sábado, 19 de setembro de 2009

São Paulo e as Megacidades

São Paulo e as Megacidades: desafios e oportunidades do desenvolvimento sustentável

Por Carlos Leite * (Versão adaptada do artigo original publicado na Revista DOM, Fundação Dom Cabral, 2009, publicado em arqbacana.com.br )

(Veja também: Curso "Planejamento Integrado e Cidades Sustentáveis/Inteligentes (Smart Cities)", com Prof. Carlos Leite - São Paulo, 22 e 23 de julho 2011. Mais informações em: http://www.ecobuilding.com.br/agenda/completa/)

Trata-se do grande desafio para os governos e as empresas, exigindo mudanças na gestão pública e nas formas de governança com maior participação da sociedade civil organizada e da iniciativa privada, obrigando o mundo a rever os padrões de conforto típicos da vida urbana – do uso exacerbado do carro à redução da emissão de gases.
Prêmio Nobel de 2008, o economista Paul Krugman prognosticou que o crescimento das cidades será o futuro do modelo econômico de desenvolvimento. É nas megacidades que se verificam as maiores transformações, gerando uma demanda inédita por serviços públicos, matérias-primas, produtos, moradia, transporte e emprego.
O desafio é a reinvenção das megacidades por modelos de desenvolvimento sustentável. E as intervenções no exterior mostram possibilidades de enfrentar problemas comuns às megacidades, principalmente no reaproveitamento sustentado dos seus vazios urbanos.

Atividades econômicas, voltadas para os setores da informação e da comunicação, mas vinculadas à vocação do território, com novos valores locais, e aliados a políticas de desenvolvimento econômico e urbano e a gestão urbana eficiente, podem contribuir decisivamente para a redução do quadro de esvaziamento produtivo de áreas centrais a partir da reutilização dos espaços vagos, combatendo a perda de vitalidade do tecido urbano. Ou seja: promove-se o desejável redesenvolvimento urbano sustentável.

Todo o território ao longo da orla ferroviária de São Paulo, por exemplo, áreas centrais dotadas de boa infra-estrutura urbana e memória (Barra Funda, Brás, Mooca, Ipiranga etc.), podem se regenerar urbanística e economicamente e gerar uma metrópole mais compacta, mais sustentável.
Cidades com bons sistemas de transportes públicos, que têm evitado baixa densidade e expansão desmedida terão menores níveis de emissões de gases de efeito estufa per capita do que cidades que não têm. Muitas das mais desejáveis (e caras) zonas residenciais das cidades mais interessantes do mundo têm altas densidades e possuem centros onde andar a pé e de bicicleta são meios de mobilidade preferidos por grande parte da população.

E a Copa do mundo de futebol de 2014 no Brasil? E a possibilidade do Rio sediar uma futura Olimpíada? Alavancam oportunidades ou são meros instrumentos de marketing político?
Barcelona 1992 ou Sydney 2000, dentre outros exemplos, sinalizam claramente que há nos grandes eventos esportivos uma rara oportunidade para as megacidades se reinventarem se – e isto é fundamental – tais eventos se inserirem em uma desejável e necessária estratégia de regeneração urbana mais ampla.

Barcelona estava desenvolvendo sua famosa metástase urbana invertida: células doentes do território ao se regenerarem contaminavam positivamente as células vizinhas e, tendo uma estratégia de recuperação de todo o doente, a cidade se reinventava. O urbanista Oriol Bohigas comandava brilhantemente tal operação quando surgiu a oportunidade de sediar as Olimpíadas de 92. A oportunidade, estrategicamente planejada, transformou-se na maior das células de multiplicação positiva no seu antigo e desativado território industrial-portuário.

O vazio urbano central transmutou-se em parque linear, nas praias artificiais, na marina e na vila olímpica - conjuntos residenciais de interesse social - , que redesenharam a cidade e a tornaram mais viva e compacta. O potencial do território central regenerado e reestruturado produtivamente é imenso na nova economia, desde que planejado estrategicamente.

Mais recentemente, Sydney aproveitou a ocasião das Olimpíadas para reabilitar toda uma área urbana deteriorada e, em alguns lugares, contaminada (brownfields).
Paulo Mendes da Rocha e equipe, quando desenvolveram o plano de uma São Paulo olímpica, adotaram uma bela e oportuna estratégia de inserção pulverizada dos diversos equipamentos esportivos pelas áreas urbanas paulistanas que podem se alavancar similarmente aos casos acima descritos (diversas áreas de intervenção ocorriam, não à toa, em territórios das operações urbanas).

Sob o prisma do desenvolvimento urbano sustentado, voltar a crescer para dentro da metrópole e não mais expandi-la é outro aspecto altamente relevante nestes casos: reciclar o território é mais inteligente do que substituí-lo. Reestruturá-lo produtivamente é possível e desejável no planejamento estratégico metropolitano. Ou seja: regenerar produtivamente territórios metropolitanos existentes deve ser face da mesma moeda dos novos processos de inovação econômica e tecnológica.

Grandes eventos esportivos, culturais e turísticos têm se convertido em oportunidades estratégicas na reconfiguração dos territórios degradados das megacidades a partir de modelos de desenvolvimento mais compactos. Sustentabilidade urbana adquirida. Sustentabilidade esportiva promovida. O desafio é planejar estrategicamente as cidades para captar as oportunidades. Coisa que as seguidas administrações públicas no Brasil não tem tido competência de realizar até o momento, infelizmente.

* Carlos Leite - Carlos Leite é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e de cursos de MBA (FIA/USP, Fundação Dom Cabral), e consultor em Desenvolvimento Sustentável. Arquiteto e urbanista, com pós-doutorado pela CalPoly University.

(Veja também: Curso "Planejamento Integrado e Cidades Sustentáveis/Inteligentes (Smart Cities)", com Prof. Carlos Leite - São Paulo, 22 e 23 de julho 2011. Mais informações em: http://www.ecobuilding.com.br/agenda/completa/)

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