não haveria espaço hoje para as lâmpadas incandescentes. Logo, fica claro que há lâmpadas no mercado de baixa qualidade”, calculou Isac.Reciclagem
Um dos principais desafios dos governos para viabilizar a utilização massiva das lâmpadas fluorescentes sem grandes prejuízos para as populações e o meio ambiente é a reciclagem, já que o mercúrio, um de seus componentes, pode contaminar os lençóis freáticos. Um trabalho árduo a ser feito, visto que ainda existem poucas recicladoras no mundo. No Brasil, existem em torno de dez, apenas.
Para Guinter o grande obstáculo a ser vencido é fazer com que os equipamentos utilizados em residências retornem à cadeia produtiva. “Enquanto uma lâmpada fluorescente tubular é bem empregada numa empresa, onde a reciclagem pode ser feita facilmente sob orientações dos governos, nas residências esta operação se torna inviável, porque o uso é pulverizado” opinou Guinter.
O lighting designer adianta que tem um projeto, ainda em desenvolvimento, para suavizar o impacto desses produtos no meio ambiente e viabilizar a reciclagem. Trata-se de um sistema de troca de lâmpadas usadas pelas novas, com abatimento no preço, como acontecia com os “cascos” de refrigerantes, cerveja etc.
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