sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Edifícios Zero NET, uma nova perspectiva

Edifícios Zero NET, uma nova perspectiva
Publicado no site AECweb em agosto 2008

Em todo o mundo, e já no Brasil, a busca pela alta eficiência energética alcança o conceito do edifício Zero NET, ou, consumo líquido de energia. Trata-se da edificação que gera a energia que consome, e que pode comprar ou não da rede pública, ou ainda vender o excedente. O assunto foi tratado por Roberto Lamberts, PhD em engenharia civil e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, no SBCS – I Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável que aconteceu nos dias 4 e 5 de setembro, em São Paulo.

Lamberts explica que o primeiro conceito de Zero NET se refere às casas autônomas que produzem toda a energia de que necessitam. “Só faz sentido quando não se está conectado na rede, como na Amazônia, onde o programa do governo federal ‘Luz para Todos’ vem instalando painéis fotovoltaicos nas moradias e permitindo acesso aos bens da civilização.

O painel fotovoltaico só capta energia durante o dia e precisa de uma bateria para armazenar”, explica.Já nas áreas urbanas, os painéis fotovoltaicos funcionam como fonte complementar de energia. Os edifícios geram o que consomem durante o dia e compram da concessionária para o período noturno. “Mas, se o edifício está produzindo muito mais energia do que consome, poderia exportar para a rede pública e, no balanço líquido, no NET, isso é zero”, esclarece Lamberts.

O primeiro sistema gerador de Zero NET do país foi instalado, em 1997, no Laboratório em Eficiência Energética das Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina. O mesmo ocorre nas universidades de São Paulo, do Rio Grande do Sul e do Pará, além de institutos de pesquisas e concessionárias. “A maioria são projetos de pesquisa e os recursos são sempre limitados.

A instalação ajuda a gerar energia para o prédio, mas não torna zero”, explica Ricardo Ruther, doutor em energia solar fotovoltaica e pesquisador da UFSC. Ele conta que a primeira aplicação comercial é a da sede da empresa Zeppini, de São Bernardo, fabricante de motos elétricas. “Temos um projeto em parceria com essa empresa para construir eletro-postos, já que a moto elétrica é alimentada por energia solar. Na cobertura da fachada do prédio da Zeppini tem um gerador solar para carregar a bateria das motos”, explica Ruther.

Obstáculos

A adoção em ampla escala dos painéis fotovoltaicos que permitiriam aos edifícios atingirem o Zero NET esbarra em dois obstáculos: por serem importados, têm ainda preços elevados, além da questão legal que impede pessoas físicas de exportarem o excedente de energia para as concessionárias. “O fotovoltaico é produzido com silício, material caro e raro que compete com a indústria da informática. Uma fábrica de silício é um investimento monstruoso e eles vão regulando o mercado de acordo com os programas.

O Japão e a Alemanha criaram uma estratégia de desenvolvimento do mercado do fotovoltaico atrelada à demanda. No início, gera demanda com incentivo financeiro, depois, o governo vai saindo, deixando que o setor se auto-regule”, relata Lamberts. No Brasil, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul está produzindo módulos fotovoltaicos, de forma experimental numa indústria piloto, com investimentos de empresas como a Petrobrás e Eletrosul.

O edifício do Greenpeace, em São Paulo, produz em média 20% do total de energia consumida pelo escritório através de painéis fotovoltaicos. Na Espanha e Alemanha, a pessoa física pode instalar um telhado solar em casa e vender o excedente para a empresa de energia, nos moldes de um produtor independente ou de uma usina de grande porte. “Aqui, a pessoa física não pode fazer isso. Deve se constituir como Produtor Independente de Energia (PIEE), uma pessoa jurídica”, diz Ruther. Mas isto poderá mudar caso seja aprovado o projeto desenvolvido pela UFSC e a USP, de autoria do deputado Paulo Teixeira, em tramitação na Câmara Federal e com interesse do Ministério das Minas e Energia. “O proprietário da Zeppini, por exemplo, é uma pessoa jurídica que está se registrando na ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, como PIEE”, acrescenta.

Ricardo Ruther acredita que dentro de cinco anos o Brasil possa ter uma produção nacional que, se articulada com a estratégia citada por Lamberts de financiamento oficial, poderia ser reeditada no país a experiência da Alemanha: “Só no ano passado, os alemães instalaram em seus telhados geradores solares com potência total equivalente a usina nuclear de Angra II. Em 2006 eles instalaram o equivalente à potência da usina termoelétrica de Jorge Lacerda, a maior de carvão da América Latina que fica na cidade de Tubarão”, afirma. Para justificar a fabricação dos painéis fotovoltaicos no país é necessário um volume mínimo que, hoje, está entre 5 e 10 mega watts/ano. “O Brasil ainda não tem esse mercado e consome esse produto em sistemas isolados principalmente em áreas rurais”, comenta Ruther.

Em metrópoles, como Nova York ou Berlim, é comum ver prédios com vidros na fachada gerando energia. O edifício Four Time Square, em Nova York, é um exemplo do que pretende o Departamento de Energia do governo americano com seu Programa de Construções Tecnológicas: a meta é que todos os edifícios alcancem o Zero NET até 2025.

Enquanto isso, no Brasil, a UFSC e o Instituto Ideal desenvolvem o projeto do estádio solar para a Copa de 2014 e de aeroportos solares. “O estudo dos estádios foi apresentado para a Eletrobrás, mostrando a viabilidade econômica. O Maracanã, por exemplo, exigirá a instalação de um gerador solar fotovoltaico integrado na cobertura, com capacidade geradora de 4 mega watts e atendimento do consumo de mais de 2.500 residências no entorno do estádio”, explica o pesquisador, assegurando que “os estádios podem se tornar energeticamente independentes, podendo virar um zero NET”.

O projeto de estudo dos aeroportos está no CNPq, com a aprovação em andamento. Envolve seis aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Florianópolis.

Nenhum comentário: