quarta-feira, 25 de julho de 2018

Quer fazer uma cobertura verde e não quer infiltrações? Veja o passo a passo



“Sol, Espaço e Verde para Todos”, é um dos epítetos do Arq. Le Corbusier, quando identificou, em seus estudos, uma cobertura verde como a quinta fachada de uma edificação. Entretanto, para que ela possa ter isto, resistência à progressão de raízes e durabilidade são os principais requisitos técnicos a se observar, já que uma correta impermeabilização é pré-requisito para qualquer cobertura verde.
Assim, à ideia inicial de Le Corbusier podemos acrescentar os conceitos de “Green Building”, com as seguintes vantagens de uma cobertura verde:
  • Redução do custo de energia gasto com ar condicionado;
  • da quantidade de particulado sólido na atmosfera;
  • da velocidade no escoamento das águas pluviais;
  • da transmissão de ruídos;
  • de uma melhor qualidade de vida nos centros urbanos, com a redução de emissão de CO2;
  • e do aumento da vida útil da impermeabilização.
Mesmo com todas estas vantagens, todo mundo pensa duas vezes antes de executar uma cobertura verde, e o principal receio é o risco de infiltrações. Afinal, este é um local que quando não chove, colocamos água todos os dias!
Temos normas técnicas em vários países no Mundo com preocupação nas coberturas verdes e entre elas, podemos citar a norma italiana, UNI 11235:2015 –  Istruzioni per la progettazione, l’esecuzione, il controllo e la manutenzione di coperture a verde.
Esta norma define os critérios de projeto, execução, controle e manutenção das coberturas verdes, em função das particularidades do contexto climático, da edificação e da destinação de seu uso.
E com exigências mais severas, podemos citar a norma alemã, da FLL, Sociedade alemã para pesquisa e desenvolvimento da paisagem e paisagismo (Forschungsgesellschaft Landschaftsentwicklung Landschaftsbau e.V.).
Quanto ao desempenho de uma impermeabilização para suportar a agressão das raízes, podemos citar a norma italiana UNI EN 13948 – Determinazione della resistenza alla penetrazione delle radici, que trata dos requisitos a produtos impermeabilizantes com características antiraiz.
Cabe ressaltar, que apesar de termos tipos de impermeabilização com as características técnicas a se evitar a agressão por raízes, podemos afirmar que não temos normas técnicas, que contemplem a exigência ou parâmetro de desempenho à esta necessidade, no Brasil.
Podemos ter uma cobertura verde sim e vamos elencar os principais passos necessários e informações pertinentes para que possamos aproveitar todos os benefícios de um contato com a natureza, ao alcance de nossas mãos.
PASSO A PASSO PARA EXECUTAR UMA COBERTURA VERDE
Temos que começar sabendo se a laje e demais componentes da estrutura, suportam a sobrecarga com a introdução de uma cobertura verde e isto significa a consulta ao Engenheiro Estruturalista ou de se já ter esta previsão no cálculo estrutural da edificação.
A IGRA, International Green Roof Association, cita três tipologias principais, que são variáveis em função do porte da vegetação e da espessura do substrato, para o cultivo:
  • Extensivo: utiliza plantas rasteiras de pequeno porte. A carga prevista varia entre 60 kg/m² e 150 kg/m²
  • Semi-intensivo: tem vegetação de porte médio. A carga prevista varia entre de 120 kg/m² a 200 kg/m²
  • Intensivo: utiliza plantas de porte médio a grande. A carga prevista varia entre 180 kg/m² e 500 kg/m²
Com isto posto, podemos pensar na impermeabilização a ser realizada de acordo com as exigências e recomendações nas normas técnicas, ABNT NBR 9574:2008 (Execução de impermeabilização) e da ABNT NBR 9575:2010 (Impermeabilização – Seleção e projeto).
Essa última exige a aplicação de sistemas e produtos impermeabilizantes com proteção contra raízes, no caso de jardins, jardineiras, coberturas verdes.
Especial atenção no projeto de impermeabilização para compatibilizar as interfaces e respectivos detalhes executivos com os sistemas hidráulicos, elétricos e sanitários.
Começamos a execução da impermeabilização pela correta preparação do substrato, com uma argamassa de regularização com cimento e areia, traço 1:3, garantindo caimento mínimo de 1% para os ralos.
Lembro que os vazamentos ocorrem nos detalhes, portanto todos os arremates/fixações na estrutura, de bocas de ralo, tubulações (hidráulica e elétrica) emergentes, junção nos cantos de piso com parede, juntas de dilatação, detalhes arquitetônicos, entre outros, devem estar perfeitamente executados, antes da impermeabilização.
Ilustro que além do desempenho desejado à estanqueidade, a impermeabilização deve suportar às agressões das raízes, e as soluções comumente indicadas para impermeabilizar coberturas verdes são:
a) Manta asfáltica antiraiz, na qual um biocida é disperso em toda a massa asfáltica, com especial cuidados nas soldas das emendas e arremates.
b) Solução asfáltica antiraiz, aplicada na forma de pintura sobre a proteção mecânica de um outro tipo de impermeabilização (moldada “in loco” ou pré-fabricada), que não seja antiraiz. Esta pintura asfáltica, tem seu desempenho atrelado a ausência de trincas na proteção mecânica e a sua eficácia será diminuída ao longo do tempo, devido ao desgaste, desta película, pelo contato com a água de irrigação ou pluvial.
Após a execução da impermeabilização e sua respectiva proteção mecânica, sobre a superfície impermeabilizada, temos que prever as seguintes camadas:
  • Camada drenante, com brita graduada, para escoar as águas de chuva contínuas e evitar o encharcamento excessivo da terra;
  • Camada filtrante, com um geotêxtil, para impedir o tamponamento da camada drenante por acúmulo das partículas de solo;
  • Camada de terra, para compatibilização com a vegetação a ser plantada na cobertura verde; 
  • Camada de vegetação.
Fica ainda um último lembrete de que uma cobertura verde é um sistema aberto, sendo impossível evitar a entrada de sementes invasoras que chegam ao local pela ação dos ventos, aves e morcegos, portanto a qualidade/beleza de sua vegetação implica em um cuidado “ad eternum”.

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