segunda-feira, 10 de julho de 2017

Brasil supera a Alemanha em ranking de construções sustentáveis

Por Anaís Fernandes, para a Folha de São Paulo
Publicado em Folha Online, em 28/04/2017

Equilibrar a incidência de calor externo em um imóvel, a necessidade de iluminação e os gastos com ar-condicionado é uma equação que arquitetos e engenheiros pelo mundo estão constantemente tentando resolver em busca da maior eficiência. E os brasileiros não têm se saído mal na tarefa.
Em dez anos até o último balanço de 2017, o país passou de zero para 393 edificações com a certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), criada pela ONG U.S. Green Building Council. Em 2016, o Brasil aparecia em quarto lugar no ranking, com 7,43 milhões de metros quadrados certificados, à frente de potências como a Alemanha (7º).
"Existe até uma competição saudável entre os edifícios", diz Felipe Aflalo, sócio do escritório Aflalo/Gasperini Arquitetos, que tem mais de 20 projetos com selo Leed e Aqua (aplicado no Brasil pela Fundação Vanzolini).
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem uma linha de crédito na qual financia até 80% do custo de projetos com focos como geração distribuída e edificações (condicionamento de ar, iluminação, fachadas). O valor mínimo aprovado é R$ 5 milhões, e o banco liberou R$ 545,2 milhões entre 2010 e 2016.
"Nosso público tradicional são distribuidoras de energia. No início do ano, porém, houve uma reorientação política. Queremos atender desde uma grande companhia até as pequenas e médias", diz Carla Primavera, superintendente da área de energia do BNDES.
Para Edward Borgstein, da consultoria em eficiência energética Mitsidi, é preciso investir na melhor operação dos edifícios já existentes. "Com um diagnóstico, conseguimos identificar potencial de até 20% de economia de energia." Muitas mudanças têm custo zero, como explorar a ventilação natural. "Outras requerem investimento, como a troca do sistema de ar-condicionado, que pode custar R$ 1 milhão", afirma.
Parâmetros
O Brasil aprimora ainda iniciativas para orientar usuários e administradores dos edifícios. Em 2010, o Inmetro criou um programa de etiquetagem para avaliar o desempenho energético de projetos e edificações prontas: 4.628 já foram analisados. Nos mesmos moldes dos produtos de linha branca, prédios com melhor desempenho ganham o selo Procel Edifica.
Por enquanto, submeter-se à avaliação é voluntário, mas a tendência é que se torne obrigatório. "Creio que isso deva ocorrer em dez anos", diz Jefferson Alberto Prestes, analista executivo de metrologia e qualidade do Inmetro.
Em outra frente, o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável desenvolve a Plataforma de Cálculo de Benchmarking Energético de Edificações (benchmarking
energia.cbcs.org.br). Fornecendo dados simples, como valor da conta de luz e área do prédio, é possível avaliar o desempenho energético.

"Está disponível para agências bancárias e edifícios corporativos, e estamos trabalhando com prédios públicos", diz Roberto Lamberts, da comissão técnica do conselho de construção sustentável e docente na UFSC.
Tudo de Transforma
De tecnologias importadas a clássicos da arquitetura, soluções aumentam o aproveitamento energético das edificações
·    1. Sobe e desce
O movimento do elevador pode gerar energia. Ímãs no contrapeso do elevador passam por bobinas fixadas na parede do poço, criando um campo eletromagnético que gera eletricidade;

2. Grife
Na escolha de eletrodomésticos, opte por equipamentos com etiquetagem A do Inmetro em eficiência energética;

3. Segunda pele
A fachada ventilada consegue reduzir de 30% a 50% a temperatura interna. Sem vedação completa nas partes inferior e superior, ela cria uma lâmina de ar e permite o "efeito chaminé" –o ar mais quente sobe, enquanto o mais frio é "sugado" para a cavidade;

4. Quem vem lá
Sensores identificam a presença dos usuários na garagem e ligam e desligam a luz dependendo da necessidade;

5. Sol na cabeça
Painéis solares térmicos podem aquecer a água de torneiras e chuveiros, enquanto placas fotovoltaicas geram energia elétrica limpa para o uso cotidiano;

6. Deixe ela entrar
Vidros permitem a iluminação natural do ambiente. Por outro lado, podem aumentar a temperatura interna. Há soluções para isso, como os vidros de baixa emissividade (low-e), que refletem os raios solares, mas permitem a passagem de luz;

7. Vedete modernista
Muito aplicado pelo modernismo brasileiro, os brises são usados até hoje para controlar a incidência de luz. Inicialmente de concreto, eles foram ganhando versões em formas e materiais diversos;

8. Teto verde
Estudos apontam que o telhado vegetado pode diminuir em cerca de 5ºC a temperatura interna e reduzir em até 95% o ganho de calor. Além de melhorar o conforto térmico, a cobertura vegetal na laje pode ajudar com o isolamento acústico e a retenção da água das chuvas;

9. Quente-frio
Uma microunidade de geração a partir de gás natural fornece energia para o ar-condicionado. A alternativa pode representar uma economia de mais de 90% no consumo de energia, na comparação com fonte elétrica tradicional;

10. Luz esperta
As lâmpadas de LED são mais caras, mas duram 25 vezes mais que as incandescentes, e a economia na conta de luz pode chegar a 85%. Sistemas de controle automáticos detectam o nível de iluminação natural no ambiente para aumentar ou diminuir a potência das lâmpadas conforme a necessidade.

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