quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Prorrogado prazo para o início de validade da Norma de Desempenho da ABNT

Por Felipe Benevides, para Revista Construção Mercado, publicado originalmente em PiniWeb

Pesquisadores defendem índices de conforto térmico e acústico e desmitificam a Norma de Desempenho. Consultora critica a desarticulação do setor e a prorrogação do prazo de início de validade da Norma de Desempenho

No segundo dia do Construtech (evento promovido pela Pini ,realizado esta semana em São Paulo) participantes debatem desempenho acústico, conforto térmico e vida útil das edificações

"Somos uma ilha técnica que não olha para fora. Por isso estamos trinta anos atrasados." A palestra que abriu o segundo dia do Construtech não poderia ter começado mais quente. As palavras da engenheira civil Maria Angélica Covelo Silva, consultora da NGI, tocaram os profissionais da platéria preocupados na implantação da NBR 15.575 nos novos projetos. A Norma de Desempenho de Edificações de até Cinco Pavimentos, que deveria ser exigida a partir do dia 12 próximo mês, teve a data de cumprimento prorrogada para 12 de março de 2012. A decisão tomada pela Comissão de Estudo de Desempenho de Edficações do CB-02 da Associação Brasileira de Normas Técnicas atendeu à solicitação de diversas entidades do setor da construção, fabricantes e construtores.

Para Maria Angélica o "incômodo" é injustificado, e algumas das críticas se devem muito mais ao desconhecimento da norma do que pelas exigências. Esse problema, segundo a palestrante, poderia ser evitado com maior articulação do setor.

Ao tratar da vida útil das edificações, Maria Angélica ressaltou a importância de se avaliar a exposição das estruturas à salinidade, poluição e umidade, os maiores inimigos da durabilidade. A engenheria esclareceu também a diferença a relação entre vida útil e prazo de garantia, a partir das características dos componentes, classificados como: substituível, de curta duração, manutenível e não-manutenível.

Acústica e conforto térmico

A Norma de Desempenho avalia a quantidade e não a qualidade do ruído, explicou o físico Marcelo Mello Aquilino, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo. "Escalado" para sanar dúvidas sobre a questão do desempenho acústico, Aquilino disse que o maior desafio nos projetos é resolver o problema de transmissão de ruídos de impacto sobre o piso. O físico explicou como as normas NBR 10.151 e 10.152, que estabelecem os critérios de medição de ruídos e conforto acústico, foram integradas na NBR 15.575. Aquilino fez uma recomendação aos profissionais: prestar atenção aos acabamentos e eliminar as frestas entre os elementos construtivos, para evitar perda de isolamento acústico.

Assim como na área acústica, no campo do conforto térmico a Norma de Desempenho não será de difícil aplicação, acredita Adriana Brito, também pesquisadora do IPT. Para chegar aos índices de conforto exigidos pela norma, a arquiteta recomenda que se faça uma análise climática das temperaturas locais para balizar as diretrizes de projeto. "A amplitude térmica e a inércia térmica têm uma relação", disse a arquiteta, explicando os métodos de avaliação da transmitância térmica (fator isolante) e da capacitação térmica (fator absorvente) de paredes de vedação e da cobertura. Para ela, esses dois elementos devem cetralizar as maiores preocupações nos projetos, requerendo uma abordagem mais técnica na escolha dos materiais.

Norma aplicada

Antecipando-se à entrada da norma em vigor, a construtora Tecnisa já "coleciona" algumas certezas e diretrizes para seus projetos. O engenheiro civil Maurício Bernardes está convicto da melhoria da qualidade dos projetos pelo poder de "indução" da Norma ao voltar o foco para o consumidor. A construtora já fez diversos estudos de contrapisos, tratamento de instalações hidráulicas e "blindagem" acústica do poço de elevadores. Ao mostrar alguns resultados obtidos pela construtora, Bernardes disse ser possível incorporar diversas melhorias nos projetos dentro de uma relação custo-benefício factível para as construtoras. Segundo a máxima de que o "diabo mora nos detalhes", Bernardes disse que os problemas normalmente apontados pelos consumidores, a despeito do cumprimento das exigências da Norma, poderiam ser resolvidos com maior atenção ao refinamento do projeto. O engenheiro cobrou de fornecedores a melhoria de alguns produtos, para que os resultados possam ser atingidos.

As críticas não deixaram de ser ouvidas pelo também engenheiro civil Roberto Pimentel Lopes, empresário do segmento de portas e coordenador da nova Norma de Portas de Madeira, que prevê os aspectos de desempenho e durabilidade deste produto. O segmento foi sempre um dos mais criticados pelos construtores e agora conta com um referencial seguro de avaliação de qualidade, acredita o empresário. Pimentel analisou, junto com os expectdores, aspectos como a estabilidade, segurança em uso e acústica previstos no texto. O maior ganho, acredita, será na padronização das portas. O empresário defende que as empresas deste setor tenham um profissional especializado em especificações normativas, levando para o mercado apenas produtos comprovadamente eficientes. A construção civil precisa, segundo Pimentel, sofrer o mesmo impacto sofrido pela indústria automobilística.

Meus comentários:
O adiamento do início da validade da Norma de Desempenho adia também o avanço na melhoria da qualidade das construções brasileiras. Fica para mim evidente o despreparo de grande parte da comunidade do setor, que, ao depararem com demandas técnicas mais exigentes, preferem encontrar desculpas, seja nos custos, seja nos processos, para deixar de enfrentar a questão. 

Alguns poderão certamente argumentar que o famoso distanciamento entre a academia e o mercado possa ter provocado a proposição de metas demasiadamente ambiciosas para o que o mercado estaria disposto a pagar. Talvez tenham razão.
O fato é que não são poucos os casos que comprovam que a aproximação dos dois setores tende a benefiar a todos, pricipalmente as empresas e o público em geral, usuários de edificações de alto desempenho.
Acho que perdermos uma grande chance de dar mais um passo importante nesta direção.

Prof. Arq. Antonio Macêdo Filho

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