sexta-feira, 3 de junho de 2011

Quanto custa certificar?

Caros,

Reproduzo aqui matéria publicada numa recente edição especial da revista Arquitetura e Construção sobre construção sustentável, que, em liguagem acessível, aborda os pricipais aspectos das certificações ambientais de edificações, que estão agora aparentemente chegando ao conhecimento do público em geral, não técnico, o que é bom para todos.
AMF.


Quanto custa certificar?Por Giuliana Capello, para Arquitetura & Construção / Especial Construção Sustentável - 12/2010
 
Essa é a pergunta que todo empreendedor faz quando o assunto são os selos de greenbuilding para edifícios. Mas, afinal, que conta é essa e quem paga por ela?

Já faz algum tempo que a economia global acordou para um fato importante: buscar sustentabilidade é também zelar pelos negócios. Em 2006, o economista britânico Nicholas Stern parou o mundo ao apontar as emissões de CO2 como a principal causa do aquecimento global e sugerir que, se nada for feito, o planeta sofrerá catástrofes ambientais da ordem de 20% do PIB mundial até 2050 (algo hoje em torno de US$ 10 trilhões). Os números são impressionantes - ainda mais no caso da construção civil. "O setor consome 40% de todos os recursos naturais do planeta", lembra Luiz Henrique Ferreira, da Inovatech Engenharia, de São Paulo. O Conselho de Green Building dos Estados Unidos (USGBC) credita ao segmento absorção de 40% da energia produzida no mundo e 30% do uso da água potável do globo.

A fama de vilão, porém, pode mudar se os agentes souberem transformar urgência em oportunidade. É nisso que apostam os pioneiros do greenbuilding no Brasil. "O mercado está exigindo prédios mais eficientes, que se mantenham atuais por mais tempo. Triple A [prédio corporativo de alto padrão] com certificação, por exemplo, é obrigatório", diz Luis Fernando Bueno, diretor de operações para terceiros da Gafisa. Fabiana Perez, gerente da JHSF, resume: "A sustentabilidade vai pelo caminho da ISO 9000. Quem não tiver a certificação ficará de fora".

SIM, CONSTRUIR PARA TER SELO VERDE CUSTA UM POUCO MAIS.

Esse extra depende dos hábitos de trabalho de cada empreendedor. "Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)mostrou que o desperdício numa obra atinge de 11 a 15% do seu custo. Já os diferenciais de sustentabilidade, que imprimem qualidade ao empreendimento, representam um desembolso de 5 a 10% do valor total", afirma Nelson Kawakami, diretor-executivo do Green Building Council Brasil, o GBC. Para Luiz Henrique Ferreira, o valor desse investimento depende da linha de base da construtora. "Se ela mantém bons contratos trabalhistas, compra materiais com nota fiscal e faz a gestão dos resíduos, não vai gastar muito mais para ser sustentável", fala. E segue: "quanto antes se pensar no assunto, menor será o custo, pois muitos itens poderão ser incorporados na arquitetura, e não na forma de equipamentos de ponta para remediar falhas de projeto".

• 40% de todos os recursos naturais disponíveis no planeta são consumidos pelo setor da construção civil.

• Para ter um produto sustentável, 48% dos consumidores brasileiros aceitariam pagar até 10% mais.

• 5% do custo total da obra é o investimento médio que as construtoras estão fazendo nos prédios verdes.

E SE O QUE IMPORTA SÃO OS BENEFÍCIOS PARA O EMPREENDEDOR...

Está por um fio o discurso de que não vale a pena investir um pouco mais porque quem se beneficia são os usuários, e não quem constrói. Numa pesquisa realizada este ano pela consultoria americana Penn, Shoen & Berland Associates (PSB), 73% dos brasileiros garantem que gastariam mais consumindo produtos ecologicamente corretos. Outro levantamento feito aqui, pelo grupo francês Havas, mostrou que 48% estariam dispostos a pagar até 10% mais por um produto sustentável. "Isso já está acontecendo com os clientes corporate, que só querem saber de prédios eficientes", conta Marcelo Takaoka, presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS). Com compradores mais exigentes, já é possível elevar um pouco o preço de venda, apostando na demanda de greenbuilding e na tendência de queda do valor do condomínio causada pela redução no consumo de água e energia na operação do imóvel. "Sem falar que o construtor ganha em velocidade de venda e gasta menos com estandes, vendedores e material de publicidade, o que reflete na taxa de retorno do empreendedor e na imagem da empresa", diz Paola Figueiredo, vice-presidente executiva do Grupo SustentaX.

QUANDO O INVESTIDOR É O FUTURO USUÁRIO.

