segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Telhado verde e telhado branco estão em crescente adoção no mundo. Os especialistas em conforto ambiental da UFSC, falam dos benefícios e adoção das técnicas no país

Publicado em Outubro de 2012 no Portal Energia.


telhado brancoA preocupação com a economia de energia é eminente de quem se preocupa com o meio ambiente e pretende adotar práticas mais sustentáveis. Uma alternativa que está em crescente adoção no mundo são as técnicas dos telhados ecológicos.
Existem duas alternativas de telhado que contribuem com o meio ambiente, reduzindo o calor nas grandes cidades, combatendo o efeito estufa e ainda, economizando energia. Uma delas é pintar o telhado dos prédios de branco, chamados de Cool Roofs, a outra são os telhados verdes, conhecidos como Green Roofs. Essas técnicas vêm ganhando cada vez mais adeptos em todo o mundo.
Com o telhado de branco o sistema é simples, afinal a cor branca reflete mais luz e absorve menos calor solar. Sendo assim, naturalmente, com os ambientes mais frescos, as pessoas podem reduzir o uso de condicionadores de ar e de ventiladores. “Os telhados brancos refletem a radiação solar incidente que é a maior parte dos problemas em climas quentes, pois resulta em grandes ganhos de calor pela cobertura. Uma cor preta absorve 90% da radiação incidente e uma cor branca pode absorver apenas 20%” diz Roberto Lamberts, especialista em eficiência energética em edificações e professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O professor também esclarece que “esta propriedade já é usada na etiquetagem de eficiência energética de edificações e na Norma Brasileira de Desempenho Térmico, mas precisamos normatizar isto para garantir as propriedades”.
Com o telhado verde, em que o telhado é coberto por solo e vegetação, também há uma redução no calor interno, pois melhoram as condições térmicas e acústicas da edificação, tanto no inverno como no verão. Estudos de bioclimatismo indicam que, com o uso de coberturas vivas, seja possível melhorar em 30% as condições de temperatura no interior da edificação, sem recorrer a sistemas de climatização e aquecedores artificiais. Os telhados também ajudam a manter a umidade relativa do ar constante e formam um microclima no entorno da edificação.
Cláudia Krause, doutora e especialista em conforto ambiental associada a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU-UFRJ), ressalta que o telhado verde corrige a incidência de calor tanto no inverno como no verão. “O telhado verde pode retardar o calor para um horário menos quente, sendo importante à noite para as regiões frias, que podem reduzir a perda de calor armazenado noturno. Como a correção do calor existente é feito por equipamentos a base de energia elétrica, quanto menos funcionarem, ou por menos tempo, menor o consumo.”
“O resultado é uma superfície que irá trabalhar com o sol, que tende a ser mais eficiente ao longo do dia pelo efeito da inércia do solo. Esta inércia vai funcionar à noite como uma barreira à saída de calor porventura gerado no interior pelas outras superfícies, como as paredes e pela própria presença de equipamento de geração de calor interno”, explica Krause da UFRJ.
Quando se trata dos benefícios econômicos das técnicas, Cláudia é bem otimista. “Um telhado de laje recoberto por impermeabilização usual, cinza ou negra, absorveria em torno de 80 a 90% da radiação solar incidente. Uma telha pintada de branco, uma laje com piso muito claro ou uma laje com cobertura verde, absorveriam em torno de 10 a 20% da radiação solar ou nenhuma. Estamos falando, em teoria, de 60% da radiação solar incidente ao longo de um dia que não seria absorvido pela edificação”, diz. Isso consequentemente geraria uma economia do consumo de energia.
Uma das ações de telhados ecológicos que ficou mundialmente conhecida foi o incentivo da prefeitura de Nova York, pela divulgação e promoção de ações de sustentabilidade. A prefeitura de Nova York criou um programa pelo qual pretende pintar de branco, senão a totalidade, a maior quantidade possível de telhados da cidade.
