sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Uma parede viva

Parede que respira
Por Andressa Fernandes, para AU (Pini)

Uma parede viva que produz oxigênio e que ajuda a minimizar os efeitos da poluição nas grandes cidades. Esse é um dos projetos dos arquitetos-engenheiros Claudia Paquero e Marco Poletto, fundadores do londrino ecoLogicStudio. O Stem, como é chamado, funciona como uma espécie de parede viva capaz de unir a utilização da luz solar com a geração de oxigênio via fotossíntese.

O sistema é composto por garrafas recicláveis de plástico – não é um material 100% reciclável porque assim não haveria a transparência adequada ao projeto – que funcionam como unidades celulares, cada uma delas abrigando plantas chamadas blanket weeds, uma espécie de cobertor de algas. Esses vegetais realizam a fotossíntese e então liberam oxigênio no ambiente, troca permitida por meio de furos controlados em cada célula.
A eficácia do processo depende fundamentalmente do posicionamento da Stem, escolhido de acordo com a incidência da radiação solar no local em que será instalada. Com o constante desenvolvimento das algas, a Stem está sujeita a transformações contínuas. Fatores como a transparência líquida e seu potencial respiratório são variáveis ao longo do tempo, condição que tem tanto efeito ambiental quanto visual, funcionando como um original elemento de design. Cada unidade da Stem possui formato hexagonal, forma definida a partir do tipo de recipiente utilizado para criar os "tijolos" básicos do sistema.

Há no catálogo nove componentes com conteúdos variados – cada um conta com sete unidades de garrafas –, que correspondem a diferentes condições de luz e radiação. O atual projeto da Stem se auto-sustenta, mas ainda não funciona como uma parede estrutural. "Para ter essa função, a parede precisaria de uma espécie de armação a partir de determinada altura. No entanto, a Stem é bastante apropriada para uso em um sistema de fachadas", explica Claudia Paquero.

A escolha da planta a ser utilizada na Stem foi norteada não apenas por fatores como a eficiência na fotossíntese, mas também por sua disponibilidade no meio ambiente. Nesse cenário, os blanket weeds se mostraram ideais em Londres. "Esse tipo de alga é um problema nos lagos do Reino Unido, e precisa ser decomposto. Nossa idéia foi dar-lhe uma entrevida entre os lagos e a decomposição. Nesse período, ela pode ser utilizada durante cerca de três meses na Stem, sendo depois substituída", conta Claudia.
Além de realizar as trocas gasosas, os blanket weeds também possuem características tridimensionais, o que aumenta a quantidade de raios solares capturados. Segundo a arquiteta, outros países também possuem algas com características semelhantes, e, portanto, adequadas ao projeto. Isso garante que a Stem possa ser adaptada a diferentes radiações, mesmo considerando o fato de que o sistema tenha sido desenvolvido a partir da latitude solar em Londres.

Foto: exemplo de um componente da Stem, formado por sete garrafas. O conteúdo de cada garrafa varia: pode-se notar pelas cores que apresentam. Os componentes são unidos por cola ou fita elástica e todas as garrafas possuem um pequeno furo para as trocas gasosas
A adaptação da Stem a lugares como o Brasil, por exemplo, inclui a escolha do material orgânico apropriado, a quantidade em que esse material deverá ser utilizado e sua geometria. De acordo com Claudia, não há melhores lugares para a implantação do sistema, mas sim lugares em que ele pode ser mais necessário – caso das grandes cidades onde a concentração de gases como o CO² vem aumentando.
A Stem foi inicialmente instalada na Galeria 77 em Londres, sendo mais tarde exposta na também londrina Nous Gallery – e presente na Bienal de Arquitetura de Londres, na Semana de Arquitetura de Londres e na Bienal de Arquitetura de Veneza, todas em 2006. Entre os benefícios do sistema, Claudia e Marco destacam a capacidade de reequilibrar a quantidade de oxigênio por meio de uma ação simples, além da interatividade com o usuário. "Devido à modulação das condições de luz, os usuários terão mais que uma interação visual com a Stem. Eles também receberão benefícios pela produção de oxigênio, criando uma relação dinâmica com o sistema", garante Claudia.

O ecoLogicStudio desenvolveu também a Stem cloud, uma versão mais estruturada do modelo. Os princípios de atuação são os mesmos da Stem, com a diferença de que a nova versão possibilita a criação de ambientes em três dimensões, enquanto a primeira tem apenas duas. Dessa forma, a Stem cloud pode de fato viabilizar instalações fechadas e privativas, como espaços de trabalho, em vez de concebê-las apenas como um sistema de parede/filtro. Por se tratar de uma estrutura 3D, a altura de uma Stem cloud é definida de acordo com a escala dos móveis do espaço em questão. Essa estrutura que poderá ser conferida na Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Sevilha, no final de 2008, na qual a Stem cloud estruturará um pavilhão.

Segundo a arquiteta, no momento o sistema ainda é um projeto de pesquisa, e por isso necessitaria ser melhor desenvolvido para a aplicação na indústria da construção. Mas, ainda que a Stem não seja um produto comercial, seu preço já pode ser calculado – e é bem salgado. Um espaço de 5 x 5 m, por exemplo, sai por 25 mil euros. O preço por componente se mostra mais acessível: uma Stem (conjunto com sete garrafas) custa 15 euros, mais o custo da armação, enquanto uma Stem cloud custa 50 euros (cada uma com 50 x 50 x 50 cm aproximadamente).
Por Andressa Fernandes, para AU (Pini), março de 2008

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