Os especialistas são categóricos: ao longo de sua vida útil, 80% do custo total de um edifício equivale à etapa de operação e apenas 20% à de construção. Isso significa que quem investe um pouco mais para ampliar a ecoeficiência do empreendimento do qual será também usuário obtém retorno rápido por meio da redução dos gastos operacionais, principalmente com água e energia. "A Valia, fundo de pensão da Vale, só comprou metade de um prédio do Cidade Jardim Corporate Center [em obras em São Paulo] porque ele tem certificação AQUA, o que deverá manter o prédio valorizado e gastando menos com manutenção", conta Manuel Martins, coordenador do Processo AQUA, da Fundação Vanzolini. Em números gerais, a estimativa de redução do consumo de água num edifício certificado é de 30% (em razão dos metais sanitários economizadores e dos sistemas de reúso). Já a queda no consumo de energia gira em torno de 15%, graças a soluções de arquitetura, materiais de alto desempenho e equipamentos mais eficientes. "Construir para administrar e ser usuário é tendência entre os prédios certificados, ainda mais no caso dos corporativos", avalia Nelson Kawakami, do GBC Brasil.

ALUGUEL MAIOR E CONDOMÍNIO MENOR

Esses dois aspectos parecem compor o mantra dos empreendimentos certificados. Geraldo Bernardes, diretor de Sustentabilidade da vice-presidência de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP, esteve nos Estados Unidos para um encontro sobre o tema. "Voltei com números importantes para o mercado, que devem estimular a busca pela certificação", relata, referindo-se a pesquisas do Institute of Real State Management (IREM). Segundo a entidade, prédios verdes americanos tiveram queda no custo do condomínio de 13,6% entre 2005 e 2008. Já o valor desses edifícios - residenciais e comerciais - subiu 10,9%. O preço do aluguel também indica bons ventos para as versões de imóveis sustentáveis: chegam a custar até 25,7% mais. "O mercado está caminhando rapidamente nessa direção e, para os empreendedores, o argumento de marketing é enorme", afirma Geraldo. "Até hoje só se falava em custo extra, mas a partir de agora os players [agentes do mercado] vão enxergar os benefícios que eles podem ter com a certificação", completa. Esse é o caso do Eldorado Business Tower, em São Paulo, cujo valor do aluguel chega a ser 20% maior do que o dos vizinhos similares não certificados. O condomínio, por sua vez, custa hoje metade do que se pagaria num Triple A mais convencional: R$ 9,35 o m², contra até R$ 20 o m². "Sei do caso de um prédio novo que teve de passar por uma reabilitação porque não conseguia ser alugado. Aos poucos, os projetos ineficientes estão sendo rejeitados pelo mercado", comenta Marcelo Takaoka.

SÍNDICOS VERDES

A eficiência energética apresenta grande potencial na redução das emissões de gases do efeito estufa, e também na criação de empregos, aponta um relatório de 2008 do Worldwatch Institute (WWI). De acordo com Adalberto Maluf, diretor em São Paulo da Fundação Clinton, a política de empregos verdes do presidente americano Barak Obama considera a qualificação da mão de obra para obras de retrofit e para a manutenção de edifícios verdes parte vital do programa. "Acredito que no Brasil faltem empresas especializadas nesse segmento, assim como técnicos capazes de fazer a manutenção, criar protocolos de procedimentos e treinar funcionários para garantir a eficiência dos equipamentos instalados - e o desempenho ambiental esperado", diz Adalberto. Segundo o relatório, é provável que esses empregos sejam destinados a engenheiros e arquitetos, acrescidos de novos conhecimentos. Faz sentido. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA) da USP aponta que gerentes de ecorrelações e engenheiros ambientais serão os mais procurados do mercado em 2020, sinal da nova economia verde.

A HORA DA REABILITAÇÃO.

Mérito à parte, será que a ação das construtoras - que está apenas no início - de investir passo a passo em sustentabilidade será suficiente para mudar o rumo dos impactos ambientais provocados pelo setor? "Mesmo que todos os novos prédios passassem a ser construídos com princípios de greenbuilding, não daria tempo de vermos resultados ambientais significativos", lamenta o consultor Luiz Henrique Ferreira. O gargalo, segundo ele, está na reabilitação dos edifícios existentes, algo começando a ser também uma modalidade de certificação interessante, em que os investidores sentem os resultados no bolso - e rapidamente. "Participo de um projeto que deverá gerar economia de 80% de energia só com a troca do sistema de ar condicionado", exemplifica.

"Aos poucos, os projetos ineficientes estão sendo rejeitados pelo mercado"
Marcelo Takaoka, presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS)

Veja também:

Ineditismo na ponta do lápis
Etiqueta verde

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Arq. Antonio Macêdo Filho, LEED Green Associate
Coord. MBA em Construções Sustentáveis INBEC / UNICID / GBC Brasil

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