e Dubai a Nova Delhi e Osaka, no Japão, os telhados reflexivos vêm sendo promovidos pelas autoridades locais cuja prioridade é reduzir custos de energia. Nos Estados Unidos, eles se tornaram equipamento padronizado já há uma década - um exemplo disso são as novas lojas da cadeia Wal-Mart. Mais de 75% das 4.268 lojas que o grupo opera nos Estados Unidos estão equipadas com eles.
Califórnia, Flórida e Geórgia adotaram códigos de edificações que encorajam a instalação de telhados brancos em edifícios comerciais. Aproveitando recursos dos fundos federais de estímulo a projetos que promovem eficiência energética, departamentos estaduais de energia e empresas locais de eletricidade muitas vezes oferecem financiamento aos interessados em adquirir telhados frios.
telhado verde
Telhado verde
No Brasil, tramita na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) dois projetos de lei que preveem a utilização da técnica denominada “telhado verde” e “telhado branco” nas novas construções do Estado do Rio de Janeiro.
A técnica traz diversos benefícios ao meio ambiente e é uma alternativa viável e sustentável, uma vez que promove o reequilíbrio ambiental, e melhora as condições termoacústicas da edificação, tanto no inverno como no verão.
Repercutindo o debate sobre estes dois tipos de telhados, a Câmara Municipal de São Paulo discute atualmente dois projetos de lei referentes às coberturas dos imóveis da cidade: um deles prevê que os telhados sejam pintados de branco e outro propõe a utilização de telhados verdes em condomínios edificados com mais de três unidades.
Sobre a obrigatoriedade do uso da técnica, o professor da UFSC, Roberto Lamberts diz que é preciso, primeiramente, divulgar amplamente as vantagens das técnicas. “Falta conhecimento das vantagens, existem prefeituras querendo obrigar o uso de tetos verdes, outras de tetos brancos. Não podemos obrigar, devemos mostrar as vantagens, pois em alguns casos é melhor usar branco, em outros é melhor usar verde”.
Para Cláudia Krause, a falta de informação também é um dos motivos que ainda não fez a técnica ser utilizada com maior abrangência no Brasil. “Falta, de forma geral, informações objetivas para as particularidades do clima tropical, que facilitem ao arquiteto ou engenheiro em sua escolha para cada caso específico. A legislação deveria focar e levar em conta a questão, sobretudo, do manejo, da manutenção, do cuidado pós construção para o caso da telhado verde, e de conhecimento da durabilidade em clima tropical das características vindas de fábrica sobretudo quanto ao brilho e, na proposição urbana, ao resguardo do direito de vizinhança”.
Para os telhados conquistarem de vez o Brasil, ainda é preciso, além de mais informação, o barateamento do custo para implantação e normatização dos produtos. “Há espaço e indicação para os dois. Naturalmente, eles não concorrem, quer pelo local de cada aplicação, pela possibilidade de facilidade de manutenção ou pelo custo. Mas acredito que sejam em função da maior divulgação de suas técnicas, seus riscos, seus custos. Hoje ainda é mais barato a pintura (o telhado branco), mas a cobertura naturada pode trazer um benefício a mais, pois além de reduzir a absorção da radiação, ele não reflete (evita ofuscamento a vizinhos “mais altos”), contribui para uma redução das superfícies impermeáveis das cidades e um certo sequestro de carbono”, afirma Krause, especialista da UFRJ.
“Telhados brancos são baratos, têm grande potencial de melhorar o desempenho de coberturas com baixa resistência térmica e grande potencial de uso em quase todo o país. Acredito que falta apenas conhecimento pelo meio técnico e normatização para diferenciar os produtos com maior durabilidade”, diz Lamberts, da UFSC.
O fato é que as técnicas oferecem diversas vantagens econômicas, de conforto ambiental e ecológicas. O mundo já está adotando amplamente o conceito, e o Brasil precisa buscar “seu lugar ao sol” em se tratando do desenvolvimento e divulgação das técnicas no Brasil. A compulsoriedade talvez ainda não seja necessária, pois o bom senso e o desejo de melhorar o mundo em volta deve partir da consciência de cada um. Para quem deseja adotar a técnica, para Cláudia Krause, a procura de um profissional qualificado é essencial, pois somente ele poderá indicar a melhor técnica, verde ou branco, e os materiais mais adequados ao clima e perfil do consumidor.

2 comentários:

Renan E. M. Guimarães disse...

Um recente estudo da Universidade de Stanford (Urban Heat Island, 2011) mostra que as “membranas telhados brancos” tendem, na verdade, a contribuir para o aquecimento local e global. Embora tenham alto nível de refletividade que direciona calor para a atmosfera, tal índice acaba reduzido em um ou dois anos pelo acúmulo de partículas de fuligem preta e marrom no ar, que são aquecidas pelo calor refletido, contribuindo para o aquecimento das cidades, e não refreescando-as. O que há, na verdade, é um grande lobby da indústria das tintas brancas.

Depois, são superfícies mortas e impermeáveis que embora reflitam a luz solar, ignoram outros desafios cruciais para o bem-estar do meio ambiente urbano, como a emissão de CO² (apenas o argumento da redução da "Pegada ecológica" dos edifícios não é suficiente), as ilhas de calor, a perda da biodiversidade e a evasão de esgoto pluvial.

Os telhados verdes, por exemplo, não só têm comprovada eficiência energética, válida para qualquer clima, mas também agem como filtros da poluição do ar, purificando-o por meio de um ciclo natural de troca de gases e variação da temperatura, reduzindo as ilhas de calor. Também têm grande eficiência na retenção de água da chuva, contribuindo para evitar a ocorrência de enchentes e a poluição de cursos d’água. Além disso, promovem a biodiversidade em área urbana e ainda possibilitam a saudável integração da população a áreas verdes em pontos antes inimagináveis. Sua irrigação pode dar-se com água cinza ou tratada, desonerando a rede pública deste serviço. Isso sem falar no aprazível aspecto estético de uma superfície vegetada. Enfim, os telhados verdes são de fato vivos e propagam a vida. Eles também são certificados pelo GBC, o que é estranho o mesmo ocorrer quanto aos telhados brancos.


Resistir ao engodo da “sustentabilidade” dos telhados brancos, reduzida na sua refletividade, não é defender um interesse econômico, mas clamar por mais qualidade de vida nas cidades e no planeta. Trata-se, por fim, da promoção de um tipo de telhado “vivo” e biofílico (apreciador da vida, que necessita de vida), caso dos verdes, em detrimento de um telhado “morto” e biocida (adversário, inimigo da vida), como se encaixam os brancos. Assim, resta a pergunta final: optar por telhados verdes ou brancos? Seu ponto de vista em relação à vida e ao ambiente lhe dará a resposta.

Renan E. M. Guimarães disse...

Um recente estudo da Universidade de Stanford (Urban Heat Island, 2011) mostra que as “membranas telhados brancos” tendem, na verdade, a contribuir para o aquecimento local e global. Embora tenham alto nível de refletividade que direciona calor para a atmosfera, tal índice acaba reduzido em um ou dois anos pelo acúmulo de partículas de fuligem preta e marrom no ar, que são aquecidas pelo calor refletido, contribuindo para o aquecimento das cidades, e não refreescando-as. O que há, na verdade, é um grande lobby da indústria das tintas brancas.

Depois, são superfícies mortas e impermeáveis que embora reflitam a luz solar, ignoram outros desafios cruciais para o bem-estar do meio ambiente urbano, como a emissão de CO² (apenas o argumento da redução da "Pegada ecológica" dos edifícios não é suficiente), as ilhas de calor, a perda da biodiversidade e a evasão de esgoto pluvial.

Os telhados verdes, por exemplo, não só têm comprovada eficiência energética, válida para qualquer clima, mas também agem como filtros da poluição do ar, purificando-o por meio de um ciclo natural de troca de gases e variação da temperatura, reduzindo as ilhas de calor. Também têm grande eficiência na retenção de água da chuva, contribuindo para evitar a ocorrência de enchentes e a poluição de cursos d’água. Além disso, promovem a biodiversidade em área urbana e ainda possibilitam a saudável integração da população a áreas verdes em pontos antes inimagináveis. Sua irrigação pode dar-se com água cinza ou tratada, desonerando a rede pública deste serviço. Isso sem falar no aprazível aspecto estético de uma superfície vegetada. Enfim, os telhados verdes são de fato vivos e propagam a vida. Eles também são certificados pelo GBC, o que é estranho o mesmo ocorrer quanto aos telhados brancos.


Resistir ao engodo da “sustentabilidade” dos telhados brancos, reduzida na sua refletividade, não é defender um interesse econômico, mas clamar por mais qualidade de vida nas cidades e no planeta. Trata-se, por fim, da promoção de um tipo de telhado “vivo” e biofílico (apreciador da vida, que necessita de vida), caso dos verdes, em detrimento de um telhado “morto” e biocida (adversário, inimigo da vida), como se encaixam os brancos. Assim, resta a pergunta final: optar por telhados verdes ou brancos? Seu ponto de vista em relação à vida e ao ambiente lhe dará a resposta.